US$ 10 12
de resgate para os jogadores da Wall Street
Nada para as famílias e os reformados
Se o movimento para um Executivo Unitário com um poder presidencial sem
peias já o assusta, a viragem da direita radical dos EUA para a
Finança Unitária deveria assustá-lo ainda mais e
aumentar as suas dívidas também. Os acontecimentos financeiros
das últimas duas semanas de Março de 2008 demonstraram que o
"realistas económicos" e os "mercadores de
dinheiro", que Franklin Delano Roosevelt (FDR) expulsara do templo das
finanças, voltaram para maltratar a nossa economia conduzindo-a aos
horrendos apuros da inédita criação do
risco-dívida, eufemisticamente chamado "alavancagem" e
"criação de riqueza".
As poucas limitações que subsistem para o cada vez mais
centralizado planeamento do sector financeiro, especialmente ao nível do
Estado, estão a ser varridas para o lado com o pretexto de "salvar
o sistema". Os poucos beneficiários da Wall Street que utilizam
esta frase explicam simplesmente o que é este sistema. Em primeiro
lugar, seus administradores políticos são indústrias de
lobbies indicadas para altas posições administrativas e de
planeamento nas agências públicas que supostamente regulamentam
estas indústrias. Sua ideia de planeamento financeiro é colocar
um milhão de milhões
(trillion)
de dólares em fundos de agências governamentais e em garantias de
créditos em risco. Esta agência de financiamento era suposta que
fosse utilizada para ajudar famílias americanas médias a obter
habitação e cuidados de saúde, e para proteger suas
poupanças e proporcionar as suas aposentadorias. Ao invés disso,
ela está a ser mobilizada para apoiar banqueiros e administradores
financeiros da economia. Na verdade, as últimas poucas semanas
assistiu-se a milhões de milhões de dólares serem
comprometidos na economia de guerra e no apoio aos bancos.
A livre criação de crédito do sistema bancário, que
duplica aproximadamente a cada cinco anos para a economia como um todo,
ameaça culminar na escravização de muitas famílias
americanas através da dívida, bem como de indústrias e
governos estaduais e locais. O excedente económico está a ser
rapidamente absorvido por uma combinação de serviço da
dívida e planos de emergência
(bailouts)
governamentais para credores cujos esquemas Ponzi estão a entrar em
colapso por todo o lado, desde o imobiliário residencial até o
comercial, assim como os empréstimos para tomadas de controle
(takeover)
de corporações por bolhas económicas de crédito
estrangeiro.
Este é o contexto no qual devem ser vistas as perturbações
financeiras das últimas semanas envolvendo o Bear Stearns, o
JPMorgan/Chase e a paisagem da dívida em mutação
rápida. "O sistema" que o Tesouro, o Federal Reserve a as
agências do New Deal capturadas pela administração Bush
está a tentar salvar é uma vasta economia Ponzi. Quero dizer com
isto que o plano de negócios é os credores emprestarem aos
devedores dinheiro suficiente para que eles paguem os custos dos juros de modo
a que se mantenham em dia nos seus empréstimos.
Nos últimos anos este sistema dependia de os preços de activos
como imobiliário, acções e títulos serem
inflacionados o suficiente a fim de permitir aos devedores penhorarem estes
activos como colateral ao mais alto preço do mercado para mais e mais
novos empréstimos. Mas agora que a bolha do imobiliário se
rompeu (e na verdade, quando as acções afundam), o problema
é como salvar o topo do nosso iceberg económico que mergulhou
numa situação líquida negativa uma
situação em que as dívidas ligadas à propriedade
excederam seu valor de mercado. Alguém deve assumir uma perda
mas quem?
Normalmente é o banqueiro ou o investidor que assumem a perda. Mas
agora supõe-se que eles sejam "resgatados" e isto está
a ser apresentado como um retorno à estabilidade. Mas era um sistema
que, para começar, nunca fora estável.. De facto, para este
resgate funcionar a maior parte dos americanos terá de possuir menos e
dever mais, apesar de se lhes dizer que tudo isto faz parte do caminho para a
criação de riqueza como se fosse sua riqueza, não
aquela dos seus credores. A dádiva do seguro ao Bear Stearns/JPMorgan
Chase para "salvar o sistema financeiro" proporcionou uma
ilustração viva de como as Finanças Unitárias
desenvolveram um relacionamento parasítico com o trabalho americano no
seu papel como contribuidor das pensões, do consumidor e dos
proprietários de casas. O sistema que está a ser subsidiado
permite ao sector FIRE (Fire, Insurance and Real Estate) dirigir e viver fora
dos esforços produtivos dos outros as pessoas que fabricam coisas
reais e proporcionam serviços reais.
Poupando a Wall Street dos maus empréstimos hipotecários com uma
salvação de emergência de 10
12
dólares
O plano de emergência começou no domingo, 16 de Março. O
governo e o JPMorgan Chase tinham razão para estarem embaraçados
acerca das negociações, pois os poucos pormenores que pingaram
nos sítios web do Federal Reserve ou do Tesouro e nos discursos do Sr.
Paulson iam muito além apenas do Chase e do Bear Stearns. Revelou-se
que no mesmo domingo em que fora negociado o plano de emergência de US$30
mil milhões do Fed, durante dez dias o Sr. Paulson começou uma
frenética orquestração de acções do Tesouro,
Reserva Federal e outras agências governamentais para por de parte um
milhão de milhões de dólares a fim de reinflacionar os
mercados financeiros para os possuidores de hipotecas e os seus credores
associados e especuladores. Nos bastidores, como se verificou, a
administração Bush estava a montar uma explosão financeira
(financial surge):
Ele decidiu lançar tudo o que as suas agências de financiamento
hipotecário pudessem reunir a fim de impedir que os mercados da
propriedade de entrassem em colapso.
A explosão do apoio aos mercados hipotecário e imobiliário
foi encabeçada pelos dois maiores possuidores e empacotadores de
hipotecas dos EUA: o National Mortgage Association (FNMA) patrocinado pelo
governo e o Freddie Mac. Estas duas agências foram criadas para
desenvolver mercados comerciáveis para hipotecas que os bancos
tradicionalmente haviam mantido na sua própria contabilidade com a
compra de hipotecas residenciais dos bancos e correctores hipotecários
que as originavam. Isto criou uma vasta nova procura por hipotecas ao
torná-las comercializáveis em grandes pacotes para investidores
institucionais tais como fundos mútuos e de pensão. Sendo
implicitamente garantida pelo governo, a Fannie Mae e o Freddie Mac eram
capazes de tomar emprestado a taxas de juro razoavelmente baixas, e vender as
hipotecas com um maior valor. A procura por estes títulos
hipotecários empacotados proporcionava uma enorme nova fonte de
concessão de empréstimos. Isto também transformava os
bancos em originadores de hipotecas ao invés de possuidores de hipotecas.
Em conjunto a Fannie Mae e o Freddie Mac compraram mais de três quartos
de todas as hipotecas nos EUA emitidas no quarto trimestre de 2007, elevando
seus haveres a US$1,4 milhão de milhões. Contudo, o facto de o
seu capital base estar abaixo dos US$70 mil milhões com um
rácio de alavancagem da dívida de 20 para 1 levou
investidores a venderem constantemente o seu stock ao longo do ano passado. Ao
invés de insistir em que a Fannie Mae e o Freddie Mac
reconstruíssem sua posição de capital, o Office of Federal
Housing Enterprise and Oversight (OFHEO) fez exactamente o oposto. Reduziu
suas exigências de capital de 30 por cento para 20 por cento, e
encorajou-as a utilizar esta alavancagem acrescida para o despejo de uns US$200
mil milhões extras no mercado hipotecário do país. Os
limites quanto à dimensão dos empréstimos
hipotecários que estas duas agências podiam fazer foram elevados
drasticamente a fim de ajudar a reinflacionar os perturbados mercados de
propriedade de alto custo, particularmente na Califórnia e em Nova York.
Concebida para trazer um alívio temporário, esta manobra
ameaçou desestabilizar ainda mais as coisas ao simplesmente chutar a
lata estrada abaixo. O mesmo se aplica à Federal Housing Administration
(FHA), estabelecida em 1934 como parte do New Deal. Seu fundo de seguros com
cerca de US$20 mil milhões apoia uns 3,8 milhões de
empréstimos hipotecários que totalizam US$365 mil milhões,
com um rácio de alavancagem 18:1. Na segunda-feira, 24 de Março,
prometia US$400 mil milhões em novos seguros de crédito
hipotecário. Isto significa que as agências do governo podem
utilizar seu capital para emprestar muito mais dinheiro a compradores de casas
em perspectivas. O FHA, a Fannie Mae e o Freddie Mac também
estarão na linha para quaisquer perdas, "socializando o risco"
num grau muito mais elevado do que alguma vez fora visto.
O preocupante acerca desta estratégia é que o FHA já
estava em apuros financeiros devido aos seus empréstimos subprime. Pela
primeira vez na sua história estava a incorrer num défice. Mais
de um terço dos empréstimos que assegurara foram efectuados por
vendedores de casas a novos compradores para cobrir o seu pagamento inicial
permitindo às casas serem compradas sem qualquer entrada inicial.
(Tradicionalmente, 20 por cento tem sido a norma). Isto foi um mercado nova
em folha, que mal existia em 2000 na véspera da bolha imobiliário
de Greenspan-Bush. O secretário da Housing and Urban Development Agency
(HUD), Alphonso R. Jackson, declarou a um comité do Senado: "Estes
tipos de empréstimos empurraram o FHA para a beira da
insolvência". E agora duplicou-se as suas actividades a fim de
escorar o mercado imobiliário e de hipotecas.
A direcção do Federal Housing Finance (FHF), obedientemente, fez
a sua parte para aumentar a alavancagem de dívida do sistema. Duplicou
a capacidade dos Federal Home Loan Banks (FHLB) regionais para alavancarem a
sua compra de títulos hipotecários, de três vezes o seu
capital para seis vezes, o dobro do rácio
dívida/situação líquida existente. O objectivo era
ajudá-los a servir seus clientes, as oito mil caixas económicas
do país, uniões de crédito e companhias de seguros,
financiar a compra de US$160 a US$200 mil milhões de novos
títulos apoiados por hipotecas emitidas pela Fannie Mae e Freddie Mac.
O objectivo era que estas duas agências comprassem este ano um valor de
cerca de 500 a 1000 mil milhões de dólares de títulos
hipotecários do sector privado.
SOCIALIZAR AS PERDAS
O sistema do Federal Home Loan Banking também anunciou planos para
começar a oferecer o seu próprio seguro hipotecário
"monolinha" contra os maus tempos económicos que se anunciam a
preços abaixo daqueles que as seguradoras do sector privado estavam
dispostas a oferecer. O objectivo é escorar a cobertura de seguro
hipotecário que se está a esfarelar a expensas do contribuinte.
Mais uma vez, o conceito de "mercado livre" está a ser
subjugado a fim de socializar as perdas para os grandes jogadores do sector
FIRE. A situação é semelhante ao seguro governamental de
propriedades frente à praia contra danos por inundação,
que paga por um problema cronico que dá prejuízo a expensas do
público. Naturalmente, um número desproporcionado dos
proprietários daquelas propriedades frente à praia provém
da classe que contribui para as campanhas [eleitorais].
Gillian Tett do
Financial Times
observou que este subsídio ao seguro hipotecário irá
"provavelmente disparar um novo debate acerca de como os decisores
políticos estão a transformar o Estado, ou entidades
quase-estatais, a fim de estabilizar o sector financeiro" referindo-se a
"uma ausência do mercado". Ao invés de moldar o mercado
de acordo com o menor risco, menos linhas de dívida alavancada, agora
vê-se o governo a socializar o risco financeiro a taxas abaixo do
mercado. John Price, presidente do Federal Home Loan Bank board, afirmou que
"é para isto que se destinam as Empresas Estatais do Governo, tendo
em vista o facto de que seguradoras privadas cobrariam taxas mais
elevadas". Mas o actual plano do governo coordenado pelo
secretário do Tesouro, Paulson, procura evitar a permissão para
os mercados funcionarem de um modo que aumente os custos para a Wall Street e
portanto deixa menos rendimento para os proprietários de casas
comprometerem-se com serviço de dívida. Esta política
é apresentada hipocritamente como redução do preço
a que o sector financeiro "serve" a economia, deixando de
colocá-la em risco.
Os movimentos mais espantosos ainda estavam para vir. Em 11 de Março o
Federal Reserve criou um Instrumento para a concessão de crédito
com títulos a prazo a fim de oferecer US$200 mil milhões em
empréstimos a negociantes primários de títulos contra os
seus haveres em hipotecas e outros títulos empacotados como colateral.
O objectivo era re-inflacionar rapidamente as hipotecas que o mercado livre
estava a atribuir um preço de lixo, tão baixo quanto 20 por cento
do seu valor facial.
A seguir veio a bomba dupla. Num verdadeiro show, no dia de St. Patrick, 17 de
Março, o Fed ofereceu crédito aproximadamente ilimitado a
não banqueiros pela primeira vez desde a Grande Depressão. O Fed
aceitou como colateral as suas hipotecas tóxicas activos
dúbios que "o mercado" se recusava a tocar. Tantas
soluções "com base no mercado" quando se trata da alta
finança! Pela primeira vez desde a década de 1930, não
bancos podiam tomar emprestado no guiché de empréstimos do Fed
contra as suas hipotecas lixo, aparentemente pelo seu valor de face. Já
era demasiado tarde para o Bear Stearns, mas outros banqueiros de investimento
e casas correctores viram a bóia de salvação verde quando
o Fed abriu o seu guiché de desconto para não banqueiros, isto
é, banqueiros de investimento tais como o Lehman Brothers, em contraste
com os banqueiros comerciais que são regulados pelo Fed.
O volume de crédito parecia ser ilimitado, colaterizado por
títulos apoiados em hipotecas que "o mercado" estava a
apreçar em torno dos níveis que os empréstimos do Terceiro
Mundo estavam a ser vendidos após a insolvência do México
em 1982. O economista do Trabalho Tom Palley escreveu em 26 de Março no
seu blog: "Estes subsídios são um disfarce
(travesty).
O Goldman Sachs, Lehman Brothers e Morgan Stanley são
extraordinariamente lucrativos. Eles também foram os condutores das
piores tendências na economia americana ao longo da geração
passada, pressionando por excessivo pagamento aos presidente de conselhos de
administração que se difundiram como um cancro através da
América corporativa, atingindo mesmo universidades e entidades
não lucrativas. Adicionalmente, eles incentivaram o paradigma do valor
para o accionista que pressionou as companhias a enfatizarem o ganho a curto
prazo em detrimento do investimento a longo prazo, e contribuíram para
rasgar o contrato social da América. Enquanto isso, o seu modelo de
negócio promoveu a especulação que está por
trás das repetidas bolhas de preços de activos e
mercadorias".
É para suportar este modelo de negócio que os responsáveis
do Fed e do Tesouro parecem estar a fazer novas regras numa base diária
regras que recebem apenas uma revisão superficial e negligente do
Congresso. Os críticos destacam que os banqueiros de investimento
não estão sujeitos à supervisão do Federal Reserve
ou outra qualquer regulamentação. Talvez mesmo isto não
importe realmente em vista do modo extremamente não regulamentador do
Fed desde os quatro mandatos de Alan Greenspan como presidente. Ainda mais
importante, naturalmente, é o facto de que os novos clientes do Fed,
bancos de investimento e casas correctoras, não servem os depositantes
da classe média que necessitam protecção especial para as
poupanças que fizeram ao longo das suas vidas. Os investimentos
financeiros que estão a ser salvos de condições de mercado
adversas são em última análise de carácter
especulativo.
DE CABEÇA PARA BAIXO
Parece uma ironia sarcástica que as instituições que agora
estão a ser mobilizadas para salvar os credores da Wall Street o
Federal Home Loan Banks para bombear crédito para dentro do mercado
hipotecário, a Federal Housing Administration para seguros
empréstimos hipotecários, a Fannie Mae e o Freddie Mac para
comprar pacotes de hipotecas a fim de revendê-los por grosso a
investidores institucionais tenham sido criadas para ajudar os
compradores de casas, não os seus credores e muito menos os
especuladores. Mas salvar especuladores e a alta finança tornou-se
agora a sua função primária. Esta mudança
pôs a habitação, as hipotecas e as agências
bancárias da América de cabeça para baixo. A Wall Street
saudou naturalmente a captura destas instituições do New Deal e
pós 1945. Mas a sua ideologia doutrinária havia acusado a [lei]
Glass-Steagall, a Segurança Social e a maior parte dos regulamentos
Sarbanes-Oxley da Securities and Exchange Commission (SEC) de conduzirem
à estrada da servidão.
Politicamente, tais salvações de emergência exigem uma
retórica de cobertura ostensivamente humanitária. Elas precisam
ser apresentadas como um subsídio não aos bancos e outros
credores ricos e sim aos devedores. Isto significa que a
salvação de emergência "ideal" assume a forma de
novo crédito para pagar bancos e outros accionistas e possuidores de
hipotecas suficiente para manter a bolha da dívida flutuante. Isto
significa mais crédito suficiente para mantê-la em crescimento,
pelo menos pela quantia dos juros que deva ser paga.
O resultado é uma verdadeira estrada para a escravização
através da dívida. Isto é muito mais destrutivo e
certamente mais real do que a imaginária estrada para a
servidão que Hayek e outros ideólogos anti-governo anteviam.
Enquanto estes rapazes da livre-empresa torcem as mãos e denunciam o
poder do governo, seus patrocinadores percebem muito bem que quando o governo
recua, o sector financeiro avança a fim de preencher o vácuo. Os
bancos e os administradores do dinheiro tornam-se os planeadores da sociedade e
os seus repartidores
(allocators)
de recursos no seu próprio interesse a curto prazo. Este
interesse leva-os a oporem-se a leis que protejam o trabalho, os consumidores e
os devedores. Isto significa que a "liberdade" em questão
é o favoritismo unilateral aos empregadores, monopolistas privilegiados
e credores. O que estes interesses adquiridos têm em vista com esta
"estrada para a servidão" é uma economia administrada
por outras mãos que não as suas, uma economia que protegesse os
trabalhadores, consumidores e devedores a quem eles procuram sacrificar.
Nenhum dinheiro deixado para a Segurança Social e o seguro de
saúde após a salvação de emergência do
imobiliário?
O público americano pode justificavelmente ficar confundido pelo facto
de o governo dispor de milhões de milhões de dólares para
guerras externas e salvações de emergência de banqueiros
mas tão pouco para eles. Os Estados Unidos estão a gastar uns
estimados US$3 milhões de milhões para uma guerra ilegal que nos
torna menos seguros, e US$1 milhão de milhão para resgatar
banqueiros de uma forma que está a desestabilizar a economia. Mas
não pode assegurar cuidados de saúde ou segurança de
aposentadoria para todos os americanos. Na terça-feira, 25 de
Março, logo depois de proporcionar um milhão de milhões de
dólares para assegurar o sector financeiro e imobiliário, o Sr.
Paulson ressuscitou a pretensão da administração Bush de
que não há dinheiro para pagar a Segurança Social. Mas
"consertar" a Segurança Social se na verdade houvesse
algum problema (o que de modo algum é certo) seria relativamente
fácil. Simplesmente restaurando as isenções fiscais para
os 1% de americanos do topo (aqueles que ganham mais de US$414 mil por ano) com
as altas taxas fiscais de 30% da década de 1990 (de modo algum
próximo das taxa marginal topo de 94% da década de 1940, ou mesmo
das taxas de 70% da década de 1970) proporcionaria 46% mais do que o
fosso da Segurança Social estimado pelo Gabinete de Orçamento do
Congresso. A administração não reconhece tais verdades
inconvenientes, nem tão pouco os repórteres que simplesmente
reproduzem notas de imprensa nos mass media.
A afirmação de que não há perspectiva de
financiamento para atender as obrigações do governo para com a
Segurança Social e o Medicare tornou-se brutalmente incrível na
última semana de Março, o qual assistiu ao quinto
aniversário da guerra no Iraque da administração Bush.
Quando o número de soldados americanos mortos atingiu os 4000,
notícias dos jornais relatavam os cálculos do Prémio Nobel
Joseph Stiglitiz de que o custo da guerra havia atingido os US$3 milhões
de milhões mencionados acima, levando em conta o seu legado de encargos
com juros e tratamento médico para os mais de 25 mil soldados que foram
feridos ou têm desordens pós-traumáticas e outros males
psíquicos. (O Sr. Stiglitz actualizou recentemente a sua análise,
dizendo que os US$3 milhões de milhões é um número
conservador).
Cinco anos, quatro milhares de vidas e três milhões de
milhões de dólares para a guerra mas não há
dinheiro para a Segurança Social e o Medicare! Será que o Sr.
Paulson não se sentiu um bocadinho desconfortável ao afirmar, com
aparência de urgência, que o financiamento para a Segurança
Social estaria exaurido em apenas pouco mais de trinta anos, em 2041? O
Medicare é suposto estar em situação ainda pior, tendo
acumulado bastante salários postos de lado para sobreviver apenas
até 2010, devido em grande medida à ascensão nos custos de
saúde os quais a administração Bush recusou-se a
controlar através da negociação de preços com
companhias de medicamentos, entre outras.
A estrada histórica para a servidão é aquela da
escravização pela dívida a uma oligarquia financeira que
concentra a riqueza nas suas mãos. O "libertarianismo"
anti-governo contemporâneo cria um vácuo e o sector financeiro
move-se para preenche-lo. O problema para a sociedade em geral é que as
finanças descobriram que os seus maiores ganhos residem não em
elevar padrões de vida, mas em promover um almoço gratuito para
os seus clientes enquanto transformam lucros corporativos,
monopólios rentistas e ganhos de preços no imobiliário num
fluxo de juros para si próprio, ao avançar o crédito para
financiar a compra destes activos e privilégios.
Só existe um caminho para reverter esta evolução rumo
à escravização pela dívida. Este é
desescalar as hipotecas existentes, especialmente para propriedades com saldo
líquido negativo, a fim de reflectir o afundamento actual nos valores da
propriedade sob condições reconhecidamente penosas, mas
apesar de tudo constrangimentos reais sobre a capacidade de o devedor pagar.
Uma vez que o principal for reduzido a níveis realistas, hipotecas com
taxas ajustáveis seriam substituídas por hipotecas com taxas
fixas.
O problema com esta solução é que para as
instituições financeiras a crise habitacional não é
o seu problema. A sua atitude de culpar-a-vítima sustenta ser a
hipoteca um problema dos proprietários e agora cada vez mais um
problema dos contribuintes. Esta perspectiva de como resolver a crise
habitacional só pode ter êxito através da
criação de uma retórica populista para que
responsáveis públicos a utilizem ao promover interesses
financeiros, apresentando-a como se tudo isto fosse no melhor interesse dos
proprietários de casas e outros devedores.
14/Abril/2008
Artigos de Michael Hudson em português:
Super-capitalismo, super-imperialismo e imperialismo monetário
Greenspan, o grande inflacionador de activos
A pirâmide dos US$ 4,7 milhões de milhões: a Segurança Social dos EUA & a Wall Street
Irá a Europa sofrer da síndroma suíça?
Um grande especialista revela segredos dos centros bancários offshore
Salvar a economia, desmantelar o império
[*]
Ex-economista da Wall Street especializado em balança de pagamentos e
imobiliário no Chase Manhattan Bank (agora JPMorgan Chase & Co.), Arthur
Anderson, e posteriormente no Hudson Institute. Em 1990 ajudou a estabelecer o
primeiro fundo de dívida soberana para a Scudder Stevens & Clark. Foi
Conselheiro Económico Chefe de Dennis Kucinich na recente campanha
presidencial primária dos Democratas. Também aconselhou os
governos dos EUA, Canadá, México e Letónia, bem como o
United Nations Institute for Training and Research (UNITAR). Actualmente
é Professor Investigador na Universidade de Missouri Kansas City
(UMKC). Autor de vários livros, inclusive
Super Imperialism: The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance
. Email:
mh@michael-hudson.com
O original encontra-se em
http://www.counterpunch.org/hudson04142008.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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