A desculpa que é sempre dada pelos patrões quando se fala dos baixos salários recebidos pelos trabalhadores portugueses é a produtividade ser baixa no país. No entanto, a análise objetiva mostra que existe uma diferença grande entre a produtividade e o nível de salários em Portugal, mas no sentido inverso ao mencionado pelos patrões. A produtividade em Portugal em percentagem da produtividade da UE é muito mais elevada do que o custo da mão-de-obra e os salários de Portugal em percentagem dos da UE. É o que vamos provar com dados do Eurostat.
A DISPARIDADE ENTRE CUSTO MÃO-DE-OBRA E SALÁRIOS ENTRE PORTUGAL E A UE/ZONA EURO É MUITO MAIOR QUE A PRODUTIVIDADE ENTRE PORTUGAL E A UE/ZONA EURO, O QUE É UM GANHO PARA OS PATRÕES PRIVADOS
O gráfico 1 (dados do Eurostat), mostra a disparidade existente, quando se compara os valores médios da União Europeia da produtividade média, do custo médio mão-de-obra e do salário médio com os de Portugal.
Segundo o Eurostat, em 2012 a produtividade média em Portugal correspondia a 76,8% da média da UE, enquanto o custo da mão-de-obra para as empresas correspondia somente a 54,5% da média dos custos de mão-de-obra da UE, e o salário em Portugal representava em média 59,1% do da UE. Em 2022, a produtividade média em Portugal correspondia a 74,8% da média da UE, mas o custo médio da mão-de-obra em Portugal correspondia a 52,3% da média da UE, e os salários em Portugal representava somente a 56,8% do salário médio da UE.
Em resumo, a produtividade em Portugal é inferior à média da UE entre 23,2% e 25,2% (corretamente entre 23,2 e 25,2 pontos percentuais) mas o custo de mão-de-obra é inferior entre 45,5% e 47,4% (corretamente entre 45,5 e 47,4 pontos percentuais) , e o salário é inferior entre 40,9% e 43,2% (corretamente entre 40,9 e 43,2 pontos percentuais).
Portanto, é evidente que há margem para aumentar os salários em Portugal de forma que se alcance a mesma proporção salarial que existe na UE, mas para uma produtividade que representa entre 74,8% e 76,8% da UE. O gráfico 2 permite a mesma análise para a Zona Euro reforçando as conclusões anteriores.
As disparidades são ainda maiores em relação à Zona Euro. Como revela o gráfico 2, construído também com dados divulgados pelo Eurostat, o serviço de estatística oficial da UE, a produtividade em Portugal é inferior à média dos países da Zona Euro entre 26,2% e 28,4% (corretamente 26,2 e 28,4 pontos percentuais), mas o custo de obra em Portugal é inferior à média dos países da Zona Euro em cerca de 53% (corretamente em menos 53 pontos percentuais) e os salários em Portugal são inferiores à média da Zona Euro entre 50,7% e 49% (corretamente entre 50,7 e 49 pontos percentuais) . A diferença é enorme e inaceitável, sendo por isso possível aumentar os salários para evitar a perda de poder de compra com os níveis atuais de produtividade.
No entanto é com a justificação da produtividade ser baixa no nosso país (patrões e governo enchem a boca com isso) que se pagam salários muito baixos, mesmo de pobreza, o que, por um lado; está a impedir o crescimento económico e o desenvolvimento do país, já que está a causar a emigração dos trabalhadores mais qualificados, nomeadamente jovens licenciados, que vão para outros países à procura de salário e trabalho digno que não conseguem no seu próprio país. Por outro lado, está a gerar a “importação” de trabalhadores não qualificados. O drama que enfrenta Portugal – o governo e Mario Centeno (recorde-se a sua última entrevista como governador do BP) revelam estar cegos – é que “exporta” trabalho qualificado, e importa trabalho “não qualificado, o que contribui para o estado de estagnação, de atraso e subdesenvolvimento em que se encontra o país e que parece incapaz de sair.
O BAIXISSIMO INVESTIMENTO PRIVADO E PUBLICO EM PORTUGAL ESTÁ A CONTRIBUIR FORTEMENTE PARA A BAIXA PRODUTIVIDADE E PARA O ATRASO E ESTAGNAÇÃO DO PAIS
Portugal não conseguirá sair do estado de atraso e estagnação, nem aumentar a produtividade significativamente, se não investir fortemente, já que o investimento total em Portugal nos últimos 12 anos (em média 17,3% do PIB) foi muito inferior à média da UE (21% do PIB) como mostra o gráfico 3 com dados do Eurostat. Isto explica o atraso do país.
Mas a situação é mais grave em relação ao investimento público dominado pela obsessão de reduzir a divida.
Nos últimos 12 anos, a média do investimento publico na UE foi de 3,1% do PIB enquanto em Portugal apenas 2,2% do PIB (-27,4%). Entre 2016 e 2019 de 1,5%-1,8% do PIB. Este comportamento irresponsável do governo não acabou. Em 2023, dos 753,4 milhões € de investimento previsto no SNS até julho só tinham sido executados 123,4 milhões € , ou seja, apenas 14,3%. Como se poderá fazer a revolução do século do SNS, como alguns papagaios de soluções milagrosas do governo agora falam, sem meios?