As novas sanções à Coreia do Norte

– ONU continua a reboque do governo estado-unidense
– Tal como no Iraque, sanções condenam um povo inteiro à inanição
– China e Rússia coniventes na resolução assassina

por Peter Koenig [*]

A República Democrática e Popular da Coreia (RDPC) está a ser coagida à submissão, se não mesmo à fome, pelo Conselho de Segurança da ONU. A votação foi de 15 a 0, ou seja, unânime. Nenhum dos 15 estados do CSONU, muito menos os cinco membros permanentes, teve tomates para dizer não a uma resolução assassina, redigida e proposta pelos Estados Unidos da América, uma nação cujo nome equivale cada vez mais à canalhice internacional e ao crime.

O New York Times informou em 22/Dezembro/2017: "O presidente Trump acaba de utilizar praticamente todas as alavancas possíveis, excepto esfaimar até à morte o povo da Coreia do Norte, para mudar o seu comportamento". O conselheiro de segurança interna da Casa Branca, Thomas P. Bossert, disse quinta-feira: "E assim, nós não temos muito espaço restante para aplicar pressão a fim de mudar o seu comportamento".

Duas perguntas imediatas vêm à mente: primeiro, quem é Trump para chantagear o CSONU levando-o a punir nações que não se inclinam à vontade imperial? Sim, chantagem, porque é exactamente isso que de modo categórico faz parte do comportamento internacional do canalha chefe. Um bom exemplo é a recente Resolução da ONU de anular a decisão unilateral de Trump de declarar Jerusalém como capital de Israel, quando ele, o Donald, ameaçava vigiar de perto quem votasse contra os EUA, tendo em vista punir tais nações monetariamente ou através de outras sanções. Em segundo lugar, como é que a Rússia e a China continuam a apoiar este programa de sanções literalmente genocida contido nesta resolução do CSONU?

Tanto a Rússia como a China sabem que os argumentos de Washington contra a RDPC são baseados numa teia de mentiras. Sabem que tudo o que vem de Washington é uma mentira, ou inverdade, ou omissão de factos – o que é bem conhecida em todo o mundo. Mas este caso, em que duas super-potências em ascensão, a Rússia e a China, têm o direito de vetar e dizer NÃO a estas sanções ilegais, clama por uma resposta à pergunta: por que não utilizaram o seu veto?

Mais ainda: uma vez que tanto a Rússia como a China são também "sancionadas" por Washington por mau "comportamento" e porque ambas são aliados naturais da Coreia do Norte, por que acompanharam a chantagem de Washington? Um veto poderia ter enviado uma mensagem clara para os afrontosos Nikki Haleys e Donalds Trumps deste mundo, de que não há mais medo do diabo e de que as placas do poder estão claramente a afastar-se de Washington.

Será que foi por medo de que ensandecido pudesse possivelmente premir o botão vermelho, se provocado? Votar com o ensandecido certamente não é razão para acreditar que o Mad Man não premirá o botão nuclear. Então, que espécie de diplomacia é esta? O medo de mais sanções contra a Rússia e a China? Isto seria absolutamente ridículo, pois ambos os países, fundadores da Organização de Cooperação de Shangai (OCS), estão quase totalmente destacados da economia ocidental do dólar e estão a caminhar para uma nova economia que já abrange cerca da metade da população mundial e um terço do produto económico global. Portanto, eles podem funcionam de modo totalmente independente do ocidente.

Então, por que?

Talvez porque eles, Rússia e China, queiram mostrar ao mundo que não importando como votem, farão o que considerarem correcto, neste caso não aderindo à sanção, pois não deixarão o povo da Coreia do Norte, seus amigos e aliados, sufocarem até à morte. Isto diria àquelas nações que ainda não ousam contradizer os EUA: "Não tenham medo, estamos do seu lado".

Um mês atrás a Reuters informou que de acordo com um representante norte coreano na ONU em Genebra, aqueles que mais sofrem com as sanções são mulheres e criança. Isto é quase sempre o caso com "sanções". No Iraque, por exemplo, sob o programa de sanções de Clinton, segundo um relatório da ONU de 1995 "576 mil crianças iraquianas podem ter morrido desde o fim da guerra do Golfo Pérsico devido a sanções económica impostas pelo Conselho de Segurança, de acordo com dois cientistas que inspeccionaram o país para a Food and Agriculture Organization". Além disso, o estudo descobriu "aumento abrupto de desnutrição entre os jovens, sugerindo que mais crianças estarão em risco nos próximos anos". Na verdade, aproximadamente um milhão de iraquianos morreram em consequência de uma década do esquema de sanções da ONU imposto pelos EUA.

Será que mundo permitirá números semelhantes – ou mais altos – de pessoas a morrerem na Coreia do Norte, só porque a RDPC optou por defender-se contra a auto-proclamada nação excepcional que durante mais de 60 anos se recusou a assinar um acordo de paz e, ao invés, ameaçou constantemente a Coreia do Norte com muito poderosos jogos de guerra militares na Península Coreana?

A Coreia do Norte não prejudicou qualquer outro país. A Coreia do Norte teve a coragem e a força para reconstruir desde 1953 uma nação socialista em isolamento quase total a partir de um país devastado pelos EUA com perdas que vão desde um terço da população até cerca de 3 milhões de pessoas. Será que alguém se pode admirar de a Coreia do Norte ter optado por defender-se – aconteça o que acontecer?

E será que alguém percebe, incluindo os 15 países do CSONU que condenaram a RDPC à fome, que a Coreia do Norte tem declarado numerosas vezes que ela quer nada mais do que a Paz, que está desejosa de assinar um programa de desarmamento de armas nucleares juntamente com todas as outras potências nucleares – e que está pronta a negociar, desde que Washington cesse suas fortes manobras militares e sobrevoos territoriais de caças?

Por que a Coreia do Norte, ou qualquer outra nação, não tem os mesmos direitos dos EUA, Reino Unido, Rússia, China, França, Israel, Índia, Paquistão e os membros da NATO que partilham armas nucleares, como a Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia – todos os quais adquiriram armas atómicas alegadamente por "razões de defesa"?

24/Dezembro/2017

Ver também:
  • Declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros da RDPC acerca do novo relatório sobre a estratégia de segurança nacional dos EUA

    [*] Economista e analista geopolítico.

    O original encontra-se em http://thesaker.is/north-korea-unscs-15-0-choking-a-country-into-submission/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • 26/Dez/17