Banco Montepio continua a acumular prejuízos
Administração do banco incapaz de reverter a situação
Virgilio Lima esconde as contas consolidadas de 2020 da
Associação Mutualista
Em 2020, o Banco Montepio teve 79 milhões de prejuízos. Em
2021, no 1º trimestre teve mais 15,9 milhões de
prejuízos que subiram para 33 milhões no fim do 1º
semestre. A administração do banco que tem o mesmo número
de elementos que a CGD (16), com reduzida experiência de banca de retalho
e comercial, como é o Banco Montepio, revela, passados mais de dois anos
após a entrada em funções, incapacidade para reverter a
situação de prejuízos persistentes. O quadro 1, com dados
referentes ao período 2019/2021 dos principais bancos, confirma que essa
situação não se deve apenas às dificuldades que
enfrenta o negócio bancário em Portugal, mas fundamentalmente
à própria administração do BM.
Entre 2019 e o 1º semestre de 2021, o crédito líquido
concedido por cinco bancos (exclui o BM) aumentou em 3,9%, mas no Banco
Montepio apenas 1,7%. E os depósitos nos cinco bancos cresceram, no
mesmo período,13,6%, mas no Banco Montepio apenas 0,8%. Se comparamos o
Banco Montepio com o Crédito Agrícola, um banco com uma
dimensão muito semelhante, conclui-se que no Crédito
Agrícola, durante o mesmo período, o crédito concedido
aumentou 8,1% e os depósitos 26,7%, portanto percentagens muito
superiores às registadas pelo Banco Montepio. Como consequência
desta evolução, o Banco Montepio tem perdido quota de mercado. A
provar isso, entre 2019 e 1ºsem.2021, em relação aos cinco
bancos
(os valores do Crédito Agrícola são do 1º trim.2021),
no crédito a sua quota diminuiu de 7,4% para 7,3% e nos
depósitos baixou de 6,5% para 5,7% .
A conclusão de que o ponto fraco no Banco Montepio se situa na
administração é reforçada pelo facto de que os
outros cinco bancos, incluindo o Novo Banco, já apresentaram este ano
resultados positivos, enquanto o Banco Montepio teve 33 milhões
de prejuízos. E é de prever que dupliquem até ao fim do
ano porque estes resultados não foram auditados e certamente o auditor
(a PwC), será mais rigoroso no cálculo das imparidades quando
tiver de auditar as contas no fim do ano (o Banco Montepio tem 3.000
milhões de créditos em moratória e ainda 1.100
milhões de créditos improdutivos, os NPL).
UMA ANÁLISE DETALHADA DA EVOLUÇÃO DA
SITUAÇÃO DO BANCO MONTEPIO DESDE QUE ENTROU EM
FUNÇÕES A ATUAL ADMINISTRAÇÃO CONFIRMA A SUA
INCAPACIDADE
Observem os dados do quadro 1 divulgados pela administração do
Banco Montepio.
Com a entrada em funções de Pedro Leitão para presidente
da comissão executiva do conselho de administração, o
banco registou uma subida, embora muito reduzida, do crédito
líquido, dos depósitos e do rácio de
transformação, embora claramente insuficiente para se poder
concluir que se iniciou um movimento de recuperação. Entre 2019 e
o 1º semestre de 2021, o crédito liquido aumentou apenas 194
milhões (+1,7%), mas continua inferior ao de 2017 em 1.371
milhões ; os depósitos subiram com Pedro Leitão em
98 milhões (+0,8%), sendo superiores aos de 2017 em 62
milhões ; o rácio de transformação, que
dá o valor de credito concedido por cada 100 de depósitos,
aumentou de 91,5% para 92,4% (com Carlos Tavares por cada 100 de
depósitos o Banco Montepio concedia credito no valor de 91,5, e
com Pedro Leitão aumentou apenas para 92,4), mas ainda muito
inferior ao que se verificava em 2017( por cada 100 de depósitos o
banco concedia 103,7 de crédito). Mas o mais grave é o que
se registou, entre 2017 e 2019, com Carlos Tavares, o Banco Montepio perdeu 311
milhões (-17,6%) dos seus Capitais Próprios e, entre 2019
e o 1º semestre de 2021, com Pedro Leitão já perdeu de 101
milhões (-6,9%), o que determina que, em junho de 2021, os
Capitais Próprios do Banco Montepio sejam inferiores aos que tinha em
dez.2018, em 412 milhões (-23,4%). E sem Capitais Próprios
suficientes o banco está impossibilitado de aumentar significativamente
o negócio bancário (crédito concedido) e corre o
sério risco de o Banco de Portugal impor à
Associação Mutualista nova recapitalização do
banco. E o Banco Montepio não transfere há 14 anos quaisquer
dividendos para a Associação Mutualista, ou seja, não
remunera os 2420 milhões que a AMMG tem aplicados nele.
O AUMENTO DO
COST-TO-INCOME
PARA VALORES INSUSTENTÁVEIS, A REDUÇÃO DOS
RÁCIOS DE CAPITAL, O FECHO DE BALCÕES E A
DIMINUIÇÃO DE TRABALHADORES
Os dados do quadro 3, também divulgados pela administração
do Banco Montepio, permitem completar a análise anterior sobre a
evolução da situação do banco com a atual
administração.
Um aspeto importante, que condiciona fortemente a evolução da
situação do Banco Montepio, é de todos os indicadores de
2021 serem no sentido de baixa (as % do 1º sem.2021 são menos de
metade dos valores de 2020), e a insuficiência do negócio
bancário em 2021 com Pedro Leitão que é refletida na
redução do Produto bancário (o do 1ºsem.2021 é
apenas 40% do de 2020) o que determina que o "Cost-to-income", que se
obtém dividindo os Custos Operacionais pelo Produto Bancário,
tenha aumentado, entre 2019 e o 1º sem.2021, de 57,3% para 81,1%, um valor
insustentável também causado pelos custos da
redução de trabalhadores. Apesar da administração
ter reduzido, no 1º sem.2021, as imparidades para 60,9 milhões
, ou seja, a apenas 27,6% (menos de 1/3) das constituídas no ano
de 2020, correndo assim o risco de não preparar o banco para quando
acabarem as moratórias de credito (é de prever que uma parcela
dos 3.000 milhões de credito em moratória seja perdido
devido ao desaparecimento de empresas devedoras e à não
recuperação pelas famílias dos rendimentos que tinham
antes da crise causada pela pandemia), mesmo com imparidades reduzidas, o Banco
Montepio apresentou 33 milhões de prejuízos no 1º
semestre de 2021.
Como consequência da perda de Capitais Próprios
(entre 2017 e 2021perderam-se 412 milhões )
devido à acumulação de prejuízos, e apesar da
diminuição dos Ativos ponderados pelo risco (RWA), um aspeto
positivo, tem-se assistido a uma redução continua dos
rácios de capital (CET 1, Tier 1 e Rácio Total) o que cria
obstáculos crescentes ao aumento do negócio bancário
(concessão de crédito) sendo cada vez mais difícil a
recuperação do banco. E isto apesar de apresentar um rácio
de liquidez (LCR) de 261% no fim do 1º semestre de 2021, que é 2,6
superior ao mínimo exigido pelo Banco de Portugal, o que é
positivo, pois significa que, apesar de tudo, continua com uma
situação confortável a nível de liquidez. A
redução que se verificou nos créditos improdutivos com
Pedro Leitão para 9,3% do crédito bruto, é ainda
insuficiente pois corresponde a mais do dobro da do mercado, e representa cerca
de 1.100 milhões de NPL, que não produzem rendimento, mas
que "comem" uma parcela importante dos Capitais próprios,
reduzindo os rácios de capital, e criando dificuldades adicionais
à concessão de crédito. E tanto a
administração do Banco Montepio como a
administração da Associação Mutualista,
praticamente o único acionista, têm revelado uma incapacidade
total para resolver este grave problema resultante de uma gestão
irresponsável no passado, e as soluções que tem
apresentado não têm qualquer viabilidade de
aplicação. O adiamento da resolução deste grave
problema torna cada vez mais difícil e onerosa a sua
solução.
Perante esta incapacidade clara de encontrar soluções e medidas
para ultrapassar os problemas que enfrenta o banco, a atual
administração do Banco Montepio, com o apoio do presidente
Associação Mutualista, entrou na via de fechar balcões e
de destruir empregos, e de reduzir o número de trabalhadores. Entre 2018
e o 1º semestre de 2021, foram encerrados 53 balcões e afastados do
banco 283 trabalhadores. E esta destruição do banco e do emprego
não para. Em agosto de 2021 está previsto o fecho de mais 16
balcões e a maioria dos seus trabalhadores ficarão em casa sem
trabalho. Desta forma vão-se preparando as condições para
fazer um grande despedimento após as eleições, se a atual
administração da Associação Mutualista ganhar as
eleições. O encerramento deste número de balcões e
a redução de um número tão elevado de trabalhadores
só agravará a situação do banco pois destrói
a capacidade de recuperação e torna-o ainda mais frágil
perante a concorrência. É uma ilusão pensar que se resolvem
os problemas que tem o banco fechando balcões e destruindo emprego
(despedindo trabalhadores).
VIRGILIO LIMA JÁ COMEÇOU A SUA CAMPANHA ELEITORAL PARA CONTINUAR
COMO PRESIDENTE APÓS 2021 VISITANDO OS BALCÕES E ESCONDENDO AOS
ASSOCIADOS AS CONTAS CONSOLIDADAS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA DE 2020
Embora a administração do Banco Montepio tenha enviado a todos os
trabalhadores um comunicado onde os proibia de intervir na campanha eleitoral
nos locais de trabalho, ameaçando-os com sanções no caso
de violarem tal determinação, no entanto há
informações de que Virgilio Lima, violando tal
determinação, anda a visitar os balcões a fazer marketing
pessoal junto dos trabalhadores. A confirmar-se isso, é estranho este
comportamento do presidente da Associação Mutualista, que tem
dado total cobertura à administração do Banco Montepio,
para destruir emprego e lançar no desemprego centenas de trabalhadores,
que certamente continuará e se intensificará se ganhar as
eleições. A confirmar-se tal informação isso
representaria também uma grave violação das regras de
igualdade de tratamento de todas as listas que devem presidir à campanha
eleitoral, pois isso certamente não será permitido aos membros
das restantes listas, e também uma violação da
determinação da administração do Banco Montepio. A
administração do banco, se permitir isso, e fechar os olhos
estará a ser conivente e será acusada, com razão, de
procurar condicionar a campanha e os resultados eleitorais tomando partido por
um candidato a presidente já assumido.
À semelhança do que Tomás Correia fazia, e copiando os
seus processos, Virgilio Lima continua a esconder aos associados as Contas
consolidadas da Associação Mutualista de 2020, certamente com o
propósito de ocultar as consequências da sua gestão que se
tem caraterizado pela inercia e pela incapacidade em encontrar
soluções e em tomar medidas para enfrentar e resolver os graves
problemas herdados de administrações anteriores a que se junta a
não aprovação repetida pela ASF do Plano apresentado pela
AMMG, o que era importante para os associados pois garantiria maior
segurança para as suas poupanças. Virgilio Lima espera
passivamente, como é seu hábito, que um "milagre"
resolva os problemas do Montepio, o que não acontecerá. Os graves
problemas que enfrentam as empresas do grupo Montepio continuam por resolver,
tornando ainda mais difícil a tarefa da futura
administração e restantes corpos sociais da AMMG que os
associados irão eleger este ano segundo os Estatutos.
02/Agosto/2021
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Economista e associado da AMMG, edr2@netcabo.pt
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