Banqueiros obrigam Sócrates a pedir a intervenção
estrangeira
com a ajuda de agências de
rating
americanas
RESUMO DESTE ESTUDO
Segundo o Banco de Portugal, entre 2000 e 2010, a divida externa líquida
do País, aumentou em 269%, a divida liquida externa do Estado cresceu
122,6%, ou seja, menos de metade (45,6%) do crescimento da divida liquida total
do País: No entanto, a da banca e das empresas ao estrangeiro aumentou
629,2%, isto é, cinco vezes (5,13) mais do que o aumento percentual da
divida externa do Estado. Portanto, a situação da banca e das
empresas é ainda mais grave do que a do Estado. No entanto, os media e
os banqueiros nunca falam dela.
Entre 2009 e 2010, a divida líquida do País diminuiu em 642
milhões , pois passou de 186.193 milhões para
185.551 milhões. Esta redução foi obtida à custa da
diminuição da dívida líquida da banca aos
estrangeiros que, entre 2009 e 2010, diminuiu em 20.501 milhões ,
pois passou de 76.705 milhões para 56.204 milhões .
E isto sucedeu não apenas em 2010, mas também em 2008, em que a
divida da banca ao estrangeiro diminuiu em -20,8%; 2009, em -2,2%; e em 2010,
em -26,7%. A banca "portuguesa", à medida que os seus
empréstimos vencem, os credores obrigam-na a amortizar as dívidas
e já não emprestam mais. E isto porque os bancos já
não acreditam uns nos outros. A banca em Portugal não consegue
fugir a esse labéu apesar das repetidas declarações dos
banqueiros e do governo de que a banca está de boa saúde
financeira.
Num único dia após o governo ter pedido a
intervenção da UE, do BCE e do FMI, a capitalização
bolsista dos quatro maiores bancos privados constantes do PSI20 aumentou em 320
milhões . E isto porque os "mercados acreditam" que a
"ajuda" determinará que o Estado fique com maior capacidade
para apoiar a banca em Portugal no caso de os bancos terem dificuldades (no
OE2011 estão previstos 9.000 milhões para o Estado poder
conceder avales à banca mais 3.000 milhões para o Estado
contribuir para os aumentos do capital da banca), assim como para provisionar o
Fundo de Garantia dos depósitos bancários (neste Fundo, que tem
de ser provisionado pelos bancos, faltam cerca de 15.000 milhões
), dando assim maior segurança quer aos investidores quer aos
depositantes. Para além disso, embora seja o Estado a negociar, os
bancos estão à espera que, com base nesses empréstimos
contraídos, sejam abertas linhas de crédito, e assim possam fazer
também bons negócios.
As agências americanas de
rating
e a manipulação feita por elas teve um papel importante na
intervenção do FMI em Portugal. Três agências
americanas
(Moody´s", "Standard & Poors", "Fitch Ratings)
dominam este mercado, e na luta entre o dólar e o euro, colocam-se ao
lado dos EUA. Para a continuação do poder americano a
nível mundial é vital o domínio do dólar, pois
enquanto ele for a moeda de pagamentos a nível mundial, os EUA
poderão utilizá-lo para pagar os seus gigantescos défices
externos, e produzindo dólares nas tipografias da FED (banco central dos
E.U.A), não são obrigados a recorrer aos "mercados"
para obter divisas para pagar os seus gigantescos défices e dividas,
pois a sua própria moeda serve. Portanto, o enfraquecimento do euro como
moeda alternativa ao dólar, e mesmo a destruição da Zona
Euro é vital para a continuação do poder americano a
nível mundial. E não restam dúvidas que as
agências de
rating"
americanas estão a dar uma importante ajuda. Para além disso, os
principais accionistas dessas agências de
rating"
são bancos ou fundos americanos que participam nos "leilões
dos mercados", e portanto interessados em impor altas taxas de juro, sendo
fundamental a "ajuda" dessas mesmas agências de que são
donos. Por ex., o MORGAN STANLEY e o STATE STREET CORPORATION, dois grandes
bancos americanos, são dois accionistas da Moody´s. O BCE deu
também uma ajuda importante a estas agências pois exige, para
conceder financiamento, a avaliação de duas agências de
rating, o que fez aumentar o seu poder e os seus lucros.
Recentemente os bancos em Portugal sofreram uma descida de "rating"
tornando mais difícil o financiamento, o que vai ser utilizado pela
banca para aumentar as taxas de juro. Por isso interessa mostrar como os
resultados das agências de
rating
são facilmente manipulados. Para isso vamos utilizar a última
revista da Mody´s (Moody´s Investors Service ) de 6 de Abril de 2011.
Nela encontram-se os "ratings" de sete bancos (CGD, BES, BPI,
Montepio, Banco Português de Negócios e Santander-Totta). Um
critério importante utilizado pela Moody´s é o
provável apoio do governo a cada banco em caso de dificuldades Segundo a
Moody´s, embora o BCP e o Montepio tenham a mesma
classificação sem contar com o apoio do Estado Ba2
no entanto, se se entrar com o apoio potencial do Estado, o BCP sobe dois
níveis passa para Baa3 enquanto o Montepio sobe apenas um
nível passa para Ba1 sendo considerado como
"lixo". O absurdo disto torna-se ainda mais claro quando o BES, que
é um banco com accionistas estrangeiro importantes (Crédit
Agricole), devido ao apoio do governo português sobe dois níveis,
enquanto o Montepio, que é um banco totalmente português, ligado a
uma associação mutualista com cerca de 500 mil associados, sobe
apenas um nível devido ao governo. A descida de nível do
rating
do Montepio, deve-se apenas ao facto de que esta agência considera que o
apoio do governo ao Montepio diminuiu desde a última
avaliação de dois níveis para um nível, o que
é insólito.
|
Nos últimos dias assistiu-se a mais uma cena em que ficou claro que o
poder politico está de joelhos perante o poder económico em
Portugal e que o objectivo do BCE é agravar a situação de
países em dificuldades e não apoiá-los. Durante semanas
Sócrates afirmava e reafirmava, prometia e tornava a prometer que o seu
governo nunca pediria ajuda à União Europeia e ao FMI, enquanto
Passos Coelho ia dizendo que estava disponível para governar com o FMI
(o mais importante para ele é ser 1º ministro). No entanto, bastou
que os principais banqueiros portugueses CGD, BCP, Santander-Totta, BES
e BPI , em articulação com o BCE (este disse aos banqueiros
para informarem o governo que não aceitaria divida soberana portuguesa
ao ritmo que estava a fazer), e exigissem publicamente e em conjunto que o
governo pedisse a intervenção da UE, do BCE e do FMI, para que
Sócrates a pedisse ao fim de dois dias. Contrariamente ao que pretendem
fazer crer, a posição dos banqueiros não foi para defender
os interesses do Pais mas sim os seus próprios interesses, como vamos
provar.
A DIVIDA DA BANCA E DAS EMPRESAS AO ESTRANGEIRO É MAIOR QUE A DIVIDA DO
ESTADO
Os dados do Banco de Portugal, sobre a dívida externa líquida do
País, do Estado e da banca.
Quadro 1 Variação da dívida externa líquida
de Portugal, da dívida externa do Estado e da dívida
líquida externa da Banca e das empresas no período 2000-20010
ANOS
|
DIVIDA LIQUIDA EXTERNA
(Saldo Posição de Investimento Internacional)
|
DIVIDA LIQUIDA EXTERNA ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS
|
DIVIDA LIQUIDA EXTERNA DA BANCA E DAS EMPRESAS
|
Milhões
|
% PIB
|
Milhões
|
% PIB
|
Milhões
|
% PIB
|
2000
|
-50.279
|
-40,1%
|
-35.749
|
-28,5%
|
-14.530
|
-11,6%
|
2001
|
-62.863
|
-48,6%
|
-52.644
|
-40,7%
|
-10.219
|
-7,9%
|
2002
|
-77.369
|
-57,1%
|
-59.010
|
-43,6%
|
-18.359
|
-13,6%
|
2003
|
-81.780
|
-59,0%
|
-63.782
|
-46,0%
|
-17.998
|
-13,0%
|
2004
|
-91.963
|
-63,8%
|
-56.085
|
-38,9%
|
-35.878
|
-24,9%
|
2005
|
-104.389
|
-70,0%
|
-56.425
|
-37,8%
|
-47.964
|
-32,2%
|
2006
|
-126.053
|
-81,1%
|
-78.756
|
-50,7%
|
-47.297
|
-30,4%
|
2007
|
-150.432
|
-92,3%
|
-93.162
|
-57,1%
|
-57.270
|
-35,1%
|
2008
|
-165.195
|
-99,2%
|
-75.332
|
-45,3%
|
-89.863
|
-54,0%
|
2009
|
-186.193
|
-113,6%
|
-75.330
|
-46,0%
|
-110.863
|
-67,6%
|
2010
|
-185.551
|
-111,5%
|
-79.592
|
-47,8%
|
-105.959
|
-63,7%
|
2010-2000 (Milhões )
|
135.272
|
|
43.843
|
|
91.429
|
|
2010-2000 (em %)
|
269,0%
|
178,1%
|
122,6%
|
67,8%
|
629,2%
|
449,5%
|
Fonte: Boletim Estatísticos Banco Portugal
Como revelam os dados do Banco de Portugal no período 2000-2010, a
dívida total liquida externa do País, medida pelo saldo da
Posição de Investimento Internacional, aumentou em 269%, a divida
liquida externa das Administrações Públicas, ou seja, do
Estado cresceu 122,6%, ou seja, menos de metade do crescimento da dívida
do País, mas a dívida líquida da banca e das empresas ao
estrangeiro aumentou 629,2%, isto é, cinco vezes mais do que o aumento
percentual da divida externa do Estado. Em milhões de euros, entre 2000
e 2010, a dívida líquida do Estado ao estrangeiro aumentou em
43.843 milhões de euros, e a divida liquida da banca e das empresas ao
estrangeiro cresceu em 91.429 milhões .
JÁ NINGUÉM EMPRESTAVA DINHEIRO À BANCA PORTUGUESA A
NÃO SER O BCE
A variação da divida liquida ao estrangeiro da banca, que se
apresenta seguidamente, mostra que ela já não se conseguia
financiar no estrangeiro.
Quadro 2 Variação da dívida líquida do País e da
banca ao estrangeiro
ANOS
|
DIVIDA LIQUIDA DO PAÍS AO ESTRANGEIRO
|
DIVIDA LIQUIDA DOS BANCOS AOS ESTRANGEIRO
|
Milhões
|
% PIB
|
Milhões
|
Em% PIB
|
Variação anual da divida da banca
|
2005
|
-104.389
|
-70,0%
|
-56.425
|
-37,8%
|
|
2006
|
-126.053
|
-81,1%
|
-78.756
|
-50,7%
|
+39,6%
|
2007
|
-150.432
|
-92,3%
|
-99.081
|
-60,8%
|
+25,8%
|
2008
|
-165.195
|
-99,2%
|
-78.463
|
-47,1%
|
-20,8%
|
2009
|
-186.193
|
-113,6%
|
-76.705
|
-46,8%
|
-2,2%
|
2010
|
-185.551
|
-111,5%
|
-56.204
|
-33,8%
|
-26,7%
|
2010-00
|
77,7%
|
59,3%
|
-0,4%
|
-10,7%
|
|
Fonte: Boletim Estatístico Banco Portugal
Contrariamente ao que afirmou o representante do PSD, Nogueira Leite, num
debate realizado na TVI em 06/04/2011, a dívida líquida do Pais
ao estrangeiro não é de 250.000 milhões (a
ignorância é atrevida, e a mentira serve os objectivos
políticos deste senhor), mas sim 185,551 milhões no fim de
2010, tendo mesmo diminuído em 642 milhões entre 2009 e
2010, como revelam os dados do Banco de Portugal. No entanto, essa
redução foi determinada pelo facto de que a banca não tem
conseguido financiar-se no estrangeiro, sendo obrigada a amortizar os
empréstimos à medida que vencem. E isto porque os próprios
bancos já não acreditam uns nos outros, e apesar das
"bonitas" declarações de que a situação
da banca a operar em Portugal é diferente, no entanto para os grandes
bancos e fundos internacionais isso não é bem assim.
Entre 2009 e 2010, a dívida líquida da banca ao estrangeiro
diminuiu em 20.501 milhões , pois passou de 76.705 milhões
para 56.204 milhões , precisamente devido a esse facto. Mas
a incapacidade que a banca em Portugal têm enfrentado para se financiar
no estrangeiro não se limita apenas a 2010. Isso tem-se verificado em
todos os anos após 2007, ou seja, depois do início da crise
internacional em que os bancos deixaram de acreditar uns nos outros devido aos
activos tóxicos encontrados neles. Como revelam os dados do Banco de
Portugal, em relação ao ano anterior, a dívida
líquida dos bancos a operar em Portugal diminuiu em -20,8% em 2008; em
-2,2% em 2009;e em -26,7% em 2010. A banca a operar em Portugal, à
medida que os seus empréstimos vencem, os credores obrigam-na a
amortizar as dívidas e já não emprestam mais. É
essa a razão da falta de liquidez que a banca a operar em Portugal
enfrenta actualmente.
AS ACÇÕES DOS BANCOS VALORIZARAM-SE NUM ÚNICO DIA 320
MILHÕES
Num único dia, após o governo ter pedido a
intervenção da UE, do BCE e do FMI, a capitalização
bolsista dos quatro maiores bancos privados constantes do PSI20 aumentou em 320
milhões . E a pergunta que se coloca é o seguinte: Por que
razão o simples anúncio do pedido de intervenção
externa feita pelo governo determinou que as acções do BPI se
valorizassem em +5,12%; as do BES em +4,18%; as do BCP em +4,17%; e as do BANIF
em +2,1%? E a resposta é simples: De acordo com os "mercados",
a "ajuda" a Portugal, feita pela U.E., pelo FMI e pelo BCE
determinará que a capacidade do Estado para apoiar a banca em Portugal
aumentará (no OE2011 estão previstos já 9.000
milhões para o Estado poder conceder avales à banca mais
3.000 milhões para o Estado contribuir para os aumentos do
capital da banca), assim como para provisionar o Fundo de Garantia dos
depósitos bancários (neste Fundo, que tem de ser provisionados
pelos bancos, faltam cerca de 15.000 milhões ), dando assim maior
segurança quer aos investidores quer aos depositantes. Para além
disso, embora seja o Estado a negociar, os bancos estão à espera
que, com base nos empréstimos contraídos, sejam abertas linhas de
crédito que eles possam utilizar em condições vantajosas
para assim poderem fazer negócio, concedendo empréstimos pois,
sozinhos, são incapazes de se financiar no mercado internacional.
BCE E AGÊNCIAS DE RATING UNEM-SE PARA AGRAVAR AS DIFICULDADES DOS ESTADOS
E DAS EMPRESAS, E O CONFLITO DE INTERESSES EXISTENTE NAS AGÊNCIAS DE
RATING
Para compreender a manipulação feita pelas chamadas
agências de
rating,
cujo poder tem sido aumentado, por um lado, pelo apoio que o BCE tem
dados a elas valorizando-as e, por outro lado, no nosso País, pela
amplificação que alguns media dão às suas
"notações" fazendo-as passar, junto da opinião
pública, como se fossem objectivas, ocultando quer os interesses que
controlam essas agências quer os critérios que utilizando, e
justificando desta forma as altas taxas de juro que depois os bancos, fundos e
companhias de seguros, ou seja, "os mercados", exigem, e contribuindo
também para a sujeição do governo aos seus
"dictats"
(ordens).
O segmento de mercado de agências de "rating" é dominado
por empresas americanas,
"Moody´s", "Standard & Poors" e "Fitch Ratings
". E naturalmente na luta entre o dólar e o euro, colocam-se ao
lado dos EUA. Para a continuação do poder americano a
nível mundial é vital o domínio do dólar, pois
enquanto for moeda de pagamentos a nível mundial, os EUA poderão
utilizá-la para pagar os seus gigantescos défices externos (o
défice da Balança de Pagamentos Correntes dos EUA atingiu, em
2009, 418.060 milhões e, nos três primeiros trimestres de
2010 foi de 320.608 milhões ) produzindo dólares nas
tipografias da FED (banco central dos E.U.A), não sendo assim obrigado a
recorrer aos "mercados" externos para obter moeda para pagar esses
défices e as dividas que eles originam, pois a sua própria moeda
serve. Portanto, o enfraquecimento do euro como moeda alternativa ao
dólar, e mesmo a destruição da Zona Euro é vital
para a continuação do poder americano a nível mundial. E
não restam dúvidas que as agências de
rating
americanas estão a dar uma importante ajuda.
Os proprietários dessas agências de
rating
são bancos ou fundos americanos que estão presentes nos
"mercados, e portanto são parte interessada nas suas
avaliações, pois assim poderão exigir taxas de juro mais
elevadas com base nos"ratings" elaborados pelas empresas de que
são donos, sendo por isso fundamental a "ajuda" dessas mesmas
agências para multiplicar os seus lucros. Um exemplo para tornar esta
perversão de interesses ainda mais clara. Entre os maiores accionistas
da agencia Moody´s encontram-se MORGAN STANLEY e STATE STREET CORPORATION,
dois grandes bancos americanos, a BERKSHIRE HATHAWAY, INC, uma Holding da
Warren Buffet, um grande investidor internacional, e mais 13 fundos e bancos
americanos, que participam nos "mercados" nos leilões da
divida. O conflito de interesses existentes nestas agências de
rating,
que ninguém tenta por cobro, é claro e muito grande; pelo
contrário, o BCE até as defende contra os interesses dos Estados
e das empresas da UE.
Os critérios utilizados por estas agências de
rating
nas suas avaliações são extremamente subjectivos
permitindo a manipulação fácil. Para tornar claro isso
vamos utilizar as "notações" sobre os bancos a operar
em Portugal divulgados na revista de Mody´s (Moody´s Investors
Service) de 6 de Abril de 2011. Nela foram divulgados os "ratings"
desta agência relativamente a sete bancos a operar em Portugal (CGD, BES,
BPI, Montepio, Banco Português de Negócios e Santander-Totta).
Segundo a Moody´s as classificações são
construídas com base critérios escolhidos apenas por esta
agência, e um dos critérios mais importantes é o apoio que
o governo, em caso de dificuldades, pode dar a cada um dos bancos. De acordo
com a Moody´s, embora o BCP e o Montepio tenham a mesma
classificação sem contar com o apoio do Estado Ba2
no entanto, segundo a Moody´s o apoio potencial do Estado ao BCP, talvez
porque a presença de "boys" socialistas no seu Conselho de
Administração seja muito elevada, faz subir o BCP dois
níveis passa para Baa3 enquanto o Montepio sobe apenas um
nível, passando para Ba1, e sendo considerado pela agencia
norte-americana e por alguns media em Portugal, que se apressaram a divulgar e
amplificar, como "lixo" sem se darem ao trabalho de investigar como
aquela agência americana chegou àquele resultado, provocando
naturalmente a insegurança nos depositantes. E isto é ainda mais
absurdo quando o BES, que é um banco privado, com forte
participação estrangeira (Crédit Agricole) sobe dois
níveis devido ao apoio potencial do governo em caso de necessidade,
enquanto o Montepio, que é um banco português ligado a uma
associação mutualista com cerca de 500.000 associados, o apoio
potencial do governo em caso de necessidade faz subir apenas um nível.
Finalmente, a descida de nível do
rating
do Montepio relativamente à avaliação anterior deve-se
apenas ao governo, que passa de dois níveis para um nível, pois
relativamente a todos os restantes critérios, que são mais
objectivos sobre a situação de solidez financeira da
instituição, segundo a própria Moody´s não se
verificou qualquer degradação. Isto mostra de uma forma clara
como é fácil as agências de
rating
manipularem os resultados, os quais são depois amplificados por alguns
media que ocultam, por ignorância ou intencionalmente, a forma como
são obtidos pois nem se dão ao trabalho de investigar, gerando
assim a insegurança no seio dos depositantes.
Nesta manipulação, as agências de
rating
contam com um importante aliado que é o BCE. Em primeiro lugar, porque
o BCE nas suas decisões é fortemente condicionado pelos
resultados das agências de
rating.
E isto porque ele exige aos bancos em Portugal, para comprar divida
pública ou outra divida titularizada, ou seja, para os financiar que
eles sejam avaliados, pelo menos, por duas agencias de
rating,
o que fez aumentar significativamente o seu poder e os seus lucros, pois
estas agencias embora prestem aos seus accionistas uma importante ajuda para
estes multiplicarem os lucros, ainda se fazem pagar bem aos seus clientes
(dados que vieram a público depois de ter começado a crise de
2008, revelaram que estas agências, relativamente aos grandes clientes,
fabricaram "ratings" atribuindo a activos tóxicos
classificação de "produto seguro", o que permitiu a
muitos destes clientes vender "gato por lebre). E depois, o BCE, com base
nessas classificações, exige maiores garantias (colaterais) aos
bancos, tornando assim o financiamento mais caro, o que leva depois a estes
poderem exigir às empresas e famílias taxas de juros mais
elevadas. O mesmo está a acontecer com o Banco Europeu de Investimento
(BEI) que, com a descida do chamado "rating" da República e
dos bancos a operar em Portugal, está a exigir aos bancos vários
mil milhões euros de garantias adicionais por empréstimos feitos
a estes, tornando ainda mais difícil o financiamento da economia, das
empresas e das famílias portuguesas. É todo um sistema perverso
que foi criado para aumentar as dificuldades de países como Portugal,
estrangulando a sua economia e agravando as condições sociais.
É evidente que o BCE e o FMI, como instrumentos destes interesses,
vão procurar, na sua vinda a Portugal, impor condições que
serão extremamente graves para a economia e para os trabalhadores
e pensionistas portugueses. Mas isso deixamos para um próximo estudo,
pois
este já vai demasiadamente longo.
10/Abril/2011
[*]
Economista,
edr2@netcabo.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
.
|