Cuba e sua economia: 2017-2018, uma avaliação preliminar
por José Luis Rodríguez
[*]
I
A queda da economia em 0,9% durante o ano de 2016 provocou um forte impacto
negativo uma vez que a economia se mantivera a crescer ininterruptamente de
1994. Isto foi o resultado de um conjunto de factores, mas o fundamental foi a
redução de cerca de 40% das entregas de petróleo da
Venezuela. Esta conjuntura obrigou à compra de uns 100 milhões de
dólares de combustível, apesar de que não se conseguiu
compensar a descida das entregas venezuelanas. Além disso, verificou-se
uma redução de 16,3% na exportação de bens e
serviços e, em Outubro, o país foi açoitado pelo
furacão Matthew, que afectou mais de 46.706 habitações e
perdas estimadas em 2430,8 milhões de pesos.
Para 2017 fora previsto alcançar um crescimento de 2% no PIB, sustentado
num forte impulso de despesa pública, que incluiu um aumento de 26% das
despesas para substituir importações e 49% de incremento nos
gastos em investimentos, o que levou a elevar o défice orçamental
a 12% do PIB.
[1]
Durante o primeiro semestre do ano conseguiu-se um crescimento de 1,1% no PIB,
no qual influiu o incremento do turismo com um aumento de 22,5% dos
visitantes no fecho de Junho ; ao que foi acrescentado o incremento das
produções agrícolas não
cana-de-açúcar, as construções, assim como o
transporte e as comunicações.
Contudo, já no fecho do primeiro semestre, verificava-se uma
redução de 13% nos embarques de petróleo e derivados
provenientes da Venezuela, em relação ao mesmo período do
ano anterior. Por outro lado, informava-se uma descida dos rendimentos externos
previstos de 417 milhões de dólares, incluindo o incumprimento do
plano de exportação de açúcar.
Os modestos resultados alcançados implicavam um esforço adicional
no resto do período para conseguir 2% de incremento no PIB. Contudo,
novos obstáculos foram enfrentados a partir do mês de Julho.
O mais importante de todos foi o furacão Irma, que acoitou Cuba nos
primeiros dias de Setembro. No seu cruzamento por doze províncias, o
fenómeno meteorológico ceifou a vida de dez pessoas, afectou
179.534 habitações; danificou umas 2.900
instalações educacionais e de saúde e provocou perdas
estimadas em 13.185.000 pesos, o maior impacto causado por este tipo de evento
na história recente do país.
Estas perdas de activos terão que ser amortizadas durante vários
anos e, ainda que os recursos investidos adicionalmente na
recuperação se somem ao novo valor criado no último
trimestre, as perdas correntes incidirão de forma negativa na actividade
económica do país.
Desse modo, o país consegue um incremento do PIB de 1,6% em 2017,
apoiado no crescimento do turismo sua contribuição
aumentou para 4,4%, com um incremento no número de visitantes de
aproximadamente 16,5% ; da agricultura 3%, fundamentalmente em
carnes e hortaliças, mas com quedas em leite e ovos ; do
serviço de transporte e de comunicações igualmente
3%, com notáveis carências nas cargas transportadas por via
ferroviária ; e do sector da construção, que
aumentou 2,8%. Por outro lado, o plano de investimentos conseguiu ser cumprido
só em 90,8%, ainda que se tenha observado um incremento no financiamento
comprometido pelo investimento estrangeiro directo (IED), que se estima ter
acumulado uns 700 milhões de dólares este ano, com o que se
chegou aos 2000 milhões desde a emissão da Lei 118 em 2014.
Os sectores apresentados oficialmente como os de melhor desempenho representam
apenas 26% do PIB, pelo que o incremento de ramos dos serviços como o
comércio, e de outras actividades sociais básicas, também
deve ter incidido positivamente em alguma medida para conseguir globalmente os
1,6% já mencionados, mas para isso será preciso contar com maior
informação do que a disponível neste momento.
[2]
Finalmente, em 2017 registam-se como elementos negativos para a economia cubana
uma política de maior agressividade para com o nosso país, posta
em prática pela administração Trump a partir de 16 de
Junho, cujos primeiros impactos já começam a apreciar-se, que se
somam a um bloqueio que já acumula danos para Cuba superiores a 130 mil
milhões de dólares.
Também se manteve um nível de incumprimento da dívida de
curto prazo, o que provocou crescentes dificuldades para o fluxo de
importações do país, mesmo quando se cumprem os
compromissos de pagamento da dívida externa renegociada.
II
As perspectivas para 2018 prevêem alcançar um crescimento de 2% no
PIB, mantendo um forte gasto público, o que representa um défice
orçamental de 11,4%. Os crescimentos sectoriais mais significativos
devem ser de 12% nas construções; 6,7% no comércio e 4,2%
no turismo, onde se espera receber uns cinco milhões de visitantes.
Devem crescer igualmente as exportações e
importações e manter-se uma balança comercial positiva
mínima de 54,8 milhões de dólares. O plano de
investimentos deve elevar-se 10,8 mil milhões de pesos e deles se estima
a IED nuns 600 milhões de dólares. Finalmente, espera-se que o
salário médio cresça 2,2%, enquanto a produtividade deve
aumentar 2,8%.
2018 manter-se-á como um ano de fortes pressões financeiras e
tal como se anunciou os esforços serão concentrados
nas prioridades das prioridades, tentando não afectar os serviços
básicos da população.
15/Janeiro/2018
[1] É possível financiar este défice emitindo
títulos da dívida pública, solução
válida da curto e médio prazo, o que permite acumular
forças para impulsionar o crescimento ulterior e que gera rendimentos e
empregos no imediato.
[2] Para a análise dos resultados preliminares de 2017 contou-se
com o relatório do ministro da Economia à Assembleia Nacional do
Poder Popular. Ver intervenção de Ricardo Cabrisas Ruíz,
vice-presidente do Conselho de Ministro e ministro da Economia e
Planificação, no X período ordinário de
sessões da VIII Legislatura da ANPP em
Granma,
22 de Dezembro de 2017, p. 5-7.
[*]
Economista, cubano.
O original encontra-se em
www.temas.cult.cu/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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