Petróleo:
Quem é quem nas estratégias do imperialismo

1- O Saudi Ben Laden Group - SBG
2- O Bushladen Carlyle Group
3- AMBO: o domínio total do petróleo, do gás e da água potável


por Jorge Messias [*]

1- O Saudi Ben Laden Group - SBG

de Philippe Rekacewicz, publicado em 'Le Monde Diplomatique'. Para ampliar clique sobre a imagem (271kB). A SBG foi fundada em 1931 por Moahamed Ben Laden representando interesses sauditas do petróleo e posições políticas e teológicas do fundamentalismo islâmico (facção wahhabita ). Desde sempre acumulou lucros sustentados pelo crude e pela religião. Organiza-se, actualmente, em "holdings" dos ramos da construção e obras públicas, engenharia, sector imobiliário, distribuição, banca, seguros, telecomunicações e editoras. Pertencem-lhe a SICO - Saudi Investment Co., com sede em Lausana; o National Commercial Bank, saudita; o Al-Shamal Islamic Bank, o Tadamon Islamic Bank, o Dar al-Maal al Islami, etc. A SBG fundou dezenas de filiais em todo o mundo, planificadas por um banqueiro nazi de origem suíça, François Genoud. Detém uma gigantesca carteira de acções da General Electric, da Nortel Networks e da Cadbury Schweppes. Em França, juntamente com o Grupo Worms, controla a SBA - Sociedade Bancária Árabe, SARL. Tem importante posição accionista no grupo do Le Figaro. Até à declaração de falência do Bank of Credit and Commercial International (BCCI), a SBG dominou nessa instituição áreas decisivas. O banco era anglo-paquistanês e estava instalado em 73 países diferentes. Teoricamente, dividia-se por três famílias: os Gokal, paquistaneses; os Ben Mahfouz (aos quais Oussama Ben Laden se ligou pelo casamento), sauditas; e os Geith Faraon, do Abu Dhabi, um emirato árabe riquíssimo em petróleo. Consta, insistentemente que a CIA esteve na base da fundação do BCCI onde os capitais americanos eram accionistas privilegiados. Com efeito, a enorme massa financeira detida pelo banco foi utilizada por Ronald Reagan para corromper dirigentes iranianos e para derrotar a candidatura de Jimmy Carter (Operação "Surpresa de Outubro"). Foi com capitais do BCCI que Reagan e Bush pai (presidente e vice-presidente dos EUA), financiaram os "contra" da Nicarágua, apoiaram os mujahidines afegãos e subsidiaram traficantes de armas e de drogas como Sarkis Sarkenalien, Marc Rich, a Abu Nibal ou o Cartel de Medelin. Através da SICO suíça, o BCCI trabalhava em estreita colaboração com o Saudi Ben Laden Group. Entre os gestores do BCCI contava-se um dos irmãos de Oussama Ben Laden, chamado Salem. Foi nessa altura, por inícios da década de 90 que, à custa dos pequenos depositantes do banco saudita, se realizou uma mega-operação financeira de enriquecimento súbito de George Bush, Jr., um desclassificado filho do presidente norte-americano. Era ele, então, gerente de uma modesta sociedade petrolífera, a Harken Energy Corporation . A título de compensação pelos acordos assinados pelo pai Bush com o Koweit foi atribuída à Harken o exclusivo das concessões petrolíferas do Barhein. Cresceram então espantosamente as fortunas pessoais de George Bush filho (herdeiro de George Bush, pai); de Ben Mahfouz (cunhado de Oussama Ben Laden e detentor de 11,5% das acções da Harken); e do próprio Oussama, membro do Conselho de Administração da empresa, através do seu delegado pessoal, o norte-americano James R. Bath.

No plano religioso e caritativo islâmico, a SBG financia importantes ONGs, como a International Islamic Relief Organisation - IIRO e a Abdul Aziz al-Ibrahim Fondation. Planeou e realizou a construção e gestão da urbanização de Meca e de Medina, principais cidades santas do Islão. Simultaneamente, foi o grupo árabe mais beneficiado pelos EUA na reconstrução do Koweit, após a primeira Guerra do Golfo, sendo-lhe adjudicado o exclusivo das obras de instalação das gigantescas bases militares norte-americanas situadas na Arábia Saudita. No Médio Oriente (área do conflito israelo-palestino), os interesses financeiros do Saudi Binladen Group são geridos Carlyle Group. Quando, em 1992, o BCCI dos bin Laden/Mahfouz foi extinto, por decisão judiciária, já quase todos os seus activos tinham sido transferidos para o seu accionista Carlyle.

Oussama Ben Laden fez os seus estudos básicos e secundários em colégios fundamentalistas islâmicos. Diplomou-se, mais tarde, em Economia e Gestão de Empresas na King Abdul Aziz University. Toda a sua formação foi orientada pelo príncipe Turki al-Faiçal al-Saud, director dos serviços secretos sauditas, membro da família reinante e íntimo colaborador da CIA. Em 1979, Al-Saud nomeou Oussama gestor financeiro das operações secretas que a CIA desenvolvia no Afeganistão. Desde então, a presença de bin Laden foi assinalada no Afeganistão, na Chechénia, no Azerbeijão, na Croácia,no Paquistão e no Sudão. Oussama foi elemento activo da tranformação do SIS, inicialmente uma simples organização da polícia criminal paquistanesa, em poderosa agência unificadora dos serviços de informação e de espionagem, segundo o modelo da CIA; desenvolveu, no Afeganistão, uma eficiente rede de "madrassas" (escolas religiosas islâmicas) frequentemente ligadas a centros de preparação e treino de terroristas; promoveu a aproximação e o entendimento entre a seita wahhbita saudita, o movimento talibã anti-soviético e o partido radical paquistanês Jamiat-ul-Ulema-e-Islam ; e adoptou a tese de que o terrorismo, como arma de combate contra a URSS, podia e devia ser financiado pelos lucros do comércio mundial da droga. Em 1998, todo o esquema harmonioso das relações entre Oussama, a CIA e os Bush parece, subitamente, entrar em colapso. Tinham-se verificado, no Quénia e no Tanganika, atentados à bomba contra as embaixadas dos EUA. Então, a responsabilidade dos actos foi integralmente atribuída a bin Laden. Este, recebeu ordem de expulsão do território sudanês e foi privado da nacionalidade saudita. Acusaram-no, igualmente, de preparar, nos Laboratórios Al-Shifa da família ben Laden, armas biológicas de destruição maciça. A Interpol emitiu contra Oussama um mandado de captura.

Curiosamente, nada aconteceu a Oussama. Em 2001, chegou mesmo a sofrer uma intervenção cirúrgica num hospital militar norte-americano do emirato do Dubai. Manteve estreitas ligações com a CIA e o SIS e deslocou-se livremente por vários países. Os negócios da SBG prosseguiram normalmente.

Em Maio desse ano, independentemente das suspeitas que pesavam sobre bin Laden, os talibãs e a al-Caeda, o governo Bush pagou aos teólogos do Afeganistão 43 milhões de dólares, a pretexto dos danos económicos causados pela destruição de plantações de papoilas. Finalmente, uns três dias após os atentados contra as Torres de Nova Iorque e contra o Pentágono, Oussama ben Laden foi declarado, pela administração Bush, "Inimigo Público N.º 1 do Estado norte-americano" .

2- O Bushladen Carlyle Group

O Carlyle Group (como se viu, também gestor dos interesses do grupo Saudi no Médio Oriente ) possui actualmente uma carteira de valores superior a 12 mil milhões de dólares. É o 11º. maior produtor norte-americano de armamentos. As suas holdings dominam as maiores fatias do mercado internacional. Radica a sua principal base financeira no petróleo, área onde os seus mais importantes parceiros estratégicos são o Saudi Binladen Group (que inclui a família real saudita) e a Halliburton Energy , do vice-presidente de Bush, Dick Cheney. Muito antes de suceder o 11 de Setembro, o Carlyle criou um fundo especial, o Asian Partners , destinado sobretudo à fusão dos lucros gerados pelo petróleo árabe e à compra de posições dominantes nas holdings das empresas aéreas e de segurança nos aeroportos. O Carlyle agrupa 420 accionistas cuidadosamente escolhidos em todo o mundo, com carteiras individuais de acções que oscilam entre os 80 mil e os 100 mil dólares. Organiza-se como uma poderosa sociedade secreta. Recruta os seus dirigentes entre os homens e mulheres mais influentes no aparelho do Estado, no mundo financeiro e empresarial, nos principais serviços secretos, na área castrense e universitária, etc. Seria absurdo tentar mencionar-se, exaustivamente, os nomes dos seus colaboradores mais activos. Alguns, no entanto, são bem conhecidos.

O Carlyle Group foi fundado, nos anos 80, por um poderoso grupo financeiro e militar-industrial presidido pelos Bush (sénior e júnior) e por uma elite seleccionada entre milionários, generais, dirigentes de serviços secretos, diplomatas, opinion makers , estrategas, responsáveis religiosos, destacados economistas neoliberais, etc. Comparativamente, convém acentuar que, enquanto o império financeiro da família ben Laden passa, no seu percurso, pelo BCCI - Bank of Credit and Commerce International e se cristaliza no Saud Binladen Group , os caminhos da família Bush são rigorosamente os mesmos. Começam em Prescott Bush , avô do actual presidente norte-americano, um produtor médio de petróleo texano, quando ele começou a fazer fortuna, no decurso da II Guerra Mundial. De 1933 a 1941 apoiara a ascensão dos nazis alemães e o esforço de guerra hitleriano. Porém, quando os EUA entraram em guerra com a Alemanha, P. Bush viu-se impedido de manter relações com as empresas do inimigo. O chefe do clã Bush criou então, sobretudo na Holanda e na Bélgica ocupadas, uma rede de sociedades comerciais destinadas ao branqueamento do saque nazi. Essas empresas, já então organizadas em rede , dependiam de uma "holding-mãe": a Consolidated Silesian Steel Company . Os capitais e os lucros do negócio acabavam, depois, por ser exportados para os EUA, regressando às mãos de Prescott, através da cobertura fornecida por um estabelecimento bancário americano, o Union Banking Corporation . Os lucros líquidos não resultavam, apenas, destas escuras operações financeiras. A Consolidated, de P. Busch, tinha um contrato firmado directamente com o governo alemão que a autorizava a utilizar a mão-de-obra escrava fornecida pelos campos de extermínio. Prescott instalou em Aushwitz a fábrica que os Bush mantiveram em actividade até ao final da guerra. Chamava-se Oswiecim-Auschwitz e assumia-se como ramo industrial do grupo da Consolidated Silesian Steel. É curioso recordar-se que também os ben Laden, quando se tratou de organizar o ramo financeiro do grupo, foram a Lausana contratar um banqueiro nazi.

Em 1987, a família Bush criou, na Carlyle, um fundo autónomo de investimentos cujos capitais cresceram vertiginosamente. Eram, em grande parte, provenientes de transferências ordenadas pelo BCCI, dos Laden e dos Mahfouz. Quando, quatro anos mais tarde, foi decretada a falência do banco, todos os activos desse fundo tinham já sido incorporados no capital social do Carlyle Group , arruinando as economias de cerca de 1 milhão de pequenos depositantes, na sua maioria norte-americanos e árabes.

O presidente executivo do Carlyle é Frank Carlucci, personagem bem conhecido dos portugueses como embaixador dos EUA em Lisboa e pela sua intolerável intromissão nos assuntos nacionais, a culminar no golpe de 25 de Novembro de 1975. Isso aconteceu antes de Carlucci ser nomeado responsável nacional da CIA e secretário de Estado da Defesa.

Na administração da Carlyle, Carlucci faz-se acompanhar por uma imponente escolta, toda ela constituída por ex-directores da "secreta" norte-americana ou por figuras de referência da CIA: Helms, Casey, Kashoggi, Ghofanir , os homens do Irangate . Os actuais vice-presidentes dos EUA - Rumsfeld, Dik Cheney, Powel - são altos executivos da empresa que integra outros políticos de grande peso internacional, como Madeleine Albright, William Luti, Henry Kissinger, Pete Roodman, Richard Perle (CIA), James Baker, Richard Darman ou John Major , o ex-primeiro ministro inglês. O importante lobby do petróleo árabe encontra-se representado por Sami Mubarak Baarma, procurador dos interesses de bem Laden na Grã-Bretanha; por Talat Othmann, vindo da Harken , a empresa que permitiu a George Bush Jr. enriquecer; por Saleh Idris, accionista maioritário da IES-Digital Systems , construtora e certificadora de sistemas de segurança ingleses e director-geral do Saudi Sudanese Bank , de Mahfouz / Ben Laden; e por Al-Amoudi, representante dos interesses árabes no projecto da nova rede de pipelines. Outras figuras importantes da Carlyle Group podem ser apontadas, como George Soros , especulador dos capitais financeiros e "pomba da paz" das filosofias da reconciliação; o ex-presidente democrático William Clinton cujo escritório de advogados novaiorquinos, o White and Case , tem o exclusivo da assistência jurídica da firma nos processos referentes à Carlyle ; Henry Kissinger, conselheiro especial em questões políticas; James Baker, secretário do Tesouro, com Reagan, e secretário de Estado, com G. Bush, pai; e Fred Malek , curiosa figura pública menos falada mas que teve um papel decisivo nos resultados das eleições presidenciais que reconduziram no poder o pai do actual George Bush.

Em conclusão, poderá referir-se que o Carlyle Group conquistou, após o 11 de Setembro de 2001, muitas das funções que habitualmente deveriam ser atribuídas ao governo dos EUA. Não só domina os circuitos financeiros, económicos e administrativos mas, também, os centros de poder onde são decididas as questões da guerra e da paz. Em torno da noção imperialista do domínio dos carburantes gerou-se uma confusa ideia de grandeza da pátria americana. As forças militares e militarizadas que sustentam essa nova mentalidade são verdadeiras ameaças à paz. Donald Rumsfeld, secretário de Estado da Defesa e executivo todo-poderoso da rede da Carlyle, é um exemplo de que assim é. Ainda decorria a guerra do Kosovo, em tempos da administração Bush pai quando o governo americano ficou alarmado com a rápida degradação que a imagem pública norte-americana estava a projectar em todo o mundo. Então, Madeleine Albright, secretária de Estado, apressou-se a criar um novo Subsecretariado para a Diplomacia Pública, destinado a coordenar e controlar os elementos de imagem do governo federal e do Pentágono. A nova estrutura desencadeou de imediato uma luta acesa entre a Secretaria de Estado (M. Albright) e a Secretaria da Defesa (D.Rumsfeld), ambas reclamando o controlo da nova estrutura. Donald Rumsfeld acabou por vencer, do que resultou a ligação da chamada diplomacia pública às agências de informação militar, como a OSI-Office for the Strategic Influence (OSI-Agência de Influência Estratégica) ou a IMIG-International Military Information Group (IMIG-Grupo Internacional de Informação Militar), formação comandada pelo general Simon Worden, estratega pioneiro da Guerra Assimétrica do Espaço, ou Guerra das Estrelas. A US Navy constituiu, então, o seu próprio Subsecretariado Adjunto às Operações Especiais (o Naval Network Warfare Comand) um serviço do Departamento da Defesa dirigido pelo comandante naval William Luti, conselheiro de Dick Cheney, N.º 3 da administração Bush filho, dirigente "histórico" da Carlyle e verdadeiro "patrão" do poderoso complexo norte-americano militar e industrial. O Estado-Maior Inter-Armas ( Joint Strategic Capabilities Plan) estabeleceu a nova tese que vigorou na recente agressão ao Iraque: a propaganda assume o mesmo nível de importância reconhecido à diplomacia, às operações militares e à acção económica.

Todos os nomes citados participam activamente no Carlyle Group. São apenas alguns dos muitos dos oficiais-generais que planificam o terror e decidem, em nome da democracia, as questões da guerra e da paz.

O outro aspecto verdadeiramente dramático do projecto da Carlyle, é o do seu envolvimento com as forças especiais clandestinas (Special Forces Underground) cuja tradição nos EUA já vem de longe. Neste aspecto, de novo se detecta a explosiva e obscurantista mistura deliberada entre os valores culturais do povo americano e os seus contra-valores.

Resumidamente, na América do Norte e a partir da desmobilização militar da guerra do Norte contra o Sul, formaram-se milhares de "gangs" ou "bandos" que o Estado central não tinha capacidade para combater ou para integrar socialmente. Por isso, consentiu-os ou institucionalizou-os. Provinham da sociedade civil — racista e mística — dos caciquismos locais, dos interesses ligados à industrialização e do que parece continuar a ser insolúvel nos EUA: a subordinação do poder económico ao poder político e a sujeição do poder militar ao poder civil. Assim se originou a Ku-Klux-Klan, as unidades ocultas (stay-behind) , os barretes verdes , os esquadrões da morte, as redes do ódio, a John Birch Society e milhares e milhares de outros núcleos — armados, fundamentalistas, racistas e terroristas — que nos EUA proliferam e o Estado federal aparenta ignorar mas de que politicamente se aproveita. As organizações militarizadas de extrema-direita distribuem-se por todo o território dos EUA. Recebem apoio directo de sectores das Forças Armadas norte-americanas e da CIA e, em certos, casos, encontram-se equipadas com armas pesadas e têm acesso a depósitos de armamentos do Exército. As organizações terroristas privadas norte-americanas estão federadas na Major General Edwin A. Walker Society e parece terem o seu principal elo de ligação com as tropas especiais EUA em Fort Bragg, gigantesco complexo militar destinado ao ensino das técnicas de sabotagem, interrogatório de prisioneiros e terrorismo. É frequentado por especialistas militares da NATO e da CIA. No megalómano projecto em que a Carlyle se encontra empenhada — o AMBO /Trans-Balkan Pipelines — as SFU - Special Forces Underground terão uma intervenção insubstituível.

3- AMBO: o domínio total do petróleo, do gás e da água potável

Pouco tempo após a constituição do Carlyle Group começou a falar-se num projecto energético megalómano, já em desenvolvimento: o AMBO - Trans-Balkan Pipelines. Consiste na captação, transporte e distribuição, através de tubagens, de todo o crude existente numa região vastíssima. Numa segunda fase apropria-se, no quadro dos mesmos objectivos, de todo o gás natural da mesma região. A mais longo prazo, visa o controlo global das reservas de água potável e a sua comercialização. Como é evidente, o projecto tem vertentes políticas, militares e empresariais. Nesta última componente (a empresarial), o AMBO arranca sob a direcção de uma coligação de interesses representada pela Carlyle (famílias Bush e Bin Laden, Rumsfeld, Carlucci, Kissinger) ; pela Halliburton (Dick Cheney, Bill Clinton, Bill Richardson, Dick Powell) ; pelas grandes empresas de petróleo mundiais (BP-Amoco-Arco, Texaco and Chevron, Exxon-Mobil, ENI, Delta Oil, etc) ; e pelo eixo militar anglo-americano cujos gigantes industriais constroem, reconstroem, equipam e gerem as principais obras de infra-estrutura em todo o mundo. Tecnológica e financeiramente falando, as bases deste negócio parecem simplesmente esmagadoras. Quanto ao projecto, trata-se resumidamente do seguinte.

Em enormes regiões do Próximo Oriente e da Ásia Central, o petróleo quase que nasce debaixo dos pés. Do Barhain ao Azerbeijão ou do Iraque e do Irão à longínqua Sibéria, há riquíssimos jazidas de "ouro negro". Sem dúvida que ao longo do século XX muito se fez no sentido da sua utilização. Foi a partir da força de trabalho dos seus povos mas com base no petróleo existente que a URSS se industrializou e ajudou outras nações que lutavam por estatutos próprios de afirmação e independência. Em resultado dessa situação sócio-política foi estabelecida, em tempos da URSS, uma impressionante rede de pipelines principalmente orientados, a partir das zonas do crude , para os grandes centros urbanos e industriais soviéticos e para os portos dos mares exteriores. Nos países não socialistas produtores de petróleo do Médio Oriente, o produto era encaminhado para um ou dois oleodutos centrais em cujos terminais o petróleo era bombeado para gigantescos petroleiros que o conduziam rumo aos países industrializados do Ocidente. Após o desmembramento da URSS, todo este sistema foi considerado caduco. O petróleo russo ficou à mercê das transnacionais (só no Azerbeijão funcionam 21 consórcios ocidentais). Países imensos em vias de industrialização, como a China e a Índia, encontraram-se, de súbito, à margem da rede das principais condutas. No Médio e Próximo Oriente, a situação social e política tornou-se cada vez mais incerta. Assim, a solução permanente das crises da globalização terá de passar pela drástica reformulação de todo o sistema. Deste modo nasceu o projecto AMBO.

Trata-se, em síntese, de estabelecer através de um perímetro que envolva a Arábia, a Federação Russa e as Repúblicas Autónomas da ex-URSS, do Sudão, Etiópia, Egipto e toda a bacia mediterrânica envolvente, um gigantesca oleoduto. Por ele será conduzida a produção de carburantes desta inestimável região natural. Prevê-se que o gigantesco pipeline seja dotado com refinarias, aeroportos, estações de bombagem, bases militares, centros urbanos e de telecomunicações, etc. Dele partirá toda uma rede de oleodutos secundários, dispostos segundo as exigências dos países ricos e industrializados. O oleoduto principal contornará o Mediterrâneo e o Adriático e garantirá o fornecimento energético da Europa a preços inferiores aos actuais. A partir da Arábia, e no sentido da Ásia e da América, expandir-se-á através da Sibéria, por onde será fácil ligá-lo ao Alaska e aos EUA; através do Afeganistão e do Paquistão, tornará seus subsidiários os promissores mercados da China e da Índia. Porque, embora seja representado oficialmente como um simples pipeline de naftas, o oleoduto da AMBO canalizará, também, petróleos semi-refinados, gás natural, sucedâneos do crude , e incorporará ao longo dos seus territórios redes de telecomunicações e a chamada inteligência secreta , nomeadamente as mensagens diplomáticas, industriais ou de informação civil e militar ultra-confidenciais que eternizam certas forças no poder.

Na sua primeira fase de instalação está prevista a passagem da AMBO por uma dezena de países. O que implicará que esses Estados cedam nos seus territórios faixas de 50 ou 100 quilómetros de largura, para servirem como corredores militares . Só assim será garantida a "estabilidade" do projecto, afirmam os colaboradores de Rumsfeld e Dick Cheney. O contrato terá duração indefinida e haverá lugar, por parte da Halliburton Energy , ao pagamento de uma renda, importante para uma economia débil mas irrisória em relação aos lucros do petróleo. Por outro lado, caberá à empresa responsável pelo cumprimento do pacto a designação das "forças especiais" que terão o encargo de defender o "corredor" das intervenções estrangeiras ou das perturbações sociais, impondo a ordem pública . Volta assim a abrir-se a questão do verdadeiro papel a desempenhar no projecto, quer pelas forças militares clandestinas (organizações de extrema-direita, milícias privadas, ligas de ex-combatentes, seitas religiosas ligadas ao terrorismo, etc.), quer pelas forças de operações especiais (comandos, barretes verdes, paraquedistas, especialistas de Fort Bragg, equipas de sabotagem, e outros) quer, também, pelas unidades mercenárias secretamente formadas e enquadradas pela CIA ou pelo Pentágono, como movimentos cívicos fundamentalistas, correntes dissidentes, associações humanitárias ou ligas intelectuais, ocultamente destinadas a dividir e minar as resistências dos povos do "grande corredor".

Uma última anotação para o pano de fundo da tragédia que o Pentágono continua activamente a preparar. Embora o projecto da AMBO seja oficialmente da iniciativa privada, torna-se evidente que se reveste de ambições que só o Estado pode viabilizar. Assim, na guerra dos petróleos, a Secretaria de Estado e o complexo militar-industrial das Forças Armadas figuram como deuses tutelares. Cabe à Secretaria de Estado EUA e ao Departamento de Defesa acorrentarem o povo americano e a sua opinião pública aos fantasmas ancestrais do terror . Paralelamente, sem empecilhos éticos ou políticos, o complexo militar-industrial deve continuar a desenvolver o arsenal americano.

Em Março de 2002, George Bush (filho) autorizou o fabrico em série de ogivas nucleares económicas , munições atómicas baratas e com grande poder de penetração no solo. Actuam a partir de novas técnicas de cisão do átomo. A família a que pertencem compreende as bombas de urânio empobrecido , as bombas de fragmentação e outras munições atómicas de pequeno porte, ajustáveis às armas convencionais. A sua carga explosiva pode propagar-se na atmosfera (efeito pirofónico) , introduzir-se na cadeia alimentar ou associar-se a outros elementos radioactivos letais (DU Shell) . Já se encontram em fase de produção armas químicas proibidas, tais como os alucinógenos agressivos ou as armas químicas incapacitantes , usadas em interrogatórios de suspeitos ou contra manifestações populares. Armas bacteriológicas que modificam o código genético dos animais ou das plantas e podem determinar genocídios por causas naturais . Bombas de fragmentação carregadas com anthrax ou com agentes da varíola. Sistemas gigantescos de telecomunicações que tornam possível desencadear, em qualquer parte do mundo, inundações, secas, furacões, incêndios e tremores de terra. Emissores de micro-ondas de alta potência que destroem computadores e redes de comunicação. O BLU-118B , uma ogiva disparada por um foguetão, que penetra 300 m no solo antes de explodir. O bombardeiro sub-orbital, veículo lançado do espaço a partir de um avião com uma velocidade 15 vezes superior aos máximos actuais e que será capaz de projectar cargas atómicas sobre alvos desconhecidos, situados no hemisfério oposto. Ou as armas de alta tecnologia baseadas no espaço , que usam ventos e marés e utilizam os seus regimes naturais como poderosas armas de guerra e de destruição maciça.

O petróleo mata, efectivamente. Porém, não como elemento natural cuja utilidade o homem descobriu. O que mata, no petróleo, é a função que o sistema político e económico lhe reserva. Petróleo do desenvolvimento, petróleo da guerra, petróleo do lucro, petróleo da paz?

A luta que se trava pelo domínio do petróleo é entre classes de interesses e de valores. Ou seja: entre o petróleo considerado como bem natural que a comunidade humana reparte entre si; ou como fonte de lucro de uma minoria rica que entre si se combate. É uma fase da luta entre o Socialismo e o Capitalismo. É uma luta política.

Iremos nós morrer pelo petróleo dos ricos?


[*] Jornalista. Intervenção produzida no debate "O petróleo (também) mata..." realizado em 07/Set/2003 no Pavilhão "Ciências & Tecnologia" da Festa do "Avante!"

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

16/Set/03