O custo do trabalho em Portugal e na UE (1)
O custo hora da mão-de-obra em Portugal no 1º trim.2018
diminuiu 1,5% quando comparado com o do 1º trim.2017
Nos países da UE aumentou 2,7% no mesmo período
A sobre-exploração dos trabalhadores em Portugal aumentou
em 2018
Numa altura em que a UGT, patrões e governo se uniram na
concertação social para impedir qualquer alteração
importante do Código de Trabalho que defendesse os trabalhadores
que são a parte mais fraca na relação de trabalho
(com a introdução do principio do tratamento mais
favorável que até existia antes do 25 de Abril; o fim da
caducidade automática dos Contratos Coletivos de Trabalho; a
redução da precariedade que cresceu nos últimos anos como
mostramos em estudo anterior; o combate à politica de baixos
salários praticada pelos patrões, etc) o
gráfico que a seguir se apresenta, sobre a evolução do
custo hora da mão-de-obra nos países da União Europeia
entre 2017 e 2018, divulgado pelo Eurostat no seu comunicado nº 98/2018
de 15-6-2018, chama a atenção para uma realidade grave que
é sistematicamente omitida pelo governo e pelas
associações patronais.
Como mostra o gráfico do Eurostat,
Portugal foi o único país da União Europeia
(1ª barra negativa, e única negativa, do gráfico a contar da
esquerda).
onde o custo hora da mão-de-obra diminuiu no 1º Trimestre de 2018
(-1,5%)
quando comparado com o custo hora do 1º Trimestre de 2017.
É evidente que esta redução do custo trabalho/hora foi
conseguida à custa do aumento da exploração dos
trabalhadores, pagando salários de miséria. Basta ver o
"site" do Instituto de Emprego, onde se encontram ofertas de emprego
para engenheiros em que as empresas pretendem pagar apenas 600/mês
e o governo nada faz, até promove essas ofertas em
"sites" oficiais.
E tenha-se presente, como se refere no próprio gráfico, que
aquela variação do custo hora foi calculada com base em valores
nominais, ou seja, sem deduzir o efeito corrosivo do aumento de preços.
Apesar disso, os patrões, a UGT e o governo, assinaram na
concertação social um acordo que visa aumentar a
exploração e a precariedade
(por ex., aumentar o período experimental para a generalidade dos
trabalhadores de 90 dias para 180 dias Ver o nosso estudo anterior onde
analisamos em detalhe o acordo de concertação social que teve a
oposição apenas da CGTP)
Para tornar mais claro o gráfico interessa esclarecer como foram
calculados os valores utilizados para construir o gráfico. Segundo o
Eurostat,
o custo hora de mão-de-obra foi obtido dividindo todos os custos que o
empregador tem com a mão-de-obra
(salários e ordenados e custos não salariais)
pelo número de horas trabalhadas
(os custos salariais salários e ordenados
incluem as remunerações diretas, os prémios e
indemnizações em espécie ou em dinheiro pago pelos
patrões, assim como as refeições, as bebidas, etc., etc.
Os custos não salariais,
ou seja, os outros custos incluem os restantes custos suportados pelas
entidades empregadoras, como sejam as contribuições sociais a
cargo de empregador, etc. etc.).
A realidade que o gráfico 1 do Eurostat mostra é grave e devia
merecer uma séria reflexão por parte do governo pois prova que a
recuperação económica de que tanto fala o governo
está-se a fazer à custa de uma crescente
sobre-exploração dos trabalhadores em Portugal de que se
aproveitam as entidades patronais, agravando desta forma as enormes
desigualdades existentes. A "recuperação" dos
rendimentos está a ser feita com base em salários de
miséria. É esta realidade revelada também pelo
próprio Eurostat.
17/Junho/2018
[*]
edr2@netcabo.pt
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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