O Bundestag terá uma oportunidade de travar o plano de Angela Merkel de
proporcionar centenas de milhares de milhões para bancos da UE que
estão debaixo da água devido às más apostas que
fizeram em títulos soberanos. Se o parlamento germânico deixar de
bloquear Merkel no dia 23 de Setembro, então sob o "poderes
expandidos" do European Financial Security Facility ( EFSF) os
bancos insolventes serão salvos e os custos serão transferidos
para os contribuintes da eurozona.
Apesar da sua palração populista ("Nós não
seremos intimidados pelos mercados"), Merkel é uma eurófila
devota comprometida com uma união fiscal dominada por banqueiros e
possuidores de títulos, uma ditadura da banca. Actualmente ela
está a fazer tudo o que pode para acelerar o processo antes de
guardiões hostis dos títulos irritarem os mercados e levarem o
sistema bancário da UE ao crash. Isto é o que diz a revista
Der Spiegel.
"Numa situação de pânico no mercado, o EFSF tem de
actuar rapidamente", disse Holger Schmieding, economista chefe do
Berenberg Bank, ao
Financial Times Deutschland.
"Pode acontecer da noite para o dia ou num fim de semana". Guntram
Wolff, do think tank Bruegal com sede em Bruxelas, concorda. A
aprovação parlamentar "não deve levar demasiado
tempo". ("Parliamentary Influence over Euro Bailouts Naive'",
Der Spiegel
)
Soa familiar? O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, utilizou a
mesma estratégia após o colapso do Lehman Brothers em 2008 a fim
de chantagear o Congresso por causa de US$800 mil milhões através
do salvamento TARP. Mais uma vez, o medo de um colapso financeiro está a
ser invocado para extorquir dinheiro de modo furtivo do povo trabalhador. Aqui
está um extracto de outro artigo na
Der Spiegel:
"Os bancos estão de facto numa situação má. A
maior parte deles ainda tem um bocado de títulos soberanos
espanhóis, italianos, portugueses e irlandeses nos seus balanços
e não está totalmente claro se estes acabarão por ser
plenamente reembolsados. Isso por sua vez está a alimentar a
desconfiança entre as próprias instituições
financeiras e muitas cessaram de emprestar dinheiro umas às outras. Elas
estão a ser mantidas vivas apenas porque o Banco Central Europeu (BCE)
está a disponibilizar um montante ilimitado de dinheiro para elas e
está a aceitar como colateral títulos que muitos investidores
já não consideram seguros.
"Melhor capitalização para os bancos podia aliviar esta
desconfiança, porque mais situação líquida
significa que os bancos poderiam absorver melhor perdas do seu negócios
de dívida soberana. Aquelas instituições que não
são suficientemente fortes para por si próprias levantarem o
dinheiro no mercado teriam de ser ajudadas com dinheiro público.
Dificilmente haverá uma instituição mais adequada para
essa tarefa do que o EFSF". ("The Euro Rescue Fund Needs More
Powers",
Der Speigel
)
Este excerto está errado sob muitos aspectos, é difícil
saber por onde começar. O EFSF foi estabelecido para impedir o
incumprimento de nações, não de bancos. A ideia de que
especuladores de títulos podem ser comparados a governos representativos
é risível. Os bancos estão em perturbação
porque tomaram decisões más e agora devem enfrentar penosos
haircuts
nos seus investimentos. Accionistas serão eliminados e dívidas
terão de ser reestruturadas. Isso não é o fim do mundo.
O que Merkel e companhia querem fazer é virar o sistema de pernas para o
ar e transformar o EFSF num SPV (Special Purpose Vehicle) permanente fora do
balanço autorizado a distribuir dinheiro público a bancos
fracassados. E isto tudo está a ser feito para impedir seus banqueiros
amigos de perderem dinheiro. Assim, por trás de toda a conversa fiada
acerca de "unidade fiscal" e "consolidação das
finanças do estado", espreita a feia verdade de que a eurozona
é um sistema em duas camadas cuja arquitectura financeira é
idêntica à da Enron. Não há nada de
democrático num sistema que premeia elites perdulárias enquanto
despeja as perdas para os trabalhadores. Isso é exactamente a velha
cleptocracia.
A chanceler alemã é apoiada nesta luta pelos colegas no BCE e no
FMI. De facto, a recém nomeada chefe do FMI, Christine Lagarde,
está a liderar o movimento pelo Euro-TARP, o que pode explicar porque o
seu processo de nomeação foi acelerado depois de Dominique
Strauss Kahn ter renunciado enquanto aguardava investigação sobre
acusações de violação em Nova York.
De qualquer modo, madame Lagarde já mostrou que está mais do que
desejosa de fazer qualquer trabalho pesado que seja preciso para
alcançar seus objectivos e obsequiar suas clientelas ricas. Eis como
The Guardian
resumiu o curriculum de Lagarde: "Christine Lagarde apoia a
protecção dos grandes bancos ... ela é a mais pró
salvamento bancário de todos". ("IMF under growing pressure to
appoint non-European head",
The Guardian
)
Realmente. De modo que Lagarde lançou o seu peso em favor de salvamentos
bancários, também conhecidos como recapitalização
da banca. Ela também advoga fervorosamente "institucionalizar um
governo económico europeu", o que significa que pretende
estabelecer um regime controlado por banqueiros e possuidores de
títulos, a Bancotopia. Ao mesmo tempo, ela insiste em que este novo
corpo governativo tenha o poder para intervir no processo orçamental dos
[estados] soberanos da eurozona a fim de "manter nossos esforços
para expandir o âmbito da vigilância económica de modo a
incluir défices governamentais e públicos bem como a
dívida do sector privado, se necessários através da
imposição de "penalidades políticas".
Certo. Assim, este novo governo trans-UE será capaz de exigir
obediência a estados erráticos que aprovam orçamentos que
servem os interesses do seu povo ao invés dos interesses do grande
capital. Enquanto isso, o Superestado UE de Lagarde continuará a impor
as mesmas políticas que tem aplicado desde o princípio da crise
financeira; privatização em grande escala de activos e
serviços do estado e programas de aperto de cinto que mantenham a
economia num estado de Depressão permanente. Será isto o que
está destinado à Eurozona?
Recordar que os bancos já estão a obter salvamentos
através do programa de compras de títulos do BCE que
mantém os preços dos títulos artificialmente altos e
evitar um incumprimento soberano. O facto de que Lagarde está a
pressionar agressivamente por injecções de capital directas
sugere que a condição dos bancos é muito pior do que
qualquer pessoa tenha imaginado, razão porque de acordo com o
Wall Street Journal
"Ela sugeriu que o fundo de salvamento soberano já
existente na UE (ESFS) podia ser utilizado para esta finalidade". Isto
é um exemplo clássico de dissimulação
(bait and switch).
Os parlamentares alemães têm oportunidade de por um ponto
final de uma vez por todas nesta insensatez. Ao vetar Merkel, o Bundestag pode
assegurar que o povo trabalhador da eurozona não será roubado em
centenas de milhares de milhões de dólares ou sujeito ao
domínio autocrático de banksters parasitas. Deixem os bancos
pagarem suas próprias contas.
Não ao EuroTARP!
05/Setembro/2011
[*]
fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/2011/09/05/the-coming-of-eurotarp/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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