Alguns meandros de uma guerra “total” (ou guerra sem fim)

(Segunda parte, a primeira encontra-se aqui)

Andres Piqueras Infante [*]

Bases dos EUA/NATO.

Todas as agressões contra a Rússia e a sua zona de segurança têm que ser contempladas dentro da dinâmica da expansão ofensiva da NATO, numa guerra planificada de longa trajetória (especificada, inclusive nas suas metas finais, pela Rand Corporation: Overextending and Unbalancing Russia).

Nesta guerra, os Estados Unidos não necessitam, em geral, um triunfo militar maior do que gerar o caos, a destruição e ou a fragmentação dos países que não se subordinem ou das zonas e territórios que possam ser receptáculos ou vias de projetos alternativos. Depois de suas intervenções não resta nada além de destruição, buracos negros de barbárie, sem um poder central capaz de se opor a rapina estadunidense dos recursos próprios, nem de se inserir-se na Zona de Estabilidade sino-russa: Afeganistão, Iraque, Iêmen, Síria, Somália, Etiópia, Líbia, Sudão, Iugoslávia... Constituíram dramáticos exemplos disto.

A única possibilidade tática que resta aos EUA enquanto for incapaz de transformar a si mesmo frente a seus sintomas de decadência, é ser o agente do caos, gerando todos os problemas possíveis àqueles que decidem unilateralmente serem seus inimigos, para que se desorganizem e colapsem. Nestes momentos resolveram que basta destruir para impedir que os outros construam. Isso quer dizer que na etapa do Tanatocapitalismo na qual entramos – com a destruição das condições sociais, laborais e ecossistêmicas – ativa-se também um turboimperialismo onde toda uma trama de agressão, imposição, destruição e violência política, econômica, cultural e ideológica, se acelera, envolvendo por isso, ao mesmo tempo, um alto componente suicida de devastação total.

Esta ofensiva do hegemon é de longa data, por isso interessa-me destacar um pouco mais algumas das dimensões desta guerra de espectro total.

Dimensão mediática e cognitiva

Hoje a maioria dos meios de difusão de massas em quase todo mundo está nas mãos dos grandes conglomerados mediáticos, que são o resultado da absorção ou fusão de grandes grupos multimídias, que por sua vez vem da fusão ou absorção de diferentes indústrias culturais as quais por sua vez são o produto da concentração em poucas entidades empresariais das fontes de informação, formação, comunicação, entretenimento, música, cinema, etc (os grupos multimídia acrescentaram a isso, a internet e outros dispositivos comunicacionais digitais). Os conglomerados mediáticos significam a união de todo esse “software” com o “hardware” industrial, dando como resultado alguns exemplos muito significativos, como Time Warner, Comcast, Disney ou New Corporation.

Pois bem, hoje os maiores fundos de investimento do mundo (ou “fundos abutres”, entre os mais importantes estão Vanguard Group, Black Rock, State Street Corporation, Fidelity Management and Research, Geode Capital Management e Northern Trust) controlam grande parte das ações das GAFAM (por suas iniciais): Google (Alphabet), Amazon, Facebook, Aple e Microsoft. Destes fundos, Black Rock, Vanguard e State Street, detêm grande parte das ações das transnacionais farmacêuticas e das empresas com maior valor na Bolsa, controlando muito especialmente o setor de moradia e de alimentação, assim como os próprios conglomerados midiáticos, em um processo brutal de concentração da propriedade, da decisão política, do pensamento e do poder.

Neste momento, no Reino da Espanha, a Black Rock e outro fundo abutre, CVC, são os principais proprietários do grupo Prisa (incluindo El País e a corrente Ser). Além disso, a Black Rock possui parte das ações da Atresmedia (proprietária da Antena 3 e da Sexta) e da Mediaset (proprietária de Cuatro e Telecinco). De que pluralidade mediática estamos falando? Onde está aqui o direito a uma informação independente?

Para além destas perguntas elementares, temos de considerar também que com esses fundos abutres do capital estão sobre todos os estadunidenses e ligados ao Estado norte americano, da dominação (o “poder brando”) da principal potência mundial se faz mais holística, mais profunda. O controle da narrativa, a fabricação do inimigo, a imposição da verdade e a modelagem das consciências mundiais. Hoje em todo o Ocidente Coletivo, os meios de difusão de massas transmitem, sem cessar, os mesmos slogans, pura propaganda de guerra contra Rússia (como antes contra o Iraque, Líbia, Síria, Jugoslávia ou Venezuela e como muito em breve se intensificarão contra a China e já se acentuaram contra o Irã – onde se tenta provocar um enfrentamento civil, infiltrando armas e paramilitares, como se fez na Síria) ao mesmo tempo que seus meios de comunicação são censurados[1]. E é claro que a censura e a propaganda de guerra sempre andaram de mão dadas. E a perseguição a quem denuncie a trama de frequentes mentiras e complôs assassinos, como está ocorrendo com Julian Assange (com o clamoroso silêncio e cumplicidade da maior parte do jornalismo do Ocidente Coletivo).

Toda esta guerra cognitiva teve sua ramificação no mundo acadêmico intelectual onde a NATO cultural (todo ramo de instituições, organismos e fundações financiadas pelo Eixo Anglo Saxónico mundial sionista) tem-se empenhado a fundo para falsificar o marco das ideias a partir do que se pensa [2].

Dimensão econômica

A dimensão econômica da Guerra Total tem sido frequentemente sublimada sob o eufemismo de “sanções” (aceitando-se que um Estado possa arrogar-se o direito de julgar e sancionar a outros, sem juízo, nem audiência das partes, exposição dos motivos nem provas, sob a cobertura supostamente imparcial e legítima, como a das Nações Unidas).

A guerra econômica é uma modalidade particular de guerra que os EUA se permitem e praticam por gozar da “moeda global” e do sistema de compensação de pagamentos SWIFT. Leva-se a cabo de diversas maneiras, sendo uma delas a da “sanção econômica” contra países, que também obriga ao resto do mundo a seguir, exercendo por sua vez sanções contra aqueles que não a sigam. Nos últimos anos vem sendo atacados assim nada menos que a Bielorrússia, Burundi, China, Coreia do Norte, Cuba, Irã, Líbia, Nicarágua, República Centro africana, República Democrática do Congo, Rússia, Sudão, Síria, Venezuela e Zimbábue; Estados que hoje agreguem entidades como as Repúblicas Populares da região do Dombass (na Ucrânia) e o Hezbollah libanês (assim como boa parte da população do Iêmen, onde os Huthis somente foram retirados da lista dos terroristas dos EUA recentemente), entre outras. Essas sanções constituem atos de guerra condenados pela ONU, que causam indescritíveis sofrimentos e mortandade nas populações afetadas, frequentemente mais que os ataques militares, mas que passam muito mais desapercebidas para as sociedades do mundo[3]. Cumprem, além do mais com os objetivos geoestratégicos descritos, com metas geoeconômicas e geoecológicas substitutivas da acumulação de capital, o que tem se chamado de acumulação militarizada.

Dentro desta ofensiva na qual se combina Destruição e Despossessão, os EUA (sozinhos ou com a ajuda de alguns de seus subordinados) vem-se dedicando a pilhagem sistemática das reservas em divisas, títulos e ouro dos países que unilateralmente considera merecedores de ser roubados. A lista é longa, desde 1979, quando se apossa do ouro do Irã, depois da queda da ditatura do Xá, protegida pela potência norte americana; até os mais de US$300 mil milhões em divisas russas roubadas [congeladas] em 2022, passando pelas reservas da Líbia (que “desapareceram” após a ofensiva militar da NATO), as do Afeganistão (que os EUA se recusam a devolver, ainda que a custa do sofrimento de uma das populações mais pobres do mundo) e o ouro roubado da Venezuela (31 toneladas de lingotes valorizados em US$1200 milhões que os EUA tem bloqueados dos ativos da PDVSA, a principal empresa petrolífera da Venezuela; além de outros onze milhões retidos de suas exportações), entre outros latrocínios.

Parece ser nisto que consiste hoje a geoeconomia dos EUA, em sanções sem fim, com as quais esta formação socio estatal tenta sabotar a economia de qualquer um que não siga seus ditames ou que seja capaz de competir com ela, a maior glória do “livre mercado”.[4]

Golpes coloridos mais poder brando

Nesta linha de destruição de países rivais ou rebeldes interessa comentar os Golpes de Estado que os centros de inteligência e sabotagem do Eixo Anglo Saxão (EA) – que inclui a rede mundial sionista (RMS) – chamam de “revoluções”, as quais outorgam distintas cores, por certo, e fazem referência a certas mobilizações políticas que se deram no espaço ex-soviético e nelas se convencionou adotar como símbolo uma cor específica desenhada pelos serviços de inteligência do EA que dá nome À sua mobilização: “revolução rosa” da Geórgia, “tulipana” do Quirguistão, “laranja” da Ucrânia... de onde passariam as “primaveras árabes” e outros focos de desestabilização[5]. Instigam ou aproveitam assim os protestos baseados em um descontentamento real, quase sempre ocasionado por bloqueios ou sanções prévias, ou pelas políticas que as instituições globais controladas pelo Eixo Anglo Saxão – RMS, como o FMI e o BM, impõe a uns e outros governos, e se faz todo o possível para exacerbar estes protestos.

Combina-se aqui o uso da pressão político-econômica com operações militares em suas diferentes expressões (operações subversivas, atuações clandestinas e golpes de bandeira falsa, guerra por delegação e guerras por procuração...), incluindo a utilização de corpos armados irregulares e redes terroristas potencializadas ou criadas ad hoc. Também mediante a propaganda, a cibernética e a inteligência artificial... com armamento sofisticado, corpos paramilitares infiltrados na multidão, com grande capacidade operativa e de incitação de massas, assim como de sabotagem ou ações diretas; lançamento massivo de notícias falsas (sobre políticas governamentais, danos econômicos ou sociais, assassinatos...) que se expandem pela rede através de milhares de contas de perfis falsos criadas para multiplicar o seu efeito; a demonização permanente e sistemática do líder ou líderes a derrubar e uma cobertura midiática mundial cúmplice e co-atuante, graças ao controle da maior parte das redes de TV, rádio e jornais, além da Internet, Twitter, Facebook, etc, com as que leva a cabo a fabricação da realidade a partir da mentira sistemática e sistêmica, fazendo da falsidade uma arma geoestratégia.

Isto é o que se conhece como “poder brando” que incorpora a guerra mediática e cognitiva na Guerra Total, como temos antecipado ao tratar minimamente esta dimensão mediática. Aqui entra em jogo a construção das consciências em escala mundial, de maneira que os indivíduos cheguem a crer que o que pensam sobre o mundo provem deles mesmo, e não da “fábrica de sentido” que põe a pleno rendimento o grande capital e seu poder econômico ; passando assim despercebida pela própria mediatização em massa da realidade a que estão submetidos, sem fontes de formação alternativas.

Golpe judicial

Dentro do assédio e dos golpes de Estado inseridos na estratégia híbrida da Guerra Total, está também a modalidade de golpe judicial (graças ao controle dos órgãos judiciais de uns e outros países), e que se leva a cabo mediante a acusação, a destituição e inclusive o encarceramento da liderança de Estado ou presidência do governo que não seja suficientemente dócil aos mandatos dos EUA e o resto do “Ocidente Coletivo”. Na Nuestra América se sabe bem: ao menos Honduras, Equador, Brasil, Paraguai, Bolívia e agora Argentina e Peru, tem sofrido ou estão sofrendo golpes desta índole, os quais estão implicados no conceito estratégico de “lawfare”, “cunhado em 2001 pelo general de divisão da Força Aérea dos Estados Unidos, Charles Dunlap, que propunha a utilização dos magistrados e procuradores como um substituto dos meios militares tradicionais para alcançar um objetivo do combate bélico”. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos constituiu o Gabinete Internacional para o Desenvolvimento, Assistência e Capacitação dos Sistemas de Justiça (OPDAT, na sua sigla em inglês), para esse fim. Este Gabinete é financiado pelo Departamento de Estado e pelo Pentágono. Formou-se em 1991 para “contribuir com a reforma dos sistemas de justiça estrangeiros (..) em consonância com os objetivos de segurança nacional dos Estados Unidos”.

Outra agência judicial bélica é o Centro de Estudos de Justiça das Américas (CEJA), dependente da OEA, organização ao serviço dos EUA. A CEJA tem como presidenta Jenny Willier, uma ex-funcionária da USAID da CIA. Em conjunto, as agências judiciais estadunidenses “apelam a uma trama de normas – de pretensão extraterritorial – apto para intervir de forma direta, através da mediação de organismos multilaterais e as articulações com entidades da sociedade civil” (todos citados por Jorge Elbaum, HIS MASTER’S VOICE: El despliegue de agencias de EE.UU. para influir y controlar a jueces y fiscales em América Latina. Jorge Elbaum. (wordpress.com), onde se especificam os objetivos principais do “lawfare” e das agências estadunidenses; importante ver também El lawfare. Golpes de Estado en nombre de la ley, de Arantxa Tirado).

“A guerra jurídica assimétrica ou lawfare não é estritamente uma fase nova na estratégia de desestabilização e derrubada dos processos políticos progressistas. Mas sim uma nova forma de exteriorizar-se que foi nascendo conforme se constatava a pouca eficácia a longo prazo da traumática intervenção militar direta, por seu alto custo em vidas e pela infração dos direitos frente a comunidade internacional.

O Relatório de encontro de peritos em Cleveland sobre o 11 de setembro e suas consequências, do ano de 2010, descreve o lawfare como a ferramenta que busca a vitória num campo de batalha de relações políticas públicas, paralisando política e financeiramente os oponentes ou imobilizando-os judicialmente para que não possam perseguir seus objetivos nem apresentar suas candidaturas a cargos públicos”. (Lawfare. Golpes de Estado en nombre de la ley (nocierreslosojos.com)

Mas não pensemos que esta guerra judicial é somente contra os governos não suficientemente submissos aos EUA. Também se leva a cabo contra companhias transnacionais e empresas que podem prejudicar os interesses das empresas estadunidenses. E aqui o poder hegemônico se preparou com as entidades europeias. Assim, por exemplo, Alstom (transnacional francesa), quando seu diretor executivo foi preso enquanto estava a ponto de realizar uma “joint venture” com a companhia chinesa Shangai Eletric.

“...Durante as últimas décadas, os EUA conseguiram desestabilizar as maiores multinacionais europeias ao encarcerar seus executivos sob o pretexto de lutar contra a corrupção, ao tempo que obtém milhões de dólares em multas e obriga suas empresas a se declararem culpadas. Os peritos chamam estas práticas de “lawfare”, que consiste em utilizar o sistema legal contra um inimigo para deslegitima-lo, causando-lhe o máximo dano e obrigando-o a cumprir mediante a coerção. Entre 2008 e 2019, 30 corporações pagaram mais de 100 milhões ao Tesouro dos EUA, sendo a maioria europeias. Ameaças de enormes multas e longas batalhas legais também foram utilizadas para alcançar a aquisição de empresas europeias por parte de corporações estadunidenses como a General Eletric, ao mesmo tempo que os impede de desenvolver associações mais estreitas com empresas com sede na China. (...)

Em 1998, o Congresso emendou a Foreign Corrupt Pratices Act para castigar os rivais globais dos EUA, dando à lei um alcance extraterritorial. Agora os executivos de firmas estrangeiras poderiam ser processados sempre e quando tenham concluído contratos em dólares estadunidenses, ou inclusive se fizeram um intercâmbio por correios eletrônicos nos EUA. A Junta Assessora de Inteligência Estrangeira havia priorizado anteriormente a recompilação de inteligência comercial e os gigantes digitais dos EUA. (Google, Facebook Youtube, Microsoft, Yahoo, Skype, AOL e Apple) agora estão obrigados por lei a compartilhar os dados solicitados”. [Jeremy Kuzmarov, covertactionmagazine.com/2022/10/14/how-much-longer-can-the-u-s-continue-to-wage-economic-war-on-europe-and-much-of-the-world-without-a-major-blowback-effect/]

Nenhum caso exemplifica melhor o exposto, em nenhum exemplo se mostra maneira tão intensa o conjunto de dimensões da Guerra Total neste momento como no acossamento à Rússia (o país mais sancionado do mundo) que leva a cabo o Eixo Anglo Saxónico – RMS desde a queda da URSS, pois não contente com o fim e o desmembramento desta federação de repúblicas, persegue também a fragmentação da própria Rússia (ao menos em três partes: a Rússia Europeia, a Siberiana e a Extrema Oriental. Mas os planos variam aqui, pois podem ser muito mais as divisões buscadas, até lograr “um punhado de mini Estados submetidos a Washington”[6].

Vejamos alguns dos mais importantes movimentos em assédio á Rússia com um pouco mais de detalhe.

O assédio à Rússia dentro da Guerra Total: certos passos decisivos

Tanque Leopard destruído na Síria .

Nessa ofensiva desesperada e demente, a potência em declínio junto a seu subordinado britânico [Eixo Anglo Saxónico (EA – RMS), o Eixo do Caos] [7] resolveu acossar primeiro a parte mais fraca economicamente (se bem que mais forte energética e militarmente falando) da dupla emergente: Rússia-China.

Depois da queda da URSS, a ofensiva desestabilizadora contra a Rússia logo se ativaria, ainda que esta formação socio-estatal abraçasse de forma subordinada os princípios da ordem capitalista estadunidense (“o mundo baseado em regras” que ditava o EA). Tenta-se primeiro acentuar a ingovernabilidade da Geórgia, que já havia sofrido uma guerra civil entre 1988 e 1992, pela oposição do regime georgiano à reintegração de Ossécia do Sul na Federação Russa[8]. Situação que se reproduziria com Abcásia entre 1992 e 1993. Em 2008, por cima dos acordos anteriores, verificaram-se ataques da Geórgia à Ossécia. Esta seria a primeira vez que a Rússia, uma ex potência que havia empobrecido drasticamente passando a formar parte da periferia do Sistema, faz frente as potências dominantes do mesmo, intervindo diretamente na defesa da população da Ossécia, que consegue assim sua independência e uns acordos de paz mediados pela UE.

A Rússia teve que enfrentar uma situação altamente desestabilizadora na Chechênia, com duas guerras, a primeira em 1994-1996 e a segunda nada menos que de 1999 a 2009. Guerras que constituíram um bom campo de operações para que o EA-RMS começasse a infiltrar maciçamente seus contingentes jihadistas e outras facções terroristas paramilitares, buscando afogar no caos a sociedade chechena, assim como seu retrocesso social mais drástico. A Rússia sofreu grandes doses de ações terroristas e um permanente nicho de jihadismo interno (algumas explicações aqui: La república de Chechênia: como Occidente financio el terrorismo en Rusia – YouTube).

Já na segunda década do século XXI o Eixo Anglo Saxónico, sobretudo através da Inglaterra (desta vez com o apoio inestimável da Turquia), esteve por trás das guerras entre Azerbaijão e Armênia (entre 2016 e 2020), com reflexos até hoje mesmo, no ponto sensível da “grande barriga” russa na sua fronteira centro asiática.

Mais tarde ainda que as tentativas de golpe de Estado na Bielorússia de Lukashenko e no Cazaquistão, onde a Rússia e a OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva que é formada pela Rússia com cinco repúblicas ex-soviéticas) intervieram rapidamente (além do mais, a OCS – Organização de Cooperação de Shangai – anunciou a partir de então que não permitiria nenhuma nova “revolução colorida” em seus territórios nem em territórios limítrofes). E pode dizer-se que os EUA converteram toda a Europa Oriental, assim como toda a Ásia Ocidental e central em um cenário de guerra fria que se assemelha ao que fizera contra a União Soviética.

Mas, obviamente, a palma nessa escalada é tomada pelo golpe de Estado, este sim com êxito, na Ucrânia (2014). De novo as mesmas táticas, guerras de quarta geração ou “híbridas”, que combinam o uso da pressão político-econômica, os “levantes populares” e o terrorismo em suas diferentes expressões, incluindo a utilização de corpos armados irregulares. Usa-se também a propaganda mediática, a cibernética e a inteligência artificial (ver, por exemplo, “Ucrânia em Chamas”: Um documentário de Oliver Stone sobre o Golpe de Estado do Maidan – Bing Vídeo). Mais adiante a Ucrânia será utilizada para levar a cabo uma guerra por procuração contra o gigante eslavo.

Todas estas agressões contra a Rússia e a sua zona de segurança tem que ser vistas dentro da dinâmica de expansão ofensiva da NATO, em uma guerra planeada numa longa trajetória (especificada inclusive em suas metas finais pela Rand Corporation: Overextending and Unbalancing Russia[9], como se indica no quadro 1.

Quadro 1
Algumas peças chaves para entender a ofensiva da NATO contra a Rússia

1990 Carta de Paris

Firmada pelos chefes de Estado europeus, mais os do Canadá, EUA e da URSS.

Parecia o certificado de óbito da “Guerra Fria” dado que proclamou o “fim da divisão da Europa” e ligou a segurança de cada Estado a cada um dos demais. Com fim da URSS, a NATO perdia toda a razão de ser e deveria ter-se diluído nesse mesmo momento, ainda mais depois de assinar a carta mencionada e suas promessas. Entre elas estava a de não estender a NATO até os antigos países do Leste nem implantar forças suas ali (esta foi uma das promessas feitas neste marco, ainda que pareça que nunca tenham sido firmadas, em troca a Rússia não pôs nenhuma dificuldade à reunificação da Alemanha e a consequente dissolução da RDA. Inclusive muito provavelmente Gorbachev chegou a sugerir a entrada na NATO.

“Os líderes russos entregaram-se à esperança de que, como expressou o presidente Putin, se criasse uma economia pan-europeia desde Lisboa até Vladivostok. Esperava-se que a Alemanha, em particular, tomasse a iniciativa de investir na Rússia para que este país reestruturasse sua indústria com linhas mais eficientes. A Rússia pagaria por esta transferência tecnológica fornecendo gás e petróleo, além do mais de níquel, alumínio, titânio e paládio.” [Hudson, El Nuevo Orden de Estados Unidos y la posición de Alemania, Observatorio Crisis].

1994 Memorando de Budapeste

Nele se estabelece um acordo político oferecendo garantias de segurança por parte de seus signatários com respeito a adesão da Ucrânia ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

O Memorando foi originalmente assinado pela Federação Russa, os Estados Unidos e o Reino Unido, devido ao então medo do Eixo Anglo Saxónico de que uma Ucrânia vinculada à Rússia alcançasse o status de potência nuclear.

1997 Ata Fundacional sobre as Relações Mútuas de Cooperação entre a NATO e a Rússia

Nesta ata firmada pelo secretário geral da Aliança Atlântica, Javier Solana e o ministro russo de Assuntos Exteriores, Yevgueni Primakov, a Aliança adicionou um corolário a seu compromisso, segundo a qual não tem “nem razões, nem intenções, nem planos” de implantar novas armas nucleares na Europa, o qual amplia a sensação de segurança da Rússia. Em troca, Primakov desistiu de fixar um teto máximo (de 5%) para o aumento das forças convencionais[10].

1997 a Rússia solicita a sua entrada na UE

O primeiro ministro russo, Víktor Chernomirdin, solicitou o ingresso da Rússia na União Europeia, como objetivo a que deve “desembocar todo o nosso trabalho”. Na sede de Aliança se pôs em marcha o Conselho Conjunto Permanente NATO – Rússia. Além do mais a Rússia volta a deixar sobre a mesa a possibilidade de integrar a NATO.

1999 Cúpula de Washington: “Direito a guerra preventiva”

Após o “Consenso de Washington” para estabelecer as novas regras do jogo mundial contra o Sul Global ou periferias do Sistema, teve lugar a “Cimeira de Washington”, na qual a potência hegemónica começa a evidenciar um giro nesta política de entendimento com a Rússia de Yeltsin derrotada e subordinada ao “Ocidente Coletivo”. Aí se acentua e acelera também a acumulação bélica do capital.

“Os EUA reservam-se o direito de tomar medidas antecipatórias para defender-se, inclusive ainda que hajam incertezas sobre o lugar e o momento do ataque do inimigo. Os EUA apoiam os movimentos e instituições democráticas em cada nação e cultura, com o objetivo final de acabar com a tirania no mundo”.

Os “regimes despóticos” aos que havia que combater não poderiam ser outros senão o Iraque, Irão, Bielorrússia, Myamar, Coreia do Norte, Cuba, Síria e Zimbabue.

1999 Começa a expansão da NATO até o Leste

Incorpora-se a Chéquia, Hungria e Polônia à NATO, violando a Carta de Paris, o Tratado de Reunificação da Alemanha e até a própria Conferência de Yalta.

1999 Destruição da Jugoslávia

Setenta dias de bombardeios ininterruptos, nos quais foram lançadas entre 10 e 15 toneladas de Urânio empobrecido que provocaram um desastre ambiental e a multiplicação por cinco dos casos de doenças oncológicas. Estes dois meses e meio de ataques aéreos incessantes cobraram a vida de milhares de civis, entre eles 88 crianças, deixaram milhares de feridos e levaram a numerosos crimes de guerra[11].

1999 Compromisso de Istambul da OSCE

A OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação da Europa) é a maior organização de segurança regional do mundo, com 57 Estados da Europa, Ásia Central e América do Norte. Fez então a seguinte declaração:

“Declaramos nosso compromisso firme com uma área da OSCE livre, democrática e melhor integrada, na qual os Estados participantes estejam em paz uns com os outros e na qual as pessoas e as comunidades vivam em paz, prosperidade e segurança”.

Para por em prática este compromisso acordou-se “adotar uma plataforma para a Segurança Cooperativa, com o fim de intensificar a cooperação entre a OSCE e outras organizações e instituições internacionais, fazendo assim um melhor uso dos recursos da comunidade internacional. Desenvolver a função da OSCE a serviço da paz, refletindo assim melhor seu enfoque global da segurança”.

2002 Conferência de Praga, marco na história da expansão da NATO até o leste da Europa

Abre a porta a uma Aliança de 26 membros, com a incorporação de mais países do antigo “espaço soviético”.

Lituânia, Letônia, Estônia (que a apenas uma década faziam parte da União Soviética), Romênia, Bulgária, Eslováquia e a ex-república jugoslava da Eslovênia incorporaram-se em 2004 à NATO, no que se supõe a maior ampliação nos 53 anos de história desta organização.

Albânia e Croácia fazem-no em 2009. Montenegro em 2017 e Macedônia do Norte em 2020.

O abandono do Tratado ABM (mísseis balísticos) por parte dos EUA

A potência estadunidense instalou bases militares no Alasca, Europa do Leste (Polônia e Romênia), Japão e Coreia do Sul, cercando a Rússia de armas letais de destruição massiva.

Depois negou-se a firmar o Tratado de Proibição de Armas Nucleares e o Tratado de Não-Militarização do Espaço. Tampouco se comprometeria a não usar primeiro armas nucleares, como fez a Rússia. De fato, na sua “Nova Estratégia de Defesa Nacional” não descarta usar armas nucleares contra ameaças não nucleares (El Pentágono no descarta usar armas nuclear contra amenazas "no nucleares" de China y Rusial).

    

2007 Conferência de Segurança de Munique (Fórum Atlantista)

Já Putin à frente do Estado russo, propõe uma Europa unida, com a Rússia como parte dela[12].

Reitera a proposta de Gorbachov: um esquema de segurança europeia integrada (onde ninguém se pode sentir seguro se algum membro se sentir ameaçado). Adverte sobre a inviabilidade de pisotear a legalidade internacional com intervenções militares contrárias à ONU e de que a Rússia não retrocederá mais.

2014 Declaração de Astana – Cúpula da OSCE

Entre suas principais declarações:

Tradução: se um de seus membros se sente ameaçado os demais não se podem sentir seguros.

2014 Golpe de Estado sangrento na Ucrânia

Forças “banderistas”, filo nazis, se põem a frente e controlam as molas de poder do país, em estreita colaboração com os centros de comando e inteligência do Eixo Anglo Saxónico – RMS e a NATO.

Entre as principais disposições repressivas que se adotam imediatamente ou logo após:

Pode ser que se trate de um adiantamento do que espera o resto da Europa, já que seus líderes elogiam o governo ucraniano incessantemente.

A tudo isso tem que se somar o assédio permanente à população pró-russa do Donbass, com bombardeios que ocasionariam até fevereiro de 2022 mais de 14.000 mortes, sem que nem os grandes meios nem os líderes europeus levantassem a voz em defesa desta população ucraniana[13].

A Rússia força os Acordos de Minsk (Protocolo de Minsk) para tentar distender a zona e que se respeite as pessoas do Donbass e seu território. Sem dúvida, a população continuaria sofrendo o assédio do exército ucraniano, com mortes e destruição de infraestruturas, fontes de energia e moradias.

2016 Cimeira de Varsóvia: implantação militar da NATO no leste da Europa

Fazendo caso omisso da Declaração de Astana, assim como das propostas russas, a NATO implanta na Europa oriental, sistemas anti-mísseis, bombas nucleares avançadas e batalhões em diversos países.

2017 Cimeira de Bruxelas

Estabelece o compromisso de aumentar 2% dos gastos militares dos países membros da NATO, manter uma estrutura militar permanente da UE, assim como esta fica a cargo dos gastos de infraestrutura da organização do tratado do Atlântico Norte.

Também se deram os acordos para uma futura incorporação do Japão, Coreia do Sul e Colômbia.

2019  Estados Unidos retiram-se do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) de 1989  (U.S. Withdraws From Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty > U.S. Department of Defense > Defense Department News)

2019 Ucrânia proclama querer desligar-se do Memorando de Budapeste e torna pública sua pretensão de nuclearizar a península da Crimeia. Isto constitui uma ameaça direta à Rússia.

Mísseis nucleares a partir da Ucrânia podem alcançar Moscou em 5 minutos, sem tempo de resposta para ativar as defesas e o contragolpe russo. A Rússia estaria indefesa (por isso não é uma questão de “pacifismo”, o que se pediria a Rússia no caso de não intervir militarmente é aceitar a própria destruição, uma vez que os resto dos países que firmaram os acordos de Minsk os obviam ou descumprem sistematicamente, negando-se também a oferecer as garantias de segurança que a Rússia demandava, com uma NATO colada às suas fronteiras.

18 de fevereiro de 2022

Intensificam-se os bombardeios que desde 2014 o exército ucraniano perpetra contra a população ucraniana do Donbass. Disparam contra essa população 1.400 obuses durante o decorrer do dia.

Nos dois dias seguintes uns cem mil ucranianos do Donbass fugiram da linha de frente. Instalaram-se no interior do Donbass ou até na Rússia.

19 de fevereiro de 2022 Conferência sobre a Segurança da NATO em Munique

O presidente ucraniano, Zelenski, anuncia que quer obter a bomba atômica para fazer frente à Rússia.

As cartas estavam definitivamente lançadas:

“A Ucrânia não é senão o cordeiro sacrificado nesta Guerra Total” palavras do ex-Cônsul em Moscou, José Zorrilla: Ucrania: como hemos llegado a esta situación? / San Telmo Museoa – Youtube

Também vem ao caso estas declarações do primeiro secretário do PC ucraniano: Primer Secretario del PC de Ucrania en el XXII EIPCO – Patria Roja.

Dos atuais 30 Estados membros da NATO, 14 são ex-repúblicas soviéticas ou países do Pacto de Varsóvia.

Notas
[1] Deixo aqui algumas referências a respeito: Coronel Baños “hay una verdadera censura en Europa, para el que vaya en contra de la línea oficial” – YouTube. A Censura e a propaganda que foi utilizada para permear o espaço mediático de mentiras sistemáticas e sacos inteiros de “fake news”. Alguns exemplos: https://tenacarlitos.wordpress.com/2022/03/03/el-dia-en-que-el-periodismo-europeo-decidio-acabar-con-la-libertad-de-expresion-obedeciendo-una-orden-de-corte-neonazi/. Esta grande censura é fonte de séria preocupação em quase todo o resto do mundo, que olha cada vez com mais receio os famosos direitos de que se vangloriam os europeus (‎¿Ha renunciado Occidente a la libertad de expresión?‎, por Thierry Meyssan (voltairenet.org); https://observatoriodetrabajadores.wordpress.com/2022/11/21/la-responsabilidad-periodistica-se-desvanece-al-informar-sobre-los-paises-objetivo-de-ee-uu-caitlin-johnstone/;   https://actualidad.rt.com/actualidad/422498-periodistas-peru-rechazo-censura-medios-rusos). Interessante também este programa:  Propaganda occidental: el arte de mentir / Diario Octubre (diário-octubre.com)

[2] Apoderando-se de boa parte dos âmbitos intelectuais e acadêmicos, onde ele até faz da teoria crítica também um elemento anticomunista. (ver Gabriel Rockhill, https://canarias-semanal.org/art/33563/gabriel-rockhill-la-industria-de-la-teoria-global-capitalista-al-descubierto-video).

[3] Sem dúvida, esse mesmo abuso às custas do poder mundial da sua moeda podem estar a provocar o princípio do fim da sua importância, dado que impele a cada vez mais países a buscar vias alternativas ao dólar, precisamente para livrar-se de suas imposições e consequentes sanções em caso de qualquer descumprimento ou “desobediências” (https://vk.com/wall-211725988_12362).
“A hegemonia do dólar tem-se erodido desde um par de décadas, principalmente devido ao aumento do comércio em escala regional e como resposta dos países que querem escapar do domínio da moeda estadunidense. Entre 1999 e 2021, as reservas em dólares dos bancos centrais caíram de 71% para 59%. Além do mais, hoje em dia o dólar representa 40% das transações internacionais, o euro 35%, a libra 6% e o yuan 3% [...] A estas alturas da história, a economia estadunidense tem um caráter fortemente parasitário. Inclusive mais que na época da hegemonia britânica. O imperialismo britânico poderia contar com os recursos extraídos das colônias, em particular da Índia, das que o excedente comercial fluía até o centro financeiro de Londres. Sem dúvida, a libra se baseava em algo tangível, o ouro. Hoje em dia, o dólar não tem nada tangível e real por trás, separado do exército estadunidense” (Domenico Moro: https://www.lahaine.org/mundo.php/el-capital-en-el-siglo). Isto contribui muito para fazer da guerra um último recurso, permanente e cada vez mais beirando com o desespero, para os EUA.

[4] De novo, a perseguição, encarceramento ou eliminação de quem tenta desafiar os ditames extra-territoriais dos EUA é o preço a pagar, como o diplomata colombiano-venezuelano, Alex Saab, exemplifica (detido em Cabo Verde a pedido da potência imperial e encarcerado nos EUA por “violar” seu assédio econômico contra a Venezuela, destroçando todos os acordos sobre imunidade diplomática que sustentam a ordem mundial)

[5] Quando estas “revoluções coloridas” não se consumam, na falta disto se desata a desestabilização sistemática dos países atingidas e a extenuação de suas sociedades. Nas concreções disso temos, além das mencionadas aqui o que referimos ou que nos referimos mais abaixo, em Cuba (exemplo histórico por excelência), Venezuela, Honduras, Nicarágua, Bolívia, Nigéria, Burkina Faso, Síria, Irão, Hong Kong... Também seria necessário apontar a partição do Sudão e a que está sendo acabada com a Etiópia e o Congo, como mais marcantes.

[6] Zbigniew Brzezinski, conhecido estrategista estadunidense, propôs em seu momento desmembrar a Rússia em pelo menos quatro Estados, com uma república do Extremo Oriente, outra siberiana, uma Rússia europeia e uma confederação caucásica. Este é, no geral, um dos maiores perigos da estratégia anglo saxônica – RMS à escala planetária: a perseguição da divisão dos países discordantes para convertê-los em pedaços manejáveis e inviáveis por si mesmos.

[7] Desde 1700 que domina o Sistema Mundial Capitalista, a obsessão do Eixo Anglo Saxónico tem sido controlar o centro ou o “coração” do mundo, a principal massa de terra, população e recursos do planeta: Eurásia. É famosa a frase que se atribui a quem tem a reputação de ser o primeiro estrategista moderno, Harold Mackinder: “Que controla o Leste da Europa comandará o Heartland. Quem controla o Heartland comandará a ilha do mundo. Quem controla a Ilha do Mundo comandará o Mundo”. A “Ilha do Mundo” não é outra que não a Eurásia e o seu coração coincide em boa medida com a massa de terra russa.

[8] Este território foi anexado ao Império Russo. Posteriormente, a Ossécia do Sul ficou sobre a tutela da Georgia Soviética, com o nome de Oblast Autônomo da Ossécia do Sul. Durante o colapso da URSS, a Georgia proclamou a sua independência da atual Federação Russa em 9 de abril de 1991 e converteu-se num Estado independente, reclamando como parte de seus territórios a Ossécia e Abcásia. A inclusão dos mesmos levou a eclosão das tensões, pois nem a Ossécia nem a Abcásia queriam fazer parte da Georgia.

[9] Entre os objetivos sintetizadores do relatório, pode ler-se: “isolar a Rússia no cenário internacional, fomentar protestos internos, utilizar sanções econômicas para conseguir que a Europa reduza a importação do gás russo e o substitua por gás liquefeito estadunidense. E finalmente, armar a Ucrânia para explorar a maior vulnerabilidade externa da Rússia”. É também clarificador examinar a Nova Estratégia de Segurança Nacional recém formulada pelos EUA: “Superar a China e restringir a Rússia”: https://actualidad.rt.com/actualidad/444591-eeuu-presenta-estrategia-seguridad-nacional. “A era da pós-guerra fria está concluída definitivamente e está em marcha uma competição entre as principais potências para dar forma ao que virá a continuação”, anuncia Biden na introdução do documento. E segue: “China é o único competidor com intenção de redefinir a ordem internacional que dispõe das capacidades para fazê-lo”. Aqui Formosa (e toda área do Pacífico?) parece estar chamada a ocupar o papel da Ucrânia.
Anexo dois links interessantes sobre o que é chocado através da guerra por procuração na Ucrânia e as novas alianças no Pacífico-Índico contra a China. El Nuevo Orden Mundial que se pretende crear manipulando la guerra en Ucrania (vídeo), por Thierry Meyssan (voltairenet.org); Algunas reflexiones em torno a la crisis en Ucrania (observatoriocrisis.com).

[10] “É uma grande vitória para a razão e para a comunidade mundial”, disse Primakov. “A razão prevaleceu, o caminho para assinar em Paris está liberado”, apoiou Solana, que reconheceu a seu interlocutor “a mesma firmeza na defesa dos interesses de seu país que eu ponho nos interesses da NATO”. Na sede da NATO, em Bruxelas, os 16 embaixadores receberam o texto com entusiasmo. EUA, França, o Reino Unido, Itália e Espanha o assumiram em declarações públicas.

[11] Nunca as potências centrais perdoaram a este país a sua soberania, o seu projeto social e de desenvolvimento autônomo durante a Guerra Fria, assim como a sua recusa à expansão da NATO para o Leste (e menos ainda a fazer parte dela). Após a agressão, ainda hoje a Jugoslávia tem o setor industrial destruído, as cadeias econômicas rompidas, muitos postos de trabalho perdidos, com uma migração laboral massiva de jovens, uma existência a expensas dos investimentos estrangeiros, a importação desaforada, anos de crescimento negativo do PIB e sonhos pouco realistas de voltar ao nível de desenvolvimento econômico dos anos 80. Mais de 20 anos após os bombardeios, não há dados oficiais exatos sobre os danos causados (podem ultrapassar os US$100 milhões), mas as consequências indiretas são muito piores. A saúde dos cidadãos foi minada, foram produzidos danos irreparáveis ao habitat e houve uma grande perda da sua força produtiva (https://mundo.sputniknews.com/europa/201906081087552607-bombardeos-de-yugoslavia-la-destruccion-del-pais-a-escala-industrial/).

[12] “Em 2001, enquanto os americanos se desfaziam de alguns acordos de desarmamento mais importantes da Guerra Fria (por exemplo o acordo anti-mísseis, ABM) e enfraqueciam outros, depois da queda de Milosevic em uma destas revoluções coloridas, o Washington Post publicava um editorial anunciando que a seguinte jogada seria na Bielorrússia e Ucrânia, Putin propôs sua colaboração a Bush no esforço “antiterrorista” posterior ao 11 de setembro. Deu acesso ao Afeganistão pela porta traseira da Ásia Central ex-soviética e cooperou na logística e inteligência tudo o que pode. Tudo isso não serviu para nada”.

[13] Nenhuma destas terríveis medidas e ações parece ter inquietado as esquerdas integradas (em geral institucionalizadas, incluindo parte ativa ou passiva dos PC) europeias, em seu apoio “incondicional” ao regime de Zelenski e seus nazis (com seus promotores anglo saxónicos sionistas), a quem aplaudem nos distintos parlamentos europeus. Para o cúmulo da aberração, o próprio parlamento da UE concede ao presidente ucraniano o prêmio da “liberdade de consciência” (claro, que vindo precedido do nome de “Sakarov” entendemos isso melhor). Bom, este “cúmulo” parece não se preencher nunca, porque acabando estas páginas o Parlamento Europeu declara a Rússia “país promotor do terrorismo” (o único que tem lutado em diferentes frentes na Ásia e África contra os jihadistas do Eixo Anglo Saxónico – RMS e a NATO), mais além da incongruência de manter com ele as relações diplomáticas. O fechamento faz uma reescrita da história de corte reacionário-autoritário, como acompanhante do processo de fechamento democrático anexo ao tanatocapitalismo, vai a toda velocidade na Europa (como teriam chamado a URSS agora estes ínclitos parlamentares: “país promotor do comunismo”? Sem dúvida). Com uma UE cada vez mais indistinguível da NATO, mais atrelada de forma subordinada a ela.

28/Novembro/2022

[*] Professor da Universidad Jaume I

O original encontra-se em https://observatoriocrisis.com/2022/11/28/12767/. Tradução de JACG.

Este artigo encontra-se em resistir.info

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