por Michel Chossudovsky
Mentiras rematadas dos media internacionais: Bombas e mísseis são
apresentados como instrumentos de paz e de democratização.
Isto não é uma operação humanitária. O
ataque à Líbia abre um novo teatro de guerra regional.
Há três diferentes teatros de guerra no Médio Oriente -
região da Ásia Central: Palestina, Afeganistão e Iraque.
O que está a desdobrar-se é um quarto Teatro de Guerra EUA-NATO
no Norte de África, com risco de escalada.
Estes quatro teatros de guerra estão funcionalmente relacionados, fazem
parte de uma agenda militar integrada EUA-NATO.
O bombardeamento da Líbia esteve no estirador do Pentágono
durante vários anos, como confirmado pelo antigo comandante da NATO,
general Wesley Clark.
A operação Odissey Dawn é reconhecida como a "maior
intervenção militar ocidental no mundo árabe desde que
começou a invasão do Iraque, há exactamente oito
anos" (
Russia: Stop 'indiscriminate' bombing of Libya - Taiwan News Online
, March 19, 2011).
Esta guerra faz parte da batalha pelo petróleo. A Líbia
está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com
aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo mais do
dobro das dos EUA.
O objectivo subjacente é obter controle sobre as reservas de
petróleo e gás da Líbia sob o disfarce de uma
intervenção humanitária.
As implicações geopolíticas e económicas de uma
intervenção militar conduzida pelos EUA-NATO contra a
Líbia são de extremo alcance.
A Operação "Odyssey Dawn" faz parte de uma agenda
militar mais vasta no Médio Oriente e na Ásia Central, a qual
consiste em obter controle e propriedade corporativa sobre mais de 60 por cento
das reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as
rotas dos oleodutos e gasodutos.
Com 46,5 mil milhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do
Egipto), a Líbia é a maior economia petrolífera no
continente africano seguida pela Nigéria e Argélia
(Oil and Gas Journal).
Em contraste, as reservas provadas dos EUA são da ordem dos 20,6 mil
milhões de barris (Dezembro 2008) de acordo com a Energy Information
Administration.
U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves
).
O maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque
Uma operação militar desta dimensão e magnitude,
envolvendo a participação activa de vários membros da NATO
e países parceiros, nunca é improvisada. A operação
Odyssey Dawn estava em etapas avançadas de planeamento militar antes do
movimento de protesto no Egipto e na Tunísia.
A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de
protesto se propagou espontaneamente da Tunísia e do Egipto à
Líbia.
A insurreição armada na Líbia Oriental é apoiada
directamente por potências estrangeiras. As forças rebeldes em
Bengazi imediatamente arvoraram a bandeira vermelha, negra e verde com o
crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, o qual simbolizava
o domínio das antigas potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci,
Libya-When historical memory is erased
, Global Research, February 28, 2011)
A insurreição também foi planeada em coordenada com o
cronograma da operação militar. Ela foi cuidadosamente planeada
meses antes do movimento de protesto, como parte de uma operação
encoberta.
Forças especiais do estado-unidenses e britânicas foram descritas
como estando no terreno a "ajudar a oposição" desde o
princípio.
Do que estamos a tratar é de um roteiro militar, um cronograma de
eventos militares e de inteligência cuidadosamente planeados.
Cumplicidade das Nações Unidas
Até agora, a campanha de bombardeamento resultou em incontáveis
baixas civis, as quais são classificadas pelos media como "danos
colaterais" ou atribuídas às forças armadas
líbias.
Numa ironia amarga, a Resolução 1973 do Conselho de
Segurança da ONU concede à NATO um mandato "para proteger
civis".
Protecção de civis
3. Autoriza Estados membros que notificaram o secretário-geral, a
actuarem nacionalmente ou através de organizações
regionais ou acordos, e a actuarem em cooperação com o
secretário-geral, a
tomarem todas as medidas necessárias
,
não obstante o parágrafo 9 da resolução 1970
(2011),
para proteger civis e áreas populadas por civis sob ameaça
de ataque na Jamahiriya Árabe Líbia, incluindo Bengazi, enquanto
excluindo uma forças de ocupação estrangeira de qualquer
forma sobre qualquer parte do território líbio
, e requer os
Estados membros relacionados a informarem imediatamente o
secretário-geral das medias que tomaram de acordo com a
autorização conferida por este parágrafo a qual
será imediatamente informada ao Conselho de Segurança. (
UN Security Council Resolution on Libya: No Fly Zone and Other Measures
, March 18, 2011)
A resolução da ONU garante às forças da
coligação carta branca para empenharem-se numa guerra total
contra um país soberano em desrespeito do direito internacional e em
violação da Carta das Nações Unidas. Ela
também serve a interesses financeiros dominantes: não só
permite à coligação militar bombardear um país
soberano como também permite o congelamento de activos, podo assim em
perigo o sistema financeiro da Líbia.
Congelamento de activos
19. Decide que o congelamento de activos imposto pelo parágrafo 17, 19,
20 e 21 da resolução 1970 (2011)
será aplicados a todos os
fundos, outros activos financeiros e recursos económicos que
estão no seu território, os quais são possuídos ou
controlado, directa ou indirectamente, pelas autoridades líbias, ...
Em parte alguma da resolução do CSONU é mencionada a
questão da mudança de regime. Mas é entendido que
forças da oposição receberão parte do dinheiro
confiscado sob o artigo 19 de resolução 1973. Discussões
com líderes da oposição para esse facto de facto já
tiveram lugar. Isso se chama desvio do texto e fraude financeira.
20. Afirma a sua determinação de assegurar que activos congelados
de acordo com o parágrafo 17 da resolução 1979 (2011)
deverão, numa etapa posterior, tão logo quanto possível
serem disponibilizados para e em benefício do povo da Jamahiriya
Árabe Líbia;
Em relação à "Imposição do embargo de
armas" sob o parágrafo 13 da resolução, as
forças da coligação comprometer-se-ão sem
excepção a impor um embargo de armas à Líbia. Mas
desde o princípio eles violaram o Artigo 13, ao fornecerem armas
às forças de oposição em Bengazi.
Operação militar prolongada?
Os conceitos são invertidos. Numa lógica absolutamente enviesada,
paz, segurança e protecção do povo líbio devem ser
alcançados através de ataques de mísseis e bombardeamentos
aéreos.
O objectivo da operação militar não é a
protecção de civis mas a mudança de regime e a ruptura do
país, como na Jugoslávia, nomeadamente a partição
da Líbia em países separados. A formação de um
Estado separado na área produtora de petróleo da Líbia
Oriental foi contemplada por Washington durante muitos anos.
Cerca de uma semana antes do ataque com bombardeamentos, o director da
inteligência nacional James Clapper enfatizou num testemunho ao
Comité de Serviços Armados do Senado dos EUA que a Líbia
tem capacidades de defesa aérea significativas e que uma abordagem zona
de interdição de voo poderia potencialmente resultar numa
prolongada operação militar.
A política de Obama tem o "objectivo de afastar Kadafi",
reiterou o conselheiro de segurança nacional.
Mas o testemunho de Clapper revela quão difícil isso poderia ser.
Ele disse ao comité do Senado pensar que "Kadafi está nisto
por muito tempo" e que não pensa ter Kadafi "qualquer
intenção ... de abandonar".
Finalmente, enumerando as razões porque acredita que Kadafi
prevalecrá, Clapper disse que o regime tem mais stocks militares e pode
contar com um exército bem treinado, unidades "robustamente
equipadas", incluindo a 32ª Brigada, a qual é comandada pelo
filho de Kadafi, Khamis, e a 9ª Brigada.
O grosso do seu hardware inclui defesas aéreas de
fabricação russa, artilharia, tanques e outros veículos,
"e eles parecem mais disciplinados quanto ao modo como tratam e reparam
esse equipamento", continuou Clapper.
Clapper contestou afirmações de que uma zona de
interdição de voo poderia ser imposta à Líbia
rápida e facilmente, dizendo que Kadafi comanda o segundo maior sistema
de defesa aérea do Médio Oriente, logo após o do Egipto.
"Eles têm um bocado de equipamento russo e há uma certa
qualidade nos números. Algum do equipamento caiu nas mãos dos
oposicionistas", continuou.
O sistema compreende cerca de 32 sítios de mísseis terra-ar e um
complexo de radar que "está centrado na protecção da
linha costeira (mediterrânea) onde está 80 ou 85 por cento da
população", disse Clapper. As forças de Kadafi
também têm "um número muito grande" de
mísseis anti-avião disparados do ombro
(shoulder-fired anti-aircraft missiles).
O general do Exército Ronald Burgess, director da Defense Intelligence
Agency, endossou a avaliação de Clapper, dizendo que o momento
estava a mudar em favor das forças de Kadafi depois de estar
inicialmente com a oposição.
"Se mudou ou não plenamente para o lado de Kadafi neste momento
dentro do país penso que não está claro", disse
Burgess. "Mas agora atingimos um estado de equilíbrio onde ... a
iniciativa, se quiser, pode estar do lado do regime".
Horas depois de Clapper ter falado, Thomas Donilon, conselheiro de
segurança nacional de Obama, apresentou uma avaliação
diferente, o que sugere pontos de vista agudamente divergentes entre a Casa
Branca e a comunidade de inteligência dos EUA.
Ele disse que a análise dos chefes de inteligência eram
"estáticas" e "unidimensionais", com base no
equilíbrio de força militar, e deixava de levar em conta tanto o
crescente isolamento de Kadafi como acções internacionais para
promover seus oponentes. (
White House, intel chief split on Libya assessment | McClatchy
, March 11, 2011)
A declaração anterior sugere que a Operação Odyssey
Dawn podia levar a uma guerra prolongada e persistente resultando em perdas
significativas para a NATO-EUA.
As dificuldades militares da NATO foram relatadas por fontes líbias
desde o princípio da campanha aérea.
Horas após o começo dos bombardeamentos, fontes líbias
(ainda a serem confirmadas) destacaram o derrube de três jactos
franceses. (Ver Mahdi Darius Nazemroaya,
Breaking News: Libyan Hospitals Attacked. Libyan Source: Three French Jets Downed
, Global Research, March 19,
2011).
A rede nacional de TV da Líbia anunciou que um caça francês
havia sido derrubado próximo de Tripoli. O exército francês
negou estes relatos:
"Rejeitamos a informação de que um caça francês
tenha sido derrubado na Líbia. Todos os aviões que
enviámos hoje em missões retornaram à base", disse o
porta-voz do Exército francês, coronel Thierry Burkhard, citado
por
Le Figaro
".
(Libya: A french fighter plane was shot down! The French Army denies this information, xiannet.net
March 20, 2011)
Fontes internas líbias (a serem confirmadas) também relataram no
domingo o derrube de dois jactos militares do Qatar. Segundo relatos
líbios, ainda a serem confirmados, um total de cinco jactos franceses
foi derrubado. Três destes jactos atacantes franceses foram, segundo os
relatos, derrubados em Tripoli. Os outros dois jactos franceses foram
derrubados enquanto atacavam Sirt (Surt/Sirte). (Mahdi Darius Nazemroaya,
Libyan Sources Report Italian POWs Captured. Additional Coalition Jets Downed,
Global Research, March 20, 2011)
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23815
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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