Mentiras renováveis
por Demétrio Alves
Mesmo as pessoas que não votaram PS e que não têm a
intenção de aplaudirem grande parte das políticas dos
governos de José Sócrates, têm, no entanto, uma forte
convicção subjectiva de que as realizações no
domínio energético e, sobretudo, no campo da
produção de electricidade a partir de energias primárias
renováveis (eólica, solar, hídrica, ondas) têm sido
muito boas.
Na presente campanha eleitoral o primeiro-ministro em funções
não perde uma oportunidade para se afirmar campeão europeu das
renováveis e das viaturas eléctricas, afirmando que Portugal
está na vanguarda mundial destes sectores. Segundo a tese governamental
estaríamos a diminuir imenso a nossa dependência energética
do petróleo, a reduzir os impactes ambientais, a aumentar a componente
nacional nos equipamentos de produção energética e,
finalmente, a fazer crescer o nível do emprego no sector para um
patamar, ainda segundo o governo, de 100 000 novos postos de trabalho.
É importante que façamos uma análise cuidadosa e isenta
desta questão, independente dos calores eleitorais, tentando apurar o
que há de realidade e de falsidade naquilo que tem sido anunciado.
Será, então, verdade que têm crescido as
produções de electricidade a partir das fontes renováveis?
Será certo que isso tem contribuído de forma significativa para
pouparmos importações de energia do estrangeiro e, em particular,
de petróleo? E é verídico que a instalação
de muitas novas pequenas centrais eléctricas à base de
renováveis contribui para o desenvolvimento económico e
tecnológico português? E, os preços da electricidade para
os consumidores, são mais baixos ou mais altos, à medida que
vão proliferando as centrais eólicas e fotovoltaicas? Será
verídico que o sector das energias renováveis criou, nos
últimos anos, 100 000 novos postos de trabalho?
Tentar-se-à responder às várias questões, mas,
desde já parece não ser abusivo começar por uma
afirmação: há, isso é evidente, uma monumental
campanha publicitária em torno do "vanguardismo governamental"
no domínio energético. Tamanha é ela, que até o
secretário de estado da energia é um especialista em
gestão da informação. E, nessa campanha, há de
tudo: desde verdades reais, até às mais sofisticadas aldrabices.
O secretário de estado é, aliás, um hábil debitador
de ideias acerca da inovação, confundindo infelizmente, como
já ouvi em directo (num seminário na Faculdade de Direito de
Lisboa), megawats com megabites.
Nesta crónica focam-se diversos tópicos, sempre de uma forma
sintética e, designadamente, o aspecto relacionado com o emprego.
Convirá esclarecer, desde já, que o aproveitamento das energias
endógenas, renováveis e não renováveis, é
defendido por muitos sectores técnicos, económicos,
políticos e científicos portugueses há várias
décadas. No domínio político-partidário, isso
é perfeitamente visível nos diversos documentos do PCP e da CDU,
nos quais colaborei. Ou seja, à partida, o aproveitamento de recursos
renováveis portugueses para produção de energia
eléctrica (ou outro tipo de energia final) é necessário,
útil e defensável, como se poderá ver nos diversos estudos
e propostas políticas elaboradas desde há cerca de trinta anos.
Por exemplo, a energia hidroeléctrica potencial existente em Portugal,
foi alvo de grandes debates e polémicas célebres. Mas foi
maioritária a opinião de que deveria ser aproveitado
exaustivamente, sobretudo se isso significasse uma articulação
profunda com a produção industrial de equipamentos, com o
projecto e com a investigação científica e
tecnológica.
Faz-se este esclarecimento porque, hoje em dia, quem se pronuncia de forma
crítica contra a política energética dos dois ou
três últimos governos é imediatamente apodado pela
máquina de propaganda socrática e suas excrescências
ecotópica e ecoliberal, de ser retrógrado e de estar contra o
aproveitamento dos recursos renováveis, o que é uma completa
mentira.
É necessário dizer, desde já e de forma clara, que, com o
aproveitamento integral e sustentável (ou seja, nem todos os recurso
devem ser aproveitados devido a questões ecológicas e
patrimoniais relevantes) dos recursos hídricos em grandes, médios
e pequenos aproveitamentos, e com um desenvolvimento moderado e equilibrado da
energia eólica (descartando a proliferação oportunista
deste tipo de produção), poderíamos assegurar cerca de
metade dos consumos futuros de energia eléctrica. Contudo, e é
importante salientar esse facto, ficaríamos sempre longe de suprir todas
as necessidades de electricidade necessárias ao desenvolvimento
económico e social.
Quanto à transformação da energia solar, ou das ondas, em
energia eléctrica, o estado actual do desenvolvimento tecnológico
é ainda insuficiente para permitir um aproveitamento generalizado destes
abundantíssimos recursos com custos aceitáveis para os
consumidores e com níveis de consumo de recurso financeiros (escassos)
realizáveis.
É que não devemos esquecer a diferença fundamental entre
"Recursos" e "Reservas".
Considera-se como "Recurso" aquele material (carvão, lenhites,
gás natural, petróleo, etc.,) ou vector energético (vento,
radiação solar, curso de água) fisicamente
disponível em quantidade e qualidade adequadas para uso massivo,
industrial ou urbano, mas que não foi submetido a uma
avaliação financeira e económica, ou, tendo-o sido,
concluiu-se que não era económica e socialmente possível
utiliza-lo; "Reserva"" é um recurso disponível
para exploração e que pode ser produzido economicamente, em
função de custos, procura, preços e
condições de financiamento actuais.
Ou seja, as reservas são menores que os recursos. Em certos casos, muito
menores! Podem variar, entre outras coisas, devido às tecnologias
maduras disponíveis e à variação do preço do
petróleo bruto que serve de referencial económico:
à medida que este aumenta, passa a ser mais "rentável"
explorar os recursos cuja extracção ou aproveitamento é
mais caro e difícil.
Certos divulgadores pseudo-científicos, vários homens de
negócio e muitos neo-políticos, gostam de confundir os dois
conceitos por pura propaganda destinada a encandear espíritos
ingénuos. Como sempre acontece, também neste campo a
confusão é explorada para propiciar chorudos negócios
privados. É que, sempre será possível transformar um
recurso imaturo (teórico) em reserva se, por exemplo, se financiar com
dinheiro público (vindo dos contribuintes nacionais ou europeus) ou com
uma sobrecarga nos consumidores de energia final, os investimentos e
produções de investidores privados, e baseadas em recursos cujo
aproveitamento não seria viável, à partida, no tal
"mercado livre" de que tanto se fala. É por essa razão
que alguns dos nossos paladinos das renováveis, metidos a homens de
negócio, mas aparecendo como protectores ambientais e defensores dos
recursos nacionais, tanto barafustam contra qualquer crítica que se
faça às energias renováveis e, em particular, à
energia eólica: é que, de facto, a sua grande
preocupação é manter a máquina de fazer lucros (em
boa parte expatriados veja-se, atentamente, a composição
do capital social das grandes empresas do ramo), baseados na
subsidiação pública! Trata-se de um filão
comparável ao da prata de Potosi!
Poderia considerar-se aceitável, numa perspectiva de interesse nacional,
que, dentro de certos critérios rigorosos e durante curtos
períodos temporais (até 6 ou 7 anos), houvesse
subsidiação
(market enablement)
para permitir a introdução económica de novas tecnologias
de aproveitamento das energias renováveis. Sobretudo, isso seria
defensável quando não houvesse dúvidas de que os
benefícios directos e indirectos fossem muito superiores aos custos; por
exemplo, se houvesse produção massiva, em solo português,
dos equipamentos de produção energética e infra-estruturas
conexas. Ora, no caso vertente, isso é pouco relevante (sobretudo existe
a construção e montagem de torres metálicas e
hélices para os geradores eólicos), embora a campanha diga que o
cluster é muito forte e com grande tecnologia incorporada no
"fabrico" de motores e controladores.
Em termos mundiais as fontes de energia renováveis são
responsáveis pelo fornecimento 19% da energia final consumida em todo o
mundo (REN21-Renewables 2010 Global Status Report). Mas, para encontrar este
valor entrou-se com a biomassa tradicional, com a grande hidroeléctrica
e com as "novas renováveis": mini-hídrico, biomassa
moderna, eólico, solar, geotérmico e biocombustíveis. A
maior fatia destes 19% diz respeito à biomassa tradicional, 13%! Ou
seja, diz respeito ao consumo de lenhas em várias regiões
africanas e sul-americanas, onde os autóctones as utilizam, erodindo o
coberto arbóreo, para cozinharem. O hidroeléctrico representa
3,2% e as restantes renováveis, no seu conjunto, representam apenas
2,6%, situando-se o seu crescimento principalmente nos países
desenvolvidos (Europa e EUA). Isto é, a designada "grande
revolução das renováveis" tem um significado real
muito limitado.
Em tempos, os recursos hídricos portugueses susceptíveis de
utilização na produção de energia eléctrica
foram avaliados em 19 000 GWh de produtibilidade em ano médio. Mais de
metade destes recursos fica na bacia do Douro.
Actualmente, as dificuldades de concretização de alguns desses
aproveitamentos, por razões ambientais, económicas e sociais,
reduzem a quantidade dos recursos utilizáveis de forma muito
significativa. Mesmo assim, ainda estarão disponíveis 5 a 7 000
GWh de reservas hidroeléctricas por aproveitar. E esta é a
única forma de utilização das fontes renováveis de
energia para produzir electricidade que não é subsidiada em larga
escala. Tem ainda a vantagem de poder ser controlada através do
armazenamento em albufeiras que regularizam caudais de ponta e fazem frente
à irregularidade da precipitação hidrológica.
Condenável, foi a estagnação dos investimentos da EDP em
hidroeléctricas durante quase uma quinzena de anos, porque, numa
primeira fase (anos oitenta), houve que a preparar (engordar) para a
privatização e, depois, gerida já de acordo com os
standards bolsistas, mantiveram o escasso nível de investimento
hidroeléctrico.
Desde há 18 anos, que uma pequena central eólica pioneira, com 2
MW de potência instalada, funciona em Sines.
Em 2009 a capacidade de potência instalada em geradores eólicos em
Portugal Continental atingiu 3500 MW, que produziram 7500 GWh correspondendo a
15% do consumo eléctrico nesse ano. O crescimento do aproveitamento da
energia eólica foi intensivo, atingindo a potência instalada de
4000 MW, já no final de Maio de 2010.
O recurso eólico em Portugal é abundante. Contudo, a sua
dispersão e irregularidade (volatilidade produtiva) trazem problemas
significativos à sua utilização. E não é de
desprezar os impactes ambientais que começa a produzir em algumas
regiões.
A quantidade de recurso economicamente aproveitável (reservas) depende
muito, como já dissemos, dos tipos de apoios que se queira (e possa) dar
aos investidores neste tipo de exploração. Em finais de 2009
encontravam-se em fase de projecto, licenciamento, ou construção
cerca de 2000 MW de potência em novos parques eólicos (ou em
ampliações de existentes). Com a concretização
destes parques, a produtibilidade média de todo o parque de
geração eólica atingiu 12000 GWh, a que correspondeu 26%
do consumo de energia eléctrica, em 2009. Com o propósito
anunciado em Abril pelo Governo sob a pressão do lóbi
eólico de promover a instalação de mais 3 000 MW de
centrais eólicas, a produtibilidade do sistema electroprodutor desta
fonte poderia vir a ultrapassar 18 000 GWh (40% do consumo 2009) o que seria
uma enormidade para a dimensão das nossas redes e para as
características do nossos diagramas de consumos. É
necessário perceber que, ao contrário da Dinamarca, que articula
as suas produções eólicas com a hidroelectricidade
norueguesa, nós teríamos que fazer um enormíssimo
"triplo investimento" para integrar aquilo que seria um monstruoso
parque eólico.
O custo da produção de energia eléctrica a partir do vento
é bastante superior ao custo da produção convencional.
Há países nórdicos europeus, com forte
implantação de energia eólica desde há muitas
décadas, e com unidades industriais de construção integral
dos equipamentos produtivos, onde a produção já não
é subsidiada. Devido à aleatoriedade do vento (e consequentemente
da produção de energia), os sistemas com grande
penetração de energia eólica, como é o caso
português, são obrigados a possuir maior potência instalada
de reserva (térmicas a gás natural) e formas de armazenamento de
energia (em albufeiras com grupos reversíveis para fazerem bombagem
nocturna), que oneram muito significativamente o custo de
produção da energia eléctrica do parque misto
construído segundo esta opção.
Desde 2000 até ao final de 2009 foram instalados em Portugal cerca de
4300 MW em centrais de produção de energia eléctrica que
usam recursos renováveis como fonte primária, maioritariamente
eólicos (3500 MW), mas também hídricos (600 MW) e
fotovoltaicos (120 MW ). A potência total instalada no final de 2009 era
17000 MW, dos quais 8500 MW eram de base renovável.
A estrutura do sector electroprodutor nacional sofreu, de facto, uma grande
alteração nos últimos 10 anos. Em 2000, num total de 10
000 MW, apenas 300 MW correspondiam a centrais com pequena capacidade de se
adaptarem às variações de consumo, ou seja, 3%, enquanto
no final de 2009 essa percentagem já era de 25%. Isto poderá vir
a significar desequilíbrios na rede, caso se insista na
intensificação desta fonte, por razões técnicas que
agora não é oportuno explicar
Diz-se, através da propaganda governamental, que com as
renováveis se está a fazer diminuir a nossa dependência do
petróleo. Invoca-se que, no período de 1990 a 2005, os
combustíveis fósseis viram a sua incorporação no
total da energia primária aumentar de 82% para 87% e que, desde 2005,
fruto da política energética, foi possível regressar aos
níveis de 1990 (82% de dependência).
É necessário esclarecer que as energias renováveis
são, no fundamental, utilizadas para produzir electricidade, e que a sua
utilização não contribuiu em quase nada para poupar
petróleo porque, muito simplesmente, desde há vários anos
que quase não se produz electricidade a partir de petróleo.
Poupa-se, é certo, algum carvão e gás natural.
Também não é verdade que tivesse sido devido às
renováveis que se regressou à dependência externa
verificada em 1990 (82% de energia primária vinda de fora). Muito
simplesmente o que se passou, como demonstram as estatísticas da DGEG,
é que houve uma redução do consumo final de energia,
particularmente na indústria, devido ao declínio estrutural da
actividade económica verificada desde 2005!
Por diversos motivos, alguns já aqui abordados, alguns recursos
energéticos portugueses, renováveis e não
renováveis, não são verdadeiras reservas
energéticas. E isso é escamoteado de forma sistemática em
Portugal para iludir os diversos públicos. Está a esconder-se a
verdade tal como se escondeu, durante anos, a grave situação
portuguesa no que diz respeito ao deficit externo.
Segundo a ENE 2020-Estratégia Nacional para a Energia as energias
renováveis deveriam representar 60% da energia eléctrica
produzida naquele ano, ou seja, 31% de toda a energia final consumida em 2020.
O sector eólico deveria, segundo este cenário, ser o maior
responsável pelo cumprimento deste objectivo, prevendo-se atingir 8500
MW instalados em 2020; o hidroeléctrico 8600 MW e o fotovoltaico 1500 MW.
Isto é mirífico, incorrecto, insuportável e antinacional.
Desde logo porque não vão haver recurso financeiros para tal e,
depois, porque o preço da energia eléctrica já subiu a
níveis incomportáveis (em parte devido à pressão
dos subsídios às renováveis).
É natural que, homens como o Engº Carlos Pimenta, não
concordem com esta afirmação e, por isso, se amofinem quando
escutam a crítica àquilo que consideramos ser um "excessivo
portfólio" de renováveis de pequena dimensão no
parque electroprodutor. Chegam a cair na agressão verbal para defenderem
a sua dama. Ou, então, praticam uma espécie de terrorismo verbal
para amedrontarem as pessoas com as questões ambientais.
Isso não poderia deixar de acontecer porque aquele
"ambientalista" à moda de Al-Gore está profundamente
envolvido no negócio, como accionista e administrador de várias
empresas (Geproden, Enerinvest, Vento Minho, EdF, Generg, etc), algumas com
intensa participação estrangeira, que têm vindo a ter
enormes lucros. Como é que o homem não havia de defender, com
unhas e dentes, o filão das renováveis subsidiadas? Assim, todos
compreendemos melhor por que razão há trinta anos ele tanto
defendeu a liberalização e privatização de sector
eléctrico!
Vamos, finalmente, à questão do emprego relacionado com as
energias renováveis. O governo veio dizer recentemente que se teriam
criado cerca de 100 mil postos de trabalho!
Este valor, deriva daquilo que aparece no documento
"Estudo sobre os empregos verdes em Portugal"
, de 2009, elaborado a pedido do "Gabinete de Estratégia e
Planeamento do MTSS", pelo CEEETA Consultores em Energia Lda., que
ele se encontra referido pela primeira vez.
A CEETA é uma empresa que resultou da metamorfose de um Centro
Universitário com o mesmo nome criado no final da década de 80 do
século passado no ISEG no qual colaborei, aliás e
na qual tem grande preponderância o Engo. Carlos Pimenta.
Como se chega, então, ao referido número de 100 mil postos de
trabalho?
Lendo e relendo o documento do verifica-se que se trata de uma estimativa com
muito pouca solidez e fundamentada num raciocínio obscuro e com contas
erradas.
Anote-se, em complemento, que este número de
100 mil empregos
é, ele próprio, uma "revisão em alta" do
número que o mesmo governo apresentou no PEC I (30 000 empregos)! Ou
seja, não contente com a projecção especulativa
então elaborada pela Deloîtte em finais de 2008, o
primeiro-ministro e o secretário de estado da propaganda
energética vieram multiplicar por mais de três, a mentira anterior!
O tal relatório da Deloîtte foi apresentado à
comunicação social com grande pompa num hotel de Lisboa. Quando o
relatório ficou acessível ao público tornou-se
possível verificar que o número de empregos reais e directos
recenseados no sector das renováveis era de 2400, e que os restantes 33
600 eram "empregos indirectos" ou seja, estimados
imaginariamente!
Em 2008, a ADENE, promoveu um inquérito às empresas
correlacionadas e obteve o único número fundamentado em
inquéritos disponível até agora nesta matéria:
800 empregos!
Esse número tem sido referido por diversos fóruns internacionais,
como este que o cita aqui a propósito do relatório sobre
criação de emprego da própria EWEA, e que lhe adiciona os
cerca de 2000 empregos criados pela ENERCON em 2009-2010 nas fábricas de
Viana do Castelo que, com alguns fornecedores de componentes,
ascenderão, com optimismo, a 2400, ou seja, o número citado pela
Deloîtte e pelo próprio líder da ENERCON pelo
próprio líder da ENERCON em Portugal, Aníbal Fernandes,
há cerca de um ano.
O que acima se refere está em linha com autores
[1]
que dizem poder considerar-se que existam um total de
cerca de 3000 empregos directos e cerca de 4200 indirectos
, em Portugal, relacionados com a energia eólica.
Mas, mesmo estes números poderão ser excessivos se tivermos em
conta o número de empregados que as principais empresas produtoras de
electricidade eólica têm (quadro, prazo certo e recibos verdes).
De facto, o grupo Generg, a EDP Renováveis/Enernova (Portugal), a
Iberwind, a EDF-EN, a ENEOP, etc., apresentam no seu conjunto um rácio
de cerca de 0,12 trabalhadores/MW instalado. Ora, se tivermos em conta que
há cerca de 4 000 MW de potência instalada isso
representará cerca de
400 postos de trabalho!
Consideremos, então, que para além destes postos de trabalho,
haverá mais cerca de 800 envolvidos nas empresas de
construção e montagem, manutenção, etc., ou seja,
seremos conduzidos a cerca de 1200 postos de trabalho relacionados, em
média, com a energia eólica! Até porque as empresas
fabricantes de equipamentos e estruturas metálicas, a saber, a ENERCON,
a Tegopi, a ASM, a Martifer e a Electrofer II, não têm,
relacionados com o sector da energia eólica, mais do que 400
trabalhadores.
Em complemento à energia eólica temos a construção
dos novos aproveitamentos hidroeléctricos com grupos reversíveis
e a instalação de reversibilidade e reforço de potencia em
antigos aproveitamentos. Segundo as melhores estimativas técnicas
possíveis, a construção de todos os novos centros
produtores e o reforço dos antigos não gerarão mais do que
5 000 postos de trabalho
em média durante o período em causa (cerca de oito anos). Temos
elementos, contudo, que indicam que nos empreendimentos a cargo dos
espanhóis da ENDESA e da IBERDROLA estão a ser utilizados muitos
trabalhadores (alguns técnicos superiores juniores) provenientes daquele
país.
E quantos empregos indirectos são criados por estes empreendimentos
hidroeléctricos, principalmente ao longo do período de
exploração económica dos aproveitamentos?
Conhece-se bem o que aconteceu com os diversos casos portugueses. Com
excepção do Alqueva e congéneres (fins múltiplos),
sabe-se que o emprego indirecto gerado é, tendencialmente, baixo
(inferior a 2/3 de cada posto directo).
Haveria que adicionar agora os números relacionados com as
mini-hídricas, a energia solar, as centrais térmicas a biomassa e
as que utilizam resíduos urbanos e outros.
Em Portugal existem cerca de 100 unidades mini-hídricas e são
todas automatizadas. Envolverão cerca de 150 postos de trabalho directos.
No domínio do solar fotovoltaico, não obstante as grandes
campanhas de publicidade em torno de alguns projectos (por exemplo o RPP Solar
de Alexandre Alves, que anunciou a criação de 1900 empregos
subsidiados com dezenas de milhões de euros!) o que se pode apurar
aponta para cerca de 350 postos de trabalho directos criados, já
incluindo a unidade que a Acciona construiu em Moura como contrapartida do
ineficiente projecto realizado na Amareleja. Isto significa que talvez haja
mais 400 postos de trabalho indirectos. Existem, é certo, muitas
pequenas casas comerciais que vendem sistemas para aplicações
solares foto-voltaicas e térmicas, mas a expressão do emprego
gerado não ultrapassará as duas centenas.
No domínio da produção à base de biomassa
existirão de momento em Portugal 11 centrais, representando cerca de 200
postos directos e cerca de 1800 indirectos. É necessário ter em
conta que a central de produção de electricidade a partir de
resíduos florestais, propriedade da EDP e Martifer, em Mortágua,
está a poucos meses entrar em inoperacionalidade e não se
descortina quando começará a ser construída a nova unidade
prevista!
O número de centrais de valorização de resíduos
sólidos em Portugal vai crescer de oito para 23 até ao ano 2013,
disse o governo há uns meses (Humberto Rosa). O governante falava
durante a inauguração do sistema de aproveitamento de
biogás para produção de electricidade no aterro da empresa
Resiestrela, Fundão.
Mas, as que existem na realidade, cerca de 8 unidades, significarão
cerca de 300 postos de trabalho directos e mais de 400 indirectos.
Fazendo a adição dos valores referidos teremos:
Projectos recentes e em desenvolvimento
|
Postos de trabalho directos
|
Postos de trabalho indirectos
[melhor (estimativa teórica máxima)]
|
Biomassa
|
200
|
1800 (2500)
|
RSU
|
300
|
400 (400)
|
Solar
|
350
|
600 (750)
|
Eólica
|
400
|
1200 (7000)
|
Mini-Hidroelectricas
|
150
|
|
Hidroelectricas
|
5000
|
3000 (9000)
|
TOTAL
|
6400
|
7000 (19 650)
|
Chega-se, assim, a um valor final situado, actualmente (neste momento e nos
anos próximos) nos
14 mil empregos
, e relacionados com a "extraordinária política
governamental", uma "autêntica revolução"
como costuma ser referida!
Onde estão, portanto, os tais
100 000 mil
empregos?!
É bom que se anote que, em Portugal, se destruíram muitas
capacidades produtivas de equipamentos electroprodutores nos últimos
trinta anos da gestão neoliberal e de obediência cega aos
interesses da UE, ou seja, é puramente especulativa a ideia de que
irá agora ser constituído um forte cluster industrial
"português" nesta matéria, até porque há
países europeus que estão há muitas décadas no ramo
e a uma distância enorme de Portugal.
27/Maio/2011
[1] Prof. Pinto de Sá (IST),
http://a-ciencia-nao-e-neutra.blogspot.com/...
Ver também:
As promessas dos veículos eléctricos e a realidade do Peak Oil
O original encontra-se em
http://pracadobocage.wordpress.com/2011/05/27/mentiras-renovaveis/#comment-668
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
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