Bogotá, D.C., 2 de Abril de 2004
Senhor Doutor
Álvaro Uribe Vélez
Presidente da República da Colômbia
Casa de Nariño
Cidade
Senhor Presidente:
Na noite de primeiro de Abril do corrente ano foi assassinado por
sicários, em Cúcuta, o conhecido dirigente do Partido Comunista
Carlos Bernal, membro do seu Comité Central, pessoa destacada nos meios
democráticos de esquerda no Norte de Santander. Havia sido Comissionado
de Paz da Governação do seu departamento e da Alcaldia de
Cúcuta. Actualmente trabalhava como docente das Universidades Livre e
Simón Bolivar.
Carlos Bernal estava seriamente ameaçado de morte pelos grupos
paramilitares que se assenhoraram dessa capital. Encontrava-se sob o convenio
de protecção cautelar ordenado pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e pela Chancelaria colombiana para a
União Patriótica e o Partido Comunista.
A morte de Carlos Bernal é a demonstração do fracasso da
sua política de segurança democrática. O terrorismo
paramilitar, orientado contra os sectores populares, continua a assolar a vida
nacional. Em vão reclamámos junto ao Ministério do
Interior que se tomassem medidas para desactivar as montagens criminosas do
paramilitarismo, que conta com o evidente amparo da impunidade.
Este crime, como outros ocorridos na cidade de Cúcuta, indicam que os
anúncios oficiais de segurança e garantias não existem.
No último ano foram sequestrados e a seguir assassinado os estudantes
Edwin López e Gerson Gallardo, da Universidade Francisco de Paula
Santander, os dirigentes Ramón Aníbal Díaz e Luis Humberto
Rolón; Tirso Vélez, ex-alcaide de Tibú e
pré-candidato à governação do departamento;
Zaratiel Martínez, dirigente comunal. Tentou-se sequestrar o advogado
Jaime Gómez, o qual a seguir teve de deslocar-se; foi sequestrado o
engenheiro Victor Hugo Galvis; dezenas de estudantes e líderes sociais
foram obrigados pelo paramilitarismo a procurar refúgio em outras
regiões do país.
Enquanto o senhor negocia com os paramilitares e impulsiona um projecto de lei
que lhes reduz as penas e eterniza a impunidade para com os seus crimes, essas
mesmas organizações continuam a exercer a sua actividade. As
medidas tão anunciadas por sua administração são
totalmente inúteis na hora de proteger a vida dos opositores
políticos.
Dezenas de dirigentes da esquerda, do sindicalismo, defensores dos direitos
humanos, estão ameaçados. Enquanto se produzem
detenções maciças, em que se desconhece o devido processo,
cometem-se atropelos contra pessoas inocentes, fuzila-se sem qualquer
julgamento nas retenções militares, o movimento popular tem a
certeza de que o que está a crescer é a insegurança, ao do
Estatuto Anti-terrorista que o seu governo conjuga com a simpatia manifesta
para com os paramilitares.
O crime contra Carlos Bernal é indicação clara de que o
terrorismo de Estado intensifica-se sob o seu governo. O senhor tem o dever de
actuar consequentemente com aquilo que proclama, para dar garantias a todos os
colombianos e colombianas sem excepções.
Atentamente,
Jaime Caycedo Turriago
Secretário-geral do Partido Comunista Colombiano
pacocol@etb.net.co
Notícia da ANNCOL
Carlos Bernal, advogado e dirigente sindical colombiano, assassinado por
sicários
O Comité Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos denuncia o
assassinato do advogado e líder social
Carlos Bernal
, na quinta-feira 1 de Abril, às 19h30. No momento do crime a
vítima comprava alimentos num estabelecimento sito no bairro Prado Norte
da cidade de Cúcuta. O seu guarda-costas pessoal,
Camilo Jiménez
, ficou gravemente ferido e faleceu horas mais tarde.
Carlos Bernal era membro do Comité Central do Partido Comunista
Colombiano e dirigente político conhecido de Cúcuta, dirigente da
Juventude Comunista e acompanhou como negociador as marchas camponesas de
Catatumbo. Fora Comissionado de Paz da Governação do Norte de
Santander e da Alcaidia de Cúcuta. Era, além disso,
catedrático das Universidades Livre e Simón Bolivar e
secretário da Frente Social e Política.
Em Fevereiro último Carlos Bernal, junto com personalidades locais,
líderes sindicais e populares, promovera a convocatória para a
constituição da Seccional do Comité Permanente na cidade
de Cúcuta, evento que foi realizado na governação com o
comparecimento do próprio secretário de Governo Departamental.
Bernal considerava que a Seccional era uma necessidade dada a grave
deterioração dos direitos humanos no departamento, mais
especialmente na cidade de Cúcuta e na sua área metropolitana,
território que se converteu num dos mais caracterizados centros
paramilitares do país, em meio à mais aberrante
indiferença e cumplicidade das autoridades.
Este crime foi cometido no momento que, em Bogotá, se comemoravam os 25
anos de fundação do Comité Permanente.
O governo do presidente Uribe conhece muito bem a situação de
Cúcuta, mas nada faz. Ali chegaram centenas de deslocados de outras
províncias do Departamento, zonas em que se apresentam ameaças,
torturas, assassinatos e outros que tiveram de deslocar-se novamente para
outras regiões do país. Mesmo assim o governo do presidente
Uribe continua a sua chamada "negociação" com o
paramilitarismo.
No ano passado foram sequestrado e a seguir assassinados os estudantes Edwin
López e Gerson Leal, da Universidade Francisco de Paula Santander; e,
na ofensiva contra o Partido Comunista, assassinado o dirigente Luís
Humberto Rolón, tentou-se sequestrar o advogado e catedrático
universitári Jaime Gómez, o qual a seguir teve de deslocar-se.
Também o engenheiro Victor Hugo Galvis foi sequestrado; dezenas de
estudantes e líderes sociais foram obrigados pelo paramilitarismo a sair
do Norte de Santander para outras regiões do país.
Quantos crimes mais necessita o governo para actuar? Até quando a
indiferença e a impunidade?
Bogotá, 1 de Abril de 2004
O original encontra-se em http://www.anncol.org/side/398
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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