Pequeno crescimento enquanto medido pelo Produto Interno Bruto e alto
desenvolvimento em termos de estabelecer bases essenciais para um
desenvolvimento humano integral que transcenda o estreito limite das
transacções mercantis e ultrapasse qualquer
concepção sobre o desenvolvimento existente neste mundo
globalizado, neoliberal, em profunda crise económica, e mais ainda, em
crise de valores humanos.
Para avaliar o desempenho da economia cubana no ano que termina, é
imprescindível abandonar o formalismo estatístico e o fetiche do
crescimento do Produto Interno Bruto da forma como o faz tradicionalmente a
metodologia concebida em economias estruturadas para obter lucro no mercado.
Segundo esta análise tradicional, o crescimento económico de 1,1%
alcançado este ano seria escasso e inferior ao que nos propusemos em
Dezembro passado.
Mas se formos ao essencial da nossa realidade cubana, o ano de 2002 foi de
pequeno crescimento e de alto desenvolvimento. Pequeno crescimento enquanto
medida do Produto Interno Bruto e alto desenvolvimento em termos de estabelecer
bases essenciais para um desenvolvimento humano integral que transcenda o
estreito limite das transacções mercantis e ultrapasse qualquer
concepção sobre o desenvolvimento existente neste mundo
globalizado, neoliberal, em profunda crise económica, e mais ainda, em
crise de valores humanos.
O crescimento económico é necessário e importante, mas o
mais importante é que cresçam bens, serviços e valores
culturais para levantar e dignificar a condição humana, e
não para a envilecer.
Para aumentar o crescimento do PIB dos Estados Unidos, para citar um exemplo,
contribui a construção de prisões aos altos preços
cobrados pelas empresas que obtêm os contratos e que armazenam os mais de
2 milhões de pessoas encarceradas nesse país e também a
dispendiosa construção e funcionamento de centros de tratamento
para as dezenas de milhões de toxicodependentes.
As despesas militares nos Estados Unidos, que contam com um orçamento de
379 mil milhões de dólares para produzir armas de
destruição em massa e de todo tipo, para agredir e intimidar,
fazem crescer o PIB desse país. O PIB limita-se a registar o crescimento
de qualquer coisa desejável ou indesejável socialmente
e maior será o crescimento quanto mais avultadas forem as
transacções mercantis envolvidas.
É imprescindível então distinguir entre crescimento e
desenvolvimento, embora inclusivamente no desfavorável cenário de
crise económica globalizada actuando pelo segundo ano consecutivo, o
crescimento da economia cubana medido segundo a insatisfatória
metodologia internacional de cálculo do PIB, é superior à
catástrofe latino-americana em que a média de crescimento das
economias não bloqueadas pelos Estados Unidos, mas bloqueadas pelo
neoliberalismo, foi de -0,5%.
Na América Latina colhem-se os tristes resultados de duas décadas
de neoliberalismo disciplinado e submisso.
A economia da Argentina decresceu 11% no terceiro ano de uma crise que fez
rebentar a bolha de sabão do elogiado modelo da
dolarização que a curto prazo conduziria ao ingresso feliz no
Primeiro Mundo e que pelo contrário conseguiu o ingresso infeliz na
pobreza a mais de 50% dos argentinos e a exibição, num
país com recursos agrícolas e ganadeiros de luxo, de
crianças moribundas de desnutrição ao estilo dos campos de
concentração nazis ou sob as grandes fomes do Sahel africano.
A economia do Uruguai decresceu 10,5%, e a nível regional a
inflação supostamente domesticada pelo neoliberalismo
reapareceu atingindo mesmo os 12%, enquanto a entrada de capitais
retrocedeu aos níveis que tinha há 25 anos. Sete milhões de
novos pobres no ano de 2002 vieram incorporar-se no imenso contingente da
pobreza que ascende a 226 milhões de pessoas, das quais 92
milhões na indigência.
Uma fonte nada radical como é o Banco Interamericano de Desenvolvimento
revelou no passado dia 2 de Dezembro que o alastrar da pobreza na
América Latina castiga com particular crueldade as crianças
menores de 14 anos, a ponto de em cada 100 crianças latino-americanas,
60 apresentarem sintomas de depressão e 6 acabarem por se suicidar.
Desta população infantil 60% são pobres e um terço
dos menores de 2 anos está desnutrido numa região com elevado
potencial de produção de alimentos. 30% das crianças
não completam o ensino primário e 70% não termina o
nível secundário. Assinala esta fonte que numa cidade da
região em que foram estudados os chamados «meninos da rua», de
cada 10 deles, 6 terminam no suicídio.
No ano que termina a economia de mais alto crescimento do PIB na América
Latina foi a do Peru com 4,5% e isto permite-nos apreciar de novo a
incongruência entre crescimento económico segundo a sua medida
tradicional, e o desenvolvimento verdadeiro, o bem-estar social e
inclusivamente o estado de opinião da população. Este
crescimento mais alto na região coexiste nesse país com 49% da
população na pobreza e 23,2% na indigência, com uma taxa
de desemprego urbano de 9,7%, com uma mortalidade infantil no primeiro ano de
vida de 37 por mil nados vivos, com um nível de analfabetismo de 10,8%
para toda a população e de 15,7% para as mulheres. E coexiste
também com recentes sondagens de opinião que reflectem uma
aprovação de apenas 16% da população à
gestão do actual governo.
No nosso país o ano de 2002 caracterizou-se por uma conjuntura
económica internacional extremamente adversa que fez convergir sobre
nós a pior combinação possível de factores gerados
no exterior e dos quais não podemos isolar-nos nesta economia mundial em
que a globalização é uma realidade determinante.
Com uma diminuição de 5% no turismo, com um gasto de mais de mil
milhões de dólares para importar petróleo e
interrupções no fornecimento proveniente da Venezuela, com
ruinosos preços do açúcar, com três furacões
altamente destruidores em dois anos, com a permanente pressão do
bloqueio e com a recessão económica global que nos agride,
não pode surpreender ninguém que na economia o ano de 2002 se
tenha demonstrado tenso e obrigado a uma verdadeira proeza de resistência
e criatividade para conservar intacta a vitalidade da economia, aumentar com
intensidade o desenvolvimento social e até melhorar indicadores de
qualidade de vida.
Nestas condições foi impossível evitar que alguns
preços subissem nos mercados agro-pecuários, que o transportes
públicos diminuíssem, que escasseasse mais o combustível
doméstico, que piorasse o estado das estradas e que o estratégico
esforço para gerar toda a electricidade com o petróleo bruto
nacional, provocasse
apagões durante este ano.
Mas seríamos míopes se os nossos olhos só focassem as
insuficiências.
Juntamente com as insuficiências e acompanhando a honesta e
revolucionária acção para as aliviar e melhor ainda
erradicar, está à vista o grande conjunto de iniciativas
realizadas ao longo do ano no contexto da Batalha das Ideias que apontam para
uma transformação social dentro do socialismo, que torne
irreversível a Revolução pela acção
consciente de cubanas e cubanos solidários, de sólidos valores
éticos e patrióticos, cultos, plenos.
Neste ano de 2002 a Batalha das Ideias intensificou a atenção
numa nova escala e com novos conceitos, a sectores da população
especialmente vulneráveis. Seria impossível fazer sequer um breve
comentário sobre todas as acções em curso, pois levaria
demasiado tempo, mas algumas delas não se podem omitir.
Para os jovens antes desvinculados do estudo e do trabalho, que era não
poucas vezes o caminho para se vincular ao crime e às prisões,
foi criado o revolucionário conceito de estudar como forma de emprego.
Já 119 575 jovens se qualificam para a vida laboral e social nos Cursos
de Superação Integral.
Para aqueles que só uma assistência social personalizada e
minuciosa pode aliviar a sua situação, o crescimento dos
trabalhadores sociais é a resposta humana adequada. Existem já
quatro Escolas Formadoras de Trabalhadores Sociais em que estudam 7151 jovens.
No sector da Saúde integraram-se novas acções como as
orientadas no sentido de detectar e tratar crianças com problemas
nutricionais e a investigação sobre a situação das
pessoas incapacitadas e os factores de diversa natureza que influem sobre eles.
Neste sector avançou durante o ano o programa para melhorar a
disponibilidade de medicamentos que conseguiu elevar notavelmente essa
disponibilidade e implicou investimentos em laboratórios,
aquisição de matérias-primas, reparação de
armazéns e também a reparação agora em curso de
2053 farmácias, dotação de meios de transporte a este
sistema, desenvolvimento do serviço de localização de
medicamentos e recuperação do serviço de estafetas.
Houve igualmente avanços no Programa de Formação Emergente
de Enfermagem com a graduação de 741 estudantes no ano e a
preparação em curso de mais 2776 estudantes. Iniciou-se na
capital o programa para a reparação e equipamento de
policlínicos concebidos como centros de cuidados primários de
alta qualidade, bem como a reparação de consultórios dos
médicos de família.
Na educação tem vindo a produzir-se uma profunda
revolução que inclui a redução da quantidade de
alunos a 20 por professor no ensino primário, o que já é
realidade na cidade de Havana, o Programa de Formação Emergente
de Professores e o Curso de Habilitação Pedagógica que
já graduaram 9045 professores, a reparação e
construção de novas escolas na capital, o início de uma
transformação a fundo da Secundária Básica por meio
da supressão de uma excessiva especialização na
docência e a formação de professores com capacidades mais
amplas para atender e formar estudantes.
O país marcha aceleradamente pelo caminho da
Informatização do Ensino, como ingrediente-chave para ter acesso
ao conhecimento no mundo contemporâneo. Foram introduzidos no ensino mais
de 50 mil computadores, dos quais 24 mil no nível do Primário.
Juntamente com os computadores os meios audiovisuais (televisores e
vídeos)
constituem os instrumentos modernos para um ensino capaz de multiplicar
várias vezes a capacidade de transmitir e incorporar conhecimentos. Ao
anterior soma-se o desenvolvimento da Rede do Clube Jovem de
Computação, a existência de Politécnicos de
Informática com mais de 20 mil alunos, a presença de
especialidades de Informatização em 11 Universidades e 14
Institutos Pedagógicos e a criação de um Centro
Universitário especializado em Ciências Informáticas com a
matrícula inicial de 2007 alunos.
Está a desenvolver-se nos municípios do país a
municipalização do ensino universitário, que é em
rigor a universalização da Universidade e que torna realidade em
Cuba a Universidade para Todos que encheria de regozijo, com um salto no tempo,
os que há mais de 80 anos fundaram com Julio Antonio Mella a
Universidade Popular José Martí para que os pobres, os
operários, os camponeses e os negros pudessem entrar em contacto com a
Universidade.
Foi criado o Canal Educativo que já atinge as províncias
havanesas, Santiago de Cuba, Camagüey e Pinar del Río.
A cultura, essa espada e escudo da nossa cubanidade, essa síntese da
qualidade do desenvolvimento alcançado, recebeu este ano os
investimentos nas escolas provinciais de Instrutores de Arte, nas novas escolas
de Artes Plásticas, na reparação de teatros, no
desenvolvimento da Editorial Libertad que distribuiu 6789 bibliotecas
escolares, o desenvolvimento da Feira do Livro em 19 sedes com mais de 2
milhões de participantes no que foi um grande Festival de Cultura.
Também para os mais de 300 mil compatriotas beneficiados pelas 1519
salas de televisão situadas em locais aonde não chega a
electricidade, esta nova realidade foi um festival de informação
e cultura.
Terminou há pouco com grande êxito a Primeira Olimpíada do
Desporto Cubano, mas esta com a sua elevada qualidade,
organização e lição ao mundo de desporto não
mercantil, não foi a única acção neste sector.
Também recebeu impulso a Medicina Desportiva, a criação de
novos centros de treino, a reabilitação de
instalações para a prática do desporto, a
criação do moderno laboratório anti-doping, o Programa de
Atenção a Atletas e ex-Atletas e o desenvolvimento da Escola
Internacional de Educação Física e Desportos.
Muito do que acabamos de citar não se conta no crescimento do PIB.
Quanto seria o crescimento real se pudéssemos medi-lo em termos de
verdadeiro desenvolvimento, de atenção aos seres humanos, de
sementeira de educação, saúde e cultura?
Entre os sucessos relevantes do ano de 2002 encontra-se a redução
do desemprego para apenas 3,3%, um nível excepcionalmente reduzido em
qualquer comparação internacional e que foi possível por
uma decidida vontade de combater o desemprego aplicando métodos como o
de estudar como forma de emprego e o crescimento da agricultura urbana que
ocupa umas 320 mil pessoas e produz mais de 3,1 milhões de toneladas de
sãos produtos de alto valor alimentar.
De novo aqui é necessário ter em conta a enorme diferença
entre a realidade laboral cubana e o seu entorno latino-americano.
A 9 de Dezembro a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
apresentou o seu Panorama Laboral da América Latina e Caraíbas
2002, onde qualificam de «desolador e trágico» o referido
panorama.
A taxa de desemprego é de 9,3%, a pior nos últimos 25 anos e
pressupõe 17 milhões de pessoas desempregadas em idade laboral.
Poderíamos acrescentar que a realidade é ainda mais sombria, pois
as estatísticas de emprego são das mais manipuladas pela forma de
calcular o desemprego e por a cobertura se reduzir com frequência ao
desemprego urbano e às vezes só às capitais, deixando de
fora o desemprego rural e em cidades não capitais, onde geralmente
é maior.
Este relatório da OIT revela que 70% dos novos empregos foram no sector
informal carente de direitos e superexplorado. O défice de emprego
chamado «decente» pela OIT, entendido como emprego formal com direito
a prestação e segurança social, é de 93
milhões, isto é, 30 milhões mais que no início dos
anos 90. Em cada cinco jovens, dois estão desempregados em países
como a Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia.
No ano de 2002 foi necessário fazer frente à herança de
destruição deixada pelo furacão Michelle do ano anterior e
além disso enfrentar Isidore e Lily. Michelle afectou 179 814
habitações e destruiu por completo 18 243 delas, enquanto Isidore
e Lily afectaram 92 291 habitações, das quais foram
destruídas 17 841.
No caso de Michelle cumpriu-se o compromisso de reparar os danos em
habitações destruídas em menos de um ano, com grande
esforço da Indústria de Materiais de Construção,
dos transportadores e do trabalho decisivo das pessoas directamente afectadas.
Nestas emergências provocadas pelos furacões se pôs mais uma
vez em prática o sentido solidário da Revolução e
ratificou-se o princípio de que ninguém é esquecido nem
abandonado.
Foi de grande importância o aumento de 26% na produção de
petróleo nacional, o que permite, em união com o gás
natural, alcançar uma produção de 4,1 milhões de
toneladas de petróleo equivalente e superar os 3,4 milhões de
toneladas produzidas no ano anterior.
Com a adaptação da Termoeléctrica Antonio Guiteras para
operar com petróleo bruto nacional o país tem capacidade para
gerar não
menos de 90% da electricidade com petróleo nosso, o que tem um grande
valor em termos de segurança do país e garantia de abastecimento
para a nossa energia eléctrica.
A adaptação e modernização das
termoeléctricas para consumir petróleo bruto nacional exigiu
investimentos de
mais de mil milhões de pesos em difíceis circunstâncias de
período especial, mas trata-se de um investimento estratégico que
permitirá uma melhor operação do sistema energético
no próximo ano.
A reestruturação da indústria açucareira tem sido
outro complexo e transcendente processo de transformação
enfrentado nas difíceis condições deste ano. A envergadura
deste complexo produtivo, a quantidade de pessoas dele dependentes e o
relevante papel da indústria açucareira na história do
país, tornam especialmente importante conduzir este processo na forma
ordenada e com alta sensibilidade em relação às pessoas
envolvidas, que se tem estado a aplicar.
Os preços em declínio e incapazes de cobrir os custos, salvo nas
fábricas de maior eficiência, levaram à decisão de
reduzir os gastos em divisas para produzir açúcar, concentrar a
produção nos centros e nas terras mais eficientes e destinar os
recursos libertados a outras produções necessárias como
alimentos, ganadaria, derivados do açúcar, desenvolvimento
florestal, organopónicos e hortos intensivos.
Esta estruturação que implica a desactivação de 70
centros açucareiros e a racionalização da indústria
de apoio ao MINAZ, das instalações e do parque de equipamentos,
tem vindo a fazer-se com características bem diferentes das de
catástrofe laboral, familiar e comunitária que teria um processo
desta amplitude em sociedades regidas por estreitas razões de mercado.
Nessas sociedades abundam exemplos históricos em que
transformações tecnológicas ou outras razões
provocaram o encerramento de indústrias que haviam sido fontes de
emprego e de vida para muitos. O desenlace foi muitas vezes de desemprego em
massa, povoações fantasmas congeladas no abandono, miséria
e desamparo.
É muito diferente a reestruturação da indústria
açucareira cubana em tempos de Revolução.
Ninguém ficou desempregado nem desamparado, ninguém perdeu as
suas receitas e abriram-se amplas possibilidades de estudo, depois de efectuado
um democrático processo de assembleias com a participação
de mais de 900 mil pessoas vinculadas ao açúcar.
O níquel manteve uma produção de 75 600 toneladas,
análoga à do ano anterior, e a empresa de Moa superou novamente o
seu recorde histórico de produção.
O turismo foi duramente afectado pela acção combinada do temor
gerado a partir dos acontecimentos do 11 de Setembro e da recessão
económica global, contudo manifestou-se uma tendência para a
recuperação nos meses finais do ano. Dispomos já de 40 mil
alojamentos para o turismo, de um lugar conquistado neste mercado e de mais
experiência e preparação para retomar o crescimento assim
que se alterarem as circunstâncias externas que o afectaram.
O sector científico-tecnológico desenvolvido tenazmente por
iniciativa do Comandante em Chefe desde há décadas, sob o olhar
céptico de muitos que de fora não acreditavam na capacidade de um
pequeno e economicamente pobre país como Cuba para desenvolver a
ciência a altos níveis, é já hoje um pilar na
batalha pela saúde da população e também um
produtor de dezenas de valiosos produtos. Conta este sector com 500 patentes
solicitadas em diversos países, 200 registos sanitários aprovados
em dezenas de países e faz exportações em quantidades
crescentes de ano para ano.
Na agricultura o efeito combinado dos fenómenos climáticos e a
limitação do combustível fez cair em 27% a
produção de bananas e cerca de 50% a de citrinos. Em
contrapartida, cresceram outras produções como as
hortaliças 16,5%, a carne de porco 26,6% e a produção de
ovos 15,8%.
O processo de aperfeiçoamento empresarial continua a avançar sem
que a difícil conjuntura reduza o necessário rigor na
aprovação das empresas que entram e permanecem no processo.
No ano que termina e entre fortes limitações na disponibilidade
de materiais de construção foram concluídas cerca de
28,400 habitações destinadas em mais de 80% a cobrir os danos
ocasionados por fenómenos naturais.
O rendimento médio cresceu até atingir 353 pesos e a taxa de
câmbio de pesos cubanos em CADECA manteve-se estável pelos 26
pesos.
O ano de 2002 como exprimi antes é de baixo crescimento e
de alto desenvolvimento e isto não é um simples jogo de palavras.
O Ministério de Economia e Planificação fez um
sério estudo sobre a medição do PIB em Cuba e nele se
demonstra que o crescimento do PIB não equivale necessariamente a maior
bem-estar económico nem a um verdadeiro desenvolvimento integral e que
em não poucas experiências internacionais pode crescer o PIB
enquanto pioram os indicadores sociais ou se degradam os recursos naturais e o
meio ambiente ou aumenta a desigualdade social. Pode crescer o PIB enquanto
retrocede o desenvolvimento.
A crítica à metodologia de cálculo do PIB não a
fazemos em Cuba devido a pobres resultados no crescimento, pois mesmo omitindo
ou subavaliando serviços sociais gratuitos ou subsidiados, o crescimento
médio do PIB de Cuba entre 1994 e 2001 foi de 4,1%, enquanto na
América Latina foi de 1,3%. Nesse período e em termos per capita
Cuba cresceu 3,7% e a América Latina decresceu 0,5%.
No mencionado estudo aplica-se a técnica chamada «paridade de poder
compra», muito utilizada internacionalmente e calcula-se de forma
indirecta o PIB de nosso país em dólares, obtendo um resultado
que mostra o poder de compra real da nossa moeda ao comparar um cabaz de
produtos análogos em diferentes países. Este resultado estabelece
um nível de PIB por habitante de cerca de 5200 dólares, um pouco
mais do dobro da capitação em pesos até agora calculada, o
que coloca Cuba nas comparações internacionais numa
posição mais congruente com o seu desenvolvimento
alcançado.
No estudo também se propõe um método que deverá ser
aplicado no próximo ano para avaliar adequadamente os serviços
sociais por meio de tarifas usadas noutros países que exprimam o facto
básico de os valores criados, embora não se cobrem, serem
superiores ao que até agora se regista e se reduz ao pagamento de
salários e à amortização do capital fixo.
O Orçamento do Estado enfrentou também as complexas
circunstâncias do ano de 2002. Os gastos orçamentados aumentaram
em mais de mil milhões de pesos em relação ao ano de 2001,
incluindo aumentos na educação de 420 milhões, na
saúde em 140 milhões e 100 milhões adicionais para
pagamentos a reformados e pensionistas. Ao desenvolvimento da cultura, desporto
e ciência destinaram-se mais 50 milhões de pesos do que no ano
anterior.
O Orçamento teve de cobrir os danos provocados por furacões e
chuvas e pelas perdas empresariais que se incrementaram nas complicadas
condições financeiras e de abastecimento de
matérias-primas em que funcionaram as empresas.
Como resultado final, o Orçamento concluiria o ano fiscal a 31 de
Dezembro com um défice previsível de cerca de 125 milhões
de pesos acima do limite estabelecido na Lei do Orçamento aprovada por
esta Assembleia no passado mês de Dezembro. Tendo em conta as
difíceis condições do ano de 2002 e prevendo que o
défice orçamental ultrapasse em 125 milhões de pesos, o
limite aprovado por esta Assembleia, a Comissão de Assuntos
Económicos recomenda à Assembleia Nacional autorizar esse excesso.
Preparamo-nos para iniciar o ano de 2003 com a decisão de continuar
lutando no cenário de uma economia mundial cujos signos vitais apontam
para uma continuidade da recessão global, e de continuar e aprofundar a
Batalha das Ideias e os programas sociais de significado estratégico.
Embora alguns prognósticos afirmem que em 2003 a economia dos Estados
Unidos voltará a actuar como locomotiva, são muitas as incertezas
sobre a sua recuperação e a única coisa que parece
estabelecida é a vocação belicista do seu governo actual.
Continua a preparar-se o ataque ao Iraque, que a desencadear-se poderá
fazer subir ainda mais os preços do petróleo.
O inicio de uma guerra de agressão num meio geográfico tão
volátil como o mundo islâmico pode ter efeitos muito profundos
sobre as finanças e o comércio internacionais. Assim, o
início de uma guerra pode ser planificado, mas não pode
sê-lo o seu desenlace.
Na economia dos Estados Unidos rebentou parcialmente a gigantesca bolha
especulativa criada nos anos de bonança. O desemprego elevou-se
até aos 6% e vem a produzir-se uma cadeia de falências de
corporações gigantescas e de quebra da elementar ética
empresarial no meio de escândalos de corrupção e fraude
contabilística transformados em sistema.
Os prognósticos indicam também uma provável continuidade
da recessão na Europa e Japão e obscuras perspectivas para a
América Latina.
Neste complicado cenário é acertado prevermos um crescimento de
1,5% no próximo ano e um défice orçamental de 3,4% do
PIB, contudo mais importante que o crescimento é elevar a
eficiência, reduzir gastos, racionalizar os investimentos de modo a
financiar com fundos próprios só os de maior prioridade e fazer
outros quando contarmos com crédito, substituir
importações, gerir novas fontes de crédito em melhores
condições, melhorar a gestão de cobrança,
prosseguir com o
aperfeiçoamento empresarial, poupar em todas as actividades, assegurar a
alimentação normal da população, o consumo social
prioritário e a assistência aos sectores mais vulneráveis
de nosso povo, garantir os medicamentos sem faltas, melhorar os serviços
sociais e em especial, assegurar o alargamento dos programas sociais no
âmbito da Batalha das Ideias.
A Comissão dos Assuntos Económicos recomenda à Assembleia
Nacional a aprovação dos Delineamentos do Plano da Economia
Nacional e o Orçamento do Estado para o ano de 2003.
Nós cubanos superámos com êxito este ano a dura prova de
resistir aos impactos concentrados da recessão económica global
nos seus efeitos sobre o turismo, dos preços do petróleo e do
açúcar e da guerra económica, diplomática e
mediática aplicada pelo governo dos Estados Unidos. Nestas
condições mantivemos a estabilidade do país,
melhorámos os nossos indicadores sociais mais importantes e
executámos um impressionante conjunto de acções de
transformação social, promoção cultural,
atenção aos mais desfavorecidos, acesso à
educação e elevação substancial da sua qualidade.
Vivemos imersos numa quase silenciosa revolução social dentro da
Revolução, porque ela prefere dar a conhecer as suas
acções depois de serem realidades. E como se ainda fosse pouco, o
país sob a direcção do Comandante em Chefe, foi capaz de
abrir brechas mais profundas que nunca no bloqueio estabelecendo
vínculos directos e crescentes com empresários, personalidades
políticas, estudantes, artistas e turistas estado-unidenses.
Somos no mundo a brilhante excepção que não aceitou o
neoliberalismo quando nos garantiam que não havia outro caminho e hoje
verificamos a agonia dessa política e doi-nos o triste preço de
pobreza, ignorância, doença e morte que se está a cobrar
aos latino-americanos.
Somos o país acusado de antidemocrático que se prepara para
celebrar no próximo mês de Janeiro umas verdadeiras
eleições de participação popular que são
exactamente o contrário dos processos de despotismo de mercado com
aparência democrática que permanecem congelados nos ritos
eleitorais, que permitem votar para que tudo continue igual e em que se
impõe por ampla maioria o partido da abstenção.
Começaremos o ano enriquecidos com a severa e valiosa escola do
período especial, convencidos de que lutamos para conquistar toda a
justiça como pedia Céspedes, para alcançar a dignidade
plena do homem proclamada por Martí, para tornar realidade o reino da
liberdade esboçado por Marx, para construir a Pátria Grande
sonhada por Bolívar, para ver crescer junto de nós o homem novo
personificado pelo Che, para prosseguir com Fidel até à
vitória sempre.
[*]
Deputado, presidente da
Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Cubano.
Intervenção efectuada no órgão legislativo sobre o
Plano da Economia Nacional e o Orçamento do Estado.
21/Dez/2002
O original desta intervenção encontra-se em
http://www.eleconomista.cubaweb.cu/2002/nro188/188_406.html
.
© Copyright 1997-2002 El Economista de Cuba.
Tradução de José Colaço Barreiros.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info