É a administração Bush, e não Bagdade, quem apoia a Al Qaeda.

Fabricando um inimigo

por Michel Chossudovsky [*]

Parte II de um conjunto de duas. A Parte I está em http://resistir.info/chossudovsky/propaganda_de_guerra.html .

O patrão da Al Qaeda. Um dos principais objectivos da propaganda de guerra é "fabricar um inimigo". Como o sentimento anti-guerra cresce e a legitimidade política da administração Bush escasseia, as dúvidas quanto à existência deste "inimigo externo" devem ser afastadas.

Na medida em que a planeada invasão do Iraque se aproxima, a administração Bush e o seu indefectível aliado britânico multiplicam as "advertências" quanto a futuros ataques terroristas do Al Qaeda. O inimigo tem de parecer genuíno. Assim, milhares de novas estórias e editoriais ligando o Al Qaeda ao governo de Bagdade são plantadas nas cadeias noticiosas. Colin Powell enfatizou esta relação no seu discurso no Fórum Económico Mundial de Davos, em Janeiro. O Iraque é apresentado em declarações oficiais e nos media como "um paraíso e um abastecedor da rede de terror":

"Evidências que ainda são mantidas em segredo estão a acumular-se no interior da administração indicando que não é por acaso que grupos terroristas no universo al Qaeda escolheram como armas preferidas venenos, gases e dispositivos químicos que constituem as armas de eleição do regime iraquiano". [1]

Neste contexto, a propaganda pretende afogar a verdade e matar a evidência de que a Al Qaeda de Osama bin Laden foi fabricada e transformada em "Inimigo Número Um".

Enquanto isso, "operações antiterroristas" dirigidas contra muçulmanos, incluindo prisões arbitrárias e em massa foram aceleradas. Nos EUA, são contempladas medidas de emergência em caso de guerra. Os media empresariais estão ocupados na preparação da opinião pública. Diz-se que uma "emergência nacional" é justificada porque "a América está sob ataque":

"os EUA e os interesses ocidentais no mundo todo têm de estar preparados para ataques retaliatórios das células adormecidas logo que lancemos um ataque ao Iraque". [2]

Defesa da pátria

Os procedimentos de emergência já estão a decorrer. À Secretaria da Defesa da Pátria (Secretary of Homeland Defence) — cujo mandato é "salvaguardar a nação de ataques terroristas" — já foi concedida autoridade "para tomar o controle de uma emergência nacional", o que implica o estabelecimento de um domínio militar de facto. Por sua vez, o recém-criado Northern Command ficaria encarregado das operações militares da "guerra ao terrorismo" no teatro americano.

O programa de vacinação anti variólica

No contexto destas medidas de emergência, preparações para a vacinação obrigatória contra a varíola já estão em andamento como resposta a uma suposta ameaça de um ataque com armas biológicas em solo americano. O programa de vacinação — que foi objecto de intensa propaganda mediática — seria lançado com a única finalidade de criar uma atmosfera de pânico entre a população:

"Uns poucos indivíduos infectados dispondo de uma pilha de bilhetes de avião — ou bilhetes de autocarro, pouco importa — poderiam difundir a infecção de varíola por todo o país, lançando uma praga de grandes proporções... Não é inconcebível que uma Coreia do Norte ou um Iraque pudessem manter varíola num laboratório escondido e passar os agentes mortais a terroristas". [3]

As intenções escondidas são cristalinas. Qual a melhor forma de desacreditar o movimento anti-guerra e manter a legitimidade do Estado? Criar condições, instilando temor e ódio, de modo a apresentar os governantes como "guardiões da paz", comprometidos com a eliminação do terrorismo e a preservação da democracia. Nas palavras do primeiro-ministro britânico Tony Blair, reflectindo quase ao pé da letra os despachos da propaganda americana:

"Acredito ser inevitável que eles tentem de uma forma ou de outra... Penso que podemos ver evidências com as prisões recentes de que a rede terrorista está aqui tal como no resto da Europa e no resto do mundo... A coisa mais assustadora em relação a estas pessoas é a possível conjunção de fanatismo e tecnologia capaz de efectuar destruição em massa". [4]

Prisões em massa

A prisão em massa de indivíduos com origem no Médio Oriente a partir de 11 de Setembro de 2001 sob acusações inventadas não é motivada por considerações de segurança. Sua principal função é proporcionar "credibilidade" ao medo e à campanha de propaganda. Cada prisão, amplamente publicitada pelos media empresariais, repetida dia após dia, "dá um rosto" a este inimigo invisível. Serve também para disfarçar o facto de que a Al Qaeda é uma criatura da CIA. O "Inimigo Número Um" não é um inimigo e sim um instrumento.

Por outras palavras, a campanha de propaganda executa duas importantes funções.

Primeiro, deve assegurar que o inimigo seja considerado uma ameaça real.

Segundo, deve distorcer a verdade — isto é, deve ocultar "o relacionamento" entre este "inimigo fabricado" e os seus criadores dentro do aparelho de inteligência militar.

Assim, a natureza e a história do Al Qaeda de Osama bin Laden e as brigadas islâmicas desde a guerra soviético-afegã devem ser suprimidas porque se chegar a um público mais vasto a legitimidade da assim chamada "guerra ao terrorismo" entra em colapso como um castelo de cartas. E neste processo, a legitimidade dos principais actores políticos e militares é ameaçada.

O escândalo do "conhecimento prévio do 11/Set"

Em 16 de Maio de 2002 os tablóides de Nova York revelaram que "o presidente Bush foi advertido do possível sequestro antes dos ataques terroristas" e deixou de actuar. [5]

A campanha de desinformação estava visivelmente a encalhar face às evidências cada vez maiores das ligações CIA-Osama. Pela primeira vez desde o 11/Set, a imprensa dominante sugeriu a possibilidade de um encobrimento aos mais altos níveis dos aparelho de Estado dos EUA.

O agente do FBI Coleen Rowley, que tocou o apito para o FBI, desempenhou um papel chave no desencadeamento da crise. O seu controverso memorando ao director do FBI Robert Mueller apontava para a existência de "barreiras deliberadas" à investigação dos ataques do 11 de Setembro:

"Minutos após os ataques do 11/Set o SSA [David Frasca, director da Unidade dos Fundamentalistas Radicais do FBI] disse 'isto foi provavelmente apenas uma coincidência' e nós nada devíamos fazer até que obtivéssemos a sua permissão, porque poderíamos interferir com alguma coisa que estivesse a acontecer em outro lugar do país" [6]

Como resposta a uma iminente crise política, a campanha de medo e desinformação tornou-se super directa. Todas as cadeias noticiosas foram subitamente inundadas com relatos e advertências de "futuros ataques terroristas". Uma declaração com palavras cuidadosamente escolhidas (destinadas visivelmente a instilar o medo) do vice-presidente Dick Cheney contribuiu para preparar o cenário:

"Penso que as perspectivas de um futuro ataque aos EUA são quase uma certeza... Isto pode acontecer amanhã, na próxima semana ou no próximo ano, mas eles continuarão a tentar. E temos de estar preparados". [7]

O que Cheney está realmente a dizer-nos com isto é que o nosso "activo de inteligência", criado por nós, vai atacar outra vez. Então, se esta "criatura da CIA" estivesse a planear novos ataques terroristas, seria de esperar que a CIA fosse a primeira a saber disso. Com toda a probabilidade, a CIA também controla as chamadas "advertências" provenientes de fontes da própria CIA sobre "futuros ataques terroristas" nos EUA e por todo o mundo.

Padrão consistente de propaganda

Através de um exame cuidadoso das notícias acerca de reais, "possíveis" ou "futuros" ataques terroristas verifica-se que a campanha de propaganda apresenta um padrão constante. Conceitos semelhantes aparecem simultaneamente em centenas de relatos dos media:

  • eles referem-se a "fontes confiáveis", um conjunto crescente de evidências — ou seja, governo ou serviços de inteligência ou FBI.

  • Eles invariavelmente indicam que os grupos terroristas envolvidos têm "laços com bin Laden" ou Al Qaeda, ou são "simpáticos a bin Laden" ,

  • Os relatos apontam muitas vezes para a possibilidade de ataques terroristas, "mais cedo ou mais tarde" ou "nos próximos dois meses" .

  • Os relatos frequentemente levantam a questão dos chamados "alvos soft" , indicando a probabilidade de baixas civis.

  • Indicam que futuros ataques terroristas poderiam ocorrer num certo número de países aliados (incluindo Grã Bretanha, França, Alemanha) em que a opinião pública é fortemente contrária à dita guerra ao terrorismo conduzida pelos EUA.

  • Confirmam a necessidade, por parte dos EUA e dos seus aliados, de iniciar acções "preventivas" contra estas várias organizações terroristas e/ou os governos estrangeiros que abrigam os terroristas.

  • Apontam frequentemente para probabilidade de que estes grupos possuam armas de destruição em massa (ADE) incluindo armas biológicas e químicas (bem como armas nucleares) . As ligações ao Iraque e "Estados vilões" (analisadas na Parte I) também são mencionadas.

  • As advertências incluem também avisos quanto a "ataques no solo americano", ataques contra civis em cidades ocidentais .

  • Apontam os esforços efectuados pelas autoridades policiais para capturar os alegados terroristas.

  • Os indivíduos presos são em praticamente todos os casos muçulmanos e/ou originários do Médio Oriente.

  • Tais relatos são utilizados também como justificação para a legislação de Segurança da Pátria (Homeland Security) , bem como para o "perfilamento étnico" e as prisões em massa de supostos terroristas.

    Este padrão de desinformação nos medias ocidentais aplica os clichés e lugares comuns habituais (Ver abaixo excertos de imprensa. Os clichés são indicados em itálico):

    "Relatórios publicados, bem como novas informações obtidas junto à inteligência americana e a fontes militares , apontam para um crescente corpo de evidência de que terroristas associados com e/ou simpáticos a Osama bin Laden estão a planear um ataque significativo sobre o solo americano .

    Também constituem alvos países aliados que se juntaram à caçada mundial às células muçulmanas radicais que teimam em desencadear novas ondas de ataques terroristas. ... A activação de forças antiterroristas pelo governo dos EUA segue-se a uma advertência do FBI de 14 de Nov. de que um "espectacular" novo ataque terrorista pode estar a surgir — mais cedo ou mais tarde. ...

    O governo australiano emitiu uma advertência sem precedente aos seus cidadãos de que terroristas do al-Qaeda ali podem lançar ataques nos próximos dois meses . [8]

    Apesar de o director da CIA George Tenet ter dito em recente audição junto ao Congresso que "uma tentativa de efectuar um outro ataque em solo americano é certa ", um conjunto de três antigos responsáveis da CIA pôs em dúvida a possibilidade de qualquer ataque "espectacular" em solo americano . [9]

    "Os alemães têm estado nervosos desde os ataques terroristas nos Estados Unidos, temendo que o seu país esteja maduro para o terrorismo . Vários dos sequestradores dos ataques do 11/Set organizaram os seus movimentos em Hamburgo. [10]

    "Em 18/Dez, um alto responsável do governo, falando na condição de anonimato, informou jornalistas acerca da 'alta probabilidade' de um ataque terrorista acontecer 'mais cedo ou mais tarde' . ... ele citou hotéis e centros comerciais como 'alvos soft' potenciais... O responsável também mencionou especificamente: um possível ataque químico no metro de Londres, o desencadeamento da varíola, o envenenamento da rede de água e golpes contra "alvos cartão-postal" tais como o Big Ben e Canary Warf.

    Ao alerta do "mais cedo ou mais tarde" seguiu-se uma advertência do Home Office no fim de Novembro que os ditos radicais islâmicos possam utilizar bombas sujas ou gás venenoso para infligir enormes baixas em cidades britânicas . Isto também provocou grandes manchetes mas tal advertência foi rapidamente desmentida por receio de que isto provocaria pânico público. [11]

    A mensagem ontem, apesar de obscura, era de que estes terroristas estão a tentar — e, mais cedo ou mais tarde , podem romper as defesas de Londres. É uma cidade onde dezenas de milhares de almas,... Peritos disseram reiteradamente que o Reino Unido, com o seu firme apoio aos EUA e à sua guerra ao terror, é um objectivo natural e realista para grupos do terror, incluindo a rede al-Qaeda conduzida pelo cérebro do 11/Set Osama bin Laden . [12]

    Citando Margaret Thatcher: "Só os EUA têm o alcance e os meios para tratarem de Osama bin Laden ou Saddam Hussein ou os demais vis psicopatas que mais cedo ou mais tarde seguirão as suas pisadas". [13]

    De acordo com um recente alerta do Departamento de Estado americano: "A segurança aumentada em instalações oficiais dos EUA levou terroristas a procurarem alvos mais fáceis tais como áreas residenciais, clubes, restaurantes, lugares de culto, hotéis, escolas, acontecimentos recreativos ao ar livre, locais de férias, praias e aviões" . [14]

    Ataques terroristas reais

    Para ser "eficaz" a campanha de medo e desinformação não pode confiar unicamente em "advertências" não confirmadas de ataques futuros, exige também ocorrências terroristas "reais" ou "incidentes", os quais dão credibilidade aos planos de guerra da administração. A propaganda endossa a necessidade de executar "medidas de emergência" bem como de acções militares retaliatórias.

    A colocação em funcionamento de "incidentes como pretexto de guerra" faz parte das premissas do Pentágono. De facto, faz parte integral da história militar dos EUA. [15] Na realidade, em 1962 a Joint Chiefs of Staff concebeu um plano secreto chamado "Operation Northwoods" para provocar deliberadamente baixas civis a fim de justificar a invasão de Cuba:

    "Nós podíamos explodir um navio americano na Baia de Guantanamo e culpar Cuba", "Podíamos desenvolver uma campanha de terror comunista-cubana na área de Miami, em outras cidades da Florida e mesmo em Washington" "listas de baixas em jornais americanos causariam um onda favorável de indignação nacional" (Ver o documento desclassificado Top Secret 1962 intitulado "Justification for U.S. Military Intervention in Cuba" [16] (Ver Operation Northwoods em http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html) .

    Não há evidência de que o Pentágono ou a CIA tenham desempenhado um papel directo em ataques terroristas recentes. Os últimos foram empreendidos por organizações (ou células destas organizações), as quais operam bastante independentemente, com um certo grau de autonomia. Esta independência é da própria natureza de uma operação de inteligência encoberta. O "activo de inteligência" não está em contacto directo com seus patrocinadores encobertos. Ele não é obrigatoriamente conhecedor do papel que desempenha por conta dos seus patrocinadores da inteligência.

    A pergunta fundamental é: quem está por trás deles? Através de que fontes estão eles a ser financiados? O que constitui a rede subjacente de ligações?

    Um recente (2002) resumo classificado minutado para guiar os "apelos para a criação de um chamado 'Grupo de operações proactivo e preventivo' (P2OG)" do Pentágono para lançar operações secretas destinadas a "estimular reacções" entre terroristas e Estados que possuem armas de destruição e massa — ou seja, por exemplo, espicaçando células terroristas a entrarem em acção e expondo-as a ataques de "resposta rápida" de forças americanas" [17]

    A iniciativa P2OG não tem nada de novo. Ela no essencial estende um aparelho existente de operações encobertas. Como já foi amplamente documentado, a CIA apoiou grupos terroristas desde a era da Guerra Fria. Este "espicaçamento de células terroristas" sob operações encobertas de inteligência frequentemente exige a infiltração e o treinamento dos grupos radicais ligados ao Al Qaeda.

    O apoio encoberto pelo aparelho militar e de inteligência dos EUA tem sido canalizado para várias organizações terroristas islâmicas através de uma complexa rede de intermediários e procuradores (proxies) . Além disso, numerosas declarações oficiais e relatórios de inteligência confirmam ligações (na era pós Guerra Fria) entre unidades de inteligência militar americana e operacionais da Al Qaeda, como ocorreu na Bósnia (meados da década de 1990) e na Macedonia (2001). [18] O Comité do Partido Republicano do Congresso dos EUA aponta num relatório de 1997 para a colaboração aberta entre os militares americanos e os operacionais do Al Qaeda na guerra civil na Bósnia. [19] (Ver Congresso dos EUA, 16/Janeiro/1997, http://www.globalresearch.ca/articles/DCH109A.html )

    Laços com o Al Qaeda e a inteligência militar do Paquistão (ISI)

    É na verdade revelador que em virtualmente todas as ocorrências terroristas pós 11/Set se diga que as organizações terroristas têm "laços com a Al Qaeda de Osama bin Laden". Isto é por si próprio uma peça crucial de informação. Naturalmente, o facto de que o Al Qaeda é uma criatura da CIA não é mencionado nos relatos da imprensa nem é considerado relevante.

    Os laços destas organizações terroristas (particularmente aquelas na Ásia) à inteligência militar do Paquistão (ISI) foram reconhecidos nuns poucos casos por fontes oficiais e despachos da imprensa. Confirmados pelo Council on Foreign Relations (CFR), alguns destes grupos diz-se terem ligações ao ISI do Paquistão, sem identificar a natureza de tais ligações. É desnecessário dizer que esta informação é crucial para identificar os patrocinadores destes ataques terroristas. Por outras palavras, declara-se que o ISI apoia estas organizações terroristas, enquanto, ao mesmo tempo, mantém laços estreitos com a CIA.

    O ataque bombista de Bali (Outubro de 2002)

    O ataque em Bali na praia de veraneio de Kuta resultou em cerca de 200 mortes, sobretudo turistas australianos. O ataque à bomba foi alegadamente perpetrado pelo Jemaah Islamiah, um grupo que opera em vários países do sudeste asiático. Relatos de imprensa e declarações oficiais apontam para laços estreitos entre o Jemaah Islamiah (JI) e o Al Qaeda. O "dirigente operacional" do JI é Riduan Isamuddin, aliás Hambali, um veterano da guerra soviético-afegã, que foi treinado no Afeganistão e no Paquistão. Segundo um relato da UPI:

    "A guerra [soviético-afegã] proporcionou oportunidades para figuras chave destes grupos, que estiveram no Afeganistão, experimentarem por si próprios a glória da jihad. Muitos dos radicais detidos em Singapura e na Malásia retiraram sua inspiração ideológica das actividades dos mujahideen no Afeganistão e no Paquistão" [20]

    Aquilo que tal relato deixa de mencionar é que o treinamento dos maujahideen no Afeganistão e no Paquistão foi uma iniciativa patrocinada pela CIA lançada no mandato do presidente Jimmy Carter em 1979, utilizando o ISI do Paquistão como um intermediário.

    Ligações do JI à inteligência militar da Indonésia

    Há indicações de que, além das suas alegadas ligações à Al Qaeda, o Jemaah Islamiah também tem ligações à inteligência militar da Indonésia, a qual por sua vez tem ligações à CIA e à inteligência australiana.

    As ligações entre o JI e a Agência de Inteligência da Indonésia (BIN) são reconhecidas pelo International Crisis Group (ICG):

    "Esta ligação [do JI ao BIN] precisa ser explorada mais completamente: isto não significa necessariamente que a inteligência militar estava a trabalhar com o JI, mas levanta uma pergunta acerca da extensão em que conhecia ou poderia ter descoberto mais acerca da JI do que reconheceu". [21] (International Crisis Group, http://www.crisisweb.org/projects/showreport.cfm?reportid=845 , 2003)

    O ICG, contudo, deixa de mencionar que o aparelho de inteligência da Indonésia tem sido, durante mais de 30 anos, controlado pela CIA.

    No rescaldo das bombas de Bali em Outubro de 2002, um relato contraditório proveniente de altas patentes da Indonésia apontava para envolvimento tanto do chefe da inteligência militar indonésia, general A. M. Hendropriyono, como da CIA:

    "A agência e o seu director, gen. A. M. Hendropriyono, são bem considerados pelos Estados Unidos e outros governos. Mas aqui ainda há altos responsáveis da inteligência que acreditam que a CIA estava por trás do bombismo". [22]

    Em resposta a tais declarações, a administração Bush exigiu que a presidente Megawati Sukarnoputri refutasse publicamente o envolvimento dos EUA naqueles ataques. Nenhuma retractação foi emitida. Não só a presidente Megawati permaneceu silenciosa acerca deste assunto como também acusou os EUA de ser:

    "uma superpotência que forçou o resto do mundo a alinhar-se consigo... Nós vemos como a ambição de conquistar outras nações levou a uma situação em que não há mais paz a menos que todo o mundo obedeça à vontade daquele que tem o poder e a força". [23]

    Enquanto isso, a administração Bush utilizou os ataques de Bali para apoiar a sua campanha de medo:

    "O presidente Bush disse 2ª feira que admite que o al-Qaeda fosse responsável pelo bombardeamento mortal na Indonésia e que está preocupado com novos ataques nos Estados Unidos". [24]

    As notícias [referentes ao ataque de Bali] chegavam enquanto responsáveis da inteligência americana advertiam que mais ataques como o bombardeamento indonésio podem ser esperados nos próximos meses, na Europa, no Extremo Oriente e nos EUA". [25]

    Encobrimento
    As ligações do JI à agência de inteligência indonésia nunca foram postas em relevo na investigação oficial do governo indonésio — a qual foi guiada nos bastidores pela inteligência australiana e pela CIA.

    Além disso, logo após o bombardeamento, o primeiro-ministro australiano John Howard "admitiu que as autoridades australianas foram advertidas acerca de possíveis ataques em Bali para preferiram não emitir uma advertência" [26] Também em consequência dos bombardeamentos, o governo australiano optou por trabalhar com o Kopassus, as Forças Especiais da Indonésia, na assim chamada "guerra ao terrorismo".

    Austrália: "Onda de indignação aproveitável"

    Recordando a Operação Northwoods, o ataque de Bali serviu para desencadear "uma onda de indignação aproveitável". [27] Ele contribuiu para inclinar a opinião pública australiana em favor da invasão americana do Iraque, e ao mesmo para enfraquecer o movimento de protesto anti-guerra. Na sequência do ataque de Bali, o governo australiano juntou-se "oficialmente" à "guerra ao terrorismo" conduzida pelos EUA. El e não só utilizou o bombardeamento de Bali como pretexto para integrar plenamente o eixo militar EUA-Reino Unido como também adoptou medidas policiais drásticas, incluindo o "perfilamento étnico" direccionado contra os seus próprios cidadãos:

    O primeiro-ministro John Howard fez recentemente a extraordinária declaração de que está preparado para efectuar ataques militares preventivos contra terroristas em países asiáticos vizinhos que planeiam atacar a Austrália. Agências de inteligência australianas também estão muito preocupadas quanto à probabilidade de um ataque do al-Qaeda que utilizasse armas nucleares. [28]

    Os ataques ao Parlamento indiano (Dezembro de 2001)

    Os ataques terroristas de Dezembro de 2001 ao Parlamento da Índia — os quais contribuíram para levar a Índia e o Paquistão quase à guerra — foram alegadamente efectuados por dois grupos rebeldes com base no Paquistão, o Lashkar-e-Taiba ("Exército dos Puros" e o Jaish-e-Muhammad ("Exército de Maomé). Os relatos da imprensa reconheceram os laços de ambos os grupos com o Al Qaeds, sem contudo mencionar que eles eram apoiados directamente pelo ISI do Paquistão. Quanto a isto, o Council on Foreign Relations (CFR) confirma que:

    "através do seu Interservices Intelligence agency (ISI), o Paquistão proporcionou financiamento, armas, instalações de treinamento e ajuda para o cruzamento de fronteiras ao Lashkar e ao Jaish... A muitos foi dado treinamento ideológico nas mesmas madrasas, ou seminários muçulmanos, que ensinavam os talibans e os combatentes estrangeiros no Afeganistão. Eles receberam treinamento em campos no Afeganistão ou em aldeias na Caxemira controlada pelo Paquistão. Grupos extremistas [apoiados pelo ISI] abriram recentemente várias novas madrasas em Azad Kashmir". [29] (Council on Foreign Relations at http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html , Washington 2002)

    Aquilo que o CFR deixa de mencionar é o relacionamento crucial entre o ISI e a CIA e o facto de que o ISI continua a apoiar o Lashkar, o Jaish e o militante Jammu e Kashmir Hizubl Mujahideen (JKHM), enquanto colabora também com a CIA. Ironicamente, confirmado pelos escritos de Zbigniew Brzezinski (que acontece ser um membro do CFR), o treinamento destes "combatentes estrangeiros" foi uma iniciativa da política externa americana, lançada durante a administração Carter em 1979 no princípio da guerra soviético-afegã. Coincidindo com o Acordo de Paz de Genebra e com a retirada soviética do Afeganistão, o ISI foi instrumental na criação do militante Jammu and Kashmir Hizbul Mujahideen (JKHM). [30] O ataque na hora certa ao Parlamento indiano, seguido pelos tumultos étnicos em Gujarat no princípio de 2002, fora o culminar de um processo iniciado na década de 1980, financiado pelo dinheiro da droga e auxiliado pela inteligência militar do Paquistão.

    Desmantelar a campanha de propaganda, construir um consenso anti-guerra

    Estamos na confluência de uma das mais sérias crises da história moderna, exigindo um grau de solidariedade sem precedentes, coragem e compromisso. A guerra dos Estados Unidos, que inclui a utilização de armas nucleares como "primeiro ataque", ameaça o futuro da humanidade.

    Grande parte da justificação para travar esta guerra sem fronteiras repousa na legitimidade do programa anti-terrorista da administração Bush. Este programa faz parte da campanha de propaganda, a qual por sua vez é utilizado para levar a população americana a uma aceitação incondicional da agenda de guerra.

    Nos EUA, e por toda a parte do mundo, o movimento anti-guerra ganhou ímpeto. Enquanto milhões de pessoas juntaram as mãos na oposição à guerra, a campanha de medo e desinformação da administração Bush, transmitida pelos media empresariais, tem servido para sustentar a cambaleante legitimidade da administração Bush.

    Nesta encruzilhada crítica, o movimento anti-guerra/pró-democracia deve necessariamente mover-se para um plano mais alto, dirigido às principais funções da máquina de propaganda a administração. A principal finalidade da propaganda é manter a legitimidade dos governantes e assegurar que estes permaneçam no poder.

    Impugnar o "direito a governar" da administração Bush

    Por outras palavras, a mobilização do sentimento anti-guerra por si própria não reverterá a maré da guerra.

    O que é necessário é desafiar consistentemente a legitimidade dos principais actores políticos e militares, revelar a verdadeira face do Império Americano e enfatizar a criminalização da sua política externa. Finalmente, é necessário questionar e finalmente impugnar o "direito a governar" da administração Bush.

    Revelar as mentiras por trás da administração Bush é a base para a destruição da legitimidade dos seus principais actores políticos e militares.

    Mesmo que a maioria da população esteja contra a guerra, isto por si próprio não impedirá a guerra de ocorrer. O objectivo da campanha de propaganda é manter as mentiras que suportam a legitimidade dos actores políticos e militares principais. Enquanto os gabinete de Bush for considerado um "governo legítimo" aos olhos do povo e da opinião pública mundial, ele executará o plano de invasão do Iraque, quer tenha apoio público ou não.

    Por outras palavras, esta legitimidade tem de ser desafiadas. Analogamente, na Grã Bretanha onde a maioria da população está contra a guerra conduzida pelos EUA, devem ser lançadas acções que resultem finalmente na queda do gabinete Blair e na retirada da Grã-Bretanha da coalizão militar dirigida pelos EUA.

    Uma condição necessária para deitar abaixo estes governantes é enfraquecer e finalmente desmantelar sua campanha de propaganda. Qual a melhor forma de alcançar este objectivo? Pela revelação completa das mentiras por trás da "guerra ao terrorismo" e pela revelação da cumplicidade da administração Bush com os acontecimentos do 11/Set.

    Esta é a grande burla, é a maior mentira da história dos EUA. O pretexto da guerra não engana e tais governantes deveriam ser removidos.

    Além disso, é importante mostrar que o "Inimigo Número Um" é fabricado. Os ataques terroristas na verdade são reais, mas quem está por trás deles? As operações encobertas em apoio de organizações terroristas, incluindo a história das ligações da Al Qaeda à CIA desde a guerra soviético-afegã, devem ser plenamente reveladas porque elas relacionam directamente a onda de ataques terroristas que se verificaram desde o 11 de Setembro, todos eles ditos ter ligações à Al Qaeda.

    Para reverter a maré, é imperiosa a difusão de informação a todos os níveis a fim de contrariar a campanha de propaganda.

    A verdade questiona e eclipsa a mentira.

    E a verdade é que a administração Bush está de facto a apoiar o terrorismo internacional como pretexto para travar a guerra contra o Iraque.

    Uma vez que esta verdade se torne plenamente entendida, a legitimidade dos governantes entrará em colapso como um castelo de cartas. Isto é que tem de ser alcançado. Mas nós só podemos chegar a isto cancelando efectivamente a campanha de propaganda oficial.

    A dinâmica e o êxito dos grandes comícios anti-guerra nos EUA, na União Europeia e por todo o mundo deveriam lançar as fundações uma rede permanente composta por dezenas de milhares de comités anti-guerra nos bairros, lugares de trabalho, paróquias, escolas, universidades, etc. Será finalmente através desta rede que a legitimidade daquele que "governam em nosso nome" será desafiada.

    Para desviar os planos de guerra da administração Bush e desactivar sua máquina de propaganda devemos nos meses pela frente estender a mão aos nossos concidadãos de toda a terra, nos EUA, Canadá e por todo o mundo, aos milhões de pessoas comuns que foram iludidas acerca das causas e consequências desta guerra, não deixando de mencionar as implicações da legislação sobre Segurança da Pátria da administração Bush, a qual no essencial põe no lugar os blocos para a construção de uma polícia de Estado.

    Esta iniciativa exige a difusão de informação numa rede extensa entre multidões, tendo em vista o enfraquecimento e finalmente a desactivação da máquina de propaganda da administração Bush.

    Quando as mentiras — incluindo aquelas referentes ao 11 de Setembro — forem plenamente reveladas e compreendidas por toda a gente, a legitimidade da administração Bush será rompida — o Big Brother não terá pernas para suster-se, ou seja, não haverá mais guerra para alimentá-lo. Se isto não resultará necessariamente numa "mudança de regime" fundamental e significativa nos EUA, um novo "consenso anti-guerra" terá emergido, o qual finalmente abrirá o caminho para uma luta mais vasta contra a Nova Ordem Mundial e contra a tentativa do Império Americano de estabelecer a dominação global.

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    NOTAS

    1. Washington Post, 25 January 2003.

    2. Ibid

    3 Chicago Sun, 31 December 2002.

    4 Reuters, 21 February 2003

    5. Ver Ian Woods, Conspiracy of Silence, McKinney Vindicated, Global Outlook, No. 2, 2002.

    6. Coleen Rowley, Memo To FBI Director Robert Mueller, citado em Global Outlook, No. 3, 2003, p. 28.

    7. The Boston Globe, 5 June 2002.

    8. Insight on the News, 3 February 2003.

    9. UPI, 19 December 2002.

    10. New York Times, 6 January 2003.

    11. Toronto Star, 5 January 2003.

    12. The Scotsman, 8 January 2003.

    13. UPI, 10 December 2002.

    14. AFP, 3 January 2003.

    15. Ver Richard Sanders, War Pretext Incidents, How to Start a War, Global Outlook, published in two parts, Issues 2 and 3, 2002-2003.

    16.Operation Northwoods, documentos desclassificados top secret enviados pelo Joint Chiefs of Staff ao secretário da Defesa Robert McNamara on March 13, 1962, http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html .

    17. William Arkin, The Secret War, The Los Angeles Times, 27 October 2002.

    18. Ver Michel Chossudovsky, War and Globalisation, The Truth behind September 11, Global Outlook, 2003, Chapter 3, http://globalresearch.ca/globaloutlook/truth911.html

    19. Ver Clinton-Approved Iranian Arms Transfers Help Turn Bosnia into Militant Islamic Base, Congressional Press Release, US Congress, 16 January 1997, http://www.globalresearch.ca/articles/DCH109A.html

    20. UPI, 6 January 2002.

    21. International Crisis Group, Indonesia Backgrounder: How The Jemaah Islamiyah Terrorist Network Operates, http://www.crisisweb.org/projects/showreport.cfm?reportid=845 , 2003

    22, Raymond Bonner and Jane Perlez, More Attacks on Westerners Are Expected in Indonesia, New York Times, 25 November 2002

    23. Quoted in Raymond Bonner and Jane Perlez, op cit.

    24. USA Today, 15 October 2002.

    25. Business AM, 15 October 2002.

    26. Christchurch Press, 22 November 2002), (Advertências semelhantes foram feitas pela CIA).

    27. Operation Northwoods, op cit.

    28. Insight on the News, 3 February 2003.

    29. Council on Foreign Relations at: http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html , Washington 2002.

    30. Ver K. Subrahmanyam, Pakistan is Pursuing Asian Goals, India Abroad, 3 November 1995.

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    ANEXO

    As evidências confirmando que sucessivas administrações dos EUA apoiaram o Al Qaeda são resumidas abaixo (são fornecidas referências numa bibliografia seleccionada):

  • As "Brigadas islâmicas" são uma criação da política externa dos EUA. Na era pós-Guerra Fria a CIA continua a apoiar e utilizar o Al Qaeda de Osama bin Laden nas suas operações encobertas. No jargão habitual da CIA, o Al Qaeda é classificado como um "activo de inteligência".

  • O Congresso dos EUA documentou em pormenor as ligações do Al Qaeda a agência dos governo americano durante a guerra civil na Bosnia-Herzegovina, bem como no Kosovo e na Macedonia.

  • As evidências confirmam que o Al Qaeda é apoiado pela inteligência militar do Paquistão, o Inter-services Intelligence (ISI). Tal como amplamente documentado, o ISI alegadamente desempenhou um papel encoberto no financiamento dos ataques do 11/Set. O ISI tem um estreito relacionamento de trabalho com a CIA.

  • O ISI do Paquistão apoiou firmemente várias organizações terroristas islâmicas, ao mesmo tempo que colaborava com a CIA.

  • Estes vários grupos terroristas apoiados pelo ISI do Paquistão operam com algum grau de autonomia em relação aos seus patrocinadores encobertos, mas no final das contas actuam de modo a servir interesses americanos.

  • A CIA vigia os seus "activos de inteligência". Tal como foi amplamente documentado, os paradeiros de Osama bin Laden são conhecidos. A Al Qaeda está infiltrada pela CIA. Por outras palavras, não houve "falhas de inteligência"! Os terroristas do 11/Set não actuaram pela sua própria vontade. Os sequestradores suicidas foram instrumentos numa operação de inteligência cuidadosamente planeada.
  • Para novos pormenores consulte o Centre for Research on Globalization, 9/11 Reader, que contem uma extensa bibliografia, em http://globalresearch.ca//by-topic/sept11/

    Ver também Michel Chossudovsky, War and Globalisation, The Truth behind September 11, Global Outlook, 2002
    http://globalresearch.ca/globaloutlook/truth911.html

    Centre for Research on Globalization, Foreknowledge of 9/11 A Compilation of CRG articles and documents in support of a 9-11 Investigation, http://globalresearch.ca/articles/CRG204A.html

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    [*] Autor de "Guerra e globalização: A verdade por trás do 11 de Setembro". Para mais pormenores ver http://resistir.info/chossudovsky/guerra_e_mundializacao.html


    Copyright  Michel Chossudovsky, CRG  2002. All rights reserved. Permission is granted to post this text on non-commercial community internet sites, provided the source and the URL are indicated, the essay remains intact and the copyright note is displayed. To publish this text in printed and/or other forms, including commercial internet sites and excerpts, contact the CRG at editor@globalresearch.ca .

    A URL do original deste artigo é: http://globalresearch.ca/articles/CHO301B.html . Tradução de J. Figueiredo.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info


  • 31/Jan/03