Como foi conseguida a redução do défice no 1º semestre de 2018
por Eugénio Rosa
[*]
O Ministério das Finanças divulgou recentemente a Síntese
da execução orçamental referente ao 1º semestre de
2018 das Administrações Públicas. E logo a
comunicação social sem analisar todos os dados referiu-se apenas
ao saldo (défice) que, embora de valor elevado (-2.616,3M),
é inferior ao de idêntico período de 2017, louvando o
governo por esse facto. No entanto, estranhamente os media
"esqueceram-se" de explicar à opinião pública
como essa redução do défice das
Administrações Públicas tinha sido conseguida. É
essa lacuna importante que vamos procurar esclarecer neste estudo.
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O Saldo global negativo (défice) das Administrações
Públicas diminuiu efetivamente 13,4% (405,8 milhões ) no
1º sem.2018, quando comparado com o de idêntico período de
2017. Mas uma análise do saldo das várias
Administrações Pública mostra que, embora se tenha
verificado uma redução dos 265,5 milhões no saldo
negativo da Administração Central, a maior
contribuição para a melhoria da situação tem sido o
elevado saldo positivo da Segurança Social que aumentou 12% entre 2017 e
2018, atingindo no 1º semestre de 2018 o impressionante montante de
1.845,9 milhões .
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As despesas com pessoal das Administrações Públicas
diminuíram 182,4 milhões no 1º semestre de 2018,
quando comparadas com as de idêntico período de 2017. E isto a
preços correntes, portanto não entrando com o efeito corrosivo do
aumento de preços. Fica assim claro o efeito nulo que teve até a
esta data o descongelamento das carreiras. Enquanto isto sucede com as despesas
com os trabalhadores, as despesas com a aquisição de bens e
serviços e com juros não param de aumentar
(+8% e +1,7%, respetivamente).
Sem juros, o saldo (primário) já seria positivo em 2.565,2
milhões como revelam também os dados da Síntese da
execução orçamental do quadro anterior.
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No 1º semestre de 2018, só na
Administração Central
as despesas com pessoal registaram uma redução de 180,8
milhões , quando comparadas com as de idêntico
período de 2017, verificada nas duas rubricas mais importantes para os
trabalhadores da Função Pública
(remunerações certas e permanentes, e abonos variáveis e
eventuais)
e verificou-se também uma forte contenção no investimento
público já que o grau de execução no 1º
sem.2018 foi apenas de 34,7%, uma percentagem muito inferior à registada
nas outras rubricas de despesa. Pelo contrário, as despesas com a
"aquisição de bens e serviços" e com "juros
e outros encargos" da divida dispararam
(respetivamente, +456,6 milhões e +127,1 milhões ).
Dois pesos e duas medidas são evidentes.
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No 1º semestre de 2018, a despesa com pensões pagas pela
Segurança Social diminuiu em 69,9 milhões ,
redução esta que atingiu todo o tipo de pensões
(sobrevivência, invalidez, velhice)
. E se não fosse a despesa causada pela atualização
extraordinária das pensões (+75,9 milhões ), a
quebra na despesa total com pensões teria sido ainda maior.
28/Julho/2018
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