Portugal: Salários baixos, PIB a cair e Estado cada vez mais endividado
O retrato de um país a caminho do abismo
É necessário não o esquecer nas decisões
políticas
Para se poder compreender os efeitos da crise atual quer a nível social
(rendimentos dos trabalhadores)
quer a nível económico
(criação de riqueza)
é importante ter um quadro claro da situação em que se
encontrava o país antes da pandemia, até para se poder conhecer
para onde estamos a caminhar nestas duas áreas vitais para a vida dos
portugueses. Este estudo é apenas um alerta de um outro lado da crise
para reflexão.
OS SALÁRIOS EM PORTUGAL CORRESPONDEM A METADE DA MÉDIA DOS PAISES
DA UE, MAS EM MUITOS BENS OS PORTUGUESES SÃO OBRIGADOS A PAGAR
PREÇOS EUROPEUS
(combustíveis, gás, etc)
O gráfico 1, com os últimos números disponibilizados pelo
Eurostat mostra a grande diferença entre os salários pagos em
Portugal e os salários praticados nos países da União
Europeia.
Antes da crise, o salário horário médio em Portugal era
já menos de metade do salário horário médio nos
países da União Europeia. Entre 2006 e 2018, a percentagem que o
salário médio hora pago aos trabalhadores portugueses
representava em relação ao salário médio hora na
União Europeia diminuiu de 52,3% para apenas 48,9%. Portugal continua a
ser um país de muito baixos salários, o que determina que a sua
economia tenha uma baixa intensidade tecnológica e de conhecimento e
seja extremamente frágil como a experiência tem estado e
está a mostrar. E é com estes baixos salários que os
trabalhadores portugueses estão a enfrentar as consequências
dramáticas da crise, nomeadamente a perda de rendimentos. O quadro 1,
com dados do INE mais recentes, confirma as baixas remunerações
que são pagas no setor privado em Portugal em 2020, o que torna a
situação ainda mais difícil mesmo para aqueles que
têm trabalho.
A remuneração bruta total é muito baixa em Portugal
(6,05/hora segundo o INE em 2020).
Em junho de 2020, quando comparado com idêntico mês de 2019,
verifica-se já uma redução 18,4% na
remuneração hora bruta total que resulta do facto das entidades
patronais, aproveitando a crise que as afeta, começarem já a
pressionar as remunerações para as baixar ainda mais com o
objetivo de transferir os custos da crise para os trabalhadores. Ainda
não há luz no túnel. E acentua-se a insegurança com
a ameaça de novo confinamento.
A RIQUEZA CRIADA EM PORTUGAL ERA JÁ INSUFICIENTE ANTES DA PANDEMIA E
CAIU COM A CRISE
Mesmo antes da crise, o PIB
(riqueza criada)
por habitante em Portugal já era muito inferior à média
dos países da UE como revelam os dados do Eurostat do gráfico 2.
Baixos salários geram baixa riqueza criada.
Em 2010, o PIB por habitante em Portugal correspondia a 66,6% do PIB
médio por habitante dos países da União Europeia e, em
2019, tinha descido para 64,7%. Portugal ao invés de convergir para a
média da UE estava a divergir.
A riqueza criada por habitante no nosso país é cada vez mais
insuficiente.
Antes da crise, cada trabalhador em Portugal criava por trimestre riqueza (PIB)
avaliada entre 11.869
(1º Trimestre de 2019)
e 11.990
(4º Trimestre de 2019)
o que, comparado com a média dos países da UE correspondia a
cerca de 64,7%. Com a grave crise causada pela pandemia que levou ao fecho de
uma parte significativa da economia, a queda da riqueza criada por trabalhador
foi brusca e acentuada
(-13,6% no 2º Trim.2020 quando comparado com o trimestre homólogo
de 2019).
Com o desconfinamento no 3º Trim.2020 registou-se uma certa
recuperação da economia já que o PIB por trabalhador
aumentou, entre o 2º Trimestre e o 3º Trim.2020, de 10.282 para
11.553
(+12,3%),
o que mostra que o teletrabalho é um mito. Com a ameaça de novo
confinamento causada pela nova onda do COVID 19, a concretizar-se, a
contração da economia será maior que a do 2º
Trim.2020, pois a economia está mais fragilizada e muitas empresas, que
conseguiram sobreviver ao 1º confinamento, é de prever que
já não consigam agora. Ficaremos com um país e uma
economia mais destruída e com maior desemprego. E os apoios não
resolvem o problema.
UM ESTADO CADA VEZ MAIS ENDIVIDADO, CUJA DIVIDA TERÁ DE SER PAGA COM OS
NOSSOS IMPOSTOS
Para apoiar as empresas e as famílias a divida pública tem
aumentado assustadoramente. Segundo o Boletim Estatístico do Banco de
Portugal de jan.2021, entre dez.2019 e out.2020, portanto em apenas 10 meses, a
divida das Administrações Públicas aumentou de 310.466
milhões para 330.000 milhões , e a divida na
ótica de Maastricht subiu de 249.985 milhões para 268.143
milhões . No fim de set.2020, a divida das
Administrações Públicas já correspondia a 160,8% do
valor do PIB e a de Maastricht a 130,8%.
Um aumento da taxa de juro criará uma situação
insustentável ao país pois os encargos com uma divida desta
dimensão poderão tornar-se incomportáveis.
09/Janeiro/2021
[*]
edr2@netcabo.pt
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
.
|