Povo americano cuidadosamente desinformado

Os media dos EUA encobriram que o ataque de domingo em Bagdad foi à sede local da CIA

por Michel Chossudovsky

Clique a imagem para ver a mesma notícia segundo a Aljazeera. Estava eu no norte da Itália, na Academia da Paz em Rovereto, quando o jornal da noite na rádio nacional relatou a principal notícia do dia:

"Sede da CIA em Bagdad atacada por dois bombistas suicidas".

Quando voltei ao hotel liguei imediatamente na CNN. Não havia nem uma palavra acerca do facto de ser "a sede da CIA".

Um carro de bombistas suicidas, mirando um hotel em Bagdad que se acredita abrigar responsáveis americanos, matou seis iraquianos. Um responsável militar americano disse que dois carros estavam a correr em direcção ao hotel quando os guardas abriram fogo. Ambos os carros explodiram próximo ao edifício numa avenida comercial. Jane Arraf da CNN agora ligou-se connosco a partir da capital iraquiana com mais pormenores — Jane.

JANE ARRAF, CORRESPONDENTE CNN: Renay, como nos contou um responsável americano, entre aqueles seis iraquianos mortos estavam dois dos guardas de segurança iraquianos que dispararam sobre um dos carros bombistas, essencialmente travando-o antes que pudesse atingir o Hotel Bagdad. (Domingo 16:00)

Foto: Aljazeera. Um relato subsequente da ABC News omitiu a presença do Conselho Governante Iraquiano, embora reconhecendo também a presença de responsáveis americanos.

Este é o sétimo carro bombista em Bagdad desde o princípio de Agosto. Vários membros do Conselho Governante Iraquiano, apoiado pelos americanos, estão hospedados no Hotel Bagdad, bem como responsáveis do Departamento de Estado. Paul Bremer, o administrador americano do Iraque, declarou: "Trabalharemos com a polícia iraquiana a fim de encontrar os responsáveis e trazê-los perante a justiça". Americanos bem informados contaram-nos que haviam sido informados de um possível ataque de carro bomba há dois dias. Eles planeavam fortificar o muro de segurança externo, mas não tiveram tempo de acabá-lo. Neal Karlinsky, ABC New, Bagdad

Quanto os jornais americanos chegaram às bancas na manhã de segunda-feira, a estória já havia mudado. As referências à presença de responsáveis americanos haviam sido abafadas ou removidas.

A estória oficial era que o hotel estava a ser usado pelo Conselho Governante Iraquiano. Alex Berenson, escrevendo no NYT, descreve o ataque como mais ataque suicida déjà vu:

"Carro bomba atacou domingo um hotel usado por membros do Conselho Iraquiano. "

Um título quase idêntico foi adoptado pelo Washington Post num artigo publicado também na manhã de segunda-feira, 12 de Outubro:

"Bombista suicida mata 7 em Bagdad; Explosão foi próxima ao hotel que alojava responsáveis iraquianos".

Um bombista suicida detonou no domingo explosivos armazenados num carro fora de um hotel de Bagdad que alojava responsáveis do governo iraquiano e empreiteiros americanos, lançando uma onda de destroços que se espalhou no caminho congestionado do hotel e numa ocupada rua comercial.

Pelo menos sete pessoas e o bombista foram mortos, e mais de 40 outras foram feridas na explosão ao meio dia no Hotel Bagdad, incluindo um membro do Conselho Governante Iraquiano e três americanos, segundo responsáveis militares americanos e hospitais que trataram os feridos. Seis dos mortos eram guardas iraquianos de segurança, disse um responsável militar.

Numa peça de desinformação cuidadosamente fraseada, o artigo de The Washington Post (12/Out) faz analogias entre o bombardeamento do hotel em Bagdad e o bombardeamento de Bali, na Indonésia, sugerindo o envolvimento de bin Laden:

Embora responsáveis americanos não tenham identificado um grupo responsável pelos bombardeamentos, as suspeitas recaem sobre lealistas a Hussein e extremistas muçulmanos que inundaram o Iraque durante o verão. O ataque de segunda-feira ocorreu no primeiro aniversário das explosões no nightclub em Bali e no terceiro aniversário do bombardeamento do USS Cole na costa yemenita — ambos atribuídos à organização terrorista al Qaeda.

OS MEDIA NÃO-AMERICANOS RECONHECEM QUE O HOTEL ERA SEDE DA CIA

Enquanto os media dos EUA foram instruídos no sentido de não mencionar a expressão "Sede da CIA", o ataque à CIA fazia a primeira página de notícias na maior parte dos media europeus.

A principal notícia no Independent de Londres foi:

Resistência iraquiana aponta para a CIA, matando seis em bomba suicida
Uma fase mortal na guerra de resistência à ocupação americana do Iraque começou ontem quando um par de carros bombistas suicidas apontou o hotel central de Bagdad onde se considera que altos responsáveis americanos e agentes da CIA estejam alojados. Pelo menos seis pessoas foram mortas e 32 feridas.

Todos os mortos e a maior dos feridos eram iraquianos. Mas a audaciosa explosão destinada a um hotel cheio de responsáveis americanos mostrou a efectividade da resistência na sua campanha cada vez mais bem organizada para desestabilizar a presença americana.

O hotel fortemente guardado de Bagdad era utilizado por responsáveis americanos, agentes de segurança, membros do Conselho Governante Iraquiano e empreiteiros americanos de construção civil. Acredita-se também que abrigasse operacionais da CIA e é amplamente comentado em Bagdad ser o alojamento de membros da Mossad, o serviço de inteligência israelense.

O relato da Agence France Presse (AFP) diz o que se segue:

Acredita-se que o Hotel Bagdad sirva como sede para a US Central Intelligence Agency em Bagdad.

Um responsável americano no local confirmou que pessoal de segurança americano e empreiteiros vivem no edifício, bem como membros do conselho apoiado pelos EUA.

O Irish Times (Segunda-feira, 12) relatou que

Comentava-se amplamente que o Hotel Bagdad, onde seis iraquianos morreram num duplo bombardeamento suicida no domingo, era a sede da CIA, da Mossad e dos seus ajudantes que falam árabe da antiga milícia Exército Libanês do Sul. Estava fortemente barricado e poucos tinham o crachá especial de passagem exigido para a entrada. Posteriormente ao bombardeamento, a Coalition Provisional Authority (CPA) negou relatos da presença da CIA, dizendo que o Hotel Bagdad abrigava membros do Conselho Governante e empreiteiros americanos.

DESINFORMAÇÃO

A opinião pública americana foi deliberadamente e conscientemente enganada. A cobertura americana da notícia levanta não só a questão da desinformação e do encobrimento, ela também indica a evidente incompetência da CIA (com os seus mais 30 mil milhões de dólares de orçamento anual) cujas instalações fortemente guardadas em Bagdad foram atacadas numa tranquila tarde de domingo em plena luz do dia.

O hotel estava fortemente barricados com segurança apertada. Guardas de segurança de uma companhia mercenária privada, a Dyncorp contratada pelo Pentágono, estavam nos telhados próximos ao hotel. (Liberation, Paris, 13 Outubro). Como foi amplamente confirmado pelo relatos da imprensa europeia, "o objectivo real era a CIA. (la vraie cible n'etait rien moins que la CIA").

O ataque revela a fraqueza da Coligação e da CIA. Ele indica uma resistência armada crescente e dirigida à estrutura de comando da CPA.

A URL do original é: http://globalresearch.ca/articles/CHO310A.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

16/Out/03