Porque os preços dos combustíveis são elevados em Portugal
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No debate realizado na Assembleia da República em 30/04/2008 Sócrates, após os preços dos combustíveis terem variado 18 vezes nos 4 primeiros meses de 2008, e face à pressão da opinião pública e da ANAREC (revendedores), afirmou que o governo mandara a Autoridade da Concorrência investigar a formação dos preços dos combustíveis. Manuel Pinho, em declarações feitas aos órgãos de comunicação declarou que "a Autoridade da Concorrência (AdC) deve esclarecer , com maior urgência , se eventualmente há factores que não decorrem do aumento dos custos de produção que possam estar na origem dessas subidas de preços", como não tivesse nenhuma responsabilidade nesta matéria. Mas será que o governo, e nomeadamente Sócrates e Manuel Pinho, têm razões para manifestar surpresa e alegar ignorância sobre o escândalo dos preços dos combustíveis em Portugal como pretenderam fazer crer? Já por diversas vezes nos nossos estudos denunciámos o escândalo que são os preços dos combustíveis cobrados pelas petrolíferas em Portugal serem superiores aos preços que vigoram na maioria dos países da União Europeia. E para isso utilizámos os próprios dados oficiais da Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, que Manuel Pinho e o próprio Sócrates deviam conhecer. No entanto, tanto o governo como a AdC nada fizeram até aqui. Contrariamente ao que pretendeu fazer crer Paulo Portas no debate realizado na Assembleia da República, o problema dos preços elevados dos combustíveis não resulta apenas de impostos altos, mas sim do facto de as petrolíferas cobrarem preços superiores aos preços médios da União Europeia, obtendo elevadíssimos lucros. De acordo com a Direcção Geral da Energia, o peso (%) das taxas no Preço de Venda ao Público em relação a todos os combustíveis era de 54% em Portugal, percentagem esta que era igual à média da União Europeia (15 países). Em relação ao gasóleo era de 48% em Portugal e 49% na UE15; e à gasolina 60% em Portugal e 59% na UE15. Em Março de 2008, sem impostos , o preço do gasóleo em Portugal era superior ao preço médio na União Europeia em 0,7% e o da gasolina 95 em 3,5%. Mas existiam países, muito mais desenvolvidos e com custos mais elevados do que Portugal, onde a diferença era maior. Em Março de 2008, sem impostos , o preço do gasóleo em Portugal era superior ao da Inglaterra em 12,3%, e o do gasolina era superior ao da Suécia em 17,8%. Por outro lado, em Dezembro de 2007, com impostos , o preço do gasóleo em Portugal era superior em 0,9% ao preço médio da U.E-15 países, e o da gasolina em 6,2%. Também aqui se verificam grandes diferenças. Assim, o preço, com impostos , em Portugal da gasolina era superior em 24,7% ao de Espanha , e o de gasóleo era superior em 17,8% ao preço do Luxemburgo. Entre 2006 e 2007, o preço médio do barril de petróleo aumentou 11,4% em dólares e 1,5% em euros, ou seja, o aumento em euros foi inferior em 7,6 vezes à subida em dólares. Se considerarmos o período Dezembro de 2007/Março de 2008, o aumento do petróleo em dólares atingiu 13,9% e em euros 7%, portanto a subida em euros foi praticamente metade do aumento registado em dólares. Se a análise for feita, não em percentagem, mas em unidades monetárias, conclui-se que, entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, o preço do barril aumentou 12,69 dólares o que correspondeu a uma subida de 4,39 euros, portanto quase um terço do aumento em dólares. Para além disso, é sistematicamente esquecido, nas noticias que aparecem nos media, o facto de o combustível vendido num dia não ser produzido com petróleo adquirido nesse mesmo dia. Ele foi obtido de petróleo adquirido três ou seis meses antes, portanto a preço muito mais baixo. O preço da gasolina e o gasóleo já variaram em Portugal, nos últimos 4 meses de 2008, 18 vezes. Entre Dezembro de 2006 e Dezembro de 2007, o preço da gasolina 95 aumentou em Portugal 11% e do gasóleo 17,2%, enquanto o preço médio do petróleo em euros subiu, entre 2006 e 2007, 1,5%. Entre Dezembro de 2007 e Abril de 2008, portanto em apenas 4 meses, o preço da gasolina 95 subiu em Portugal 6,8% e o preço do gasóleo 12,7%. De acordo com a Direcção Geral de Energia, e são os últimos dados que se encontram disponíveis no seu sítio, entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, o preço do barril de petróleo aumentou em euros 7%. E tenha-se presente, como já referimos, mas não é demais repetir, que o combustível vendido num determinado dia não foi produzido com o petróleo ao preço desse dia , mas sim de três a seis meses antes, mais baixo. É surpreendente que tanto Sócrates como o seu invisível ministro da Economia, Manuel Pinho, só agora tenham detectado o escândalo dos preços dos combustíveis em Portugal (em Portugal, não existe concorrência pois os preços praticados pelos diferentes vendedores são praticamente sempre iguais), mas será ainda mais surpreendente, e prova da conivência deste governo com os grandes grupos económicos petrolíferos, se a análise dos preços que a Autoridade da Concorrência vai fazer após tantos anos de actuação selvagem das petrolíferas conclua que não existe nada de anormal nos preços que praticam, como parecem já sugerir as declarações de Manuel Pinho. |
No debate na Assembleia da República realizado em 30/04/2008,
Sócrates, após os preços terem aumentado 18 vezes
só em 2008, e perante a pressão da opinião pública,
como se tivesse sido surpreendido pela primeira vez por tal
situação, afirmou que o governo mandara a Autoridade da
Concorrência investigar a formação dos preços dos
combustíveis, e que só podia tomar decisões com base em
dados objectivos. O seu ministro da Economia, que anda normalmente cego para
situações desta natureza ou semelhantes, em
declarações aos órgãos de informação,
e como se não tivesse nada a ver com o que se passa no sector de que
é responsável há vários anos, afirmou que "a
Autoridade da Concorrência deve esclarecer, com maior urgência, se
eventualmente há factores que não decorrem do aumento dos custos
de produção que possam estar na origem dessas subidas de
preços". Mas logo acrescentou, preparando-se para, tal como
Pilatos, lavar as mãos e dizer que nada pode fazer ou que não
é com ele: "O Ministério da Economia não pode
controlar o preço do petróleo, mas pode e deve certificar-se que
os preços de venda ao público dos combustíveis
estão a ser normalmente tomados no mercado, com a transparência
exigível". Mas será que o governo, e nomeadamente
Sócrates e Manuel Pinho, têm razão para alegar
ignorância sobre o escândalo dos aumentos dos preços dos
combustíveis em Portugal e para o facto de que "as pessoas
estão muito preocupadas com o aumento dos preços das gasolinas e
dos gasóleos" como afirmou o ministro da Economia.
Para esclarecer esta questão interessa ter presente os dados que a
Direcção Geral de Energia
do Ministério da Economia, portanto dirigida pelo ministro Manuel
Pinho, divulga há vários anos.
PREÇOS DE COMBUSTIVEIS SEM IMPOSTOS E COM IMPOSTOS EM PORTUGAL
SUPERIORES AOS PREÇOS PRATICADOS NA MAIORIA DOS PAÍSES DA
UNIÃO EUROPEIA
Os preços dos combustíveis não dependem apenas dos
preços do petróleo. Na sua transformação nas
refinarias portuguesas existem muitos outros custos. Por exemplo, custos com
salários. E os salários portugueses são, em média,
cerca de metade dos salários médios da União Europeia.
Apesar disso, os preços dos combustíveis em Portugal são
superiores aos da maioria dos países da União Europeia,
nomeadamente aqueles com custos salariais muito mais elevados, como mostram os
dados da Direcção Geral de Energia constantes do quadro seguinte.
Contrariamente ao que afirmou, ou pretendeu fazer crer, Paulo Portas na
Assembleia da República no debate de 30/04/2008, o problemas dos
preços elevados dos combustíveis em Portugal não resulta
apenas de impostos altos, mas também e fundamentalmente dos
preços elevados cobrados pelas petrolíferas, o que tem
contribuído para inflacionar os seus lucros. O quadro seguinte, mostra o
peso em euros do Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) e a taxa de
IVA que incidem sobre os combustíveis em Portugal e a média da
UE15, o peso total das Taxas em percentagem do PVP.
Em relação a todos os combustíveis, o ISP em Portugal
é superior ao da média da UE15 em 1,3%, e o IVA em 5,3%. A partir
de Jun2008, o IVA será superior em 0,3%. Em % do PVP, o peso das taxas
em Portugal representa, em relação a todos os
combustíveis, 54% do PVP, que é igual à média da
UE15. Em relação ao gasóleo: Portugal 48%, UE15: 49%; e
à gasolina: Portugal: 60%, UE15: 59%.
Em Março de 2008, de acordo com dados da Direcção Geral de
Energia,
sem impostos
, o preço do gasóleo em Portugal era superior ao preço
médio praticado na União Europeia em 0,7% e o da gasolina 95 em
3,5%. Mas existiam países, muito mais desenvolvidos e com custos muito
mais elevados do que Portugal, onde a diferença era muito maior. Em
Março de 2008, o preço da gasolina
sem impostos
em Portugal era superior ao da Inglaterra em 12,3%, e o do gasóleo
também sem impostos era superior ao da Suécia em 17,8%. Em
Dezembro de 2007,
com impostos
, o preço do gasóleo em Portugal era superior em 0,9% ao
preços médio da U.E-15paises, e o de gasolina em 6,2% .
Também aqui se verificam grandes anomalias. Por exemplo, o preço
em Portugal
com impostos
da gasolina é superior em 24,7% ao preço de Espanha , e o de
gasóleo é superior em 17,8% ao preço praticado no
Luxemburgo
É evidente que se o governo, e nomeadamente Sócrates e Manuel
Pinho, tivessem estado atentos a estes números da Direcção
Geral da Energia do Ministério da Economia, naturalmente não
estariam surpreendidos com o facto de os preços dos combustíveis
terem aumentado 18 vezes apenas nos primeiros quatro meses de 2008 e de serem
tão elevados..
O AUMENTO DO CUSTO DO PETRÓLEO PARA AS PETROLÍFERAS PORTUGUESAS
É MUITO INFERIOR AO QUE PRETENDEM FAZER CRER
Os órgãos de informação divulgam normalmente a
variação do preço do petróleo em dólares,
mas para as petrolíferas portuguesas que vendem os combustíveis
em euros, o que interessa é o preço na moeda europeia pois
possuem euros que depois trocam em dólares. E com a
desvalorização contínua do dólar este vale cada vez
menos
e, consequentemente, o custo do petróleo para as empresas a funcionar em
Portugal é muito mais baixo , como mostram os dados do quadro.
Entre 2006 e 2007, o preço médio do barril de petróleo
aumentou 11,4% em dólares e apenas 1,5% em euros, ou seja, o aumento em
euros foi inferior em 7,6 vezes à subida em dólares.
Se considerarmos um período mais recente Dezembro de 2007 a
Março de 2008 o aumento em dólares atingiu 13,9% e em
euros apenas 7%, portanto a subida em euros foi praticamente metade do aumento
registado em dólares. Se a análise for feita, não em
percentagem, mas em unidades monetárias, conclui-se que, entre Dezembro
de 2007 e Março de 2008, o preço do barril aumentou 12,69
dólares o que correspondeu a uma subida de 4,39 euros, portanto o
aumento em euros correspondeu quase um terço da subida em
dólares.
[1]
Para além disso, e isso é sistematicamente esquecido nas noticias
que aparecem nos órgãos de comunicação, o
combustível vendido num dia não foi produzido com o
petróleo adquirido nesse mesmo dia. Ele foi produzido de petróleo
adquirido pelas petrolíferas três ou seis meses antes, quando o
preço do petróleo era muito mais baixo. No entanto, o aumento dos
preços dos combustíveis parecem não ter como base as
variações dos preços do petróleo na data em que foi
adquirido, mas sim o preço do petróleo no mercado internacional
na altura em que os combustíveis, produzidos com petróleo
adquirido em períodos anteriores, é vendido aos consumidores
portugueses, o que evidentemente permite inflacionar os lucros das
petrolíferas. Tudo isto é possível devido à
passividade, para não dizer mesmo à conivência, do governo
e da Autoridade da Concorrência que praticamente não existe neste
campo.
OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS EM PORTUGAL VARIARAM 18 VEZES NOS
ÚLTIMOS 4 MESES
Os preços dos combustíveis em Portugal variaram nos
últimos 4 meses 18 vezes como revelam os dados oficiais da
Direcção Geral de Energia constantes do quadro seguinte.
Entre Dezembro de 2006 e Dezembro de 2007, o preço da gasolina 95
aumentou em Portugal 11% e do gasóleo 17,2%, enquanto o preço
médio do petróleo em euros subiu, entre 2006 e 2007, 1,5%. Entre
Dezembro de 2007 e Abril de 2008, portanto em apenas 4 meses, o preço da
gasolina 95 subiu em Portugal 6,8% e o preço do gasóleo 12,7%.
De acordo com a Direcção Geral de Energia, e são os
últimos dados que se encontram disponíveis no seu
"site", entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, o preço
do barril de petróleo aumentou em euros 7%. E tenha-se presente a
chamada de atenção que fizemos anteriormente, que é a
seguinte: o combustível vendido num determinado dia não foi
produzido com o petróleo ao preço desse dia , mas sim com
petróleo adquirido entre três a seis meses antes, portanto a
preço muito mais baixo.
É surpreendente que tanto Sócrates, como o seu invisível
ministro da Economia, Manuel Pinho, só agora tenham acordado e detectado
o inflacionamento dos preços dos combustíveis em Portugal (em
Portugal, não existe qualquer concorrência pois os preços
praticados pelos diferentes vendedores são praticamente sempre iguais),
mas será ainda mais surpreendente, e prova de conivência do
governo com os grandes grupos económicos petrolíferos, se a
análise dos preços que a Autoridade da Concorrência vai
fazer após tantos anos de actuação selvagem das
petrolíferas conclua que não existe nada de anormal nos
preços que praticam como as declarações de Manuel Pinho
parecem já sugerir.