A desandar...
por Jim Kunstler
O aparente despistamento de Paul Krugman, na sua coluna no
New York Times
de domingo
("A teoria da bofetada na cara")
, acerca do colapso nas finanças é um bom indicador da hipocrisia
servil que agora exalam aqueles ao serviço dos centros do poder. Duvido
que um editor, ou o publicador, Sr. Sulzberger, tenha de murmurar no seu ouvido
que minimize a gravidade da situação. Não acredito
tão pouco que algo como o seu emprego dependa disso. O encobrimento da
verdade de Krugman é simplesmente covardia social. Ele não quer
ser considerado um dissidente pelos companheiros membros do seu clube.
Krugman classifica os dois grandes esforços anteriores do Federal
Reserve, desde Agosto, para salvar os bancos insolventes, os seguradores e os
hedge funds com empréstimos baratos como "bofetadas na cara"
destas corporações cambaleantes "ei, acorde o
palerma! como se a narcolepsia fosse o único problema deles.
(Tente isso com um bêbado na calçada junto ao terminal
rodoviário de Port Authority e veja se ele se regista para um programa
de reabilitação e uma escola secundária). Krugman chama
ao mais recente plano do clube de o Fed simplesmente engolir o colateral
deficiente e sem valor em troca de mais empréstimos baratos como
uma "terceira bofetada", dizendo, com toda a pretensão de um
secretário de Rotary Club do meio oeste, que "a terceira vez
poderia conseguir". Gostava de saber se já havia defecado quando
escreveu isso.
A linha da coluna de Krugman de que mais gostei é esta: "No
mês passado um outro mercado de que você nunca ouviu falar, o
mercado de US$300 mil milhões para títulos sobre taxa de
leilão (não pergunte), sofreu o equivalente a uma corrida
bancária". Ele presume que o seu leitor corrobora a sua
pretensão de inocência. Nós nunca ouvimos falar do mercado
municipal de títulos e é demasiado complicado explicar, de modo
que "não pergunte". Estará ele a escrever para o
"jornal de registos" ou no Notícias Para Crianças?
Talvez fosse uma boa coisa se os leitores do
New York Times
perguntassem que raio estava a acontecer nestes mercado a fim de que pudessem
arrancar os seus dólares em depreciação para fora do mesmo
e aplicá-los em outro lugar ou convertê-los em alguma coisa de
valor.
Bem, foi uma semana má no panorama do dinheiro e é certo que
será um ano pior. Paul Krugman e os seus companheiros membros do clube
podem pretender que a alucinada economia financeira não está
realmente a estilhaçar-se em bocados. Afinal de contas, ele/eles
estão a tentar evitar o pânico. Mas, como foi notado
anteriormente neste espaço, a única coisa de que temos medo
é de não termos medo. Temos de temer as consequências de
acções da parte de uma liderança bancária que
já mostrou a mais grosseira irresponsabilidade (e um público
americano que foi condicionado a esperar uma dieta rigorosa de receber algo em
troca de nada).
Os EUA enfrentam uma linda escolha absoluta exactamente agora: podem deixar os
perdedores ficarem com as suas perdas tanto as grandes
instituições que criaram e comerciaram em títulos
fraudulentos, e todos os "pequeninos" que tomaram demasiado dinheiro
emprestado a fim de tentarem ficar ricos rapidamente, ou tentarem viver como os
milionários que viam na TV. Podemos deixá-los afundar, e sofrer
as consequências das suas más escolhas (e talvez processar alguns
dos banqueiros e executivos corporativos culpáveis),
OU
, num esforço para deixar estes perdedores a salvo da enrascada podemos
arruinar toda a maquinaria do capital ao tornar o nosso meio-de-troca uma
inutilidade.
As pessoas responsáveis tanto dentro como fora do governo
não podem enfrentar as perdas, de modo que agora elas aparentemente
estão decididas a arruinar a divisa. O dólar perdeu dois por
cento do seu valor contra o Euro apenas nas últimas semanas, quando
empréstimos baratos do Fed foram despejados no buraco negro da Wall
Street (nunca visto antes). Outros minimizadores nos media clamam que os
mercados financeiros "já ganharam preço" apesar de
outra esperada queda de 0,75 pontos na taxa de juro por parte do Fed nesta
semana, mas estou confiante em que um tal movimento apenas acelerará o
acto de desaparecimento do dólar.
Admito que é difícil acreditar no que está a acontecer no
sector financeiro americano. Mas a incredulidade em face de uma
catástrofe rara não é o mesmo que pretender que ela
não está a acontecer. Todo um bando de cisnes negros
está a voar em frente ao sol. Não espere bronzear-se este
mês.
O original encontra-se em
jameshowardkunstler.typepad.com/clusterfuck_nation/2008/03/goping-going.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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