por Miguel Urbano Rodrigues
Em visita de inspecção imperial a Bogotá , o general Colin
Powell revelou que o presidente George W. Bush tem aludido à
existência de uma «empatia filosófica» entre ele e
Uribe Vélez, o seu colega colombiano.
Não foi feliz o secretário de Estado dos EUA. Percebe-se o
sentimento do senhor da Casa Branca. Mas é improbabilissimo que Bush
esteja sequer em condições de explicar o que significa para ele
a palavra filosofia.
Na realidade aquilo que em Uribe fascina o presidente norte-americano é
o seu pendor fascista. A empatia brota do pressentimento de que o colega
é uma alma gémea.
Colin Powell foi, como se esperava, festivamente recebido pelo mundo oficial
colombiano. Mas não ha indícios de que a
inspecção o tenha tranquilizado.
O discurso presidencial da guerra total contra a insurreição
que, na pratica da vida, implica uma guerra contra o povo da Colombia,
não está a atingir os objectivos mínimos. O
balanço dos últimos combates entre as FARC-EP e o Exercito
é prova disso, evidenciando um aumento da capacidade combativa da
guerrilha no âmbito de uma estratégia em que a mobilidade e o
factor surpresa desconcertam o alto comando das Forças Armadas.
Não lhe sendo possível apresentar êxitos militares, o
Governo optou por uma operação política de grande
envergadura, patrocinada por Washington.
Na aparência tudo começou com o anuncio de uma trégua
unilateral declarada pelos grupos paramilitares. As Auto Defesas Unidas da
Colombia -- AUC (nome oficial dos paramilitares) tornaram publico o seu desejo
de «reintegração» na sociedade civil.
As regras do jogo haviam sido estabelecidas previamente. O governo reagiu com
satisfação. Logo se dispôs a receber de braços
abertos esses filhos transviados, dispostos a depor as armas.
A farsa teve antecedentes. O primeiro acto abriu ha meses com a oferta de
Carlos Castaño o fundador e chefe das AUC de se entregar
à Justiça dos EUA para responder ali às
acusações de narcotraficante. Esse gesto foi acompanhado, porem,
de uma condiçao. Somente se entregaria se Washington exigisse a
extradição dos principais comandantes das FARC.
Bush como se sabe logo deu instruções ao Procurador
de Justiça, Ashrof, para que este sem perda de tempo, reclamasse de
Bogotá a extradição dos comandantes Marulanda, Raul Reyes,
Jorge Briceño e outros cujas cabeças já haviam sido postas
a prémio.
A palhaçada não produziu o impacto esperado.
Castaño achou preferível permanecer no pais e negociar
então com o Governo a chamada reintegração dos seus
bandos.
O significado da farsa é. entretanto, importante.
Porquê?
Porque a garantia da impunidade a milhares de homens responsáveis por
uma longa cadeia de crimes equivale a uma confissão publica da
evidencia que sucessivos governos negaram. A
«reintegração» força Uribe a reconhecer o obvio,
ou seja que o paramilitarismo nasceu como parte da política de Estado
que o criou nos quartéis como braço do Exercito para desempenhar
as tarefas mais sujas, em que este não queria envolver-se para preservar
a imagem.
Monstruosos crimes, comprovados pelas Nações Unidas, foram
cometidos nas últimas décadas pelos bandos de Castaño e
Salvatore Mancuso e as suas proezas sanguinárias, estimuladas pelo Alto
Comando das Forças Armadas, eram justificadas por senadores e deputados
liberais e conservadores.
Que significa a reintegração?
Essa escoria humana será, na sua quase totalidade, integrada nas
policias, nas milícias de 'soldados camponeses' e na
organização dos «sapos» (o corpo de um milhão de
bufos criado por Uribe Vélez).
Agora, as comadres vão entender-se uma vez mais. Tudo acabará
em abraços, com Castaño saudado como herói em festas
publicas e privadas.
O ROSTO DA INTERVENÇÃO
A presença militar dos EUA é cada vez mais ostensiva. O
número de assessores estadunidenses no Exército e na
Força Aérea atinge já, segundo informações
oficiosas, mais de um milhar. Mas algumas centenas de oficiais que desempenham
funções de conselheiros especiais, não se apresentam
uniformizados, o que dificulta a avaliação do numero de militares
norte-americanos. As FARC têm, aliás, denunciado repetidamente a
participação de pilotos militares dos EUA em ataques realizados
pela Força Aérea Colombiana.
Colin Powell foi categórico: a ajuda militar, no âmbito do Plano
Colombia, será ampliada. A financeira também. O governo Bush
pretende intensificar a luta contra as FARC e o ELN. Com esse objectivo Uribe
receberá mais dinheiro e mais armas. No Pentágono acredita-se
que a insurreição armada pode ser esmagada. E não
está claro quais serão os limites da intervenção
norte-americana.
Os factos desmentem esse optimismo.
As FARC-EP infligiram recentemente pesadas perdas ao Exército num
confronto no Casanare e os paramilitares, em vésperas da proclamada
trégua, sofreram um duro castigo em Esmeraldas.
Incapaz de derrotar as guerrilhas, o governo desencadeia nas grandes cidades
uma repressão brutal contra os moradores de bairros acusados de
simpatia pelas FARC. Mas também aí as coisas não lhe saem
bem. A tenaz resistência da Comuna 13 em Medellin ficará a
recordar que nas megalopolis colombianas sectores cada vez mais amplos da
população recusam submeter-se à política de
terrorismo de Estado de Uribe.
O assalto à Universidade Nacional da Colombia, em Bogotá, foi
outra operação de terror policial inserida na escalada
repressiva. A fascizaçao do regime torna-se transparente.
Mas o povo resiste. A gigantesca mobilizaçao dos camponeses no final de
Setembro para protestar contra a politica do governo evidenciou a profundidade
do descontentamento das massas rurais.
DESTRUIÇÃO DO AMBIENTE NA AMAZÓNIA
Na Amazónia colombiana, sobretudo no Departamento do Putumayo, a
agressão contra o ambiente assume proporções alarmantes.
Cedendo às pressões de Washington, o governo de Uribe ampliou
as fumigações com glifofosfato (também chamado glifosato),
um herbicida cujo uso esta
proibido nos EUA. Nos últimos meses foram envenenados mais 43 mil
hectares de terras férteis e as águas de numerosos rios da bacia
amazónica.
Essa tragédia ecológica é executada por uma frota de 17
avionetas colombianas sob a supervisão de dezenas de
helicópteros militares norte-americanos.
Poderia concluir-se que a produção de cocaína e heroina
diminuiu no país. Mas seria uma conclusão falsa. A engrenagem
mafiosa não tem sido golpeada. O narcotráfico atravessa na
Colômbia uma fase de auge.
A PERSEGUIÇÃO ÀS FARC
A inclusão das FARC-EP na lista das organizações
terroristas elaborada pelo governo dos EUA criou grandes dificuldades ao
trabalho político que a organização revolucionaria vinha
desenvolvendo fora do pais. As delegações que mantinha em
algumas capitais da Europa e da América Latina foram fechadas e os
representantes da guerrilha expulsos. Actualmente são caçados
pela Interpol como terroristas.
A solidariedade com a luta dos companheiros de Manuel Marulanda essa, longe
de ser afectada pelas perseguições de que são alvo, cresce
e manifesta-se calorosamente em conferencias e encontros internacionais,
como ocorreu no Fórum Social de Florença, na Conferencia de Paris
comemorativa do 85 aniversario da Revoluçao de Outubro de 17, no
Encontro Anti-Alca de Havana, no Congresso da Organização
Continental dos Estudantes da América Latina em Guadalajara, etc.
Essa solidariedade fraterna brota da consciência de que o combate das
FARC-EP não deve ser dissociado da luta que as forças
progressistas travam contra a globalização capitalista, contra o
projecto de nova ordem mundial que o novo imperialismo planetário
estadunidense tenta impor à humanidade.
Mais informações acerca do crime ecológico que o governo dos EUA está a
praticar na Bacia Amazónica através das fumigações em
http://www.usfumigation.org/
e em
http://www.witnessforpeace.org/colombia/photos.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info