Risco de ação multilateral na Colômbia


por Max Altman [*]

Uma moção aprovada pelos países representados pelos seus presidentes e mandatários ao cabo da Cúpula do Grupo do Rio de Cuzco, Peru, com relação à situação da Colômbia pode representar um grave perigo potencial para a região. O texto da moção diz a certa altura "que fosse pedido às Nações Unidas conclamar os guerrilheiros das FARC a um diálogo aberto e transparente com o governo colombiano para se chegar a um acordo de paz". Até aí uma solicitação equilibrada e correta. Porém é o apêndice que encerra o perigo: "Se, dentro de um prazo pré-estabelecido, esta possibilidade fracassar, que o Grupo do Rio, junto com a ONU e em coordenação com o governo colombiano, busque outra solução".

Em entrevista ao jornal El Comercio de Lima, o presidente colombiano Álvaro Uribe, que optou pela solução militar para tentar esmagar a guerrilha e o narcotráfico, declarou taxativamente: "A América Latina fez desta vez uma exceção, porque não se referiu ao problema de maneira oblíqua, retórica ou bizantina; referiu-se a ele de maneira concreta porquanto disseram à guerrilha: ‘Sentem-se com as Nações Unidas, dialoguem com o governo da Colômbia para conseguir um acordo de paz.’ Se isto tiver êxito, aplausos, caso contrário, que o Grupo do Rio e a ONU, em coordenação com o governo da Colômbia, busquem outra alternativa".

Por outro lado, Nina Pecari, ministra de Relações Exteriores do Equador, em entrevista ao O Peruano, recordou que o conteúdo do documento foi trabalhado com vários meses de antecedência. Pecari destacou que a proposta do presidente do Equador, Lúcio Gutierrez, para que as Nações Unidas intermediem o conflito colombiano é "um tema sumamente importante". Recorde-se que Lúcio Gutierrez visitou o Departamento de Estado em fevereiro passado, quando foi recebido pelo Secretário de Estado, Colin Powell e pelo Chefe do Comando Sul do exército americano, James Hill, que habitualmente se instala em seu gabinete na única base militar americana no continente sul-americano, situada em Manta, território equatoriano. Em seguida, esteve em Nova York e pediu ao secretário-geral da organização, Kofi Annan, que a ONU tivesse um papel mais ativo em relação à Colômbia e as FARC. "Nesta linha avança a resolução proposta pelo presidente Gutierrez e subscrita pelos presidentes do Grupo do Rio".

Convém ressaltar de passagem que a base de governabilidade de Lúcio Gutierrez, passados apenas quatro meses de sua posse, está erodindo a olhos vistos. Há crescentes protestos de rua dos movimentos sociais, como o dos professores e os empregados da saúde, dos plantadores de banana, com amplos setores do movimento indígena, pela fracassada iniciativa de querer mediar o conflito colombiano, pela servil carta de intenção assinada com o FMI e por seu apoio à crescente intervenção militar estadunidense no Equador, por meio da base de Manta e uma possível futura base nas Ilhas Galápagos, bem como o desgaste com os militares patriotas que com ele estiveram na rebelião frustrada de 21 de janeiro de 2000.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, revelou detalhes da apresentação da proposta equatoriana em seu programa radiofônico "Alô Presidente" neste 1° de junho. Informou que os jornalistas internacionais e os peruanos não tiveram acesso à sala de reunião onde os assistentes dos mandatários discutiam a proposta, o que poderia dar margem a interpretações errôneas. Narrou que seu homólogo do Equador, Lúcio Gutierrez, propôs "pedir às Nações Unidas que estabeleça um prazo para que a guerrilha colombiana firme um acordo de paz(...)" porém se concluído tal lapso de tempo e não tiverem ocorrido resultados práticos desse convênio de paz com o governo da Colômbia, então a ONU e o Grupo do Rio "buscarão outras opções". Insistiu em perguntar quais são essas alternativas, contudo as respostas foram confusas. 

Em decorrência disso manifestou abertamente que "se aqui se está pensando numa intervenção militar multinacional latino-americana contra Colômbia ou na Colômbia, que se declare com absoluta clareza". Alguns responderam afirmativamente e a verdade veio à tona. Tinha procedência a pergunta do presidente venezuelano para se descobrir que por detrás da proposta se está pensando, nada mais nada menos, na possibilidade de se organizar uma força militar. Trata-se de internacionalizar um conflito que é só da Colômbia, fato absolutamente inédito na história deste continente.

Conflitos e guerrilhas sempre ocorreu em países do nosso hemisfério e todos eles foram resolvidos, de uma forma ou outra, dentro dos limites nacionais, ainda quando a intervenção externa, geralmente a norte-americana, tenha feito a balança pender, à custa de muitas vítimas pessoais, para o lado de seus interesses.

Cumpre agora evitar que o conflito colombiano se estenda para outras fronteiras. Os países vizinhos podem bem agir como facilitadores, mas em hipótese alguma permitir que a internacionalização do conflito traga o confronto para dentro de suas fronteiras, especialmente se também nesse caso acabar prevalecendo a "guerra preventiva" contra o terrorismo e o narcotráfico, posta em prática pelo governo Bush.

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[*] Jornalista

O original encontra-se em
http://
www.vermelho.org.br/diario/2003/0605/0605_colombia-altman.asp


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

12/Jun/03