O outro escândalo energético da Harken

Petróleo, esquadrões da morte
e corrupção na Colômbia

por Sean Donahue [*]

As irregularidades financeiras da Harken Energy, no período em que o Presidente Bush esteve naquela companhia petroleira do Texas, dominaram as manchetes nos últimos dias. Contudo, a imprensa ignorou um escândalo muito maior: como a Harken Energy beneficiou-se com a guerra e o terror na Colômbia.

George W. Bush foi trabalhar na Harken Energy em 1986 quando a companhia comprou a Spectrum 7, uma companhia que anteriormente havia comprado a companhia petroleira Arbusto, a fracassada empresa de Bush. A Harken deu a Bush 2 milhões de dólares em opções, um posto de consultor a 122 mil dólares por ano, e um lugar no seu Conselho de Directores.

Enquanto Bush trabalhava para a Harken, Rodrigo Villamizar, um velho amigo que Bush havia conhecido numa festa de uma associação estudantil em 1972, tornou-se director do Gabinete de Minas e Minerais da Colômbia, o organismo que supervisiona a venda de concessões petroleiras pela empresa estatal ECOPETROL. Segundo um relato de Dezembro de 2001 em Counterpunch, nos anos 70 Bush havia ajudado Villamizar conseguindo-lhe primeiro um posto de trabalho no Comité de Desenvolvimento Económico do Senado do estado do Texas e, depois, um lugar na Comissão de Serviços Públicos do estado. No fim do período de Bush na Harken, Villamizar pagou-lhe o favor concedendo à Harken uma série de contratos petroleiros na Colômbia.

Rede de oleodutos e gasodutos A maior parte destes contratos petroleiros eram no Vale da Magdalena, onde responsáveis militares, traficantes de drogas e pecuaristas haviam-se juntado para formar grupos paramilitares de direita que combatiam as guerrilhas, assassinavam dirigentes sindicais e activistas dos direitos humanos, e aterrorizavam os camponeses a fim de obrigá-los a abandonar as terras que cobiçavam. A maior parte das companhias petroleiras que operavam na região aceitavam tacitamente, ou procuravam activamente, a protecção desses esquadrões da morte. Um relatório de 1996 do Human Rights Watch documenta o facto de que os militares colombianos armavam e apoiavam estes grupos e que, sob a orientação da CIA, integravam-nos em suas redes de inteligência. A estreita cooperação entre os militares e os paramilitares continua na actualidade — e tende a ser mais descarada nas áreas onde há muitas produção de petróleo. O Departamento de Estado colocou os paramilitares na lista das organizações terroristas, mas olhou para o outro lado quando o exército colombiano "financiado pelos EUA" continua a apoiar-se neles para que façam o seu trabalho sujo na sua guerra contra os dissidentes. A Harken ainda continua activa na Vale Magdalena, graças em parte ao financiamento da International Finance Corporation do Banco Mundial, e os paramilitares continuam a aterrorizar todos os que ameacem os interesses empresariais na região.

Ninguém pretende que o Presidente Bush tenha ordenado pessoalmente aos paramilitares que matassem camponeses e intimidassem dirigentes sindicais para melhorar os resultados da Harken. Mas, ao mesmo tempo, considerando seus laços estreitos com Villamizar, e o facto de que o seu pai era Presidente nessa época, é altamente improvável que Bush ignorasse os aspectos de direitos humanos relativos às explorações petroleiras na Colômbia.

Tudo isto tem uma relevância muito imediata na actualidade porque Villamizar, que abandonou a Colômbia a fim de escapar a acusações por corrupção, e que agora é um fugitivo da justiça, elaborou a política colombiana para a campanha de Bush no ano 2000, e continua a manter estreitas relações com o Presidente. Counterpunch informou que Villamizar, que deveria estar a cumprir sua condenação de quatro anos numa prisão colombiana, foi a primeira escolha de Bush para o posto de Secretário Adjunto de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, mas recusou a nomeação.

As recomendações de Villamizar para a expansão da ajuda militar dos EUA à Colômbia foram amplamente aceitas pela administração Bush, e um novo Presidente na Colômbia, com ligações com os esquadrões da morte, inclina-se a utilizar mais ajuda dos EUA a fim de escalar dramaticamente a guerra civil que dura há 40 anos contra as guerrilhas de esquerda. Centenas de conselheiros militares dos EUA encontram-se actualmente sobre o terreno na Colômbia. Oficialmente não participam nos combates, mas é provável que isto mude quando as guerrilhas começarem a tratar os conselheiros como objectivos militares. A velha doutrina de Colin Powell, de assegurar que os EUA tenham objectivos militares claros e uma estratégia que assegure uma saída estratégica viável antes de envolver-se numa guerra, parece ter sido totalmente esquecida.

A pedra angular do novo pacote de ajuda militar de Bush é um subsídio de 98 milhões de dólares destinado a ajudar o governo colombiano a estabelecer um novo batalhão da Brigada 18 do seu exército a fim de proteger um oleoduto contra ataques das guerrilhas. A Brigada 19 tem um longa história de laços com os paramilitares, e a sua própria história de ataques contra civis — no princípio deste ano os soldados mataram um adolescente por caminhar demasiado próximo do oleoduto. Ironicamente, o primeiro beneficiário deste programa será a Occidental Petroleum, a companhia que ajudou a que a família Gore fizesse a sua fortuna. Mas a embaixadora dos EUA, Anne Patterson, disse que a longo prazo o Pentágono está a considerar programas semelhantes para outros activos económicos cruciais na Colômbia. Estes provavelmente incluiriam oleodutos mantidos pela subsidiária da Harken, Global Energy Development, um gasoduto operado pela Enron, e projectos que envolvem a antiga companhia de Dick Cheney, Haliburton, bem como activos de propriedade da Texaco, Exxon-Mobil e BP, ou por elas utilizados.

Os conflitos de interesse da administração Bush na Colômbia devem ser investigados, denunciados e examinados exaustivamente, antes de os EUA serem arrastados ainda mais profundamente para dentro da sangrenta guerra colombiana.
12/Julho/2002


_______________________
[*] Sean Donahue, co-director da New Hampshire Peace Action, tem escrito e falado frequentemente acerca da política dos EUA em relação à Colômbia. Seu email é: wrldhealer@yahoo.com .


O original deste artigo encontra-se em
http://www.counterpunch.org/donahue0712.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

15/Jul/02