Os objectivos infames do "grande reinício"
Suponha que é um dos génios maléficos que dirigem a
economia mundial.
Certamente gostaria de continuar a dirigi-la de maneira estável, segura
e rentável, apesar dos problemas que podem surgir de tempos a tempos.
Gostaria de resolver esses problemas de maneira rápida e eficaz, sem
chamar a atenção para si mesmo e para os seus maus
hábitos. Quais são então os problemas que acha serem os
principais, exigindo uma solução rápida e preventiva e
como deveriam ser resolvidos?
Em primeiro lugar, iria descobrir que existe um grande problema com o
abastecimento mundial de energia. Isto foi previsto repetidamente desde meados
da década de 1990, mas vários avanços tecnológicos
e manobras geopolíticas atrasaram a crise final em duas décadas.
Agora a crise final aproxima-se cada vez mais. As descobertas de novos recursos
ficaram tão aquém da produção que não
há esperança de um dia a alcançar. A última grande
esperança para os Estados Unidos e o mundo, a fracturação
hidráulica, está a caminho da falência, nunca tendo obtido
muito lucro. A maioria das empresas do sector faliu ou está prestes a
falir. As energias renováveis, na forma de electricidade eólica e
solar, provaram ser muito caras e pouco atraentes para as redes
eléctricas devido à sua intermitência e à
incapacidade de armazenar grandes quantidades de electricidade. Manobras
geopolíticas, como a tentativa de derrubar o governo da Venezuela e
roubar seu petróleo ou sancionar a Rússia para que se comportasse
como um posto de gasolina com uma economia destroçada, todas falharam. A
taxa de retorno de energia
EROEI
uma medida difícil de calcular, mas em última análise
decisiva da viabilidade de qualquer empreendimento de energia continua a
declinar.
No papel de génio do mal e não apenas como um simples amador
ignorante na sua poltrona, deve estar totalmente ciente que a incapacidade de
fazer algo para equilibrar a oferta e a procura de combustíveis
fósseis causaria o colapso da economia mundial. Desde o advento da
industrialização baseada no carvão, o crescimento
económico sempre foi acompanhado por um aumento proporcional do uso de
combustíveis fósseis. Mas agora esses aumentos parecem
impossíveis. A economia global de hoje depende do crédito para
apoiar a produção e do crescimento contínuo para se manter
solvente. Nesse esquema, a única alternativa para o crescimento
económico contínuo é o colapso económico. Portanto,
tem de se começar a procurar formas de reequilibrar a
equação da energia fechando partes da economia mundial e
permitindo que outras continuem a crescer. Como ninguém está
particularmente desejoso de se precipitar para o matadouro, a sua tarefa
é encontrar uma maneira de induzi-los a irem para lá
voluntariamente, supostamente para o seu próprio bem.
A próxima questão a colocar é saber quais as
nações industrializadas que estão prontas para o gancho do
talhante. Verificará que alguns países viveram continuamente
acima das suas possibilidades. Pediram dinheiro emprestado repetidamente muito
para além de seu potencial de crescimento económico, a sua
capacidade de pagar as dívidas em que incorrem é exactamente
nula. O mais importante dentre estes são os Estados Unidos, que vivem
desde há décadas de empréstimos e cuja dívida
gigantesca ofusca todos os excessos precedentes reunidos.
Combinado com a crescente perda de estatuto do dólar como de moeda de
reserva e a consequente perda do exorbitante privilégio de imprimir
dinheiro conforme as suas necessidades, isto coloca os EUA no epicentro do
inevitável colapso financeiro.
Interpretaria então o pânico do mercado REPO
[1]
de Agosto de 2019, quando os juros sobre empréstimos
overnight,
usando a dívida federal dos EUA como garantia, atingiram 10%, como uma
fissura na fachada da cuidadosamente mantida aldeia Potemkin
[2]
do sistema financeiro dos EUA.
Se olharmos para o orçamento dos EUA, notamos que este país
não é capaz de financiar os seus défices
orçamentais, cada vez maiores, pedindo empréstimos no exterior,
já que os estrangeiros agora são vendedores líquidos de
títulos de dívida dos EUA. Ficará chocado ao descobrir que
o governo dos EUA pede empréstimos para quase metade das suas despesas,
estando a acumular dívidas de curto prazo duas vezes mais rapidamente do
que poderiam pagá-las, despreocupadamente prevendo contrair mais
dívidas de curto prazo e obter ainda mais empréstimos nos
próximos anos. A imagem que vem à mente é a de um touro
particularmente teimoso, parado no meio dos carris tentando desafiar o comboio
que se aproxima.
Como génio financeiro que é, você sabe tudo o que há
para saber sobre esquemas em pirâmide e identifica facilmente o estado
actual das coisas como um puro esquema em pirâmide. Como todos os
esquemas em pirâmide falham, e tendem a fazê-lo mais ou menos
instantaneamente, começará a procurar uma maneira de antecipar o
colapso para conservar o controlo da situação. O seu principal
objectivo a curto prazo seria evitar o pânico e mergulhar a economia
mundial numa espécie de coma induzido, alimentando-a com uma
infusão de dinheiro grátis. Essa pausa iria dar-lhe a
oportunidade para fazer algumas mudanças necessárias, algumas
meramente cosméticas, outras mais espectaculares.
Contudo, não haverá energia suficiente para fazer funcionar a
economia industrial global; por isso partes dela precisam ser fechadas. Que
partes? É improvável que uma abordagem ad hoc segundo os seus
desejos seja eficaz porque o que resta da economia mundial no final deste
processo deve estar intacto, contíguo, estável, próspero e
ser suficientemente amplo, abrangendo, digamos, dois ou três mil
milhões de almas, de um total absolutamente supérfluo de mais de
7,5 mil milhões, dos quais se diz que metade subsiste com menos de um
dólar mítico por dia. O Sul indigente claramente não
é um problema com o qual você, o génio do mal que governa o
mundo, precise de se preocupar. Essas pessoas, de uma maneira ou de outra,
já se desembaraçam sozinhas. Na realidade, não fazem parte
da economia mundial.
Então, que partes da economia mundial deveriam fechar? Uma excelente
oportunidade, imediatamente disponível, graças ao medo
artificialmente exagerado da pandemia, é matar o turismo internacional.
Isso é o que tem sido feito: a indústria hoteleira e aérea
está arrasada, assim como restaurantes, estações termais e
muitos outros negócios que recebem turistas internacionais. Os navios de
cruzeiro estão a ser desmantelados para sucata. Isto reduziu o consumo
de destilados de petróleo. Ao contrário da gasolina, útil
para viajar sem rumo em pequenos veículos de passageiros e que é
em grande parte um resíduo criado por refinarias de petróleo,
destilados de petróleo como combustíveis para aviões,
nafta, fuel e diesel, são a força vital da economia global. O seu
uso para transportar turistas para locais de férias é um grande
desperdício, inacessível.
Mas enquanto o uso de destilados de petróleo diminuiu, o mesmo ocorre
com a gasolina, dado que é cerca de metade do que cada barril de
petróleo bruto pode refinar. A solução é evitar que
os trabalhadores se desloquem para o trabalho fazendo com que trabalhem em
casa. É puro desperdício fornecer aos trabalhadores de
escritório um lugar para dormir e se distraírem e outro para
trabalhar; eles podem fazer tudo com o mesmo colchão e a mesma
conexão de Internet, usando o mesmo computador portátil e
telemóvel. Uma vez que já não há necessidade de
viajar, a necessidade de manter escritórios nas grandes cidades
também desaparece e as cidades e subúrbios podem ficar
despovoadas. A população pode facilmente realizar teletrabalho no
campo. A necessidade de ir ao supermercado em automóvel pode ser
substituída por um caminhão de entrega semanal, o que permite que
a maioria das lojas de comércio local também feche. Num ambiente
rural, pode-se eventualmente ensinar as pessoas a cultivar e produzir sua
própria comida, a se aquecerem com a lenha que apanhem e, finalmente, a
ficarem meio selvagens para desaparecerem da vista dos génios.
Uma vez que não é necessário deslocar-se em
automóvel para dirigir-se até às lojas, é
possível reduzir a mobilidade geral da população,
reduzindo ainda mais o consumo de energia. A melhor maneira de conseguir isso
é eliminar o transporte privado de longa distância instituindo
portagens muito altas em auto-estradas e, ao mesmo tempo, introduzir
regulamentos estritos que devem ser seguidos antes de permitir que os
passageiros embarquem em transportes públicos, comboios ou
aviões. As medidas de saúde pública e segurança
podem desempenhar um papel importante a este respeito.
Um efeito secundário admirável de dispersar a
população no campo ao mesmo tempo que se limita a sua mobilidade
é que o protesto político se torna inútil. Uma vez que as
pessoas deixam de poder reunir-se e protestar em massa, os seus movimentos de
protesto tornam-se virtuais e limitados às plataformas das redes sociais
que, sendo privadas, podem simplesmente ser fechadas. Quando as autoridades
precisam intervir, elas podem controlar facilmente o tráfego da Internet
e do telemóvel e restringir a movimentação física
de qualquer pessoa que considerem suspeita. Os custos de
manutenção da ordem, dispersão de protestos e
supressão de rebeliões são, portanto, consideravelmente
reduzidos. Uma primeira medida útil consiste num primeiro tempo, deixar
de manter a ordem nas grandes cidades permitindo que criminosos e saqueadores
governem livremente, provocando um êxodo perfeitamente voluntário
das cidades para o campo.
Um outro efeito secundário do colapso das grandes cidades sob ondas de
crime, protestos e tumultos é que criminosos, manifestantes e
desordeiros podem ser agrupados, presos e usados como escravos. A
vigilância electrónica contemporânea, com
detecção de telemóveis, videovigilância e
reconhecimento facial baseado na inteligência artificial, torna mais
fácil identificar e localizar os autores daqueles actos. Em particular
nos Estados Unidos, onde a escravatura ainda é legal desde que um
tribunal imponha uma sentença por um crime específico (como
afirma a 13ª Emenda da Constituição) e onde massas de
escravos negros e latinos trabalham duramente em prisões privatizadas,
bastante análogas às plantações do sul antes da
Guerra Civil, esta é uma técnica poderosa para converter o
excedente de população em mão-de-obra gratuita.
Uma das principais fontes de consumo de energia é gasta no que pode ser
definido como luxo. Numa economia de mercado livre a escolha do consumidor
é sagrada, um grande número de empresas respondem a todas as
necessidades, desde salões de manicura a cuidados com cães,
passando por bares, restaurantes, serviços de restauração,
serviços de massagem, ioga, roupas de marca, etc. Nenhum destes
negócios é essencial e, portanto, pode ser encerrado, desde que
seja encontrada uma desculpa ligada à segurança pública
para o fazer. Em vez de tudo isto, uma cesta de bens de consumo essenciais pode
ser entregue em casa, gratuitamente e regularmente, por equipas de
voluntários da comunidade fortemente armados.
Normalmente, seria de se esperar que a proposta de mergulhar a economia mundial
num coma induzido por medicamentos encontrasse considerável
resistência. A solução brilhante é assustar todos
para que se submetam, fazendo incessantemente a apologia de um vírus
respiratório não particularmente perigoso. De acordo com
estimativas recentes e provavelmente ainda muito altas da
Organização Mundial da Saúde, o novo SARS-CoV-2 tem uma
taxa de mortalidade por infecção (IFR) de apenas 0,14%.
[3]
Essa taxa é significativamente maior do que os 0,10% da última
grande pandemia viral respiratória, a gripe de Hong Kong de 1968-69, que
matou entre 1 e 4 milhões de pessoas em todo o mundo e talvez tenha
contribuído um pouco para a queda de 0,6% do PIB dos EUA (embora essa
queda se deva principalmente ao fim dos gastos relacionados com a Guerra do
Vietname). Mas, como a taxa de infecção do novo vírus
tende a ser gravemente subestimada (isso é complicado porque não
causa sintomas na maioria das pessoas), o valor IFR final provavelmente
será significativamente menor.
Como começamos a saber, certo descrédito dos alarmistas
está a tornar-se inevitável. Mas até agora a missão
das elites de apostarem no medo tem tido um grande sucesso. As previsões
alarmistas de milhões de mortes baseadas num falso modelo de computador
inventado por Neil Ferguson, um ex-físico teórico do Imperial
College of England (cujas previsões, por muitos anos, foram tão
falsas quanto o dia é longo), associadas ao espectáculo e exagero
usual, ao frenesim em torno do surto inicial na China, fez com que os governos
em todo o mundo reagissem de forma exagerada, fechando grande parte de suas
economias.
As pessoas mais espertas já reuniram uma série de factos que
minam muito a excessiva publicidade mediática, nomeadamente que tentar
impedir o vírus de se propagar era uma corrida louca; que os danos
causados pelas medidas de emergência são muito mais graves do que
os causados pelo próprio vírus; que este vírus é um
inoculante seguro e eficaz contra si mesmo, evitando assim a necessidade de
vacinas.
Mas nada disso importa: o coma económico global foi induzido conforme
previsto e apenas as nações e economias mais promissoras e
estáveis sairão dele um dia. Essa pausa legal vai dar ao
génio do mal no comando da economia mundial a possibilidade de resolver
alguns problemas mais importantes, como:
-
Longevidade: resolver o problema da sobrepopulação de
pensionistas e reformados, uma vez que os fundos de pensão e reforma
ficarão vazios e não haverá recursos para dedicar à
medicina geriátrica.
-
Automação: reduzir a intensidade energética da economia,
voltando ao trabalho manual, mantendo um controle muito rígido sobre a
força de trabalho.
-
Inteligência artificial: retirar funções intelectuais dos
cérebros humanos e entregá-las a servidores informáticos
que executam algoritmos de inteligência artificial, enquanto os sistemas
de educação pública são reformados afastando-os do
desenvolvimento intelectual, limitando-o ao ensino das competências
manuais, ou seja, carregar em botões e obedecer.
-
Lidar com o problema dos "macacos com granadas nas mãos":
livrar certas nações anteriormente desenvolvidas e
industrializadas, mas agora em colapso, de certas armas muito perigosas,
incluindo as nucleares, para evitar que travem combates no seu próprio
país ou noutros países.
-
Reorganizar: reconectar as cadeias de abastecimento agora interrompidas, em
novas associações da indústria incluindo apenas os
países e regiões que permanecerão economicamente
viáveis pelo menos nas próximas décadas, enquanto se
desconecta permanentemente o resto.
Discutiremos estas questões em próximos artigos. Entretanto,
aproveite o coma económico induzido pela medicina e, se alguém
perguntar por que tudo isso é necessário, diga que é por
causa do terrível coronavírus e não tem nada a ver com
coisas tais como a bolha financeira dos EUA que está prestes a estourar
ou a falência da indústria de fracturação
hidráulica dos EUA (o que, a propósito, é certamente o
caso).
NT
[1] Acordo de venda e recompra, forma de empréstimo de curto prazo,
principalmente em títulos do governo.
[2] Uma aldeia Potemkin é em política e economia uma
construção cujo único objectivo é proporcionar uma
fachada externa a um país que está mal, fazendo as pessoas
acreditarem que o país está bem, embora os dados mostrem o
contrário.
[3] Segundo a OMS, o valor atual do número de mortes em
relação à população mundial é de
0,016%. Em relação aos casos de infeção globais
é de 2,53%
case fatality rate
[*]
Autor de
The Five Stages of Collapse: Survivors' Toolkit
,
Reinventing Collapse: The Soviet Experience and American Prospects
e
Shrinking the Technosphere
O original encontra-se em
cluborlov.blogspot.com/2020/10/nefarious-objectives.html
Este artigo encontra-se em
https://resistir.info/
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