O subfinanciamento crónico do SNS
É urgente reforçar o orçamento do SNS
Defender a saúde dos portugueses
Garantir o funcionamento da economia
Evitar consequências económicas e sociais
dramáticas
A grave crise de saúde pública causada pelo
"coronavírus", que gera a incerteza e a insegurança,
está a destruir a economia e o emprego, a reduzir a produtividade e a
riqueza criada no país, a agravar as profundas desigualdades que
já existiam e a causar o alastramento rápido da pobreza no
país
(antes da pandemia já mais de 1.700.000 viviam no limiar da pobreza,
atualmente serão muito mais de 2.000.000)
A economia não pode nem fechar nem parar pois sem ela o país e a
vidas dos portugueses estarão condenados ao retrocesso e à
pobreza. É urgente defender a saúde dos portugueses também
para que a economia possa funcionar. Para conseguir é necessário
investir muito mais no SNS. Apesar do governo afirmar que está a
disponibilizar ao SNS os meios que este necessita para cumprir tal tarefa, isso
não corresponde à verdade. É o que vamos mostrar com dados
do próprio Ministério da Saúde.
AS TRANFERÊNCIAS DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA O SNS SÃO
SEMPRE MUITO INFERIORES À SUA DESPESA TOTAL MESMO EM 2020 E 2021, O
QUE CAUSA O SUBFINACIAMENTO CRÓNICO QUE DESTRÓI E INCAPACITA O SNS
Mesmo com a pandemia, e com a grave crise da saúde publica,
também em 2020 e em 2021 as transferências do Orçamento do
Estado para o SNS são muito inferiores à despesa do SNS, o
determina que este continue a carecer dramaticamente de meios
Mesmo em 2021, as transferências do Orçamento do Estado para o SNS
serão inferiores à despesa total prevista em 1.089 milhões
. Se somarmos os saldos negativos dos 11 anos constantes do quadro
anterior obteremos o impressionante montante de -12.467 milhões .
Entre 2020 e 2021, as transferências do OE para o SNS aumentarão
apenas 134 milhões (+1,3%) e não 467,8 milhões
como o governo diz na sua propaganda. O gráfico 1, mostra de uma
forma clara, a política de estrangulamento financeiro a que os
sucessivos governos têm sujeito e continuam a sujeitar o SNS.
Como revela o gráfico 1 (dados do Ministério da Saúde) o
financiamento do SNS pelo Orçamento do Estado tem representado apenas
entre 86,1% e 92,1% da despesa total do SNS. Tal facto tem contribuído
para o seu subfinanciamento crónico, que está a destruir o SNS e
incapacitá-lo de responder às necessidades do país. Mesmo
em plena grave crise de saúde pública, a insuficiência de
meios é clara como provam os próprios dados oficiais
(em 2021, as transferências do OE são inferiores à despesa
em 1.089 milhões ).
Para colmatar a enorme divida acumulada o governo faz de tempos a tempos
transferências extraordinárias ou permite a
utilização dos capitais próprios para outros fins: Mas
desta forma o SNS é estrangulado no seu funcionamento diário,
impedindo qualquer gestão racional, eficiente e responsável.
O ENDIVIDAMENTO ENORME DO SNS PARA SUPRIR A INSUFICIENCIA DAS TRANSFERENCIAS DO
OE
Se analisarmos a Conta do SNS referente a 2019 e 2020
(esta ainda com estimativas),
concluímos que o subfinanciamento por parte do Orçamento do
Estado, ou seja, o "buraco" tem sido coberto por receitas de jogos
sociais (122M em 2019 e 115M em 2020), por receitas das taxas
moderadoras pagas pelos portugueses (170M em 2019 e 112M em 2020) e
fundamentalmente através do endividamento cronico e enorme do SNS aos
fornecedores. Em 2021, com eliminação das taxas moderadores nos
centros de saúde a situação piorará
(entre 2020 e 2021,a receita das taxas moderadoras diminuirá de 112
milhões para 76 milhões ).
O gráfico 2 mostra o enorme endividamento do SNS devido ao
subfinanciamento crónico
No 4º Trim.2011
, a divida acumulada do SNS aos fornecedores atingia 3.249 milhões
. Este enorme endividamento do SNS obrigou o Estado a fazer um
financiamento extraordinário de 1.932 milhões o que
reduziu a divida de 3.249 milhões para 1.317 milhões
. Mas no 4º Trim.2012, a divida já tinha subido para 1794
milhões , o que significa que cresceu, em 2012, em 477
milhões .
No 3º Trim.2020, a divida seria muito maior do que o que consta no
gráfico 1.531 milhões se os aumentos de
capital de 256,4 milhões não fossem aplicados na
amortização da divida.
Para além disso, no ano de 2020 o SNS terminará com um
défice de 283,9 milhões
(Nota explicativa do Ministério da Saúde OE-2021, pág. 32).
O recurso sistemático do SNS ao endividamento para suprir as
transferências insuficientes do Orçamento do Estado está,
por um lado, a impedir a internalização de muitos serviços
no SNS por falta de investimentos e, por outro lado, a determinar o recurso
crescente aos privados, o que significa que uma parte significativa do
orçamento do SNS (ver quadro 2) vai engrossar os lucros dos privados com
custos acrescidos, pois estes impõem preços mais elevados como
contrapartida dos atrasos.
O SNS é uma fonte enorme de negócio e de lucro para o setor
privado. Segundo a "Conta do Serviço Nacional de
Saúde", divulgada pelo Ministério da Saúde durante o
debate na Assembleia da República da proposta do OE-2021, em 2020, e o
mesmo acontecerá em 2021, 56,7% do orçamento do SNS
(6.412 milhões em 2021)
é utilizado para aquisição de bens e serviços a
empresas privadas (
na ADSE são 550 milhões para privados sendo criticada por
isso).
A parcela destinada aos profissionais de saúde 42,6% do total
da despesa corrente é muito menor
(4841 milhões em 2021).
O investimento no SNS em equipamentos e outros bens de capital tem sido
mínimo, mesmo ridículo. Em 2019, representou apenas
1,46%
da despesa total; em 2020,
2,2%
de despesa, e, em 2021, apenas
2,5%
da despesa total do SNS.
Subfinanciamento crónico do Orçamento do Estado, endividamento
enorme do SNS, aquisição maciça de bens e serviço a
empresas privadas pelo facto de o SNS ser incapaz de realizar uma parte por
falta de recursos, fragilidades de que se aproveitam os privados para impor ao
SNS os seus preços e obter elevados lucros, investimento
ridículo, profissionais mal pagos, promiscuidade de profissionais
(SNS/privados),
eis a situação do SNS e as dificuldades que já enfrentava
antes da crise para prestar serviços de saúde à
população
(ainda está na memoria de todos as camas com doentes nos corredores dos
hospitais por falta de instalações),
o que foi enormemente agravada pela crise de saúde pública
causada pelo "coronavírus", que tornou mais visível as
fragilidades do SNS que o governo tenta ocultar.
O NÚMERO INSUFICIENTE DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E A SUA
SITUAÇÃO ATUAL
Um dos argumentos mais utilizados pelo governo na sua campanha junto da
opinião pública é o aumento enorme do financiamento do SNS
(mais 2.555 milhões entre 2015 e 2021) e o aumento significativo
do número de profissionais de saúde, nomeadamente médicos,
nos últimos cinco anos. Em relação ao 1º argumento
aumento de 2.555 milhões já mostramos ao que
ele se traduziu para o SNS. Em relação ao número e
à situação dos profissionais de saúde é o
que agora vamos analisar. O quadro 3 mostra a evolução entre 2011
e 30set.2020
Com os governos PS, o número de profissionais de saúde aumentou
(+19633)
, quando durante a "troika" e o governo PSD/CDS tinha
diminuído
(-5196)
com exceção dos médicos cujo número sempre
cresceu. Mas
este crescimento não é real
porque muitos pediram a redução de horário de trabalho
devido às baixas remunerações que recebiam. Em 2009, o
governo extinguiu o regime de exclusividade por razões economicistas e
apenas um 1/5 dos médicos estão neste regime
(obtido antes de 2009);
este recusa-se a criá-lo. A promiscuidade de profissionais que
trabalham simultaneamente no SNS e nos privados generalizou-se causando a sua
escassez e a destruição do SNS. A degradação em
que se encontrava o SNS agravou-se dramaticamente com a crise do
"coronavírus" e por falta de planeamento adequado
(o governo só toma medidas após os problemas atingirem uma
gravidade extrema e depois desculpa-se dizendo que era impossível prever
). A remuneração dos profissionais de saúde degradou-se
profundamente com o governo do PSD/CDS com cortes e congelamento de
salários, aumento do horário de trabalho sem acréscimo de
remuneração, tendo continuado com os do PS com congelamento de
remunerações e a não reposição do poder de
compra
Entre 2010 e 2020, com exceção dos Assistentes operacionais cujo
poder de compra estagnou, todos os restantes profissionais de saúde
sofreram uma forte redução do seu poder de compra , atingindo os
médicos
-18,2%
; os Técnicos de saúde
-17,3%;
os enfermeiros
-10,3%
; os A. Técnicos
-12,3%. Os baixos salários associados à extinção da
exclusividade em 2009, e a recusa em criá-la levou à
promiscuidade de muitos profissionais que trabalham ao mesmo tempo no SNS e nos
privados o que está a destruir o SNS e a contribuir para a
explosão do negócio privado de saúde
(hospitais).
Pede-se tanto a estas profissionais, que arriscam a vida, cantam-se louvores,
chamam-se heróis, mas o Estado paga salários de
"miséria" e recusa a exclusividade. É preciso falar
assim para acordar as consciências. E depois espantam-se que faltem
profissionais de saúde se são tão mal tratados e dezenas
milhares tiveram de emigrar em buscas de melhores condições de
vida e carreira profissional.
21/Novembro/2020
[*]
edr2@netcabo.pt
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