A rotação no regime dos EUA
Wesley Clark, Osama bin Laden e as eleições presidenciais de 2004
por Michel Chossudovsky
[*]
Terá o general Wesley Clark aderido às fileiras dos
"teóricos da conspiração" relativamente ao 11 de
Setembro?
Clark não só acusou o George W. de "possível
manipulação da inteligência" como também apelou
a uma investigação "para uma possível conduta
'criminosa" na condução da guerra". (Daily Telegraph,
http:// www.telegraph.co.uk/news/main.jhtml?xml=/news/2003/10/04/wclark04.xml
4
October 2003)
Palavras fortes por parte deste candidato Democrata com fortes probabilidades
de vencer a corrida presidencial:
"Nada poderia constituir uma violação mais grave da
confiança pública do que conscientemente apresentar uma
justificação para a guerra baseada em afirmações
falsas... Precisamos saber se fomos intencionalmente iludidos... Esta
administração está a tentar fazer algo que pode ser
politicamente impossível fazer numa democracia, e que é governar
contra a vontade da maioria... Isto exige a deformação de
factos, o silêncio, o segredo e muito pouca luz" (citado no Daily
Telegraph, 4 October 2003)
A declaração do general Clark aponta para um encobrimento no
inquérito conjunto Senado-Câmara ao 11 de Setembro, respeitante ao
Paquistão e à Arábia Saudita, os quais ele identifica como
"patrocinadores de terroristas". Por outras palavras, este General
de Quatro Estrelas na reforma tacitamente reconhece o insidioso papel
desempenhado pelo indefectível aliado de Washington, o governo militar
do presidente Pervez Musharraf, o qual é conhecido por ter apoiado a Al
Qaeda e os Taliban.
É importante entender as motivações políticas por
trás da posição de Wesley Clark.
Apesar de as suas observações referentes à
administração Bush serem exactas, o seu próprio registo
está manchado.
Durante o seu período como Comandante Supremo da NATO (1997-2000),
Wesley Clark esteve em ligação permanente com o Exército
de Libertação do Kosovo (KLA). Sob o comando de Wesley Clark, a
NATO patrocinou directamente uma tropa terrorista paramilitar com
ligações à Al Qaeda e ao comércio de
narcóticos transbalcânico.
Meia volta volver!: um antigo "patrocinador de terroristas" (para
utilizar as suas próprias palavras) sob os auspícios da NATO
está agora a acusar a administração Bush de "agarrar
os ataques do 11 de Setembro como justificação [para travar a
guerra]" (San Francisco Chronicle, 2 October 2003).
Numa lógica absolutamente enviesada, um indivíduo que é
reconhecido como um criminoso de guerra está a procura do apoio do
movimento anti-guerra. Nas palavras do Palestine Chronicle:
"O apoio entusiástico aos candidatos Democratas Wesley Clark e
Howard Dean por parte de liberais e alguns progressistas revela o estado
deprimente da oposição política nos EUA. Décadas
de incessantes assaltos da extrema direita a todas as esferas da vida americana
sacudiram de tal forma o panorama político, empurrando-o para a direita,
que ao invés de protestarem por uma varredura geral ou mesmo por
mudanças revolucionárias como num passado distante, o principal
grito de batalha vindo 'da esquerda' é "Qualquer um excepto
Bush'". (Sunil Sharma e Josh Frank, Two Measures of American Desperation:
Wesley Clark and Howard Dean, 17 October 2003,
http://www.palestinechronicle.com/ story.php?sid=20031017175449217
)
O realizador de cinema e crítico anti-guerra Michael Moore apoia as
candidaturas de Wesley Clark e Howard Dean: "Precisamos de um
médico [Dean, decano] porque há 43 milhões de nós
sem cuidados de saúde e precisamos de um general para dar um
pontapé no traseiro de Bush".
(
http://www.dailynorthwestern.com/vnews/display.v/ART/2003/10/15/ 3f8ce93feca0a
15 October 2003).
A ROTAÇÃO NO REGIME DOS EUA
O ataque a Bush e a postura anti-guerra por parte de Clark, apoiados por
Hollywood e Wall Street, não significa reverter a maré da guerra.
Muito pelo contrário. Eles proporcionam uma legitimação
falsa para a agenda guerreira em nome da "construção da
paz" e da democracia.
Isto perpetua "a grande mentira".
O que estes arremessos de lama entre os dois partidos conseguem é a
"rotação no regime dos EUA". A "guerra ao
terrorismo" que está embutida na agenda de segurança
nacional permanece funcionalmente intacta.
Ironicamente, durante a administração Clinton eram o republicanos
que acusavam Bill Clinton de ter ligações com a Rede Militante
Islâmica na Bósnia e no Kosovo. Num documento de 1999 preparado
cuidadosamente pelo Comité do Partido Republicano no Senado este acusou
Clinton frontalmente de apoiar o terrorismo no Kosovo:
"No momento em que os ataques aéreos da NATO começaram, o
partenariato da administração Clinton com o KLA era
inequívoco... Tão efusivos abraços de altos
responsáveis da administração Clinton com uma
organização que apenas um ano antes um dos seus principais
responsáveis etiquetou como "terrorista" é, para dizer
o mínimo, um desenvolvimento assustador. Ainda mais importante: o novo
partenariato Clinton/KLA pode obscurecer alegações perturbadoras
acerca do KLA que a administração Clinton até agora
menosprezou". (Senate Republican Party Committee, The Kosovo Liberation
Army: Does Clinton Policy Support Group with Terror, Drug Ties?
http://www.kosovo.com/rpc.html
, Washington, March 31, 1999)
Um documento anterior, de 1997, emanado do House Republican Party Committee
intitulava-se "Clinton- Transferências aprovadas de armas ajudam a
transformar a Bósnia numa base militante islâmica"
("Clinton- Approved Iranian Arms Transfers Help Turn Bósnia into
Militant Islamic Base") e acusava Clintou de trabalhar com a Al Qaeda na
Bósnia como uma mão dentro da luva:
"O envolvimento prático da administração Clinton com
a rede islâmico de tráfico de armas, incluídas as
inspecções de mísseis do Irão por
responsáveis governamentais dos EUA... A Third World Relief Agency
(TWRA), baseada no Sudão, uma falsa organização
humanitária... constituíram uma ligação importante
no tráfico de armas para a Bósnia... Acredita-se que a TWRA
esteja conectado com figuras da rede islâmica de terror como Sheik Omar
Abdel Rahman (o condenado planejador por trás do bombismo de 1993 no
World Trade Centre) e Osama bin Laden, um rico emigrado saudita que se acredita
financiar numerosos grupos militantes" (Congressional Press Release,
Republican Party Committee (RPC), U.S. Congress, Clinton-Approved Iranian Arms
Transfers Help Turn Bósnia into Militant Islamic Base, Washington DC, 16
January 1997, disponível no sítio web do Centre of Research on
Globalisation (CRG) at
http://globalresearch.ca/articles/ DCH109A.html
.)
É desnecessário dizer: Os republicanos e os democratas
são cúmplices. Eles acusam-se um ao outro de terem
ligações com a Al Qaeda. Mais: sucessivas
administrações democratas e republicanas estiveram envolvidas
desde o início da guerra soviética no Afeganistão, em 1979
(durante a presidência de Jimmy Carter) no desenvolvimento da Al Qaeda
como um "activo de inteligência" patrocinado pelos EUA.
Contudo, estes extractos vindos do Congresso não têm em vista
serem lidos por um público mais vasto. Eles são utilizados para
marcar pontos políticos num antigo ritual bipartidário, e ao
mesmo tempo dão a ilusão de um poder legislativo em
funcionamento, onde se diz que os líderes políticos têm de
prestar contas.
Se os democratas vencessem as eleições presidenciais de 2004, a
continuidade da política externa dos EUA seria mantida. Ainda mais
importante: a "guerra ao terrorismo" e as mentiras referentes
à Al Qaeda e ao 11 de Setembro também seria mantidas.
BIN LADEN E O KOSOVO LIBERATION ARMY (KLA)
O papel do Exército de Libertação do Kosovo (KLA) como
organização terrorista está amplamente documentado nas
transcrições do Congresso. Segundo Frank Ciluffo, do Globalized
Organised Crime Program, num depoimento apresentado no Comité Judicial
da Câmara dos Deputados:
"O que foi completamente escondido do público foi o facto de que o
KLA conseguia parte dos seus fundos com a venda de narcóticos. A
Albânia e o Kosovo estão no coração da "Rota
dos Balcãs" que liga o "Crescente Dourado" do
Afeganistão e do Paquistão com os mercados da droga da Europa.
Estima-se que esta rota valha US$ 400 mil milhões por ano e que manuseie
80 por cento da heroina destinada à Europa". (House Judiciary
Committee, 13 December 2000)
O relacionamento entre o KLA e Osama bin Laden é confirmado pela
divisão de Inteligência Criminal da Interpol:
"O Departamento de Estado americano listou o KLA como uma
organização terrorista, indicando que estava a financiar suas
operações com dinheiro do comércio internacional de
heroina e empréstimos de países e indivíduos
islâmicos, dentre eles alegadamente Usama bin Laden. Outra
ligação a bin Laden é o facto de que o irmão de um
líder egípcio da organização Jihad e também
comandante militar de Usama bin Laden estava a dirigir uma unidade de elite do
KLA durante o conflito do Kosovo" (US Congress, Testimony of Ralf
Mutschke of Interpol's Criminal Intelligence Division, to the House Judicial
Committee, 13 December 2000).
As evidências concernentes ao KLA contidas nas transcrições
do Congresso, notícias, relatórios e documentos de
inteligência implicam directamente o general Wesley Clark.
Durante o seu período como Comandante Supremo da NATO (1997-2000) Clark
tinha estreitas relações pessoais com o Chief of Staff Commander
do KLA, Brigadeiro Agim Ceku, e com o líder do KLA Hashim Thaci.
CRIMINOSOS DE GUERRA JUNTAM AS MÃOS (Kosovo 1999)
Da esquerda para a direita:
Hashim Thaci, Chefe do KLA, estreitamente ligada à Al Qaeda de Osama bin
Laden. Hashim Thaci ordenou assassinatos políticos contra o
partido de Ibrahim Rugova. Thaci foi um protegido de Madeleine Albright (ver
foto mais abaixo).
Bernard Kouchner, Chefe da United Nations Mission in Kosovo (UNMIK), no Kosovo
(Julho 1999- Janeiro 2001), foi agente instrumental na elevação
do status do KLA na ONU.
General Michael Jackson, Comandante das tropas do KFOR no Kosovo.
General Agim Ceku, Comandante Militar do KPC, investigado pelo Tribunal Penal
Internacional para a antiga Iuguslávia (ICTY) "por alegados crimes
de guerra cometidos contra pessoas de etnia sérvia na Croácia
entre 1993 e 1995." (AFP 13 Oct 1999)
General Wesley Clark, Comandante Supremo da NATO.
[O único que falta nesta foto é Osama bin Laden]
|
Agim Ceku, que colaborou directamente com a NATO durante a campanha no Kosovo
em 1999, foi reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional de Haia "por
alegados crimes de guerra cometidos contra sérvios na Croácia
entre 1993 e 1995". (AFP 13 Oct 1999)
Hashim Thaci ordenou o assassínio político dos seus opositores na
nacionalista Democratic League of Kosovo (LDK) de Ibrahim Rugova (Ver November
2000 BBC Report at
http://news.bbc.co.uk/2/hi/ europe/1037302.stm
). Segundo
The Boston Globe (2 August 1999):
"Terroristas com ligações a Osama bin Laden a andarem por
aí com AK-47s e armas anti-tanque já é bastante mau. O
pior é que os rapazes de Thaci não são apenas assassinos e
cleptomaníacos, mas também mafiosos com os narizes afundados no
comércio de droga. (Durante a guerra, o Washington Times citou um
responsável não identificado do US Drug Enforcement como tendo
comentado acerca do KLA: 'Eles eram dealers da droga em 1998 e agora, devido
à política, passaram a ser combatentes da liberdade')".
No rastro da campanha de 1999 no Kosovo, sob o primado da NATO, estes actos de
assassínio político ordenados pelo autoproclamado Governo
Provisório do Kosovo (PGK) foram executados num ambiente
totalmente permissivo. Os líderes do KLA ao invés de serem
presos pela NATO por crimes de guerra, foram obsequiados com a
protecção do KFOR. Segundo um relatório do Foreign Policy
Institute (publicado durante os bombardeamentos de 1999: "...o KLA
[não] tem escrúpulos em assassinar colaboradores de Rugova, o
qual é acusado do "crime" da moderação...
(Michael Radu, "Don't Arm the KLA", CNS Commentary from the Foreign
Policy Research Institute, 7 April, 1999).
No decorrer da campanha de bombardeamento, Fehmi Agani, um dos mais
próximos colaboradores de Rugova na Kosovo Democratic League (KDL) foi
executado por ordem de Hashim Thaci. (Tanjug Press Dispatch, 14 May 1999):
"Se Thaci realmente considerasse Rugova como uma ameaça, ele
não hesitaria em remove-lo do panorama político do
Kosovo". (Stratfor Comment, "Rugova Faced with a Choice of Two
Losses", Stratfor, 29 July 1999). Por sua vez, o KLA sequestrou e
assassinou numerosos profissionais e intelectuais.
E quem estava por trás de Hashim Thaci, o líder de 29 anos do
KLA?
Madeleine Albright e Wesley Clark.
A NATO, A KLA E A AL QAEDA
Segundo um briefing do Departamento de Defesa dos EUA, os chamados
"contactos iniciais" entre o KLA e a NATO tiveram lugar em meados de
1998, durante a primeira parte do mandato do general Clark como Comandante em
Chefe da NATO:
"...deu-se a percepção [na NATO] de que nós [a NATO
dirigida por Wesley Clark] tínhamos de ter o UCK [sigla do KLA na
Albania] envolvido neste processo porque eles pelo menos haviam mostrado
potencial para rejeitarem qualquer acordo que pudesse ser tratado ali entre as
partes existentes no Kosovo. Assim, de algum modo eles tinham de ser trazidos
para dentro e foi por isso que fizemos alguns contactos iniciais com o grupo,
esperançosamente com as pessoas certas no grupo, para tentar traze-los a
este processo de negociação". (US Department of Defense,
Background Briefing, July 15, 1998)
["Esperançosamente com as pessoas certas no grupo" significa
"tratar com pessoas que obedeciam às ordens"].
Se estes "contactos iniciais" foram reconhecidos oficialmente pela
NATO só em meados de 1998, o KLA tinha (segundo vários relatos)
estado a receber "apoio encoberto" e treinamento da CIA e do Bundes
Nachrichten Dienst (BND) da Alemanha desde meados dos anos 90. Estas
operações encobertas eram conhecidas e aprovadas pela NATO.
(Michel Chossudovsky, Kosovo `Freedom Fighters' Financed by Organised Crime,
Covert Action Quarterly, 2000)
O desenvolvimento e treinamento das forças do KLA fazia parte do
planeamento da NATO, dirigido directamente pelo general Wesley Clark. Nas
palavras do antigo agente secreto da Drug Enforcement Administration (DEA)
Michael Levine, escrevendo por alturas do bombardeamento de 1999 à
Iuguslávia:
"Dez anos atrás estávamos a armar e equipar os piores
elementos dos Mujahideen no Afeganistão traficantes de droga,
contrabandistas de armas, terroristas anti-americanos... Agora estamos a fazer
a mesma coisa com o KLA, o qual está ligado a todos os cartéis da
droga conhecidos no Médio e Extremo Oriente. A Interpol, Europol e
quase toda a inteligência e agências anti-narcóticos
europeias têm ficheiros abertos acerca de sindicatos da droga que
conduzem directamente ao KLA e às gangs albanesas neste
país". (New American Magazine, May 24, 1999)
O KLA actuou como uma força paramilitar presente sobre o terreno no
Kosovo. Era integrado por Forças Especiais americanas e
britânicas e actuava em estreita ligação com a NATO. O KLA
também era utilizado pelo Alto Comando da NATO para adquirir
informação acerca de alvos a bombardear durante a campanha no
Kosovo em 1999.
Como confirmado por fontes militares britânicas, a tarefa de armar e
treinar o KLA foi confiada em 1998 à US Defence Intelligence Agency
(DIA) e ao Secret Intelligence Services MI6 britânico, juntamente com
"membros antigos e em serviço do 22 SAS [Britain's 22nd Special Air
Services Regiment], bem como três companhias britânicas e
americanas de segurança privada". (The Scotsman, Glasgow, 29
August 1999)
"O DIA americano abordou o MI6 para organizar um programa de treinamento
para o KLA, disse uma fonte militar britânica. O MI6 subcontratou
então a operação a duas companhias britânicas de
segurança, as quais por sua vez abordaram um certo número de
antigos membros do regimento (22 SAS). Foram então redigidas listas das
armas e equipamentos necessários ao KLA. Enquanto estas
operações encobertas estavam em andamento, membros em
serviço do Regimento 22 SAS, principalmente as unidades do
Esquadrão D, foram pela primeira vez instalados no Kosovo antes do
princípio da campanha de bombardeamento em Março [1999]".
(ibid)
Enquanto as SAS Special Forces britânicas em bases no norte da
Albânia estavam a treinar o KLA, instrutores militares da Turquia e do
Afeganistão financiados pela "Jihad islâmica"
proporcionavam tácticas de guerrilha e diversão ao KLA.
"O próprio Bin Laden visitou a Albânia. Ele era um dos
vários grupos fundamentalistas que havia enviado unidades para combater
no Kosovo, ... acredita-se que Bin Laden tenha estabelecido uma
operação na Albânia em 1994 ... fontes albanesas dizem que
Sali Berisha, que era então o presidente, tinha ligações
com alguns grupos que posteriormente demonstrou-se serem fundamentalistas
extremos". (Sunday Times, London, 29 November 1998.)
CONSEQUÊNCIAS DO BOMBARDEAMENTO DA IUGUSLÁVIA DE 1999
No rastro do bombardeamento de 1999 da Iuguslávia, a NATO sob o comando
de Wesley Clark, apoiou a extensão das actividades terroristas do KLA ao
sul da Sérvia e à Macedonia.
Enquanto isso, o KLA rebatizado Kosovo Protection Corps (KPC) era
elevado de status nas Nações Unidas, o que o habilitava a fontes
"legítimas" de financiamento através das
Nações Unidas bem como através de canais bilaterais,
incluindo ajuda militar directa dos EUA.
Por outras palavras, uma força paramilitar terrorista apoiada pelo Al
Qaeda e ligada ao crime organizado tornou-se uma legítima Guarda
Nacional "civil", directamente apoiada pela NATO e pela ONU.
E apenas dois meses após a inauguração oficial do KPC sob
os auspícios da ONU (Setembro de 1999), comandantes KPC-KLA
utilizando recursos e equipamento da ONU já estavam a preparar os
assaltos à Macedonia, como uma sequência lógica das suas
actividades terroristas no Kosovo. Neste esforço eles tinham o pleno
apoio da NATO e dos militares americanos, para não mencionar a assim
chamada "comunidade internacional" simbolizada pela Missão das
Nações Unidas no Kosovo (UNMIK), encabeçada pelo antigo
ministro da Saúde francês Bernard Kouchner:
Segundo o diário Dnevnik, de Skopje, o KPC estabeleceu uma "sexta
zona de operação" no sul da Sérvia e Macedonia:
"Fontes, que insistem no anonimato, insistem em que as sedes das brigadas
de protecção do Kosovo [i.e. ligadas ao KPC patrocinado pela ONU]
já foram formadas [Março 2000] em Tetovo, Gostivar e Skopje.
Elas também estão a ser preparadas em Debar e Struga [na
fronteira com a Albania] e os seus membros têm códigos
definidos". (Macedonian Information Centre Newsletter, Skopje, 21 March
2000, publicado pelo BBC Summary of World Broadcast, 24 March 2000)
Segundo a BBC, "Forças especiais ocidentais ainda estavam a treinar
a guerrilhas" o que significa que elas estavam a assistir o KLA na
abertura da "sexta zona de operação" no sul da
Sérvia e na Macedonia. (BBC, 29 January 2001, em
http://news.bbc.co.uk/hi/english/world/europe/newsid_1142000/1142478.stm
)
Ironicamente as Nações Unidas num relatório confidencial
de Fevereiro de 2000 ao secretário-geral Kofi Annan reconheceu que o KPC
era responsável por "actividades criminosas ... assassinatos, mau
tratamento (e) tortura, policiamento ilegal, abuso de autoridade, rupturas de
neutralidade política e discurso do ódio". Isto aconteceu
no momento do mandato "humanitário" de Bernard Kouchner na
Administração Interina das Nações Unidas no Kosovo
(UNMIK) (15 July 1999 to 12 January 2001).
E a este respeito, Kouchner, cujo mandato era canalizar ajuda
humanitária sob os auspícios da ONU, trabalhou em estreita
ligação com responsáveis da NATO, incluindo Wesley Clark,
para proporcionar apoio à tropa terrorista paramilitar do Kosovo.
(Ver foto das mãos juntas). Não nos esqueçamos que Bernard
Kouchner foi o fundador dos
"Médicos sem fronteiras".
Segundo o London Observer, "a amarga mensagem ao secretário-geral
da ONU é que a sua própria organização [dirigida
pelo chefe da UNMIK Bernard Kouchner] está a pagar os salários de
muitos dos criminosos" (Observer,
http://www.commondreams.org/headlines/031400-03.htm
, 14 March 2000)
AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2004
Quais as escolhas para o eleitorado americano?
As evidências apresentadas acima confirmam que tanto os democratas como
os republicanos têm ligações à Al Qaeda e são
cúmplices na "guerra ao terrorismo".
Numa amarga ironia, a própria organização terrorista (Al
Qaeda) que foi apoiada por sucessivas administrações está
a ser proclamada em ambas as plataformas eleitorais, republicana e democrata,
como "um inimigo dos EUA". (Ver Michel Chossudovsky, Expose the
Links between Al Qaeda and the Bush Administration, Centre for Research on
Globalization,
http://www.globalresearch.ca/articles/ CHO303D.html
, 15 March
2003).
Ironicamente, Osama bin Laden tornou-se parte do ritual eleitoral,
proporcionando todos os chavões
(buzz-words)
para um debate estilizado sobre a "Segurança interna"
("Homeland Security")
, a qual é um dispositivo central da plataforma eleitoral de ambos os
partidos políticos...
Quer seja republicanos ou democratas, a agenda de guerra permanece intacta. Os
democratas não se opõem ao pedido do presidente Bush ao Congresso
para orçamentar US$ 87 mil milhões para o financiamento da
ocupação e "reconstrução" do Iraque.
"O consenso sobre o financiamento da ocupação e
reconstrução do Iraque constitui indicação forte de
que não haverá mudança substancial na política
americana na região, pelo menos até que seja alcançado o
objectivo estratégico da guerra". (Salameh Nematt, Bin Laden and
the U.S. Elections, Salameh Nematt Al-Hayat, 11 September 2003,
om/OPED/09-2003/Article-20030911-9082bea7-c0a8-01ed-002a-cc14f6dc4d75/story.html
)
Os republicanos fizeram a primeira Guerra do Golfo, os democratas fizeram as
guerras nos Balcãs que levaram à ocupação militar
da Bosnia-Herzegovina nos Acordos de Dayton em 1995 e à invasão
do Kosovo em 1999. Os democratas estavam no gabinete durante as devastadoras
guerras em Ruanda e no Congo, que provocaram mais de 3 milhões de
mortos. Os democratas e os republicanos juntaram-se as mãos ao
aplicarem a "No Fly Zone" (1991-2003) e um programa de doze anos de
sanções económicas e bombardeamento do Iraque.
As guerras conduzidas por Clinton nos Balcãs foram uma
preparação para o "mapa da estrada". Elas fazem parte
de uma guerra mais vasta conduzida pelos EUA que se estende desde os
Balcãs até o Médio Oriente e a Ásia Central.
Os republicanos apresentam uma equipe coerente dominada pelos Neo-cons
(neoconservadores) incluindo antigos responsáveis do Irão-Contra
da administração Reagan. A agenda de guerra dos republicanos
é definido em termos de "múltiplos e simultâneos
teatros de guerra" tal como descrito no "Projecto para o
século americano" (Project for the New American Century - PNAC).
(Ver
http:// www.globalresearch.ca/articles/NAC304A.html
). O PNAC
também previa a activação de um chamado "Evento Pearl
Harbor" a fim de mobilizar a opinião pública em apoio da
agenda de guerra. (Ibid).
Se bem que haja diferenças substanciais entre os Neo-cons e
lideranças democratas, a doutrina de Bush da segurança nacional
é, em muitos aspectos, uma continuação daquela formulada
por Clinton em 1995, a qual era baseada numa "estratégia de
contenção de Estados vilões".
Há diferenças significativas. Os Neocons são mais
ligeiros do que os democratas, particularmente em relação
à política nuclear. Os democratas sob a
administração Clinton foram mais cuidadosos ao utilizar o sistema
das Nações Unidas e sua estrutura multilateral em seu
benefício a fim de prosseguir efectivamente sua agenda guerreira.
Vale a pena mencionar, entretanto, que o US Central Command (USCENTCOM)
já formulou, durante a administração Clinton, "planos
de teatro de guerra" para invadir o Iraque e o Irão. E o objectivo
declarado destes planos de guerra de 1995 era o petróleo:
"Os vastos interesses da segurança nacional e os objectivos
expressos na National Security Strategy (NSS) do presidente [Clinton] e do
chefe da National Military Strategy (NMS) constituem o fundamento da
estratégia de teatro do United States Central Command. O NSS dirige a
implementação de uma estratégia de contenção
dual dos Estados vilões do Iraque e do Irão enquanto aqueles
Estados apresentarem uma ameaça aos interesses americanos, a outros
Estados na região, e aos seus próprios cidadãos. A
contenção dual é concebida para manter o equilíbrio
de poder na região sem depender do Iraque ou do Irão. A
estratégia de teatro do USCENTCOM é baseada no interesse e na
ameaça focada. O propósito do envolvimento americano, tal como
defendido na NSS, é proteger o interesse vital dos Estados Unidos na
região acesso ininterrupto e seguro dos EUA e aliados ao
petróleo do golfo". (USCENTCOM,
http://www.milnet.com/milnet/pentagon/centcom/chap1/stratgic.htm#USPolicy
)
De facto, de um modo geral os mesmos conceitos de Defesa Interna, guerra
preventiva, etc estão contidos nos documentos de Clinton de 1999 e 2000
sobre Estratégia de segurança nacional. (Ver
http://www.globalsecurity.org/military/library/ policy/national/
)
Por outras palavras, as invasões do Afeganistão e do Iraque sob a
administração Bush faziam parte do mapa da estrada
bipartidário para o Império, ou seja, uma
continuação de uma agenda de guerra que já foram decidida
muito antes do acesso de Bush à Casa Branca em Janeiro de 2001. Isto
não deveria ser uma surpresa pois muitas das pessoas responsáveis
por estes planos de guerra, incluindo o director da CIA George Tenet, foram
designadas durante a administração Clinton.
Cada vez mais, o establishment militares-inteligência (ao invés
daquele do Departamento de Estado, da Casa Branca e do Congresso americano)
orienta os tiros da política externa americana, com os gigantes do
petróleo texano, os empreiteiros da defesa e Wall Street a operarem
discretamente por trás do palco.
Finalmente, a agenda de guerra e a "Segurança interna"
(incluindo a militarização em curso das
instituições de polícia civil e judiciais) é
determinada por poderosos interesses económicos. Os partidos
políticos em grande medida servem como uma cortina de fumo.
Seria, portanto, improvável que os democratas desfizessem quer a agenda
guerreira ou o Patriot Act.
O ESTADO TOTALITÁRIO NOS EUA:
UMA DITADURA MILITAR DE FACTO
A espinha dorsal deste sistema é a militarização,
incluindo a conquista territorial e a ocupação militar. Por
trás da fachada democrática e do ritual bipartidário,
prevalece uma ditadura militar de facto.
A militarização por sua vez endossa e impinge o "mercado
livre" global por conta dos interesses económicos e financeiros
dominantes.
Por outras palavras: as estruturas de poder político e económico
subjacentes não serão fundamentalmente modificadas por meio da
"rotação do regime" e do ritual das
eleições presidenciais e ao Congresso.
Para construir efectivamente a sua "legitimidade", tanto os
democratas como os republicanos precisam patrocinar as falsidades que
estão por trás da "guerra ao terrorismo".
Sustentar a retórica da "liberdade e democracia" não
é apenas parte deste ritual, é parte do processo de
construção de um Estado totalitário nos EUA sob o disfarce
de uma democracia em funcionamento.
Não devemos ter nenhuma ilusão: as eleições
presidenciais de 2004 não resultarão em qualquer mudança
de direcção significativa.
Para reverter a maré da guerra, as bases militares devem ser encerradas,
a máquina de guerra, nomeadamente a produção de sistemas
de armas avançadas (WMDs), deve ser desmantelada, o Estado policial em
evolução deve ser desmantelado, etc.
Para alcançar estes grandes objectivos é essencial quebrar a
legitimidade dos actores militares e políticos que governam em nosso
nome.
As falsidades que sustentam a legitimidade do ritual bipartidário devem
ser desmascaradas.
Ambos os partidos partilham a mesma agenda guerreira. Há criminosos de
guerra em ambos os partidos políticos. Ambos os partidos são
cúmplices no encobrimento do 11 de Setembro.
As evidências apontam para aquilo que é melhor descrito como
"a criminalização do Estado", o qual também
inclui o Judiciário e os corredores bipartidários do Congresso
americano.
Nas palavras de Andreas van Buelow, antigo ministro da Defesa alemão e
autor de
The CIA and September 11
: "Se aquilo que digo está certo, a totalidade do governo
americano deveria estar por trás das grades".
Fonte das fotos: Senate Republican Party Committee e
http://www.kosovo.com/rpc.html
[*]
Michel Chossudovsky é autor de
War and Globalisation, the Truth behind September 11 , 2003
.
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O original encontra-se em
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Tradução de JF.
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