"O capitalismo pode auto destruir-se"
WSJ: Assim, você pintou um quadro negro de crescimento económico
abaixo do padrão daqui para a frente, com um risco acrescido de uma
outra recessão no futuro próximo. Isso soa terrível. O que
o governo e os negócios podem fazer para conseguir que a economia avance
outra vez? Ou é só sentar e esperar?
Roubini: Os negócios não estão a fazer coisa alguma. Eles
não estão realmente a ajudar. Todo este risco torna-os mais
nervosos. Há um valor em expectativa. Eles afirmam que estão a
fazer cortes porque há excesso de capacidade e não contratam
trabalhadores porque não há suficiente procura final, mas
há aqui um paradoxo, uma [situação] Catch-22
[NR]
. Se não se contrata trabalhadores, não há suficiente
rendimento do trabalho, nem suficiente confiança do consumidor, nem
suficiente consumo, nem suficiente procura final. Nos últimos dois ou
três anos tivemos realmente uma pioria porque tivemos uma
redistribuição maciça do rendimento do trabalho para o
capital, dos salários para os lucros, a desigualdade do rendimento
aumentou e a propensão marginal para gastar de uma família
é maior do que a propensão marginal de uma firma porque eles
têm uma maior propensão para poupar, quer dizer as firmas em
comparação com as famílias. Assim, a
redistribuição de rendimento e riqueza torna ainda pior o
problema da procura agregada insuficiente.
Karl Marx estava certo. Em algum ponto, o capitalismo pode destruir-se a si
próprio. Não se pode manter a transferir rendimento do trabalho
para o capital sem ter um excesso de capacidade e uma falta de procura
agregada. Foi o que aconteceu. Pensámos que os mercados funcionavam.
Eles não estão a funcionar. O indivíduo pode ser racional.
A firma, para sobreviver e prosperar, pode empurrar os custos do trabalho cada
vez mais para baixo, mas os custos do trabalho são o rendimento e o
consumo de alguém. Eis porque se trata de um processo auto-destrutivo.
15/Agosto/2011
[NR] Catch-22: Situação em que não há
solução para um problema (exemplo: preciso dos meus óculos
para encontrar os meus óculos). A expressão tem origem no romance
"Catch-22", de Joseph Heller.
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26031
.
Entrevista ao
Wall Street Journal
transcrita por B. J. Murphy.
Esta entrevista encontra-se em
http://resistir.info/
.
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