Enquanto a economia dos EUA afunda, Bush e o Pentágono fomentam uma guerra criminosa contra o Iraque

por Deirdre Griswold [*]

O 4º Reich quer atacar, mais uma vez, um pequeno país Uma crise mundial está a desenvolver-se rapidamente. A forma que ela assume neste mesmo momento é a preparação para uma guerra total contra o Iraque por parte da administração Bush e do Pentágono.

Pelo que se diz, o Pentágono expediu por via marítima enormes quantidades de equipamento militar a partir das suas bases da Europa para o Médio Oriente, e os efectivos das tropas ianques na zona não cessam de aumentar.

The Herald of Scotland assinalou a 16 de Agosto que "O Pentágono deslocou 50 mil soldados, marinheiros, aviadores e fuzileiros navais a uma distância de ataque ao Iraque durante os últimos 10 meses sob a cobertura de deslocações tendo em vista o terrorismo mundial, segundo as mais altas fontes militares do Reino Unido.

"A discreta concentração comporta a presença de não menos de cinco porta-aviões nucleares, cada um com uma força de ataque de 70 a 80 aviões a reacção".

Há também "várias forças expedicionárias da US Marine, dos batalhões de infantaria reforçados por helicópteros de combates, tanques e transportes de pessoal blindados, embarcados em barcos de assalto especiais no e em torno do Oceano Índice e do Golfo Pérsico.".

O jornal escocês acrescenta que "é claro que estes preparativos são feitos tendo em vista uma campanha aérea que poderia ser empreendida mesmo que Estados vizinhos como a Arábia Saudita e a Jordânia se recusassem a permitir a utilização dos seus campos de aviação para uma acção ofensiva".

A tomada de assalto da Embaixada do Iraque em Berlim a 20 de Agosto por um pequeno grupo de pessoas que se diziam dissidentes iraquianos foi denunciada por Bagdad como trabalho de agentes americanos e israelenses. Apesar de a Casa Branca negar isto, como era de prever, o breve episódio da captura de reféns é pelo menos o produto das expectativas de que o início de uma guerra USA levantou entre os oportunistas que desejam fazer parte de um governo fantoche.

Que isto tenha ocorrido em Berlim, contudo, faz suspeitar uma implicação dos EUA mais directa, uma vez que a administração Bush ficou irritada com a recusa do chanceler Gerhard Schroeder, no seu discurso de campanha, de dar apoio à sua guerra contra o Iraque.

UMA CRÍTICA DESDENTADA

Por toda a parte do mundo os medias capitalistas estão cheios de especulações: o ataque começará mais cedo ou mais tarde, o presidente George W. Bush será capaz de obter o apoio de alguns "aliados" dos EUA, se a reunião com a maior parte dos seus assistentes principais em Crawford, Texas, a 21 de Agosto, destinava-se secretamente a finalizar os planos da guerra; e se as pouco entusiastas palavras de prudência vindas de algumas velhas bocas republicanas farão alguma diferença.

Todas as discussões internas dos órgãos e conselhos da classe dirigente dos Estados Unidos consideram como evidentes que a clique de extrema direita que dirige o governo — este agrupamento tão intimamente ligado a escândalos e ao mundo das corporações criminosas — tem o direito de matar dezenas de milhares de iraquianos a fim de alcançarem os seus fins. Não abertamente, mas subjacente a todas as suas análises, está a velha máxima imperial: "o Poder faz o Direito".

Ninguém deve pensar que os veteranos da guerra de 1991 da guerra de Bush sénior que elevam agora a voz tenham quaisquer escrúpulos quanto a por tropas americanas "em perigo". A sua única preocupação é que se demasiados sacos de cadáveres retornassem para casa desencadeariam uma tempestade de oposição e arruinariam seus planos para a dominação total dos países ricos em petróleo que se encontram na Europa, na Ásia e na África do Norte.

Como os GIs descobriram durante a Guerra do Vietname, a classe dos oficiais e os seus amigos do complexo militar-industrial consideram os jovens trabalhadores de uniforme apenas como mais um elemento da sua máquina de guerra.

Eles são avaliados devido às grandes quantias de dinheiro gastas com o seu treinamento — não porque eles sejam Joe ou Jane ou Rasheed ou Juana, com personalidade, sonhos e esperanças. Ao contrário, o treinamento militar é destinado a apagar tanto quanto possível os traços individuais singulares e simpáticos de cada pessoa a fim de transformar seres humanos sensíveis em máquinas de matar automatizadas.

Caso alguém pense que as lágrimas destes criminosos pelos seus solidados caídos não são senão lágrimas de crocodilo, basta olhar para o pobre tratamento dado aos veteranos, cujas vantagens médicas e outras são suprimidas mesmo no momento em que jovens recrutas são enviados às pressas ao estrangeiro para uma nova guerra.

GANGSTERISMO CONTRA UM PEQUENO PAÍS

Aqueles que na burguesia capitalista se inquietam com o resultado da guerra próxima nunca admitiram que a política dos EUA para com o Iraque ao longo de décadas não foi senão uma atroz operação de gangsterismo contra um pequeno país que está praticamente sem defesas em comparação com a maciça potência de fogo de alta tecnologia do Pentágono. Toda palavra alarmista sobre as "armas de destruição maciça" e sobre "o eixo do mal" não é senão uma acto fraudulento de relações públicas para esconder o óbvio — são os Estados Unidos e não o Iraque o Darth Vader que o mundo teme [Darth Vader: personagem sinistro e ameaçador do filme "Guerra das Estrelas" de George Lucas].

Os comentadores aqui nunca parecem sequer mencionar que a intenção aberta de Washington de obter a "mudança de regime" — o que significa a derrubada do governo iraquiano — constitui uma violação de numerosas leis internacionais, que interdizem tais actos de agressão flagrante e de ingerência nos negócios dos outros países.

Estas leis foram promulgadas, a propósito, somente depois de enormes convulsões anti-coloniais por toda a parte no Terceiro Mundo, quando centenas de milhões de pessoas rebelaram-se e ameaçaram a continuidade da sua exploração pelo capital do Ocidente e do Japão.

Os comentadores não parecem tão pouco recordar-se que a própria Constituição dos Estados Unidos — que os aventureiros arvorando a bandeira imperial gostam de invocar como a fonte da sua autoridade, quando não reivindicam a inspiração divina — proíbe explicitamente logo no seu primeiro artigo aquilo que o presidente e a sua cabala estão a fazer. A Constituição estabelece que só o Congresso pode declarar a guerra.

Desde a Coreia, há mais de meio século, até agora, cada guerra americana — chamada agora, por eufemismo, de "intervenção" — foi ilegal e inconstitucional. Mas uma guerra "não declarada" pode ser tão sangrenta e destruidora quanto uma guerra declarada.

As objecções dos pesos pesados da política estrangeira republicana que intervieram recentemente — o general Brent Scowcroft, Henry Kissinger, o republicano Dick Armey — basearam-se nos temores de que a administração não seja suficientemente hábil e paciente para arrastar a massa do povo consigo nesta guerra.

Eles não se opõem à política estrangeira imperialista do governo capitalista dos Estados Unidos, mas à maneira precipitada e torpe como está a ser executada.

Tal como os generais alemães que ficavam nervosos antes de executar algumas das mais ferozes ofensivas de Hitler, estes republicanos temem também o horror e o ultraje que certamente se seguem a uma guerra, não só nos países árabes como também por todo o mundo. Kissinger, deve-se recordá-lo, havia recentemente deixado precipitadamente a França devido a acusações resultantes do seu papel no golpe de estado do Chile e do assassínio do Presidente Salvador Allende.

A CRISE CAPITALISTA GUIA-OS PARA A GUERRA

A determinação de Bush, do vice-presidente Dick Cheney, do ministro da Defesa Nacional Donald Rumsfeld e do seu adjunto Paul Wolfowitz e da Conselheira para a Segurança Nacional Condoleezza Rice de precipitar a guerra, arriscando-se mesmo à crítica dos membros do seu próprio partido e a condenação das outras potências imperialistas, indica que eles consideram as apostas como muito elevadas.

Mas o que é uma aposta aqui? Não a "segurança nacional" dos Estados Unidos, que Bush apregoa estar a defender. O Iraque não é uma ameaça para os Estados Unidos, e todas as tentativas da administração para associá-lo ao ataque do 11 de Setembro revelaram-se fraudulentas.

O problema real consiste em que a administração não pode tolerar o contínuo desafio da direcção iraquiana aos esforços feitos pelos Estados Unidos para retirar-lhe a independência, ganha em 1958 através de uma revolução anti-colonial, e colocar seu país sob a dominação total das companhias petroleiras dos EUA.

Nas mentes dos estrategistas geopolíticos do big business, este deveria ser o momento em que a hegemonia dos EUA seria incontestada em toda a parte do mundo. Eles demoliram o bloco dos países socialistas que haviam tentado existir no exterior da sua esfera de influência e de exploração. Eles derrubaram numerosos regimes anti-coloniais no Terceiro Mundo por acções militares secretas e sanções económicas manifestas. Eles disseram aos seus rivais imperialistas para não porem em causa a hegemonia dos EUA.

Nessa altura, da mais improvável das origens — os fundamentalistas de direita que haviam trabalhado para a CIA na guerra contra o governo pró-socialista afegão — surge um ataque contra dois símbolos da potência dos EUA. A administração utilizou rapidamente o choque e a reacção para fazer aceitar uma preparação militar da maior importância e uma outra guerra no Afeganistão — desta vez contra antigos aliados dos Estados Unidos. Ela também deu o sinal verde a Israel para renovar o seu assalto contra o povo palestino em nome do combate contra o terrorismo.

Bush elaborou uma nova doutrina: Ninguém, grande ou pequeno, poderá ficar à margem na sua falsa "guerra ao terrorismo" ou seriam considerado como estando a ajudar "o inimigo". Contudo, mesmo estas ameaças fracassaram em reunir o apoio para a guerra que está a vir.

Agora, no momento daquilo que deveria ser o seu maior triunfo, estes representantes políticos ao serviço da classe dirigente bilionária confrontam-se com a maior e mais destrutiva fraqueza do capitalismo: a crise económica levanta de novo a sua horrível cabeça. Uma luta mundial cresce entre as potências imperialistas pelo controle dos mercados mundiais. Tornando-a mais feia a cada dia que passa está a crise geral de superprodução que está a dobrar corporações multi-bilionárias e remeteu os mercados para uma queda vertiginosa.

Qual será então o humor dos trabalhadores no próximo ano se a crise continua e se milhões de empregos são perdidos exactamente quando dívida privada esta a uma altura histórica e quando a "rede de segurança" social foi desmantelada?

Nestas circunstâncias, se a crise económica se aprofunda, uma outra guerra no Iraque pode ser o prelúdio de um período de tensão mundial crescente e ainda a ameaça de uma outra guerra inter-imperialista.

A classe capitalista lança as massas de trabalhadores no fosso de um conflito militar de que não se percebe o fundo. Desenrolam-se acontecimentos que terão efeitos profundos sobre milhões de pessoas em toda a superfície do globo. O motivo desta carnificina é o mais grosseiro possível: os super-lucros de sociedades capitalistas mentirosas e trapaceiras.

A única via para escapar ao desastre é um combate independente contra a guerra. Não se pode contar com os velhos falcões guerreiros de nenhum dos dois partidos capitalistas. Mas a situação actual contem a promessa real de que as massas de trabalhadores — agora presas entre o martelo e a bigorna — vão-se bater para defender os seus próprios interesses de classe e resistirão aos ditames dos exploradores vigaristas e criminosos que têm estado a dirigir as suas vidas.


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[*] Editor de Workers World

O original deste artigo encontra-se na revista http://www.workers.org/

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24/Ago/02