A histeria do aquecimentismo global
Ciência por intimidação
por Rex Murphy
A verdade pode chegar ao mundo por muitas vias, mas ela nunca vem acompanhada
pela força. Pensava que fosse uma lição aprendida
há muito, a principiar pelos próprios cientistas. Os
cientistas reais aprenderam-na de facto. Contudo, emergiu uma nova
amálgama, a do cientista-activista, e neste espécime a
lição é ignorada.
Na alvorada do Iluminismo, cientistas foram levados a tribunais e
inquisições. Galileu é o grande exemplo, o pioneiro
empírico que rejeitou o antigo modelo do universo (então
conhecido) tendo a Terra como centro, e pelos seus esforços despertou a
atenção e a ira inquisitorial.
Fui atraído a estes pensamentos, e ao exemplo da
Inquisição, por uma curiosa explosão esta semana de James
Hansen, o principal porta-voz da NASA sobre o assunto do aquecimento global, um
homem que desempenhou o papel de S. João Batista nos ensinamentos
messiânicos de Al Gore sobre o assunto. O dr. Hansen é geralmente
considerado o homem que "tocou o alarme" quanto ao aquecimento global
provocado pelo homem, e ele tem sido um proponente persistente, altamente
publicitado e muito agressivo desta causa desde há duas décadas.
O dr. Hansen não trata gentilmente aqueles que contestam os seus
cenários apocalípticos. Escolhi esta palavra,
apocalíptico, deliberadamente. Segundo o dr. Hansen, a espécie
humana pode ter atingido o ponto de viragem com o aquecimento global. Se este
for o caso, calamidades e catástrofes em vasta escala são
inevitáveis. E se tivéssemos atingido o ponto de crise absoluta,
haveria um minúsculo intervalo [de tempo] para as espécies
humanas actuarem e prevenirem o pior. Segundo o dr. Hansen, o que ainda resta
por ser enfrentado na verdade ainda é horrível.
Nem todo o mundo partilha a visão do dr. Hansen de um iminente
Armagedão ecológico. Mentes sérias, sem interesses no
assunto, lançam advertências a todo momento. Elas questionam os
modelos de especulação climatológica; questionam a
peculiar mistura de fontes antropogénicas e outras prováveis
fontes na dinâmica do clima; questionam alguns dos dados reunidos e
algumas das suas interpretações; e questionam a própria
maturidade da altamente complexa, e experimentalmente deficiente, ciência
do aquecimento global em si mesmo.
Elas questionam também a receitas maciças de politica que
estão a ser exigidas como resposta necessária às
determinações científicas do aquecimento global produzido
pelo homem. Há muitíssimo espaço para opiniões
diferentes e honestas sobre questões tão amplas e complexas,
questões na terrivelmente complicada intersecção da
ciência, política e economia.
Mas, para a mente agitada do dr. Hansen, aquele que levanta tais
questões, os que injectam cepticismo no debate do aquecimento global
são "negacionistas". A palavra aqui está a tornar-se
lugar comum, mas ela permanece como uma calúnia estranha. Um punhado de
crentes no aquecimento global gosta de arremessar todos os que argumentam com
eles para a categoria do polémico, sendo polémicos todos os que
discordam da opinião ortodoxa sobre o aquecimento global como o
equivalente à negação do Holocausto. Trata-se de uma
táctica sem vergonha e viciosa, e dificilmente de acordo com a nobreza
que se supõe guiar a consciência daqueles que salvam o planeta. O
dr. Hansen é excessivamente afeiçoado a analogias especiosas e
assustadoras: Eles escreveu sobre "glaciares a desaparecer que funcionam
como uma
Kristal Nacht
" e, embora posteriormente se haja arrependido da
metáfora, comparou comboios de carvão a "comboios da morte
tão pavorosos quanto vagões a caminho do
crematório, carregados com incontáveis espécies
insubstituíveis". Esta semana, o dr. Hansen deu um passo em frente
ainda mais nocivo.
Ele clamou por um tribunal, ou como prefiro denominá-lo, por uma
Inquisição, a fim de julgar por crimes contra a natureza e a
humanidade os presidentes das grandes companhias de petróleo os quais,
de acordo com frenética visão das coisas do dr. Hansen, alimentam
a "desinformação" pública acerca da crise
climática. Mais uma vez, o modelo implícito é Nuremberg,
quando as tentativas do homem de se preocupar com um futuro vamos
chamá-lo de probabilidade no terreno moral e factual emparelham
com a inquestionável, histórica e comovedora enormidade do
Holocausto Nazi.
Será este o discurso de um cientista? Se for, é mais do que
estranho que no século XXI esteja este cientista a clamar pelo
equivalente secular de uma Inquisição. Ainda mais directamente
ao ponto: são estas as palavras de um homem realmente certo da sua
verdade ou de alguém que com a ansiedade do fanático
está a tentar proteger-se do rigor do cepticismo e da
investigação? Seja um caso ou seja o outro, não questiono
de todo a afirmação de que isto é a voz de um homem que
não é amigo da razão nem da ciência. Isto é
a voz do cientista-activista consumado, com a sua própria verdade e
temeroso de toda disputa.
A ciência não precisa de tribunais ou julgamentos, não
precisa da justiça de Nuremberg, ou analogias com o Holocausto. As
palavras de James Hansen esta semana constituíram uma ofensa contra a
investigação, contra a ciência e contra a seriedade moral.
Foram uma manifestação insolente contra o próprio debate
de ideias.
28/Junho/2008
O original encontra-se em
www.theglobeandmail.com/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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