'Libertando o Iraque' com armas nucleares

por Michel Chossudovsky e Ian Woods [*]

Para aceder a esta revista clique aqui. Estamos numa encruzilhada perigosa: nas semanas que antecedem uma planeada invasão do Iraque. O presidente Bush ameaçou utilizar armas nucleares, enquanto simultaneamente tranquilizava o povo iraquiano no seu Discurso do Estado da União dizendo que o dia em que Saddam Hussein for "removido do poder será o dia da sua libertação".

Washington e Tel Aviv estão a trabalhar em estreita cooperação na opção nuclear, a qual envolve não só a instalação de mini-ogivas ('mini-nukes') como também de ogivas nucleares convencionais contra o Iraque, tal como a 'Trident' da Grã-Bretanha e a 'City-buster' de Israel: "O presidente George W. Bush já advertiu o ditador do Iraque de que se ele usar armas químicas ou biológicas contra tropas aliadas, a resposta seria nuclear". Nas palavras do porta-voz da Casa Branca: "os EUA utilizarão quaisquer meios necessários para proteger a nós e ao mundo de um holocausto". (citado na NBC, 26/Jan/2003).

A posição de Tony Blair sobre as ogivas nucleares é consistente com aquela de George W. Nas palavras do seu secretário da Defesa Geoff Hoon: "Ele [Iraque] pode estar absolutamente certo de que em certas condições estaríamos dispostos a utilizar as nossas armas nucleares [Trident]".

Enquanto isso, num plano 'secreto' que transpirou, o Pentágono definiu sítios específicos do Iraque que poderiam ser alvejados com as chamadas 'armas nucleares tácticas' ou 'mini-ogivas'. Simulações de rotina em computador estão actualmente em andamento no Pentágono "focando os resultantes 'danos colaterais' incluindo a difusão de poeira radioactiva... Se os testes em computador sugerirem uma taxa de baixa civis 'aceitável', Washington presumivelmente não ficaria repugnada em utilizar mini-ogivas destruidoras de bunkers" (Times of India, 04/Fev/2003). Como afirmou um comentador, "estamos a marchar sobre o Iraque por causa das suas armas de destruição em massa e a seguir dizemos que podemos bate-los com as nossas".

Numa lógica strangloviana, as armas nucleares são encaradas como um meio de "impedir um holocausto" e "libertar o Iraque". A este respeito o Pentágono deixou transpirar que as 'mini-ogivas' (com uma potência de menos de 5000 toneladas) são inofensivas para os civis porque a explosão "é subterrânea". Cada 'mini-ogiva', no entanto, constitui --- em termos de explosão e potencial precipitação radiactiva --- uma fracção significativa da bomba atómica lançada sobre Hiroshima em 1945. As ogivas nucleares britânicas, por outro lado, têm uma capacidade explosiva seis vezes superior à de Hiroshima. Elas poderiam ser lançadas contra o Iraque a partir dos submarinos Trident, que estão habitualmente a patrulhar o Golfo Pérsico.

Enquanto o debate quanto à opção de Washington pela guerra nuclear 'preventiva' permanece enterrado nas páginas internas dos jornais, as manchetes e os tablóides de notícias são preenchidos com milhares de estórias repetitivas, sem mencionar os artigos de opinião e os editoriais acerca de "armas de destruição maciça" do Iraque.

Além disso, nas semanas que antecedem a invasão do Iraque, os media e os seus sábios conluiaram-se quanto às alegadas 'ligações' entre a Al Qaeda e o Iraque. Bagdade é agora acusada de fornecer armas biológicas a terroristas islâmicos, os quais, 'mais cedo ou mais tarde' irão usá-las em ataques terroristas contra os EUA.

No princípio de Fevereiro, o secretário de Estado Colin Powell cometeu o seu controverso discurso na ONU, apontando para "o sinistro nexo entre o Iraque e a rede terrorista Al Qaeda". Pouco mencionada pelos media americanos, a justificação de Powell para "a utilização da força" foi, em parte, baseada num falso 'relatório de inteligência britânico', o qual verificou-se ter sido plagiado, copiado e colado da internet, de um artigo escrito por um estudante.

Enquanto isso, nos EUA e por todo o mundo, o movimento anti-guerra ganhou impulso após as manifestações em massa de 18 de Janeiro e 15 de Fevereiro. No Conselho de Segurança da ONU, a França, Rússia, China e Alemanha mostraram a sua firme oposição aos planos de guerra da administração Bush. Uma nova bofetada na cara aconteceu quando o chefe dos inspectores de armas da ONU, Hans Blix, relatando ao Conselho de Segurança da ONU em 14 de Fevereiro, polidamente afastou as evidências apresentadas por Colin Powell.

ALERTA DE TERROR FALSIFICADO

A máquina de propaganda, sem mencionar a diplomacia americana, revelou-se desastrosamente errada. No dia seguinte à fracassada apresentação de Colin Powell perante o Conselho de Segurança da ONU, a administração Bush declarou um Alerta de Terror "Código Laranja", de alto risco. A desinformação passou a ser fabricada de um modo totalmente improvisado. Mísseis anti-aéreos foram imediatamente instalados em torno de Washington. Os media foram inundados com estórias acerca do apoio do Iraque a um iminente ataque do Al Qaeda: "A nação está agora em Alerta Laranja porque tanto as intercepções da inteligência como a simples lógica sugerem que os nossos inimigos islâmicos sabem que o melhor caminho para atacar-nos é através do terrorismo em solo americano" (New York Post, 11/Fev/2003).

Uma estória fabricada pela CIA acerca das chamadas 'bombas radioactivas sujas' foi plantada nas cadeias de notícias (ABC News, 13/Fev/2003). O secretário Powell advertiu que "seria fácil para terroristas inventarem bombas radioactivas 'sujas' para explodir dentro dos EUA. ... 'Quão provável isto é, eu não posso dizer... Mas penso que é aconselhável para nós pelo menos deixar o povo americano saber desta possibilidade" (ABC News, 09/Fev/2003). Nesse ínterim, a rede de TV advertia que "hotéis americanos, centros comerciais ou edifícios de apartamentos poderiam ser alvo da Al Qaeda já na próxima semana..."

A agenda escondida era não só ligar Bagdade a Al Qaeda como a tentativa de criar uma atmosfera de medo e intimidação, a qual reuniria apoio ao presidente Bush e enfraqueceria o movimento de protesto anti-guerra. Logo a seguir ao anúncio, dezenas de milhares de americanos correram a comprar fita vedante, folhas de plástico e máscaras anti-gás.

Posteriormente transpirou que o alerta terrorista foi fabricado pela CIA, muito provavelmente em concertação com os escalões superiores do Departamento de Estado (ABC News, 13/Fev/2003). O FBI, pela primeira vez, apontou o dedo à CIA. Apesar de tacitamente reconhecer que o alerta era falso, o secretário da Segurança Interna Tom Ridge decidiu manter o alerta "Código Laranja": "Apesar do relatório fabricado, não há planos para mudar o nível de ameaça. Responsáveis disseram que outros relatórios de inteligência foram validados e que o alto nível de precauções está plenamente garantido" (ABC New, 13/Fev/2003).

Uns poucos dias depois, em outra fracassada iniciativa de propaganda, Colin Powell apresentou ao Congresso dos EUA uma misteriosa fita áudio de Osama bin Laden como 'evidência' de que os terroristas islâmicos "estão a fazer causa comum com um ditador brutal". (Responsável americano citado pelo Toronto Star, 12/Fev/2003). Curiosamente, a fita áudio estava na posse de Colin Powell antes da sua difusão pela rede de TV da Al Jazeera.

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[*] Do Centre for Research on Globalization .

O original deste artigo da revista Global Outlook encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/globaloutlook/orderformI4.html .


Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

08/Mar/03