Bush procura pretexto para guerra impopular

por Deirdre Griswold [*]

18 de Janeiro: Marcha sobre Washington. Estão a aumentar os sinais de confusão no sistema capitalista dos Estados Unidos e na sua liderança, enquanto a administração Bush continua a sua marcha aventureira para um novo massacre do Iraque
 
A Conseco, outra companhia importante, declarou bancarrota no dia 17 de Dezembro. Este gigante financeiro e de seguros é a terceira maior companhia a procurar concordata ao abrigo do Capítulo 11. Uma boa parte das suas dívidas são de hipotecas de auto-caravanas. O fracasso da companhia é uma indicação segura de que muitos dos trabalhadores mais pobres são incapazes de pagar as suas contas.
 
Os esforços do Secretário das Finanças, Paul O'Neill, e do conselheiro principal para assuntos económicos de Bush, Larry Lindsey, não restauraram a “confiança” de Wall Street na economia ou na Bolsa.

O desemprego subiu para 6 por cento.

Os estados estão a cortar ao mínimo as despesas dos programas sociais enquanto as receitas fiscais declinam – os ricos estão agora virtualmente isentos – e lançam os orçamentos no défice. Isto significa muitos mais despedimentos para breve.

As raízes racistas do sistema político nos Estados Unidos revelam-se, uma vez mais, no escândalo Trent Lott.

Os Estados Unidos são considerados em todo o mundo como um estado embusteiro em tudo, desde o ambiente às ameaças de guerra perpétua.

E que faz a administração Bush em relação a isto tudo?

A cabala na Casa Branca só tem um único desígnio: dirigir-se inexoravelmente em direcção à sua longamente planeada guerra contra o Iraque. Tudo está subordinado a essa ideia.

Criar um pretexto para uma guerra

Quando este texto estava a ser escrito reunia-se o Conselho de Segurança Nacional. Os medias esperam que Bush anuncie que o Iraque não respondeu satisfatoriamente às perguntas sobre as armas – apesar das 12.000 páginas de documentos que submeteu às Nações Unidas e da sua concordância em permitir que os inspectores tivessem acesso a todas as sua instalações.

É esta a estratégia que Washington tem estado a afinar há meses. Aceitar que as Nações Unidas enviem inspectores ao Iraque e a seguir atribuir-se o direito de efectuar um julgamento unilateral dizendo que os iraquianos “enganaram” os inspectores e esconderam “armas de destruição maciça” e/ou a capacidade para as produzir.
 
O verdadeiro objectivo de Bush é desencadear uma guerra para conquistar e ocupar o Iraque, como um passo fundamental para ganhar domínio incontestado sobre o Médio Oriente rico em petróleo. Todavia, ele tem sentido dificuldades em conseguir apoios no mundo ou entre o povo americano para uma “alteração do regime”. Daí a desculpa se virar para o “desarmamento” do Iraque – um país cuja capacidade de defesa definhou bastante desde a Guerra do Golfo.

Não se deve pôr de parte que os falcões de Washington possam congeminar algo muito mais dramático sob a forma de pretexto que justifique a escalada para a guerra.

Não se pode prever quando começa, mas dezenas de milhares de militares, uma enorme quantidade de aviões, navios, armas e outros materiais de guerra continuam a ser enviados apressadamente para a zona do Golfo. Sabe-se que os militares consideram que as condições do tempo em Janeiro são as mais favoráveis para um ataque.

Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que já teve domínio colonial sobre grande parte do Médio Oriente, incluindo o Iraque, organizaram recentemente uma conferência de fantoches iraquianos em Londres. Este grupo heterogéneo será o núcleo de um governo “livre” iraquiano – por outras palavras, uma folha de parra para a ocupação militar dos Estados Unidos após o Pentágono ter entrado em Bagdade.

A oposição das massas continua a crescer

Entretanto, a oposição a esta guerra entre o povo americano e em todo o mundo continua a aumentar. Uma grande demonstração nacional irá concentrar-se e marchar em Washington no dia 18 de Janeiro, organizada pela coligação ANSWER , que em 26 de Outubro organizou os maiores protestos nos Estados Unidos até à data. Quase todos os dias há acções de protesto.

Dezenas de milhão de pessoas interrogam-se por que é que este governo está determinado em desencadear uma guerra que irá custar biliões de dólares quando reivindica que não tem dinheiro para conter a crescente vaga de sofrimento no país.

Sob o ponto de vista de armamento, os falcões são Golias. Ninguém, no mundo, tem nada comparado com o poder de fogo deles. Mas, realmente, são um pequeno bando de salteadores aos olhos de 95 por cento dos povos do mundo.

A estratégia da cabala de Bush é manter as massas fora do jogo através da colaboção aparente com as Nações Unidas, numa abordagem unilateral ao “problema” do Iraque enquanto, ao mesmo tempo, prepara febrilmente uma guerra de agressão. Esperam, enquanto os inspectores não se retiram, que a percepção de que este processo evitará a guerra, restringirá o movimento de massas anti-bélico.

Em relação a isto, a coligação ANSWER emitiu uma declaração no dia 17 de Dezembro que concluía: “É urgente que o movimento contra a guerra não seja adormecido por um sentido falso de oportunismo por o Iraque e as Nações Unidas estarem a cooperar. Vários governos já declararam que têm esperança que o processo das inspecções possa ajudar a evitar a guerra. O Secretário Geral das Nações Unidas, Koffi Annan, afirmou que a guerra não é inevitável.

Contudo, na medida em que o mundo apregoa um optimismo cauteloso acerca duma solução pacífica é também a medida que a equipa de política externa de Bush utiliza a fim de abolir toda a esperança de uma tal saída. Há agora uma quase perfeita relação invertida entre o clamor a nível mundial por contenção e paz e a ansiedade da Administração Bush para anunciar publicamente que a guerra é certa.

Há realmente uma só restrição para bloquear a guerra. Ela está dentro das próprias pessoas. Nem o Congresso nem o Conselho de Segurança farão parar o perigoso ímpeto de guerra de Bush. O optimismo das forças contra a guerra deve assentar na realidade. Se pudermos mobilizar milhões – nos Estados Unidos e no resto do mundo – e inflamar uma tempestade de activismo, então o clima político pode alterar-se e alterar-se dinamicamente.”

Nos indigestos corredores do Congresso, o clima político parece congelado numa teia temporal burguesa. Mas nas ruas vai-se acumulando a energia para maiores e melhores batalhas.

[*] Editor do jornal Workers World .
O original encontra-se em http://www.workers.org/ww/2002/war1226.php .
Traduzido por João Manuel Pinheiro.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info

05/Jan/03