Treinamento de terroristas,
american style
Ao insistir em que o terrorismo global só pode ser travado pela sua
destruição onde existe, George W. Bush esqueceu,
muito convenientemente, as instalações de treino terrorista do
exército americano: o infame Instituto do Hemisfério Ocidental
para a Cooperação em Segurança (WHISC). Localizado em Fort
Benning, Geórgia, o WHISC treinou mais de 60 mil militares
latino-americanos nas mais odiosas técnicas de
contra-insurreição, e os seus graduados têm ido para a
lista das personalidades envolvidas em golpes, caos e destruição.
É também devido ao WHISC que estão hoje em prisões
dos EUA vários manifestantes não violentos. Com a maciça
manifestação planeada junto às instalações
do WHISC, em 15-17 de Novembro, esse número deve aumentar. Entre a
iminência do protesto e um projecto da Casa Branca visando acabar com
esta acção de uma vez por todas, torna-se evidente que
será o próprio campo terrorista nos EUA que logo ficará em
evidência. Menos certo é se o resultado será mais um
capítulo brutal da nossa história secreta, ou um duplo salto
mortal.
Estabelecido pelos militares americanos no Panamá em 1946, o WHISC (ou
School of Americas, como era anteriormente conhecida) foi expulso e
forçado a relocalizar-se em 1984. Os seus graduados têm
repetidamente estado implicados em casos de tortura, massacre e
assassínio as suas vítimas são frequentemente
activistas dos direitos sociais e outros civis. Poucos se admiraram quando o
antigo Presidente do Panamá, Jorge Illueca, descreveu a escola como a
maior base de desestabilização na América
Latina.
Submetida à pressão da opinião pública dos EUA, em
1996 o Pentágono divulgou vários manuais de treino da Escola,
onde se constatava um curriculum advogando o uso da chantagem, guerra
psicológica, tortura e execução. Por volta de 2000, o
aterrador nível das violações de direitos humanos
cometidos por graduados da Escola da Américas levou a que alguns membros
da Câmara dos Representantes tentassem encerrar a escola. Mas, pouco
antes do voto decisivo do Congresso, a escola propôs um compromisso ao
Departamento da Defesa: Alguns dos vossos chefes disseram-nos que
não podiam dar o apoio a qualquer coisa com o nome de 'Escola das
Américas'. A nossa proposta atende a essas preocupações.
Ela muda de nome. E com isso a Escola da Américas foi fechada. O
WHISC foi aberta na altura conveniente e, apesar de algumas
alterações cosméticas ao curriculum, o campo de treino
terrorista norte-americano continuou o seu trabalho como habitualmente.
A farsa não foi muito longe graças a Fr. Roy Bourgeois, fundador
do Observatório da Escola das Américas. Trata-se de um dos
notáveis padres cujo incansável activismo social vem
pormenorizado em Prophets Without Honor, de Strabala & Palacek.
Bourgeois considera que o papel dos militares latino americanos é manter
os pobres à margem e a pequena elite no poder. A Escola das
Américas está ligada a isso. Bourgeois sofreu repetidas
passagens por prisões americanas devido a incursões ilegais ou
atravessamento de linha em Fort Benning mas ele não
está só. Das 10 mil pessoas que protestaram pacificamente no
WHISC em Novembro último, 36 tiveram sentenças superiores a seis
meses em prisões federais, e ninguém pode adivinhar quantos
outros prisioneiros políticos norte americanos resultarão do
protesto que se prepara.
Um esforço bipartidário para acabar com o WHISC foi derrotado por
pouco na Casa Branca no ano passado, mas um projecto de lei similar (HR1810)
foi reintroduzido por Jim McGovern (D-MA). O HR1810 já conta com 112
subscritores e, se passar, não apenas encerrará a escola como
também estabelecerá uma comissão conjunta da Câmara
dos Representantes para conduzir uma avaliação do tipo de
educação e treino apropriado que o Departamento de Defesa deve
fornecer ao pessoal militar das nações latino americanas.
É a razão provável pela qual a administração
Bush está a levar a cabo planos no sentido de instalar na Costa Rica um
sucessor para o WHISC. Com milhares de milhões da ajuda militar norte
americana canalizada para a guerra suja na América Latina, os militares
locais precisam cumprir a agenda norte americana para o continente, e o seu
treino não pode depender de ninharias como leis ou
oposição pública. Questão a resolver: a
Colômbia recebeu equipamento militar e $1.3 mil milhão em pacotes
de ajuda sem mencionar os mais de 250 militares norte americanos no
terreno para apoiar o Governo na luta contra os insurgentes
(frequentemente camponeses ou lideres comunitários como professores,
sindicalistas e religiosos). A acrescentar a isto um total de 10 mil graduados
colombianos no WHISC/Escola das Américas e planos para a
instalação local de uma unidade do WHISC. Assim, torna-se claro
que os EUA estão não apenas a preparar-se para uma missão
prolongada como a entrar num conflito sangrento e num pântano nada
ético.
A escolha é nossa: ou fazemos declarações verbais quanto
à luta contra o terrorismo global enquanto secretamente conduzimos
treino terrorista aqui ao lado, ou em alternativa enfrentamos a besta onde quer
que ela apareça, tanto lá fora como aqui dentro.
[*]
Escritora free lancer. Pode ser contactada através do seu sítio
web
http://www.heatherwokusch.com
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O original deste artigo encontra-se em
http://www.guerrillanews.com/human_rights/doc801.html
.
Tradução de Paulo Mauricio.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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