Petróleo:
Quem é quem nas estratégias do imperialismo
1- O Saudi Ben Laden Group - SBG
2- O Bushladen Carlyle Group
3- AMBO: o domínio total do petróleo, do gás e da água potável
1- O Saudi Ben Laden Group - SBG
A SBG foi fundada em 1931 por Moahamed Ben Laden representando interesses
sauditas do
petróleo e posições políticas e teológicas
do fundamentalismo islâmico (facção
wahhabita
). Desde sempre acumulou lucros sustentados pelo
crude
e pela religião. Organiza-se, actualmente, em "holdings" dos
ramos da construção e obras públicas, engenharia, sector
imobiliário, distribuição, banca, seguros,
telecomunicações e editoras. Pertencem-lhe a SICO - Saudi
Investment Co., com sede em Lausana; o National Commercial Bank, saudita; o
Al-Shamal Islamic Bank, o Tadamon Islamic Bank, o Dar al-Maal al Islami, etc. A
SBG fundou dezenas de filiais em todo o mundo, planificadas por um banqueiro
nazi
de origem suíça, François Genoud. Detém uma
gigantesca carteira de acções da General Electric, da Nortel
Networks e da Cadbury Schweppes. Em França, juntamente com o Grupo
Worms, controla a SBA - Sociedade Bancária Árabe, SARL. Tem
importante posição accionista no grupo
do Le Figaro.
Até à declaração de falência do Bank of
Credit and Commercial International (BCCI), a SBG dominou nessa
instituição áreas decisivas. O banco era
anglo-paquistanês e estava instalado em 73 países diferentes.
Teoricamente, dividia-se por três famílias: os Gokal,
paquistaneses; os Ben Mahfouz (aos quais Oussama Ben Laden se ligou pelo
casamento), sauditas; e os Geith Faraon, do Abu Dhabi, um emirato árabe
riquíssimo em petróleo. Consta, insistentemente que a CIA esteve
na base da fundação do BCCI onde os capitais americanos eram
accionistas privilegiados. Com efeito, a enorme massa financeira detida pelo
banco foi utilizada por Ronald Reagan para corromper dirigentes iranianos e
para derrotar a candidatura de Jimmy Carter (Operação
"Surpresa de Outubro"). Foi com capitais do BCCI que Reagan e Bush
pai (presidente e vice-presidente dos EUA), financiaram os "contra"
da Nicarágua, apoiaram os
mujahidines
afegãos e subsidiaram traficantes de armas e de drogas como Sarkis
Sarkenalien, Marc Rich, a Abu Nibal
ou o Cartel de Medelin. Através da SICO suíça, o BCCI
trabalhava em estreita colaboração com o Saudi Ben Laden Group.
Entre os gestores do BCCI contava-se um dos irmãos de Oussama Ben Laden,
chamado Salem. Foi nessa altura, por inícios da década de 90 que,
à custa dos pequenos depositantes do banco saudita, se realizou uma
mega-operação financeira de enriquecimento súbito de
George Bush, Jr., um desclassificado filho do presidente norte-americano. Era
ele, então, gerente de uma modesta sociedade petrolífera, a
Harken Energy Corporation
. A título de compensação pelos acordos assinados pelo pai
Bush com o Koweit foi atribuída à Harken o exclusivo das
concessões petrolíferas do Barhein. Cresceram então
espantosamente as fortunas pessoais de George Bush filho (herdeiro de George
Bush, pai); de Ben Mahfouz (cunhado de Oussama Ben Laden e detentor de 11,5%
das acções da Harken); e do próprio Oussama, membro do
Conselho de Administração da empresa, através do seu
delegado pessoal, o norte-americano James R. Bath.
No plano religioso e caritativo islâmico, a SBG financia importantes
ONGs, como a International Islamic Relief Organisation - IIRO
e a
Abdul Aziz al-Ibrahim Fondation.
Planeou e realizou a construção e gestão da
urbanização de Meca e de Medina, principais cidades santas do
Islão. Simultaneamente, foi o grupo árabe mais beneficiado pelos
EUA na reconstrução do Koweit, após a primeira Guerra do
Golfo, sendo-lhe adjudicado o exclusivo das obras de instalação
das gigantescas bases militares norte-americanas situadas na Arábia
Saudita. No Médio Oriente (área do conflito israelo-palestino),
os interesses financeiros do
Saudi Binladen Group
são geridos
Carlyle Group.
Quando, em 1992, o BCCI dos bin Laden/Mahfouz foi extinto, por decisão
judiciária, já quase todos os seus activos tinham sido
transferidos para o seu accionista Carlyle.
Oussama Ben Laden fez os seus estudos básicos e secundários em
colégios fundamentalistas islâmicos. Diplomou-se, mais tarde, em
Economia e Gestão de Empresas na King Abdul Aziz University. Toda a sua
formação foi orientada pelo príncipe Turki
al-Faiçal al-Saud, director dos serviços secretos sauditas,
membro da família reinante e íntimo colaborador da CIA. Em 1979,
Al-Saud nomeou Oussama gestor financeiro das operações secretas
que a CIA desenvolvia no Afeganistão. Desde então, a
presença de bin Laden foi assinalada no Afeganistão, na
Chechénia, no Azerbeijão, na Croácia,no Paquistão e
no Sudão. Oussama foi elemento activo da tranformação do
SIS, inicialmente uma simples organização da polícia
criminal paquistanesa, em poderosa agência unificadora dos
serviços de informação e de espionagem, segundo o modelo
da CIA; desenvolveu, no Afeganistão, uma eficiente rede de
"madrassas" (escolas religiosas islâmicas) frequentemente
ligadas a centros de preparação e treino de terroristas; promoveu
a aproximação e o entendimento entre a seita wahhbita saudita, o
movimento talibã anti-soviético e o partido radical
paquistanês
Jamiat-ul-Ulema-e-Islam
; e adoptou a tese de que o terrorismo, como arma de combate contra a URSS,
podia e devia ser financiado pelos lucros do comércio mundial da droga.
Em 1998, todo o esquema harmonioso das relações entre Oussama, a
CIA e os Bush parece, subitamente, entrar em colapso. Tinham-se verificado, no
Quénia e no Tanganika, atentados à bomba contra as embaixadas dos
EUA. Então, a responsabilidade dos actos foi integralmente
atribuída a bin Laden. Este, recebeu ordem de expulsão do
território sudanês e foi privado da nacionalidade saudita.
Acusaram-no, igualmente, de preparar, nos Laboratórios Al-Shifa da
família ben Laden, armas biológicas de destruição
maciça. A Interpol emitiu contra Oussama um mandado de captura.
Curiosamente, nada aconteceu a Oussama. Em 2001, chegou mesmo a sofrer uma
intervenção cirúrgica num hospital militar norte-americano
do emirato do Dubai. Manteve estreitas ligações com a CIA e o SIS
e deslocou-se livremente por vários países. Os negócios da
SBG prosseguiram normalmente.
Em Maio desse ano, independentemente das suspeitas que pesavam sobre bin Laden,
os talibãs e a al-Caeda, o governo Bush pagou aos teólogos do
Afeganistão 43 milhões de dólares, a pretexto dos danos
económicos causados pela destruição de
plantações de papoilas. Finalmente, uns três dias
após os atentados contra as Torres de Nova Iorque e contra o
Pentágono, Oussama ben Laden foi declarado, pela
administração Bush, "Inimigo Público N.º 1 do
Estado norte-americano" .
2- O Bushladen Carlyle Group
O
Carlyle Group
(como se viu, também gestor dos interesses do grupo Saudi no
Médio Oriente ) possui actualmente uma carteira de valores superior a 12
mil milhões de dólares. É o 11º. maior produtor
norte-americano de armamentos. As suas
holdings
dominam as maiores fatias do mercado internacional. Radica a sua principal
base financeira no petróleo, área onde os seus mais importantes
parceiros estratégicos são o
Saudi Binladen Group
(que inclui a família real saudita) e a
Halliburton Energy
, do vice-presidente de Bush, Dick Cheney. Muito antes de suceder o 11 de
Setembro, o Carlyle criou um fundo especial, o
Asian Partners
, destinado sobretudo à fusão dos lucros gerados pelo
petróleo árabe e à compra de posições
dominantes nas
holdings
das empresas aéreas e de segurança nos aeroportos. O Carlyle
agrupa 420 accionistas cuidadosamente escolhidos em todo o mundo, com carteiras
individuais de acções que oscilam entre os 80 mil e os 100 mil
dólares. Organiza-se como uma poderosa sociedade secreta. Recruta os
seus dirigentes entre os homens e mulheres mais influentes no aparelho do
Estado, no mundo financeiro e empresarial, nos principais serviços
secretos, na área castrense e universitária, etc. Seria absurdo
tentar mencionar-se, exaustivamente, os nomes dos seus colaboradores mais
activos. Alguns, no entanto, são bem conhecidos.
O
Carlyle Group
foi fundado, nos anos 80, por um poderoso grupo financeiro e
militar-industrial presidido pelos
Bush
(sénior e júnior) e por uma elite seleccionada entre
milionários, generais, dirigentes de serviços secretos,
diplomatas,
opinion makers
, estrategas, responsáveis religiosos, destacados economistas
neoliberais, etc. Comparativamente, convém acentuar que, enquanto o
império financeiro da família ben Laden passa, no seu percurso,
pelo BCCI - Bank of Credit and Commerce International e se cristaliza no
Saud Binladen Group
, os caminhos da família Bush são rigorosamente os mesmos.
Começam em
Prescott Bush
, avô do actual presidente norte-americano, um produtor médio de
petróleo texano, quando ele começou a fazer fortuna, no decurso
da II Guerra Mundial. De 1933 a 1941 apoiara a ascensão dos nazis
alemães e o esforço de guerra hitleriano. Porém, quando os
EUA entraram em guerra com a Alemanha, P. Bush viu-se impedido de manter
relações com as empresas do inimigo. O chefe do clã Bush
criou então, sobretudo na Holanda e na Bélgica ocupadas, uma rede
de sociedades comerciais destinadas ao
branqueamento
do saque nazi. Essas empresas, já então organizadas
em rede
, dependiam de uma "holding-mãe": a
Consolidated Silesian Steel Company
. Os capitais e os lucros do negócio acabavam, depois, por ser
exportados para os EUA, regressando às mãos de Prescott,
através da cobertura fornecida por um estabelecimento bancário
americano, o
Union Banking Corporation
. Os lucros líquidos não resultavam, apenas, destas escuras
operações financeiras. A
Consolidated,
de P. Busch, tinha um contrato firmado directamente com o governo alemão
que a autorizava a utilizar a mão-de-obra escrava fornecida pelos campos
de extermínio. Prescott instalou em Aushwitz a fábrica que os
Bush mantiveram em actividade até ao final da guerra. Chamava-se
Oswiecim-Auschwitz
e assumia-se como ramo industrial do grupo da Consolidated Silesian Steel.
É curioso recordar-se que também os ben Laden, quando se tratou
de organizar o ramo financeiro do grupo, foram a Lausana contratar um banqueiro
nazi.
Em 1987, a família Bush criou, na Carlyle, um fundo autónomo de
investimentos cujos capitais cresceram vertiginosamente. Eram, em grande parte,
provenientes de transferências ordenadas pelo BCCI, dos Laden e dos
Mahfouz. Quando, quatro anos mais tarde, foi decretada a falência do
banco, todos os activos desse fundo tinham já sido incorporados no
capital social do
Carlyle Group
, arruinando as economias de cerca de 1 milhão de pequenos depositantes,
na sua maioria norte-americanos e árabes.
O presidente executivo do
Carlyle
é
Frank Carlucci,
personagem bem conhecido dos portugueses como embaixador dos EUA em Lisboa e
pela sua intolerável intromissão nos assuntos nacionais, a
culminar no golpe de 25 de Novembro de 1975. Isso aconteceu antes de
Carlucci
ser nomeado responsável nacional da CIA e secretário de Estado
da Defesa.
Na administração da Carlyle,
Carlucci
faz-se acompanhar por uma imponente escolta, toda ela constituída por
ex-directores da "secreta" norte-americana ou por figuras de
referência da CIA:
Helms, Casey, Kashoggi, Ghofanir
, os homens do
Irangate
. Os actuais vice-presidentes dos EUA -
Rumsfeld, Dik Cheney, Powel
- são altos executivos da empresa que integra outros políticos
de grande peso internacional, como
Madeleine Albright, William Luti, Henry Kissinger, Pete Roodman, Richard Perle
(CIA), James Baker, Richard Darman ou John Major
, o ex-primeiro ministro inglês. O importante
lobby
do petróleo árabe encontra-se representado por
Sami Mubarak Baarma,
procurador dos interesses de bem Laden na Grã-Bretanha; por
Talat Othmann,
vindo da
Harken
, a empresa que permitiu a George Bush Jr. enriquecer; por
Saleh Idris,
accionista maioritário da
IES-Digital Systems
, construtora e certificadora de sistemas de segurança ingleses e
director-geral do
Saudi Sudanese Bank
, de Mahfouz / Ben Laden; e por
Al-Amoudi,
representante dos interesses árabes no projecto da nova rede de
pipelines. Outras figuras importantes da
Carlyle Group
podem ser apontadas, como
George Soros
, especulador dos capitais financeiros e "pomba da paz" das
filosofias da reconciliação; o ex-presidente democrático
William Clinton
cujo escritório de advogados novaiorquinos, o
White and Case
, tem o exclusivo da assistência jurídica da firma nos processos
referentes à
Carlyle
;
Henry Kissinger,
conselheiro especial em questões políticas;
James Baker,
secretário do Tesouro, com Reagan, e secretário de Estado, com G.
Bush, pai; e
Fred Malek
, curiosa figura pública menos falada mas que teve um papel decisivo nos
resultados das eleições presidenciais que reconduziram no poder o
pai do actual George Bush.
Em conclusão, poderá referir-se que o
Carlyle Group
conquistou, após o 11 de Setembro de 2001, muitas das
funções que habitualmente deveriam ser atribuídas ao
governo dos EUA. Não só domina os circuitos financeiros,
económicos e administrativos mas, também, os centros de poder
onde são decididas as questões da guerra e da paz. Em torno da
noção imperialista do domínio dos carburantes gerou-se uma
confusa ideia de grandeza da pátria americana. As forças
militares e militarizadas que sustentam essa nova mentalidade são
verdadeiras ameaças à paz. Donald Rumsfeld, secretário de
Estado da Defesa e executivo todo-poderoso da rede da Carlyle, é um
exemplo de que assim é. Ainda decorria a guerra do Kosovo, em tempos da
administração Bush pai quando o governo americano ficou alarmado
com a rápida degradação que a imagem pública
norte-americana estava a projectar em todo o mundo. Então, Madeleine
Albright, secretária de Estado, apressou-se a criar um novo
Subsecretariado para a Diplomacia Pública, destinado a coordenar e
controlar os elementos de imagem do governo federal e do Pentágono. A
nova estrutura desencadeou de imediato uma luta acesa entre a Secretaria de
Estado (M. Albright) e a Secretaria da Defesa (D.Rumsfeld), ambas reclamando o
controlo da nova estrutura. Donald Rumsfeld acabou por vencer, do que resultou
a ligação da chamada diplomacia pública às
agências de informação militar, como a
OSI-Office for the Strategic Influence
(OSI-Agência de Influência Estratégica) ou a
IMIG-International Military Information Group
(IMIG-Grupo Internacional de Informação Militar),
formação comandada pelo general Simon Worden,
estratega pioneiro da Guerra Assimétrica do Espaço, ou
Guerra das Estrelas.
A US Navy constituiu, então, o seu próprio Subsecretariado
Adjunto às Operações Especiais (o
Naval Network Warfare Comand)
um serviço do Departamento da Defesa dirigido pelo comandante naval
William Luti,
conselheiro de Dick Cheney, N.º 3 da administração Bush
filho, dirigente "histórico" da Carlyle e verdadeiro
"patrão" do poderoso complexo norte-americano militar e
industrial. O Estado-Maior Inter-Armas (
Joint Strategic Capabilities Plan)
estabeleceu a nova tese que vigorou na recente agressão ao Iraque: a
propaganda assume o mesmo nível de importância reconhecido
à diplomacia, às operações militares e à
acção económica.
Todos os nomes citados participam activamente no
Carlyle Group.
São apenas alguns dos muitos dos oficiais-generais que planificam o
terror e decidem, em nome da democracia, as questões da guerra e da paz.
O outro aspecto verdadeiramente dramático do projecto da Carlyle,
é o do seu envolvimento com as
forças especiais clandestinas (Special Forces Underground)
cuja tradição nos EUA já vem de longe. Neste aspecto, de
novo se detecta a explosiva e obscurantista mistura deliberada entre os valores
culturais do povo americano e os seus contra-valores.
Resumidamente, na América do Norte e a partir da
desmobilização militar da guerra do Norte contra o Sul,
formaram-se milhares de "gangs" ou "bandos" que o Estado
central não tinha capacidade para combater ou para integrar socialmente.
Por isso, consentiu-os ou institucionalizou-os. Provinham da sociedade civil
racista e mística dos caciquismos locais, dos interesses
ligados à industrialização e do que parece continuar a ser
insolúvel nos EUA: a subordinação do poder
económico ao poder político e a sujeição do poder
militar ao poder civil. Assim se originou a
Ku-Klux-Klan,
as
unidades ocultas (stay-behind)
, os
barretes verdes
, os
esquadrões da morte,
as
redes do ódio,
a
John Birch Society
e milhares e milhares de outros núcleos armados,
fundamentalistas, racistas e terroristas que nos EUA proliferam e o
Estado federal aparenta ignorar mas de que politicamente se aproveita. As
organizações militarizadas de extrema-direita distribuem-se por
todo o território dos EUA. Recebem apoio directo de sectores das
Forças Armadas norte-americanas e da CIA e, em certos, casos,
encontram-se equipadas com armas pesadas e têm acesso a depósitos
de armamentos do Exército. As organizações terroristas
privadas norte-americanas estão federadas na
Major General Edwin A. Walker Society
e parece terem o seu principal elo de ligação com as tropas
especiais EUA em
Fort Bragg,
gigantesco complexo militar destinado ao ensino das técnicas de
sabotagem, interrogatório de prisioneiros e terrorismo. É
frequentado por especialistas militares da NATO e da CIA. No megalómano
projecto em que a Carlyle se encontra empenhada o AMBO /Trans-Balkan
Pipelines as
SFU - Special Forces Underground
terão uma intervenção insubstituível.
3- AMBO: o domínio total do petróleo, do gás e da
água potável
Pouco tempo após a constituição do
Carlyle Group
começou a falar-se num projecto energético megalómano,
já em desenvolvimento: o
AMBO - Trans-Balkan Pipelines.
Consiste na captação, transporte e distribuição,
através de tubagens, de todo o
crude
existente numa região vastíssima. Numa segunda fase
apropria-se, no quadro dos mesmos objectivos, de todo o gás natural da
mesma
região. A mais longo prazo, visa o controlo global das reservas de
água potável e a sua comercialização. Como é
evidente, o projecto tem vertentes políticas, militares e empresariais.
Nesta última componente (a empresarial), o
AMBO
arranca sob a direcção de uma coligação de
interesses representada pela
Carlyle
(famílias Bush e Bin Laden, Rumsfeld, Carlucci, Kissinger)
; pela
Halliburton
(Dick Cheney, Bill Clinton, Bill Richardson, Dick Powell)
; pelas grandes empresas de petróleo mundiais
(BP-Amoco-Arco, Texaco and Chevron, Exxon-Mobil, ENI, Delta Oil, etc)
; e pelo eixo militar anglo-americano cujos gigantes industriais constroem,
reconstroem, equipam e gerem as principais obras de infra-estrutura em todo o
mundo. Tecnológica e financeiramente falando, as bases deste
negócio parecem simplesmente esmagadoras. Quanto ao projecto, trata-se
resumidamente do seguinte.
Em enormes regiões do Próximo Oriente e da Ásia Central, o
petróleo quase que nasce debaixo dos pés. Do Barhain ao
Azerbeijão ou do Iraque e do Irão à longínqua
Sibéria, há riquíssimos jazidas de "ouro negro".
Sem dúvida que ao longo do século XX muito se fez no sentido da
sua utilização. Foi a partir da força de trabalho dos seus
povos mas com base no petróleo existente que a URSS se industrializou e
ajudou outras nações que lutavam por estatutos próprios de
afirmação e independência. Em resultado dessa
situação sócio-política foi estabelecida, em tempos
da URSS, uma impressionante rede de
pipelines
principalmente orientados, a partir das zonas do
crude
, para os grandes centros urbanos e industriais soviéticos e para os
portos dos mares exteriores. Nos países não socialistas
produtores de petróleo do Médio Oriente, o produto era
encaminhado para um ou dois oleodutos centrais em cujos terminais o
petróleo era bombeado para gigantescos petroleiros que o conduziam rumo
aos países industrializados do Ocidente. Após o desmembramento
da URSS, todo este sistema foi considerado caduco. O petróleo russo
ficou à mercê das transnacionais (só no Azerbeijão
funcionam 21 consórcios ocidentais). Países imensos em vias de
industrialização, como a China e a Índia, encontraram-se,
de súbito, à margem da rede das principais condutas. No
Médio e Próximo Oriente, a situação social e
política tornou-se cada vez mais incerta. Assim, a
solução permanente das crises da globalização
terá de passar pela drástica reformulação de todo o
sistema. Deste modo nasceu o projecto
AMBO.
Trata-se, em síntese, de estabelecer através de um
perímetro que envolva a Arábia, a Federação Russa e
as Repúblicas Autónomas da ex-URSS, do Sudão,
Etiópia, Egipto e toda a bacia mediterrânica envolvente, um
gigantesca oleoduto. Por ele será conduzida a produção de
carburantes desta inestimável região natural. Prevê-se que
o gigantesco pipeline seja dotado com refinarias, aeroportos,
estações de bombagem, bases militares, centros urbanos e de
telecomunicações, etc. Dele partirá toda uma rede de
oleodutos secundários, dispostos segundo as exigências dos
países ricos e industrializados. O oleoduto principal contornará
o Mediterrâneo e o Adriático e garantirá o fornecimento
energético da Europa a preços inferiores aos actuais. A partir da
Arábia, e no sentido da Ásia e da América,
expandir-se-á através da Sibéria, por onde será
fácil ligá-lo ao Alaska e aos EUA; através do
Afeganistão e do Paquistão, tornará seus
subsidiários os promissores mercados da China e da Índia. Porque,
embora seja representado oficialmente como um simples pipeline de naftas, o
oleoduto da
AMBO
canalizará, também, petróleos semi-refinados, gás
natural, sucedâneos do
crude
, e incorporará ao longo dos seus territórios redes de
telecomunicações e a chamada
inteligência secreta
, nomeadamente as mensagens diplomáticas, industriais ou de
informação civil e militar ultra-confidenciais que eternizam
certas forças no poder.
Na sua primeira fase de instalação está prevista a
passagem da AMBO por uma dezena de países. O que implicará que
esses Estados cedam nos seus territórios faixas de 50 ou 100
quilómetros de largura, para servirem como
corredores militares
. Só assim será garantida a "estabilidade" do projecto,
afirmam os colaboradores de Rumsfeld e Dick Cheney. O contrato terá
duração indefinida e haverá lugar, por parte da
Halliburton Energy
, ao pagamento de uma renda, importante para uma economia débil mas
irrisória em relação aos lucros do petróleo. Por
outro lado, caberá à empresa responsável pelo cumprimento
do pacto a designação das "forças especiais" que
terão o encargo de defender o "corredor" das
intervenções estrangeiras
ou das
perturbações sociais,
impondo a
ordem pública
. Volta assim a abrir-se a questão do verdadeiro papel a desempenhar no
projecto, quer pelas
forças militares clandestinas
(organizações de extrema-direita, milícias privadas, ligas
de ex-combatentes, seitas religiosas ligadas ao terrorismo, etc.), quer pelas
forças de operações especiais
(comandos, barretes verdes, paraquedistas, especialistas de Fort Bragg, equipas
de sabotagem, e outros) quer, também, pelas
unidades mercenárias
secretamente formadas e enquadradas pela CIA ou pelo Pentágono, como
movimentos cívicos fundamentalistas, correntes dissidentes,
associações humanitárias
ou
ligas intelectuais,
ocultamente destinadas a dividir e minar as resistências dos povos do
"grande corredor".
Uma última anotação para o pano de fundo da
tragédia que o Pentágono continua activamente a preparar. Embora
o projecto da AMBO seja oficialmente da iniciativa privada, torna-se evidente
que se reveste de ambições que só o Estado pode
viabilizar. Assim, na guerra dos petróleos, a Secretaria de Estado e o
complexo militar-industrial das Forças Armadas figuram como deuses
tutelares. Cabe à Secretaria de Estado EUA e ao Departamento de Defesa
acorrentarem o povo americano e a sua opinião pública aos
fantasmas ancestrais do
terror
. Paralelamente, sem empecilhos éticos ou políticos, o complexo
militar-industrial deve continuar a desenvolver o arsenal americano.
Em Março de 2002, George Bush (filho) autorizou o fabrico em
série de
ogivas nucleares económicas
, munições atómicas baratas e com grande poder de
penetração no solo. Actuam a partir de novas técnicas de
cisão do átomo. A
família
a que pertencem compreende as
bombas de urânio empobrecido
, as
bombas de fragmentação
e outras munições atómicas de pequeno porte,
ajustáveis às armas convencionais. A sua carga explosiva pode
propagar-se na atmosfera
(efeito pirofónico)
, introduzir-se na cadeia alimentar ou associar-se a outros elementos
radioactivos letais
(DU Shell)
. Já se encontram em fase de produção armas
químicas proibidas, tais como os
alucinógenos agressivos
ou as
armas químicas incapacitantes
, usadas em interrogatórios de suspeitos ou contra
manifestações populares.
Armas bacteriológicas que modificam o código genético dos
animais ou das plantas e podem determinar genocídios por
causas naturais
. Bombas de fragmentação carregadas com anthrax ou com agentes
da varíola. Sistemas gigantescos de telecomunicações que
tornam possível desencadear, em qualquer parte do mundo,
inundações, secas, furacões, incêndios e tremores de
terra. Emissores de micro-ondas de alta potência que destroem
computadores e redes de comunicação. O
BLU-118B
, uma ogiva disparada por um foguetão, que penetra 300 m no solo antes
de explodir. O
bombardeiro sub-orbital,
veículo lançado do espaço a partir de um avião com
uma velocidade 15 vezes superior aos máximos actuais e que será
capaz de projectar cargas atómicas sobre alvos desconhecidos, situados
no hemisfério oposto. Ou as
armas de alta tecnologia baseadas no espaço
, que usam ventos e marés e utilizam os seus regimes naturais como
poderosas armas de guerra e de destruição maciça.
O petróleo mata, efectivamente. Porém, não como elemento
natural cuja utilidade o homem descobriu. O que mata, no petróleo,
é a função que o sistema político e
económico lhe reserva. Petróleo do desenvolvimento,
petróleo da guerra, petróleo do lucro, petróleo da paz?
A luta que se trava pelo domínio do petróleo é entre
classes de interesses e de valores. Ou seja: entre o petróleo
considerado como bem natural que a comunidade humana reparte entre si; ou como
fonte de lucro de uma minoria rica que entre si se combate. É uma fase
da luta entre o Socialismo e o Capitalismo. É uma luta política.
Iremos nós morrer pelo petróleo dos ricos?
[*]
Jornalista.
Intervenção produzida no debate
"O petróleo (também) mata..." realizado em 07/Set/2003
no Pavilhão "Ciências & Tecnologia"
da Festa do "Avante!"
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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