É a administração Bush, e não Bagdade, quem apoia a
Al Qaeda.
Fabricando um inimigo
por Michel Chossudovsky
[*]
Parte II de um conjunto de duas. A Parte I está em
http://resistir.info/chossudovsky/propaganda_de_guerra.html
.
Um dos principais objectivos da propaganda de guerra é "fabricar um
inimigo". Como o sentimento anti-guerra cresce e a legitimidade
política da administração Bush escasseia, as
dúvidas quanto à existência deste "inimigo
externo" devem ser afastadas.
Na medida em que a planeada invasão do Iraque se aproxima, a
administração Bush e o seu indefectível aliado
britânico multiplicam as "advertências" quanto a futuros
ataques terroristas do Al Qaeda. O inimigo tem de parecer genuíno.
Assim, milhares de novas estórias e editoriais ligando o Al Qaeda ao
governo de Bagdade são plantadas nas cadeias noticiosas. Colin Powell
enfatizou esta relação no seu discurso no Fórum
Económico Mundial de Davos, em Janeiro. O Iraque é apresentado
em declarações oficiais e nos media como "um paraíso
e um abastecedor da rede de terror":
"Evidências que ainda são mantidas em segredo estão a
acumular-se no interior da administração indicando que não
é por acaso que grupos terroristas no universo al Qaeda escolheram como
armas preferidas venenos, gases e dispositivos químicos que constituem
as armas de eleição do regime iraquiano".
[1]
Neste contexto, a propaganda pretende afogar a verdade e matar a
evidência de que a Al Qaeda de Osama bin Laden foi fabricada e
transformada em "Inimigo Número Um".
Enquanto isso, "operações antiterroristas" dirigidas
contra muçulmanos, incluindo prisões arbitrárias e em
massa foram aceleradas. Nos EUA, são contempladas medidas de
emergência em caso de guerra. Os media empresariais estão
ocupados na preparação da opinião pública. Diz-se
que uma "emergência nacional" é justificada porque
"a América está sob ataque":
"os EUA e os interesses ocidentais no mundo todo têm de estar
preparados para ataques retaliatórios das células adormecidas
logo que lancemos um ataque ao Iraque".
[2]
Defesa da pátria
Os procedimentos de emergência já estão a decorrer.
À Secretaria da Defesa da Pátria
(Secretary of Homeland Defence)
cujo mandato é "salvaguardar a nação de
ataques terroristas" já foi concedida autoridade "para
tomar o controle de uma emergência nacional", o que implica o
estabelecimento de um domínio militar de facto. Por sua vez, o
recém-criado Northern Command ficaria encarregado das
operações militares da "guerra ao terrorismo" no teatro
americano.
O programa de vacinação anti variólica
No contexto destas medidas de emergência, preparações para
a vacinação obrigatória contra a varíola já
estão em andamento como resposta a uma suposta ameaça de um
ataque com armas biológicas em solo americano. O programa de
vacinação que foi objecto de intensa propaganda
mediática seria lançado com a única finalidade de
criar uma atmosfera de pânico entre a população:
"Uns poucos indivíduos infectados dispondo de uma pilha de bilhetes
de avião ou bilhetes de autocarro, pouco importa poderiam
difundir a infecção de varíola por todo o país,
lançando uma praga de grandes proporções... Não
é inconcebível que uma Coreia do Norte ou um Iraque pudessem
manter varíola num laboratório escondido e passar os agentes
mortais a terroristas".
[3]
As intenções escondidas são cristalinas. Qual a melhor
forma de desacreditar o movimento anti-guerra e manter a legitimidade do
Estado? Criar condições, instilando temor e ódio, de modo
a apresentar os governantes como "guardiões da paz",
comprometidos com a eliminação do terrorismo e a
preservação da democracia. Nas palavras do primeiro-ministro
britânico Tony Blair, reflectindo quase ao pé da letra os
despachos da propaganda americana:
"Acredito ser inevitável que eles tentem de uma forma ou de
outra... Penso que podemos ver evidências com as prisões recentes
de que a rede terrorista está aqui tal como no resto da Europa e no
resto do mundo... A coisa mais assustadora em relação a estas
pessoas é a possível conjunção de fanatismo e
tecnologia capaz de efectuar destruição em massa".
[4]
Prisões em massa
A prisão em massa de indivíduos com origem no Médio
Oriente a partir de 11 de Setembro de 2001 sob acusações
inventadas não é motivada por considerações de
segurança. Sua principal função é proporcionar
"credibilidade" ao medo e à campanha de propaganda. Cada
prisão, amplamente publicitada pelos media empresariais, repetida dia
após dia, "dá um rosto" a este inimigo
invisível. Serve também para disfarçar o facto de que a
Al Qaeda é uma criatura da CIA. O "Inimigo Número Um"
não é um inimigo e sim um instrumento.
Por outras palavras, a campanha de propaganda executa duas importantes
funções.
Primeiro, deve assegurar que o inimigo seja considerado uma ameaça real.
Segundo, deve distorcer a verdade isto é, deve ocultar "o
relacionamento" entre este "inimigo fabricado" e os seus
criadores dentro do aparelho de inteligência militar.
Assim, a natureza e a história do Al Qaeda de Osama bin Laden e as
brigadas islâmicas desde a guerra soviético-afegã devem ser
suprimidas porque se chegar a um público mais vasto a legitimidade
da assim chamada "guerra ao terrorismo" entra em colapso como um
castelo de cartas. E neste processo, a legitimidade dos principais actores
políticos e militares é ameaçada.
O escândalo do "conhecimento prévio do 11/Set"
Em 16 de Maio de 2002 os tablóides de Nova York revelaram que "o
presidente Bush foi advertido do possível sequestro antes dos ataques
terroristas" e deixou de actuar.
[5]
A campanha de desinformação estava visivelmente a encalhar face
às evidências cada vez maiores das ligações
CIA-Osama. Pela primeira vez desde o 11/Set, a imprensa dominante sugeriu a
possibilidade de um encobrimento aos mais altos níveis dos aparelho de
Estado dos EUA.
O agente do FBI Coleen Rowley, que tocou o apito para o FBI, desempenhou um
papel chave no desencadeamento da crise. O seu controverso memorando ao
director do FBI Robert Mueller apontava para a existência de
"barreiras deliberadas" à investigação dos
ataques do 11 de Setembro:
"Minutos após os ataques do 11/Set o SSA [David Frasca, director da
Unidade dos Fundamentalistas Radicais do FBI] disse 'isto foi provavelmente
apenas uma coincidência' e nós nada devíamos fazer
até que obtivéssemos a sua permissão, porque
poderíamos interferir com alguma coisa que estivesse a acontecer em
outro lugar do país"
[6]
Como resposta a uma iminente crise política, a campanha de medo e
desinformação tornou-se super directa. Todas as cadeias
noticiosas foram subitamente inundadas com relatos e advertências de
"futuros ataques terroristas". Uma declaração com
palavras cuidadosamente escolhidas (destinadas visivelmente a instilar o medo)
do vice-presidente Dick Cheney contribuiu para preparar o cenário:
"Penso que as perspectivas de um futuro ataque aos EUA são quase
uma certeza... Isto pode acontecer amanhã, na próxima semana ou
no próximo ano, mas eles continuarão a tentar. E temos de estar
preparados".
[7]
O que Cheney está realmente a dizer-nos com isto é que o nosso
"activo de inteligência", criado por nós, vai atacar
outra vez. Então, se esta "criatura da CIA" estivesse a
planear novos ataques terroristas, seria de esperar que a CIA fosse a primeira
a saber disso. Com toda a probabilidade, a CIA também controla as
chamadas "advertências" provenientes de fontes da
própria CIA sobre "futuros ataques terroristas" nos EUA e por
todo o mundo.
Padrão consistente de propaganda
Através de um exame cuidadoso das notícias acerca de reais,
"possíveis" ou "futuros" ataques terroristas
verifica-se que a campanha de propaganda apresenta um padrão constante.
Conceitos semelhantes aparecem simultaneamente em centenas de relatos dos media:
eles referem-se a
"fontes confiáveis", um conjunto crescente de evidências
ou seja, governo ou serviços de inteligência ou FBI.
Eles invariavelmente indicam que os grupos terroristas envolvidos
têm "laços com bin Laden" ou Al Qaeda, ou são
"simpáticos a bin Laden"
,
Os relatos apontam muitas vezes para a possibilidade de ataques terroristas,
"mais cedo ou mais tarde"
ou
"nos próximos dois meses"
.
Os relatos frequentemente levantam a questão dos chamados
"alvos soft"
, indicando a probabilidade de baixas civis.
Indicam que futuros ataques terroristas poderiam ocorrer
num certo número de países aliados
(incluindo Grã Bretanha, França, Alemanha) em que a
opinião pública é fortemente contrária à
dita guerra ao terrorismo conduzida pelos EUA.
Confirmam a necessidade, por parte dos EUA e dos seus aliados, de iniciar
acções "preventivas"
contra estas várias organizações terroristas e/ou os
governos estrangeiros que abrigam os terroristas.
Apontam frequentemente para probabilidade de que estes grupos possuam
armas de destruição em massa (ADE) incluindo armas
biológicas e químicas (bem como armas nucleares)
. As ligações ao Iraque e "Estados vilões"
(analisadas na Parte I) também são mencionadas.
As advertências incluem também avisos quanto a
"ataques no solo americano", ataques contra civis em cidades
ocidentais
.
Apontam os esforços efectuados pelas autoridades policiais para
capturar os alegados terroristas.
Os indivíduos presos são em praticamente todos os casos
muçulmanos e/ou originários do Médio Oriente.
Tais relatos são utilizados também como
justificação para a legislação de Segurança
da Pátria
(Homeland Security)
, bem como para o "perfilamento étnico" e as prisões em
massa de supostos terroristas.
Este padrão de desinformação nos medias ocidentais aplica
os clichés e lugares comuns habituais (Ver abaixo excertos de imprensa.
Os clichés são indicados em itálico):
"Relatórios publicados, bem como novas informações
obtidas junto à inteligência americana e a fontes militares
, apontam para um crescente corpo de evidência de que terroristas
associados com e/ou simpáticos a Osama bin Laden
estão a planear um ataque significativo
sobre o solo americano
.
Também
constituem alvos países aliados
que se juntaram à caçada mundial às células
muçulmanas radicais que teimam em desencadear novas ondas de ataques
terroristas. ... A activação de forças antiterroristas
pelo governo dos EUA segue-se a uma advertência do FBI de 14 de Nov. de
que um "espectacular" novo ataque terrorista
pode estar a surgir mais cedo ou mais tarde. ...
O governo australiano emitiu uma advertência sem precedente aos seus
cidadãos de que terroristas do al-Qaeda ali podem lançar
ataques nos próximos dois meses
.
[8]
Apesar de o director da CIA George Tenet ter dito em recente
audição junto ao Congresso que "uma tentativa de efectuar
um outro ataque em solo americano é certa
", um conjunto de três antigos responsáveis da CIA pôs
em dúvida a possibilidade de qualquer ataque "espectacular"
em solo americano
.
[9]
"Os alemães têm estado nervosos desde os ataques terroristas
nos Estados Unidos,
temendo que o seu país esteja maduro para o terrorismo
. Vários dos sequestradores dos ataques do 11/Set organizaram os seus
movimentos em Hamburgo.
[10]
"Em 18/Dez, um alto responsável do governo, falando na
condição de anonimato, informou jornalistas acerca da
'alta probabilidade' de um ataque terrorista acontecer 'mais cedo ou mais tarde'
. ... ele citou hotéis e centros comerciais como 'alvos soft'
potenciais... O responsável também mencionou especificamente:
um possível ataque químico no metro de Londres, o desencadeamento
da varíola, o envenenamento da rede de água e golpes contra
"alvos cartão-postal" tais como o Big Ben e Canary Warf.
Ao
alerta do "mais cedo ou mais tarde"
seguiu-se uma advertência do Home Office no fim de Novembro que os ditos
radicais islâmicos possam utilizar
bombas sujas ou gás venenoso
para infligir
enormes baixas em cidades britânicas
. Isto também provocou grandes manchetes mas tal advertência foi
rapidamente desmentida por receio de que isto provocaria pânico
público.
[11]
A mensagem ontem, apesar de obscura, era de que estes terroristas estão
a tentar e,
mais cedo ou mais tarde
, podem romper as defesas de Londres. É uma cidade onde dezenas de
milhares de almas,... Peritos disseram reiteradamente que o Reino Unido, com o
seu firme apoio aos EUA e à sua guerra ao terror,
é um objectivo natural e realista para grupos do terror, incluindo a
rede al-Qaeda conduzida pelo cérebro do 11/Set Osama bin Laden
.
[12]
Citando Margaret Thatcher: "Só os EUA têm o alcance e os
meios para tratarem de Osama bin Laden ou Saddam Hussein
ou os demais vis psicopatas que mais cedo ou mais tarde seguirão as
suas pisadas".
[13]
De acordo com um recente alerta do Departamento de Estado americano: "A
segurança aumentada em instalações oficiais dos EUA
levou terroristas a procurarem alvos mais fáceis tais como áreas
residenciais, clubes, restaurantes, lugares de culto, hotéis, escolas,
acontecimentos recreativos ao ar livre, locais de férias, praias e
aviões"
.
[14]
Ataques terroristas reais
Para ser "eficaz" a campanha de medo e desinformação
não pode confiar unicamente em "advertências" não
confirmadas de ataques futuros, exige também ocorrências
terroristas "reais" ou "incidentes", os quais dão
credibilidade aos planos de guerra da administração. A
propaganda endossa a necessidade de executar "medidas de
emergência" bem como de acções militares
retaliatórias.
A colocação em funcionamento de "incidentes como pretexto de
guerra" faz parte das premissas do Pentágono. De facto, faz parte
integral da história militar dos EUA.
[15]
Na realidade, em 1962 a
Joint Chiefs of Staff concebeu um plano secreto chamado "Operation
Northwoods" para provocar deliberadamente baixas civis a fim de justificar
a invasão de Cuba:
"Nós podíamos explodir um navio americano na Baia de
Guantanamo e culpar Cuba", "Podíamos desenvolver uma campanha
de terror comunista-cubana na área de Miami, em outras cidades da
Florida e mesmo em Washington" "listas de baixas em jornais
americanos causariam um onda favorável de indignação
nacional" (Ver o documento desclassificado Top Secret 1962 intitulado
"Justification for U.S. Military Intervention in Cuba"
[16]
(Ver Operation Northwoods em
http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html)
.
Não há evidência de que o Pentágono ou a CIA tenham
desempenhado um papel directo em ataques terroristas recentes. Os
últimos foram empreendidos por organizações (ou células
destas organizações), as quais operam bastante independentemente,
com um certo grau de autonomia. Esta independência é da
própria natureza de uma operação de inteligência
encoberta. O "activo de inteligência" não está
em contacto directo com seus patrocinadores encobertos. Ele não
é obrigatoriamente conhecedor do papel que desempenha por conta dos seus
patrocinadores da inteligência.
A pergunta fundamental é: quem está por trás deles?
Através de que fontes estão eles a ser financiados? O que
constitui a rede subjacente de ligações?
Um recente (2002) resumo classificado minutado para guiar os "apelos para
a criação de um chamado 'Grupo de operações
proactivo e preventivo' (P2OG)" do Pentágono para lançar
operações secretas destinadas a "estimular
reacções" entre terroristas e Estados que possuem armas de
destruição e massa ou seja, por exemplo,
espicaçando células terroristas a entrarem em acção
e expondo-as a ataques de "resposta rápida" de forças
americanas"
[17]
A iniciativa P2OG não tem nada de novo. Ela no essencial estende um
aparelho existente de operações encobertas. Como já foi
amplamente documentado, a CIA apoiou grupos terroristas desde a era da Guerra
Fria. Este "espicaçamento de células terroristas" sob
operações encobertas de inteligência frequentemente exige a
infiltração e o treinamento dos grupos radicais ligados ao Al
Qaeda.
O apoio encoberto pelo aparelho militar e de inteligência dos EUA tem
sido canalizado para várias organizações terroristas
islâmicas através de uma complexa rede de intermediários e
procuradores
(proxies)
. Além disso, numerosas declarações oficiais e
relatórios de inteligência confirmam ligações (na
era pós Guerra Fria) entre unidades de inteligência militar
americana e operacionais da Al Qaeda, como ocorreu na Bósnia (meados da
década de 1990) e na Macedonia (2001).
[18]
O Comité do Partido Republicano do Congresso dos EUA aponta num
relatório de 1997 para a colaboração aberta entre os
militares americanos e os operacionais do Al Qaeda na guerra civil na
Bósnia.
[19]
(Ver Congresso dos EUA, 16/Janeiro/1997,
http://www.globalresearch.ca/articles/DCH109A.html
)
Laços com o Al Qaeda e a inteligência militar do Paquistão
(ISI)
É na verdade revelador que em virtualmente todas as ocorrências
terroristas pós 11/Set se diga que as organizações
terroristas têm "laços com a Al Qaeda de Osama bin
Laden". Isto é por si próprio uma peça crucial de
informação. Naturalmente, o facto de que o Al Qaeda é uma
criatura da CIA não é mencionado nos relatos da imprensa nem
é considerado relevante.
Os laços destas organizações terroristas (particularmente
aquelas na Ásia) à inteligência militar do Paquistão
(ISI) foram reconhecidos nuns poucos casos por fontes oficiais e despachos da
imprensa. Confirmados pelo Council on Foreign Relations (CFR), alguns destes
grupos diz-se terem ligações ao ISI do Paquistão, sem
identificar a natureza de tais ligações. É
desnecessário dizer que esta informação é crucial
para identificar os patrocinadores destes ataques terroristas. Por outras
palavras, declara-se que o ISI apoia estas organizações
terroristas, enquanto, ao mesmo tempo, mantém laços estreitos com
a CIA.
O ataque bombista de Bali (Outubro de 2002)
O ataque em Bali na praia de veraneio de Kuta resultou em cerca de 200 mortes,
sobretudo turistas australianos. O ataque à bomba foi alegadamente
perpetrado pelo Jemaah Islamiah, um grupo que opera em vários
países do sudeste asiático. Relatos de imprensa e
declarações oficiais apontam para laços estreitos entre o
Jemaah Islamiah (JI) e o Al Qaeda. O "dirigente operacional" do JI
é Riduan Isamuddin, aliás Hambali, um veterano da guerra
soviético-afegã, que foi treinado no Afeganistão e no
Paquistão. Segundo um relato da UPI:
"A guerra [soviético-afegã] proporcionou oportunidades para
figuras chave destes grupos, que estiveram no Afeganistão,
experimentarem por si próprios a glória da jihad. Muitos dos
radicais detidos em Singapura e na Malásia retiraram sua
inspiração ideológica das actividades dos mujahideen no
Afeganistão e no Paquistão"
[20]
Aquilo que tal relato deixa de mencionar é que o treinamento dos
maujahideen no Afeganistão e no Paquistão foi uma iniciativa
patrocinada pela CIA lançada no mandato do presidente Jimmy Carter em
1979, utilizando o ISI do Paquistão como um intermediário.
Ligações do JI à inteligência militar da
Indonésia
Há indicações de que, além das suas alegadas
ligações à Al Qaeda, o Jemaah Islamiah também tem
ligações à inteligência militar da Indonésia,
a qual por sua vez tem ligações à CIA e à
inteligência australiana.
As ligações entre o JI e a Agência de Inteligência da
Indonésia (BIN) são reconhecidas pelo International Crisis Group
(ICG):
"Esta ligação [do JI ao BIN] precisa ser explorada mais
completamente: isto não significa necessariamente que a
inteligência militar estava a trabalhar com o JI, mas levanta uma
pergunta acerca da extensão em que conhecia ou poderia ter descoberto
mais acerca da JI do que reconheceu". [21] (International Crisis Group,
http://www.crisisweb.org/projects/showreport.cfm?reportid=845
, 2003)
O ICG, contudo, deixa de mencionar que o aparelho de inteligência da
Indonésia tem sido, durante mais de 30 anos, controlado pela CIA.
No rescaldo das bombas de Bali em Outubro de 2002, um relato
contraditório proveniente de altas patentes da Indonésia apontava
para envolvimento tanto do chefe da inteligência militar
indonésia, general A. M. Hendropriyono, como da CIA:
"A agência e o seu director, gen. A. M. Hendropriyono, são
bem considerados pelos Estados Unidos e outros governos. Mas aqui ainda
há altos responsáveis da inteligência que acreditam que a
CIA estava por trás do bombismo".
[22]
Em resposta a tais declarações, a administração
Bush exigiu que a presidente Megawati Sukarnoputri refutasse publicamente o
envolvimento dos EUA naqueles ataques. Nenhuma retractação foi
emitida. Não só a presidente Megawati permaneceu silenciosa
acerca deste assunto como também acusou os EUA de ser:
"uma superpotência que forçou o resto do mundo a alinhar-se
consigo... Nós vemos como a ambição de conquistar outras
nações levou a uma situação em que não
há mais paz a menos que todo o mundo obedeça à vontade
daquele que tem o poder e a força".
[23]
Enquanto isso, a administração Bush utilizou os ataques de Bali
para apoiar a sua campanha de medo:
"O presidente Bush disse 2ª feira que admite que o al-Qaeda fosse
responsável pelo bombardeamento mortal na Indonésia e que
está preocupado com novos ataques nos Estados Unidos".
[24]
As notícias [referentes ao ataque de Bali] chegavam enquanto
responsáveis da inteligência americana advertiam que mais ataques
como o bombardeamento indonésio podem ser esperados nos próximos
meses, na Europa, no Extremo Oriente e nos EUA".
[25]
Encobrimento
As ligações do JI à agência de inteligência
indonésia nunca foram postas em relevo na investigação
oficial do governo indonésio a qual foi guiada nos bastidores
pela inteligência australiana e pela CIA.
Além disso, logo após o bombardeamento, o primeiro-ministro
australiano John Howard "admitiu que as autoridades australianas foram
advertidas acerca de possíveis ataques em Bali para preferiram
não emitir uma advertência"
[26]
Também em consequência dos bombardeamentos, o governo
australiano optou por trabalhar com o Kopassus, as Forças Especiais da
Indonésia, na assim chamada "guerra ao terrorismo".
Austrália: "Onda de indignação
aproveitável"
Recordando a Operação Northwoods, o ataque de Bali serviu para
desencadear "uma onda de indignação
aproveitável".
[27]
Ele contribuiu para inclinar a opinião pública australiana em
favor da invasão americana do Iraque, e ao mesmo para enfraquecer o
movimento de protesto anti-guerra. Na sequência do ataque de Bali, o
governo australiano juntou-se "oficialmente" à "guerra ao
terrorismo" conduzida pelos EUA. El e não só utilizou o
bombardeamento de Bali como pretexto para integrar plenamente o eixo militar
EUA-Reino Unido como também adoptou medidas policiais drásticas,
incluindo o "perfilamento étnico" direccionado contra os seus
próprios cidadãos:
O primeiro-ministro John Howard fez recentemente a extraordinária
declaração de que está preparado para efectuar ataques
militares preventivos contra terroristas em países asiáticos
vizinhos que planeiam atacar a Austrália. Agências de
inteligência australianas também estão muito preocupadas
quanto à probabilidade de um ataque do al-Qaeda que utilizasse armas
nucleares.
[28]
Os ataques ao Parlamento indiano (Dezembro de 2001)
Os ataques terroristas de Dezembro de 2001 ao Parlamento da Índia
os quais contribuíram para levar a Índia e o Paquistão
quase à guerra foram alegadamente efectuados por dois grupos
rebeldes com base no Paquistão, o Lashkar-e-Taiba ("Exército
dos Puros" e o Jaish-e-Muhammad ("Exército de Maomé).
Os relatos da imprensa reconheceram os laços de ambos os grupos com o Al
Qaeds, sem contudo mencionar que eles eram apoiados directamente pelo ISI do
Paquistão. Quanto a isto, o Council on Foreign Relations (CFR) confirma
que:
"através do seu Interservices Intelligence agency (ISI), o
Paquistão proporcionou financiamento, armas, instalações
de treinamento e ajuda para o cruzamento de fronteiras ao Lashkar e ao Jaish...
A muitos foi dado treinamento ideológico nas mesmas madrasas, ou
seminários muçulmanos, que ensinavam os talibans e os combatentes
estrangeiros no Afeganistão. Eles receberam treinamento em campos no
Afeganistão ou em aldeias na Caxemira controlada pelo Paquistão.
Grupos extremistas [apoiados pelo ISI] abriram recentemente várias novas
madrasas em Azad Kashmir".
[29]
(Council on Foreign Relations at
http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html
, Washington 2002)
Aquilo que o CFR deixa de mencionar é o relacionamento crucial entre o
ISI e a CIA e o facto de que o ISI continua a apoiar o Lashkar, o Jaish e o
militante Jammu e Kashmir Hizubl Mujahideen (JKHM), enquanto colabora
também com a CIA. Ironicamente, confirmado pelos escritos de Zbigniew
Brzezinski (que acontece ser um membro do CFR), o treinamento destes
"combatentes estrangeiros" foi uma iniciativa da política
externa americana, lançada durante a administração Carter
em 1979 no princípio da guerra soviético-afegã.
Coincidindo com o Acordo de Paz de Genebra e com a retirada soviética do
Afeganistão, o ISI foi instrumental na criação do
militante Jammu and Kashmir Hizbul Mujahideen (JKHM).
[30]
O ataque na hora certa ao Parlamento indiano, seguido pelos tumultos
étnicos em Gujarat no princípio de 2002, fora o culminar de um
processo iniciado na década de 1980, financiado pelo dinheiro da droga e
auxiliado pela inteligência militar do Paquistão.
Desmantelar a campanha de propaganda, construir um consenso anti-guerra
Estamos na confluência de uma das mais sérias crises da
história moderna, exigindo um grau de solidariedade sem precedentes,
coragem e compromisso. A guerra dos Estados Unidos, que inclui a
utilização de armas nucleares como "primeiro ataque",
ameaça o futuro da humanidade.
Grande parte da justificação para travar esta guerra sem
fronteiras repousa na legitimidade do programa anti-terrorista da
administração Bush. Este programa faz parte da campanha de
propaganda, a qual por sua vez é utilizado para levar a
população americana a uma aceitação incondicional
da agenda de guerra.
Nos EUA, e por toda a parte do mundo, o movimento anti-guerra ganhou
ímpeto. Enquanto milhões de pessoas juntaram as mãos na
oposição à guerra, a campanha de medo e
desinformação da administração Bush, transmitida
pelos media empresariais, tem servido para sustentar a cambaleante legitimidade
da administração Bush.
Nesta encruzilhada crítica, o movimento
anti-guerra/pró-democracia deve necessariamente mover-se para um plano
mais alto, dirigido às principais funções da
máquina de propaganda a administração. A principal
finalidade da propaganda é manter a legitimidade dos governantes e
assegurar que estes permaneçam no poder.
Impugnar o "direito a governar" da administração Bush
Por outras palavras, a mobilização do sentimento anti-guerra por
si própria não reverterá a maré da guerra.
O que é necessário é desafiar consistentemente a
legitimidade dos principais actores políticos e militares, revelar a
verdadeira face do Império Americano e enfatizar a
criminalização da sua política externa. Finalmente,
é necessário questionar e finalmente impugnar o "direito a
governar" da administração Bush.
Revelar as mentiras por trás da administração Bush
é a base para a destruição da legitimidade dos seus
principais actores políticos e militares.
Mesmo que a maioria da população esteja contra a guerra, isto por
si próprio não impedirá a guerra de ocorrer. O objectivo
da campanha de propaganda é manter as mentiras que suportam a
legitimidade dos actores políticos e militares principais. Enquanto os
gabinete de Bush for considerado um "governo legítimo" aos
olhos do povo e da opinião pública mundial, ele executará
o plano de invasão do Iraque, quer tenha apoio público ou
não.
Por outras palavras, esta legitimidade tem de ser desafiadas. Analogamente, na
Grã Bretanha onde a maioria da população está
contra a guerra conduzida pelos EUA, devem ser lançadas
acções que resultem finalmente na queda do gabinete Blair e na
retirada da Grã-Bretanha da coalizão militar dirigida pelos EUA.
Uma condição necessária para deitar abaixo estes
governantes é enfraquecer e finalmente desmantelar sua campanha de
propaganda. Qual a melhor forma de alcançar este objectivo? Pela
revelação completa das mentiras por trás da "guerra
ao terrorismo" e pela revelação da cumplicidade da
administração Bush com os acontecimentos do 11/Set.
Esta é a grande burla, é a maior mentira da história dos
EUA. O pretexto da guerra não engana e tais governantes deveriam ser
removidos.
Além disso, é importante mostrar que o "Inimigo
Número Um" é fabricado. Os ataques terroristas na verdade
são reais, mas quem está por trás deles? As
operações encobertas em apoio de organizações
terroristas, incluindo a história das ligações da Al Qaeda
à CIA desde a guerra soviético-afegã, devem ser plenamente
reveladas porque elas relacionam directamente a onda de ataques terroristas que
se verificaram desde o 11 de Setembro, todos eles ditos ter
ligações à Al Qaeda.
Para reverter a maré, é imperiosa a difusão de
informação a todos os níveis a fim de contrariar a
campanha de propaganda.
A verdade questiona e eclipsa a mentira.
E a verdade é que a administração Bush está de
facto a apoiar o terrorismo internacional como pretexto para travar a guerra
contra o Iraque.
Uma vez que esta verdade se torne plenamente entendida, a legitimidade dos
governantes entrará em colapso como um castelo de cartas. Isto é
que tem de ser alcançado. Mas nós só podemos chegar a
isto cancelando efectivamente a campanha de propaganda oficial.
A dinâmica e o êxito dos grandes comícios anti-guerra nos
EUA, na União Europeia e por todo o mundo deveriam lançar as
fundações uma rede permanente composta por dezenas de milhares de
comités anti-guerra nos bairros, lugares de trabalho, paróquias,
escolas, universidades, etc. Será finalmente através desta rede
que a legitimidade daquele que "governam em nosso nome" será
desafiada.
Para desviar os planos de guerra da administração Bush e
desactivar sua máquina de propaganda devemos nos meses pela frente
estender a mão aos nossos concidadãos de toda a terra, nos EUA,
Canadá e por todo o mundo, aos milhões de pessoas comuns que
foram iludidas acerca das causas e consequências desta guerra, não
deixando de mencionar as implicações da legislação
sobre Segurança da Pátria da administração Bush, a
qual no essencial põe no lugar os blocos para a construção
de uma polícia de Estado.
Esta iniciativa exige a difusão de informação numa rede
extensa entre multidões, tendo em vista o enfraquecimento e finalmente a
desactivação da máquina de propaganda da
administração Bush.
Quando as mentiras incluindo aquelas referentes ao 11 de Setembro
forem plenamente reveladas e compreendidas por toda a gente, a legitimidade da
administração Bush será rompida o Big Brother
não terá pernas para suster-se, ou seja, não haverá
mais guerra para alimentá-lo. Se isto não resultará
necessariamente numa "mudança de regime" fundamental e
significativa nos EUA, um novo "consenso anti-guerra" terá
emergido, o qual finalmente abrirá o caminho para uma luta mais vasta
contra a Nova Ordem Mundial e contra a tentativa do Império Americano de
estabelecer a dominação global.
_______________
NOTAS
1. Washington Post, 25 January 2003.
2. Ibid
3 Chicago Sun, 31 December 2002.
4 Reuters, 21 February 2003
5. Ver Ian Woods, Conspiracy of Silence, McKinney Vindicated, Global Outlook,
No. 2, 2002.
6. Coleen Rowley, Memo To FBI Director Robert Mueller, citado em Global
Outlook, No. 3, 2003, p. 28.
7. The Boston Globe, 5 June 2002.
8. Insight on the News, 3 February 2003.
9. UPI, 19 December 2002.
10. New York Times, 6 January 2003.
11. Toronto Star, 5 January 2003.
12. The Scotsman, 8 January 2003.
13. UPI, 10 December 2002.
14. AFP, 3 January 2003.
15. Ver Richard Sanders, War Pretext Incidents, How to Start a War, Global
Outlook, published in two parts, Issues 2 and 3, 2002-2003.
16.Operation Northwoods, documentos desclassificados top secret enviados pelo
Joint Chiefs of Staff ao secretário da Defesa Robert McNamara on March
13, 1962,
http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html
.
17. William Arkin, The Secret War, The Los Angeles Times, 27 October 2002.
18. Ver Michel Chossudovsky, War and Globalisation, The Truth behind September
11, Global Outlook, 2003, Chapter 3,
http://globalresearch.ca/globaloutlook/truth911.html
19. Ver Clinton-Approved Iranian Arms Transfers Help Turn Bosnia into Militant
Islamic Base, Congressional Press Release, US Congress, 16 January 1997,
http://www.globalresearch.ca/articles/DCH109A.html
20. UPI, 6 January 2002.
21. International Crisis Group, Indonesia Backgrounder: How The Jemaah
Islamiyah Terrorist Network Operates,
http://www.crisisweb.org/projects/showreport.cfm?reportid=845
, 2003
22, Raymond Bonner and Jane Perlez, More Attacks on Westerners Are Expected in
Indonesia, New York Times, 25 November 2002
23. Quoted in Raymond Bonner and Jane Perlez, op cit.
24. USA Today, 15 October 2002.
25. Business AM, 15 October 2002.
26. Christchurch Press, 22 November 2002), (Advertências semelhantes
foram feitas pela CIA).
27. Operation Northwoods, op cit.
28. Insight on the News, 3 February 2003.
29. Council on Foreign Relations at:
http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html
, Washington 2002.
30. Ver K. Subrahmanyam, Pakistan is Pursuing Asian Goals, India Abroad, 3
November 1995.
__________________
ANEXO
As evidências confirmando que sucessivas administrações dos
EUA apoiaram o Al Qaeda são resumidas abaixo (são fornecidas
referências numa bibliografia seleccionada):
As "Brigadas islâmicas" são uma criação
da política externa dos EUA. Na era pós-Guerra Fria a CIA
continua a apoiar e utilizar o Al Qaeda de Osama bin Laden nas suas
operações encobertas. No jargão habitual da CIA, o Al
Qaeda é classificado como um "activo de inteligência".
O Congresso dos EUA documentou em pormenor as ligações do Al
Qaeda a agência dos governo americano durante a guerra civil na
Bosnia-Herzegovina, bem como no Kosovo e na Macedonia.
As evidências confirmam que o Al Qaeda é apoiado pela
inteligência militar do Paquistão, o Inter-services Intelligence
(ISI). Tal como amplamente documentado, o ISI alegadamente desempenhou um
papel encoberto no financiamento dos ataques do 11/Set. O ISI tem um estreito
relacionamento de trabalho com a CIA.
O ISI do Paquistão apoiou firmemente várias
organizações terroristas islâmicas, ao mesmo tempo que
colaborava com a CIA.
Estes vários grupos terroristas apoiados pelo ISI do Paquistão
operam com algum grau de autonomia em relação aos seus
patrocinadores encobertos, mas no final das contas actuam de modo a servir
interesses americanos.
A CIA vigia os seus "activos de inteligência". Tal como foi
amplamente documentado, os paradeiros de Osama bin Laden são conhecidos.
A Al Qaeda está infiltrada pela CIA. Por outras palavras, não
houve "falhas de inteligência"! Os terroristas do 11/Set
não actuaram pela sua própria vontade. Os sequestradores
suicidas foram instrumentos numa operação de inteligência
cuidadosamente planeada.
Para novos pormenores consulte o Centre for Research on Globalization, 9/11
Reader, que contem uma extensa bibliografia, em
http://globalresearch.ca//by-topic/sept11/
Ver também Michel Chossudovsky, War and Globalisation, The Truth behind
September 11, Global Outlook, 2002
http://globalresearch.ca/globaloutlook/truth911.html
Centre for Research on Globalization, Foreknowledge of 9/11 A Compilation of
CRG articles and documents in support of a 9-11 Investigation,
http://globalresearch.ca/articles/CRG204A.html
___________________
[*]
Autor de "Guerra e globalização: A verdade por trás do 11 de
Setembro". Para mais pormenores ver
http://resistir.info/chossudovsky/guerra_e_mundializacao.html
Copyright Michel Chossudovsky, CRG 2002. All rights reserved.
Permission is granted to post this text on non-commercial community internet
sites, provided the source and the URL are indicated, the essay remains intact
and the copyright note is displayed. To publish this text in printed and/or
other forms, including commercial internet sites and excerpts, contact the CRG
at
editor@globalresearch.ca
.
A URL do original deste artigo é:
http://globalresearch.ca/articles/CHO301B.html
. Tradução de J. Figueiredo.
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
|