Aos diários:
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LA NACION, Argentina
CLARIN, Argentina
PAGINA 12, Argentina
LE MONDE, França
LA REPUBLICA, Uruguai
BRECHA, Uruguai
LA JORNADA, México
Sr. Director:
Diante do debate aberto hoje em diferentes sectores da opinião
pública internacional, e da opinião vasada por escritores como
José Saramago acerca dos julgamentos verificados em Cuba dos
sequestradores de aviões e embarcações, pedimos que, a
bem da liberdade de expressão, publique esta carta.
Quando falamos de Direitos Humanos, não podemos deixar de recordar
Júlio Cortazar, aquele que publicou no diário "El
País" em 1981 um artigo sobre os direitos humanos na América
Latina: "Las palabras violadas".
Cortazar dizia-nos que as palavras, de tanto serem mal usadas, gastam-se,
cansam-se. Assim, contava por exemplo que em plena Alemanha nazi Hitler falava
da "defesa de cultura" enquanto queimava centenas de milhares de
livros. Aqui mais perto, na Argentina da última ditadura militar, os
membros da Junta Militar proclamavam: "os argentinos são rectos e
humanos", enquanto faziam desaparecer da forma mais brutal e atroz 30 mil
pessoas.
Cortazar afirmava nesse maravilhoso artigo que essas palavras, direitos humanos
e muitas outras, "haviam sido apropriadas pelo inimigo, para mudar-lhes o
seu real e profundo significado, alterá-las, inverte-las,
esvaziá-las, deixá-las ocas e sem conteúdo".
Hoje estamos a presenciar aquilo que nos dizia Cortazar e que, ao que parece,
alguns escritores como Saramago esqueceram-se.
Mas há algo ainda mais profundo, que nos preocupa para além do
simples debate, é o direito soberano dos povos, de um povo pequeno,
pobre, bloqueado, mas decidido a defender sua Soberania. O direito soberano
deste povo a decidir seu destino, seu modo de vida, seu sistema de
distribuição da riqueza. Isso é o que está em
causa há 44 anos em Cuba.
Tem este povo direito a defender-se? Tem este povo direito a fazer
justiça? Tem este povo direito à vida?
Pode alguém privar ou questionar hoje o direito de Cuba a defender-se do
terrorismo? A defender o seu espaço aéreo, suas costas, sua
soberania?
Quantos mortos mais são precisos para chorar os mortos cubanos?
Até agora somam 3879 e 2099 inválidos, seis vezes mais,
proporcionalmente, aos das Torres Gémeas.
Quem se lamentar por eles junto ao povo cubano? Em que comissão de
direitos humanos de Genebra foram condenados esses crimes? O que aconteceu com
os criminosos que os executaram?
Voltando a Cortazar, e ao verdadeiro sentido das palavras, dissidente segundo a
Real Academia Espanhola é "aquele que se afasta de uma doutrina,
crença, etc". Dissidência é "acção
de dissidir, grave desacordo de opiniões".
Em Cuba não existe o Delito de Opinião, não está
tipificado no Código Penal e os que conhecem os cubanos podem dizer que
certamente não encontrará outro povo com as
características deste: discutidor, que sobre um mesmo tema emite mil
opiniões, conversador, extrovertido, inclinado sempre ao amor, à
solidariedade e sobretudo VALENTE E DECIDIDO.
Sim, decidido... a defender até com a vida aquilo que tanto lhe custou
construir, a desmascarar as mentiras, como disse o poeta Martinez Villena numas
estrofes actualizadas, "para que nossos filhos não mendiguem de
joelhos a Pátria que seus pais ganharam de pé".
Tentando encontrar Cortazar na biblioteca comum que compartilhamos,
encontrámos um livro de Saramago, exactamente um exemplar autografado
por ele após um acto do 26 de Julho, onde fala da cidade dos cegos.
Por sorte esta não é uma sociedade cega, anti-solidária
como aquela que ele descrevia, ainda que sempre no novo que nasce fiquem restos
da velha sociedade, os cubanos aprenderam a VER, mas além daquilo que
querem ensinar o senhores do mundo, e a recuperar o verdadeiro sentido das
palavras.
Terrorista segundo o dicionário é: "o que emprega actos de
violência para difundir terror". Mercenário está
definido claramente como "quem serve por dinheiro um país
estrangeiro".
Aqueles que foram julgados e condenados em Cuba, em todo o direito, com toda as
garantias, sem humilhações, sem torturas, sem
vexações, eram terroristas e mercenários, financiados
pelos Estados Unidos para destruir o povo cubano e suas conquistas sociais.
É dever da comunidade internacional impedir que os EUA uma vez mais
tentem condenar Cuba.
Que ninguém confunda a justiça de um povo com a
violação de direitos elementares.
Que ninguém confunda o direito de um povo, para além do seu
tamanho e suas dificuldades materiais, em defender sua soberania e seu destino.
Sentimos vergonha ao ver a atitude de certos governos latino-americanos
ajoelhados frente aos EUA para sancionar Cuba.
Sentimos profundo pesar pelos intelectuais valiosos que puderam acreditar em
campanhas mediáticas baseadas no engano e na mentira.
Sentimos cada dia do povo cubano como uma pequena vitória frente ao
poderio e a ameaça permanente dos EUA.
Apelamos aos homens e mulheres honestos do mundo, aos intelectuais que
acreditam que outro mundo mais justo e solidário é
possível, a integrar a frente antifascista criada recentemente pelos
escritores e artistas cubanos.
A ameaça da qual se defende hoje Cuba e os povos do mundo é a
ameaça do fascismo.
Conclamamos ao apoio à Revolução Cubana nestes momentos
difíceis da história, a fim de que NOSSA HISTÓRIA possa
salvar-se.
Graciela Ramírez - Espanha
Mercedes Alifano Benítez - Argentina
Isabel Rauber - Argentina
Lucy Ramírez - Guatemala
Maria del Rosario Valenzuela - Bolivia
(seguem-se outras assinaturas)
Esta carta encontra-se em
http://resistir.info
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