Aproxima-se o 45º aniversário da Revolução Cubana

por Luis Ortega [*]

. Faltam apenas dois meses para que se cumpram 45 anos de existência do regime revolucionário de Cuba. É possível perguntar porque, durante tantos anos, com o pleno apoio e cumplicidade de dez presidentes americanos que passaram pela Casa Branca de Washington, com a intensa colaboração de todos os organismos de inteligência, com um investimento, ao longo do anos, que deve ultrapassar milhares de milhões de dólares, com uma propaganda internacional contra Cuba no mundo inteiro, com a formação de um núcleo de quase dois milhões de cubanos em território americano, com uma custosa invasão no ano de 1961, com infinidade de planos para assassinar Fidel Castro, todos fracassados, com tudo isso e mais ainda, durante tantos anos não puderam fazer marcha atrás na história de Cuba e devolver a ilha ao velho sistema de dominação que existiu de 1898 até 1959.

Por que? É a pergunta que se tem de fazer. Que não se diga que não quiseram. Excederam-se nos esforços para consegui-lo. Nem sequer puderam, durante tantos anos, construir a figura de um dirigente cubano anticastrista que inspirasse respeito frente a Castro, não apareceu, ou seja, não puderam construir um dirigente político ou militar que inspirasse respeito. Tudo ao contrário. Os que se puseram ao serviço dos Estados Unidos para destruir Cuba morreram no silêncio e na solidão e o que resta sobre o terreno são os resíduos, os restos de várias gerações que se equivocaram.

Ora bem, que ninguém tome isto com um endeusamento de Castro. Estou muito longe disso. O que acontece é que há que dar a César o que é de César. Os Estados Unidos fracassaram em Cuba, a partir de 1959, porque não souberam avaliar correctamente a situação cubana. Aliaram-se, desde o princípio, aos piores elementos dos regimes anteriores. Criaram um ideário político que consistia no retorno à servidão, e os que se puseram ao serviço dessa espécie de doutrina fizeram-no em busca de salários e posições. Agora, 45 anos depois, os entoam os cantos da liberdade para Cuba são os despojos, os detritos, os negociantes cuja doutrina se foi reduzindo até converter-se num simples oxalá que morra.

Os Estados Unidos cometeram um grave erro, a partir de 1959, ao não efectuar um esforço maior para entender o que estava a passar-se em Cuba. Cometeu-o o embaixador Philip Bonsal, que deixou escritas páginas disparatadas. Cometeu-o também o vice-presidente Nixon, que se reuniu com Castro a fim de dar-lhe conselhos paternais. Mas o maior erro consistiu em por o conflito de Cuba em mãos de agentes policiais que não podiam entender porque se havia produzido uma revolução em Cuba e nem sequer tinham a menor ideia do que é uma revolução.

Não foi simplesmente a sorte que permitiu à revolução permanecer no poder a contragosto do vizinho do norte durante 45 anos, sem contar os que faltam, porque as revoluções quando começam não é possível calcular o que vão durar e como. Talvez a razão mais importante é que o processo político de Cuba, durante tantos anos, foi rigorosamente honesto. Em 45 anos tormentosos Cuba não se afastou do caminho da rectidão. É um verdadeiro milagre na América, que herdou os modos e maneiras da Espanha decadente.

No princípio da revolução cubana os personagens do governo de Eisenhower cometeram o erro de aparentar a revolução em Cuba ao frágil movimento encabeçado por Arbenz na Guatemala no ano de 1954, e decidiram que a estratégia contra Cuba teria que ser a mesma que utilizaram para recuperar a colónia da Guatemala.

Quando vieram a perceber que Cuba era outra coisa já era demasiado tarde. Entretanto, em 45 anos não lhe ocorreu que tudo o que fizeram, e continuam a fazer contra Cuba, é errado. Os candidatos presidenciais do Partido Democrata, nestes momentos, continuam a proclamar que se chegarem à Casa Branca continuarão com a mesma política para com Cuba. Há um tanto de decrepitude na conduta de Washington em relação à ilha. Crer que quando Castro desaparecer poderão limitar-se a tomar posse da ilha e que ali não aconteceu nada é o cúmulo da loucura. Cuba mudou.

Quase a cumprir-se o 45º aniversário do triunfo da revolução cubana há que perceber que o ímpeto com que começou aquele processo mantem-se alto. O personagem principal do processo, Castro, manteve, durante todos este anos, uma conduta invariável. Todos os esforços que se fizeram a partir dos Estados Unidos, ao longo do anos, para desprestigiar a causa de Cuba, fracassaram. Todas as acusações contra Castro e contra Cuba, caíram por si sós. Insistir em que Cuba é um país terrorista revela que os inimigos de Cuba padecem de uma certa indigência mental.

Há que fazer votos para que os Estados Unidos, sobretudo se se verificar uma mudança de governo no ano de 2004, façam um esforço para rever sua política sobre Cuba. Aos 45 anos é óbvio que essa política foi disparatada, danosa para os interesses americanos, e funesta para uma ilha que desde o século XIX tem estado a lutar pela sua independência, primeiro contra a Espanha e depois, nos últimos anos, contra o vizinho do norte.
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[*] Jornalista cubano radicado em Miami, Florida.

O original encontra-se no jornal de Miami El Diario/La Prensa .


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12/Nov/03