A guerra da América pela dominação global
por Michel Chossudovsky
Este texto serviu de apoio às conferências do Prof. Michel
Chossudovsky na Sociedade para a Defesa dos Direitos Civis e Dignidade Humana
(GBM), em Berlim, dias 10-11 de Dezembro de 2003, e na Humboldt Universidade de
Berlim, em 12 de Dezembro de 2003.
Em 10 de Dezembro, Dia dos Direitos Humanos, o Prof. Chossudovsky recebeu da
GBM o Prémio 2003 de Direitos Humanos
[pormenores, em alemão]
.
Para fotos do evento promovido pela GBM,
clique aqui
.
O texto em alemão foi publicado pela
Junge Welt: Vortrag von Michel Chossudovsky Neuordnung der Welt Der Krieg der USA um globale Hegemonie (Teil 1)
Estamos no momento crítico da mais séria crise da história
moderna.
A administração Bush embarcou numa aventura militar que
ameaça o futuro da humanidade.
As guerras no Afeganistão e no Iraque fazem parte de uma agenda militar
mais vasta, a qual foi lançada no fim da Guerra Fria. A agenda de
guerra agora em andamento é uma continuação da Guerra do
Golfo de 1991 e das guerras conduzidas pela NATO contra a Jugoslávia
(1991-2001).
O período pós Guerra Fria também foi marcado por numerosas
operações encobertas americanas dentro da antiga União
Soviética, as quais foram instrumentais para desencadear guerras civis
em várias das antigas repúblicas, incluindo a Chechenia (dentro
da Federação Russa), a Geórgia e o Azerbaijão.
Neste último, estas operações encobertas foram
lançadas com o objectivo de assegurar o controle estratégico
sobre os corredores de pipelines do petróleo e do gás.
As operações militares e de inteligência na era pós
Guerra Fria foram conduzidas em estreita coordenação com as
"reformas de mercado livre" impostas sob a orientação
do FMI na Europa Oriental, na antiga União Soviética e nos
Balcãs, as quais resultaram na desestabilização de
economias nacionais e no empobrecimento de milhões de pessoas.
Os programas de privatização patrocinados pelo Banco Mundial
nestes países permitiram ao capital ocidental adquirir a propriedade e
ganhar o controle de uma enorme fatia da economia dos antigos países do
bloco oriental. Este processo também está na base das
fusões estratégicas e/ou
takeovers
da indústria do petróleo e do gás na antigas União
Soviética por parte de poderosos conglomerados ocidentais,
através da manipulação financeira e de práticas
políticas corruptas.
Por outras palavras: o que está em jogo na guerra conduzida pelos EUA
é a recolonização de uma vasta região que se
estende desde os Balcãs até a Ásia Central.
O posicionamento estratégico da máquina de guerra dos EUA tem em
vista ampliar a sua esfera de influência económica. Os EUA
estabeleceram uma presença militar permanente não só no
Iraque e no Afeganistão, pois têm bases militares em várias
das antigas repúblicas soviéticas junto à fronteira
ocidental da China. Por sua vez, desde 1999, tem havido uma
preparação militar no Mar do Sul da China.
A guerra e a globalização andam de mãos dados. A
militarização apoia a conquista de novas fronteiras
económicas e a imposição por todo o mundo do sistema de
"mercado livre".
A PRÓXIMA FASE DA GUERRA
A administração Bush já identificou a Síria como o
palco para o passo seguinte no "mapa da estrada para a guerra". O
bombardeamento de presumidas 'bases terroristas' na Síria pela
Força Aérea Israelense em Outubro destinou-se a proporcionar uma
justificação para subsequentes intervenções
militares antecipativas
(preemptives)
. Ariel Sharon lançou os ataques com a aprovação de
Donald Rumsfeld. (Ver Gordon Thomas, Global Outlook, No. 6, Winter 2004)
Esta extensão planeada da guerra à Síria tem sérias
implicações. Significa que Israel tornou-se uma actor militar
principal na guerra conduzida pelos EUA, bem como um membro 'oficial' da
coligação anglo-americana.
O Pentágono encara o 'controle territorial' sobre a Síria, cuja
superfície constitui uma ponte entre Israel e o Iraque ocupado, como
'estratégico' de um ponto de vista militar e económico.
Também constitui um meio de controlar a fronteira iraquiana e de conter
o fluxo de combatentes voluntários, os quais estão a viajar para
Bagdad para se juntarem ao movimento de resistência iraquiano.
Esta ampliação do teatro de guerra está em
consonância com o plano de Ariel Sharon de construir um 'Grande Israel'
"sobre as ruínas do nacionalismo palestiniano". Enquanto
Israel procura estender o seu domínio territorial em
direcção ao Rio Eufrates, com áreas designadas de
colonização judia na área central síria, os
palestinianos são aprisionados em Gaza e no West Bak por trás de
um 'Muro do apartheid'.
Enquanto isso, o Congresso americano endureceu as sanções
económicas sobre a Líbia e o Irão. Igualmente, Washington
está a dar indicações sobre a necessidade de uma
'mudança de regime' na Arábia Saudita. E a acumular
pressões políticas à Turquia.
Assim, a guerra poderia na verdade transbordar para uma região muito
mais vasta que se estende desde o Mediterrâneo Oriental até ao
subcontinente indiano e à fronteira ocidental da China.
A UTILIZAÇÃO DE ARMAS NUCLEARES "ANTECIPATIVAS"
Washington adoptou uma política nuclear de primeiro ataque
(first strike)
"antecipativo", a qual recebeu agora aprovação do
Congresso. As armas nucleares já não são uma arma de
último recurso como durante a era da Guerra Fria.
Os EUA, a Grã-Bretanha e Israel têm uma política de armas
nucleares coordenada. As ogivas nucleares israelenses estão apontadas
às maiores cidades do Médio Oriente. Os governos de todos estes
três países declararam bastante abertamente, antes da guerra ao
Iraque, que estavam preparados para utilizar armas nucleares "se fossem
atacados" com as chamadas "armas de destruição em
massa". Israel é a quinta potência nuclear no mundo. O seu
arsenal nuclear é mais avançado do que o da Grã-Bretanha.
Umas poucas semanas a seguir à entrada dos US Marines em Bagdad, o US
Senate Armed Services Committee deu ao Pentágono o sinal verde para
desenvolver uma nova bomba nuclear táctica, a ser usada em teatros de
guerra convencionais, "com uma potência [até] seis vezes mais
poderosa do que a bomba de Hiroshima".
A seguir à decisão do Senado, o Pentágono redefiniu os
pormenores da sua agenda nuclear numa reunião secreta com executivos
sénior da indústria nuclear e do complexo militar-industrial na
Sede do Comando Central na Base da Força Aérea de Offutt, no
Nebraska. A reunião foi efectuada em 6 de Agosto, o dia em que a
primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroshima, 58 anos
atrás.
A nova política nuclear envolve explicitamente os grandes empreiteiros
da defesa na tomada de decisões. Isto é o equivalente à
"privatização" da guerra nuclear. As
corporações não só obtêm multibiliões
de dólares de lucros com a produção de bombas nucleares
como também têm um papel directo na preparação da
agenda respeitante à utilização e aplicação
das armas nucleares.
Nesse ínterim, o Pentágono desencadeou uma grande campanha de
propaganda e relações públicas destinada a ver
positivamente a utilização de armas nucleares com a "defesa
da Pátria Americana".
Plenamente endossadas pelo Congresso dos EUA, as mini-ogivas
(mini-nukes)
são consideradas como "seguras para civis".
Esta nova geração de armas nucleares é destinada a ser
utilizada na próxima fase desta guerra, em "teatros
convencionais" (exemplo: no Médio Oriente e na Ásia Central)
juntamente com armas convencionais.
Em Dezembro de 2003 o Congresso americano estabeleceu uma verba de US$ 6,3 mil
milhões, somente para o exercício de 2004, a fim de desenvolver
esta nova geração de armas nucleares "defensivas".
O orçamento anual global é da ordem dos 400 mil milhões de
dólares, grosso modo da mesma ordem de grandeza de todo o Produto
Interno Bruto (PIB) da Federação Russa.
Se não há evidência confirmada da utilização
de mini-ogivas nos teatros de guerra iraquiano e afegão, testes
efectuados no Afeganistão pelo Uranium Medical Research Center (UMRC),
do Canadá, confirmam que a radiação tóxica
registada não era atribuível ao "metal pesado" da
munição com urânio empobrecido
(depleted uranium, DU)
e sim a uma outra forma não identificada de contaminação
por urânio.
"alguma forma de arma de urânio foi utilizada (...) Os resultados
foram espantosos: os doadores apresentavam concentrações de
isótopos de urânio tóxico e radioactivo entre 100 e 400
vezes maiores do que nos veteranos da Guerra do Golfo testados em 1999".
www.umrc.net
O PLANEAMENTO DA GUERRA
A guerra ao Iraque esteve nos cenários de planeamento pelo menos desde
meados da década de 1990.
Em 1995 um documento sobre segurança nacional da
administração Clinton declarava bastante claramente que o
objectivo da guerra é o petróleo: "proteger o acesso
ininterrupto e seguro dos Estados Unidos ao petróleo".
Em Setembro de 2000, uns poucos meses antes do acesso de George W. Bush
à Casa Branca, o Project for a New American Century (PNAC) publicou o
seu projecto para a dominação global sob o título:
"Reconstruindo as defesas da América".
O PNAC é um organismo neo-conservador de consultoria
(think tank)
ligado ao
establishment
da Defesa-Inteligência, ao Partido Republicano e ao poderoso Council on
Foreign Relations (CFR) que desempenha um papel nos bastidores para a
formulação da política externa americana.
O objectivo declarado do PNAC é bastante simples:
"Combater e vencer decisivamente em teatros de guerra múltiplos e
simultâneos".
Tal declaração indica que os EUA planeiam estar envolvidos
simultaneamente em vários teatros de guerra em diferentes regiões
do mundo.
O vice-secretário da Defesa Paul Wolfowitz, o secretário da
Defesa Donald Rumsfeld e o vice-presidente Dick Cheney adoptaram o projecto
PNAC antes das eleições presidenciais.
O PNAC esboça um roteiro da conquista. Apela à
"imposição directa de 'bases avançadas' americanas em
toda a Ásia Central e no Médio Oriente" tendo em vista
assegurar a dominação económica do mundo, ao mesmo tempo
que estrangulando qualquer potencial "rival" ou qualquer alternativa
viável à visão americana de uma economia de 'livre
mercado'.
(Ver Chris Floyd, Bush's Crusade for empire, Global Outlook, No. 6, 2003)
O PAPEL DAS "BAIXAS MACIÇAS PRODUTORAS DE EVENTOS"
O projecto do PNAC também esboça uma estrutura consistente de
propaganda de guerra. Um ano antes do 11 de Setembro, o PNAC apelava a
"algum evento catastrófico e catalisador, como um novo Pearl
Harbor", o qual serviria para galvanizar a opinião pública
americana em apoio de uma agenda de guerra (Ver
http://www.globalresearch.ca/articles/NAC304A.html
)
Os arquitectos do PNAC parecem ter antecipado com cínica precisão
a utilização dos ataque do 11 de Setembro como "um incidente
pretexto para a guerra".
A referência do PNAC a um "evento catastrófico e
catalisador" reflecte uma declaração semelhante de David
Rockfeller em 1994 ao United Nations Business Council:
"Estamos à beira da transformação global. Tudo o que
precisamos é a grande crise certa e as nações
aceitarão a Nova Ordem Mundial".
De modo análogo, nas palavras de Zbigniew Brzezinski, no seu livro
The Grand Chessboard
:
"... pode considerar-se mais difícil moldar um consenso [na
América] sobre questões de política externa, excepto nas
circunstâncias de uma ameaça externa directa verdadeiramente
maciça e amplamente percebida".
Zbigniew Brzezinski, que foi Conselheiro de Segurança Nacional do
presidente Jimmy Carter, foi um dos arquitectos chave da rede Al Qaeda, criada
pela CIA para o assalto aos soviéticos na guerra afegã
(1979-1989).
O "evento catastrófico e catalisador", tal como declarado pelo
PNAC, é uma parte integral do planeamento militar e de
inteligência americano. O general Franks, que dirigiu a campanha militar
dentro do Iraque, apontou recentemente (Outubro de 2003) para o papel de um
"evento produtor de baixas maciças" para reunir apoio à
imposição do domínio militar na América (Ver
General Tommy Franks calls for Repeal of US Constitution, November 2003,
http:// www.globalresearch.ca/articles/EDW311A.html
).
Franks identifica o cenário preciso pelo qual o domínio militar
será estabelecido:
"um evento terrorista, maciço, produzindo baixas [ocorrerá]
em algum lugar no mundo ocidental pode ser nos Estados Unidos da
América que leva a nossa população a questionar a
nossa própria Constituição e a começar a
militarizar o nosso país a fim de evitar uma repetição de
outro evento que produza baixas em massa".(Ibid)
Esta declaração, de um indivíduo que estava envolvido
activamente no planeamento militar e de inteligência aos mais altos
níveis, sugere que a "militarização do nosso
país" é um pressuposto operacional em andamento. É
parte do "consenso de Washington", mais vasto. Identifica o
"roteiro" da guerra e da "Defesa da Pátria" da
administração Bush. Não é preciso dizer que
também é uma parte integral da agenda neoliberal.
O "evento terrorista produtor de baixas maciça" é
apresentando pelo general Franks como um ponto de viragem crucial. A crise
resultante e o tumulto social são pretendidos a fim de facilitar uma
grande mudança nas estruturas políticas, sociais e institucionais
americanas.
A declaração do general Franks reflecte um consenso interno dos
militares americanos acerca de como os eventos devem desdobrar-se. A
"guerra ao terrorismo" destina-se a proporcionar uma
justificação destinada a repudiar a Regra da Lei, com o argumento
final de "preservar liberdades civis".
A entrevista de Franks sugere que um ataque terrorista patrocinado pela Al
Qaeda será utilizado como um "mecanismo disparador" de um
golpe de Estado militar na América. O "evento tipo Pearl
Harbor" do PNAC seria utilizado como uma justificação para
declarar um estado de emergência, conduzindo ao estabelecimento de um
governo militar.
Em muitos aspectos, a militarização das
instituições do Estado civil nos EUA já é funcional
sob a fachada de uma falsa democracia.
PROPAGANDA DE GUERRA
Na sequência dos ataques de Setembro ao World Trade Center, o
secretário da Defesa Donald Rumsfeld criou o Office of Strategic
Influence (OSI), ou "Gabinete da Desinformação" como
foi etiquetado pelos seus críticos.
"O Departamento da Defesa disse que eles precisavam fazer isso, e eles
estavam realmente a plantar estórias falsas em países
estrangeiros num esforço para influenciar a opinião
pública mundial". (Entrevista a Steve Adubato, Fox
News, 26 December 2002.)
E, de repente, o OSI foi formalmente desmantelado depois de pressões
políticas e de estórias "perturbadoras" nos media em
que "a sua finalidade era mentir deliberadamente para promover os
interesses americanos" (
Air Force Magazine
, Janeiro de 2003) "Rumsfeld
voltou atrás e disse que isto é embaraçoso".
(Adubato, op. cit.) Mas apesar desta aparente meia volta, a orwelliana
campanha de desinformação do Pentágono continua
funcionalmente intacta: "O secretário da Defesa não
está a ser particularmente franco aqui. A desinformação
em propaganda militar é parte da guerra" (Ibid.)
Rumsfeld confirmou posteriormente, numa entrevista à imprensa, que
apesar de o OSI não mais existir como nome, as
"funções pretendidas para o Gabinete estão a ser
executadas". (Citado em Federation of American Scientists (FAS) Secrecy
News,
http://www.fas.org/sgp/news/secrecy/ 2002/11/112702.html
, a entrevista
à imprensa de Rumsfeld pode ser consultada em:
http://www.fas.org/sgp/news/2002/11/dod111802.html
).
Diversas agências governamentais e unidades de
inteligência com ligações ao Pentágono
continuam activamente envolvidas em várias componentes da campanha de
propaganda. As realidades são postas de cabeça para baixo.
Actos de guerra são apregoados como "intervenções
humanitárias" montados para a "mudança de regime"
e "a restauração da democracia". A
ocupação militar e o assassinato de civis são apresentados
como "manutenção da paz". A abolição de
liberdades civis no contexto da chamada "legislação
anti-terrorista" é retractada como um meio de proporcionar
"segurança interna" e de sustentar as liberdades civis.
O PAPEL CENTRAL DA AL QAEDA
NA DOUTRINA BUSH DA SEGURANÇA NACIONAL
Explicitada na National Security Strategy (NSS), a doutrina da "guerra
defensiva" antecipativa e a da "guerra ao terrorismo" contra a Al
Qaeda constituem os dois blocos de construção essenciais da
campanha de propaganda do Pentágono.
O objectivo é apresentar a "acção militar
antecipativa" o que significa a guerra como um acto de
"autodefesa" contra duas categorias de inimigos: "Estados
vilões" e "terroristas islâmicos":
"A guerra contra terroristas de alcance global é um empreendimento
global de duração incerta. ...A América actuará
contra tais ameaças emergentes antes que elas estejam plenamente
constituídas.
...Estados vilões e terroristas não procuram atacar-nos
utilizando meios convencionais. Eles sabem que tais ataques falhariam. Ao
invés disso, eles confiam em actos de terror e, potencialmente, na
utilização de armas de destruição em massa (...)
Os alvos destes ataques são nossas forças militares e nossa
população civil, em violação directa de uma das
normas principais da lei da guerra. Como se demonstrou pelas perdas do 11 de
Setembro de 2001, as baixas civis em massa são o objectivo
específico de terroristas e estas perdas seriam exponencialmente mais
severas se os terroristas adquirissem e utilizassem armas de
destruição em massa.
Os Estados Unidos mantêm há muito a opção de
acções antecipativas para reagir a uma ameaça suficiente
à nossa segurança nacional. Quanto maior a ameaça, maior
é o risco da inacção e mais obrigatória a
necessidade de adoptar acções anticipatórias para
defendermos a nós mesmos, (...). Para evitar ou prevenir tais actos
hostis de nossos adversários, os Estados Unidos, se necessário,
actuarão antecipativamente". 12 (National Security Strategy, White
House, 2002,
http:// www.whitehouse.gov/nsc/nss.html
)
Para justificar acções militares antecipativas, a Doutrina da
Segurança Nacional exige a "fabricação" de uma
ameaça terrorista, isto é, "um inimigo externo".
Ela também precisa ligar estas ameaças terroristas ao
"patrocínio de Estados" através dos chamados
"Estados vilões".
Mas isto também significa que os vários "eventos produtores
de baixas em massa", alegadamente pela Al Qaeda (o inimigo fabricado),
constituem parte da agenda de Segurança Nacional.
Nos meses de preparação para a invasão do Iraque, foram
lançadas operações encobertas com 'truques sujos' para
produzir inteligência enganosa relativa tanto a Armas de
Destruição em Massa (WMD) como a Al Qaeda, a qual era então
despejada dentro das cadeias de notícias.
Depois da guerra, a conversa da ameaça das WMD baixava de tom, mas a das
ameaças da Al Qaeda "à Terra Natal" continuam a ser
repetidas
ad nauseam
em declarações oficiais, comentadas nas redes de TV e coladas
diariamente nos tablóides de notícias.
E de forma subjacente a estas realidades manipuladas, ocorrências
terroristas de "Osama bin Laden" estão a ser mantidas como
justificação para a fase seguinte desta guerra. As
últimas dependem de uma forma muito directa da:
1) efectividade da campanha de propaganda Pentágono-CIA, que é
despejada dentro das cadeias jornalísticas.
2) ocorrência real de "eventos produtores de baixas em massa"
como esboçados no PNAC
O que isto significa é que eventos terroristas reais ("produtores
de baixas em massa") constituem parte integrante do planeamento militar.
ATAQUES TERRORISTAS REAIS
Por outras palavras, para ser "efectiva" a campanha de medo e
desinformação não pode confiar unicamente em
"advertências" não comprovadas de ataques futuros,
também exige ocorrências terroristas "reais" ou
"incidentes", os quais proporcionam credibilidade aos planos de
guerra de Washington. Estes eventos terroristas são utilizados para
justificar a implementação de "medidas de
emergência" bem como "acções militares
retaliatórias". Eles são exigidos, no actual contexto, para
criar a ilusão de "um inimigo externo" que está a
ameaça a Pátria Americana.
A provocação de "incidentes como pretexto para a
guerra" é parte dos pressupostos do Pentágono. É de
facto uma parte integral da história militar americana (Ver Richard
Sanders, War Pretext Incidents, How to Start a War, Global Outlook, publicado
em duas parte, Números 2 e 3, 2002-2003).
Em 1962 a Junta do Estado Maior
(Joint Chiefs of Staff)
concebeu um plano secreto intitulado "Operation Northwoods" a fim de
provocar deliberadamente baixas civis para justificar a invasão de Cuba:
"Nós podíamos explodir um navio americano na Baia de
Guantanamo e culpar Cuba", "Podíamos desenvolver uma campanha
de terror comunista cubano na área de Miami, em outras cidades da
Florida e mesmo em Washington" "listas de baixas em jornais
americanos provocariam uma onda útil de indignação
nacional". (Ver o documento Top Secret de 1962, desclassificado,
intitulado "Justification for U.S. Military Intervention in Cuba"16
(Ver Operation Northwoods em
http://www.globalresearch.ca/articles/NOR111A.html
).
Não há evidência de que o Pentágono ou a CIA tenham
desempenhado um papel directo em ataques terroristas recentes, incluindo
aqueles na Indonésia (2002), Índia (2001), Turquia (2003) e
Arábia Saudita (2003).
Segundo os relatos, os ataques foram empreendidos por
organizações (ou células destas
organizações), as quais operam de forma bastante independente,
com um certo grau de autonomia. Esta independência é da
própria natureza de uma operação de inteligência
encoberta. O "activo de inteligência" não está
em contacto directo com os seus patrocinadores encobertos. Ele não
é necessariamente conhecedor do papel que desempenha no interesse dos
seus patrocinadores de inteligência.
A questão fundamental é quem está por trás deles?
Através de que fontes estão eles a ser financiados? Qual
é a rede subjacente de ligações?
No caso do ataque bombista de 2002 em Bali, por exemplo, a alegada
organização terrorista Jemaah Islamiah tinha
ligações à inteligência militar da Indonésia
(BIN), a qual por sua vez tem ligações à CIA e à
inteligência australiana.
Os ataques terroristas de Dezembro de 2001 ao Parlamento indiano que
contribuíram para empurrar a Índia e o Paquistão para a
beira da guerra foram alegadamente efectuados por dois grupos rebeldes
com base no Paquistão, o Lashkar-e-Taiba ("Exército dos
Puros") and Jaish-e- Muhammad ("Exército de
Maomé"), ambos os quais, segundo o Council on Foreign Relations
(CFR), são apoiados pelo ISI do Paquistão. (Council on Foreign
Relations at
http://www.terrorismanswers.com/groups/harakat2.html
, Washington
2002).
O que o CFR deixa de admitir é o relacionamento crucial entre o ISI e a
CIA e o facto de que o ISI continua a apoiar Lashkar, Jaish e os militantes
Jammu e Kashmir Hizbul Mujahideen (JKHM), enquanto colabora também com a
CIA. (Para mais pormenores ver Michel Chossudovsky, Fabricating an Enemy,
March 2003,
http://www.globalresearch.ca/articles/CHO301B.html
)
Um documento de trabalho classificado de 2002, redigido para orientar o
Pentágono nas "comunicações para a
criação de um chamado 'Grupo de Operações Proactivo
e Antecipativo'
(Proactive, Pre-emptive Operations Group' - P2OG)
, destinado a lançar operações secretas destinadas a
"estimular reacções" entre terroristas e Estados que
possuam armas de destruição em massa que é, por
exemplo, levar células terroristas a entrarem e acção e
expo-las a ataques de "resposta rápida" de forças
americanas". (William Arkin, The Secret War, The Los Angeles Times, 27
October 2002)
A iniciativa P2OG não é nada nova. Ela no essencial estende um
aparelho já existente de operações encobertas. Como
já foi amplamente documentado, a CIA tem apoiado grupos terroristas
desde a era da Guerra Fria. Esta "activação de
células terroristas" sob a cobertura de operações de
inteligência exige a infiltração e o treinamento dos grupos
radicais ligados à Al Qaeda.
Nesse aspecto, o apoio encoberto do aparelho militar e de inteligência
americano tem sido canalizado a várias organizações
terroristas islâmicas através de uma complexa rede de
intermediários e mandatários. Durante a década de 1990,
agência do governo americano colaboraram com a Al Qaeda num certo
número de operações encobertas, como confirmado por uma
relatório de 1997 do Comité do Partido Republicano do Congresso
dos EUA. (Ver US Congress, 16 January 1997,
http://www.globalresearch.ca/articles/ DCH109A.html
). De facto, durante a
guerra na Bósnia inspectores de armamento americanos estavam a trabalhar
com operacionais da Al Qaeda, trazendo grandes quantidades de armas para o
Exército Muçulmano Bósnio.
Por outras palavras, a administração Clinton estava a
"abrigar terroristas". Além disso, declarações
oficiais e relatos de inteligência confirmam ligações entre
unidades militares de inteligência dos EUA e operacionais da Al Qaeda,
como ocorreu na Bósnia (meados da década de 1990), no Kosovo
(1998-99) e na Macedonia (2001). (Ver Michel Chossudovsky, War and
Globalisation, The Truth behind September 11, Global Outlook, 2003, Chapter 3,
http://globalresearch.ca/globaloutlook/truth911.html
)
A administração Bush e a NATO tinham ligações
à Al Qaeda na Macedonia. E isto aconteceu apenas uns poucos meses antes
do 11 de Setembro de 2001. Conselheiros militares seniors dos EUA, fornecidos
por uma firma de mercenários privados contratada pelo Pentágono,
estavam a combater lado a lado com os Mujahideen nos ataques terroristas
às forças de segurança da Macedonia. Isto está
documentado pela imprensa macedonia e por declarações feitas
pelas autoridades macedonias. (Ver Michel Chossudovsky, op cit). O governo
americano e a Rede Militante Islâmica estavam a trabalhar como uma
mão dentro da luva no apoio e financiamento do National Liberation Army
(NLA), o qual estava envolvido nos ataques terroristas à Macedonia.
Por outras palavras, os militares americanos estavam a colaborar directamente a
Al Qaeda apenas uns poucos meses antes do 11 de Setembro.
A AL QAEDA E A INTELIGÊNCIA MILITAR DO PAQUISTÃO (ISI)
É na verdade revelador que em virtualmente todas as ocorrências
terroristas pós 11 de Setembro a organização terrorista
seja relatada (pelos media e em declarações oficiais) como tendo
"ligações à Al Qaeda de Osama bin Laden". Isto
é por si mesmo uma peça crucial de informação.
Naturalmente, o facto de que a Al Qaeda é uma criação da
CIA não é sequer mencionado nos relatos da imprensa nem
considerado
relevante para a compreensão destas ocorrências terroristas.
As ligações destas organizações terroristas
(particularmente aquelas da Ásia) à inteligência militar do
Paquistão (ISI) é admitida nuns poucos casos por fontes oficiais
e notícias da imprensa. Confirmadas pelo Council on Foreign Relations
(CFR), afirma-se que alguns destes grupos têm ligações ao
ISI do Paquistão, sem identificar a natureza destas
ligações. É desnecessário dizer que esta
informação é crucial para a identificação dos
patrocinadores destes ataques terroristas. Ou seja, é afirmado que o
ISI apoia estas organizações terroristas, e ao mesmo tempo mantem
ligações estreitas com a CIA.
A evidência de fontes oficiais confirma que a Al Qaeda é apoiada
pela inteligência militar do Paquistão, o Inter-services
Intelligence (ISI). O ISI tem apoiado muitas organizações
terroristas. Como amplamente documentado, o ISI é apoiado pela CIA e
há ligações estreitas entre as duas agências. Os
terroristas do 11 de Setembro não actuaram por sua própria
vontade. Além disso, documentos oficiais incluindo
transcrições do Congresso confirmam que a Al Qaeda é de
facto uma criação da CIA, ou seja um "activo de
inteligência"
O 11 DE SETEMBRO
Enquanto Colin Powell sem provas de apoio apontou no seu discurso
na ONU em Fevereiro de 2003 para "o nexo sinistro entre o Iraque e a rede
terrorista Al Qaeda", documentos oficiais, imprensa e relatos de
inteligência confirmam que sucessivas administrações
americanas apoiaram e acumpliciaram-se com a rede militante islâmica.
Este relacionamento é um facto estabelecido, corroborado por numerosos
estudos, reconhecido pelos principais
think tanks
de Washington.
Tanto Colin Powell como o seu vice Richard Armitage, que nos meses em que
prepararam o caminho para a guerra despreocupadamente acusaram Bagdad e outros
governos estrangeiros de "abrigar" a Al Qaeda, desempenharam um papel
directo, em diferentes momentos das sua carreiras, no apoio a
organizações terroristas.
Ambos os homens estiveram implicados a operarem nos bastidores no
escândalo Irangate Contra durante a administração Reagan, a
qual envolveu a venda ilegal de armas ao Irão para financiar os
paramilitares Contra na Nicarágua e os Mujahideen afegãos. (Para
mais pormenores, ver Michel Chossudovsky, Expose the Links between Al Qaeda and
the Bush Administration,
http://www.globalresearch.ca/articles/ CHO303D.html
)
Além disso, tanto Richard Armitage como Colin Powell desempenharam um
papel no encobrimento do 11 de Setembro. As investigações e
pesquisas conduzidas nos últimos dois anos, incluindo documentos
oficiais, testemunhos e relatos de inteligência, indicam que o 11 de
Setembro foi uma operação de inteligência cuidadosamente
planeada, ao invés de um acto conduzido por uma
organização terrorista. (Para mais pormenores, ver Centre for
Research on Globalization,
24 Key articles
, September 2003)
O FBI confirmou, num relato tornado público tardiamente o papel da
Inteligência Militar do Paquistão em Setembro de 2001. De acordo
com o relato, o alegado líder elo
(ring leader)
do 11 de Setembro, Mohammed Atta, foi financiado a partir de fontes do
Paquistão. Um relatório de inteligência posterior
confirmou que o então chefe do ISI, general Mahmoud Ahmad, havia
transferido dinheiro para Mohammed Atta. (Ver Michel Chossudovsky, War and
Globalization, op.cit.)
Além disso, relatos da imprensa e declarações oficiais
confirmam que o chefe do ISI estava numa visita oficial aos EUA entre os dias 4
e 13 de Setembro de 2001. Por outras palavras, o mesmo indivíduo que
alegadamente transferiu dinheiro para os terroristas tinha um estreito
relacionamento pessoal com um certo número de responsáveis
superior da administração Bush, incluindo Colin Powell, o
director da CIA George Tenet e o vice-secretário Richard Armitage, com
quem ele se encontrou no decorrer da sua visita a Washington. (Ibid)
O MOVIMENTO ANTI-GUERRA
Um movimento anti-guerra coeso não pode ser baseado unicamente na
mobilização do sentimento anti-guerra. Ele deve finalmente
remover os criminosos de guerra e questionar o seu direito a governar.
Uma condição necessária para deitar abaixo os governantes
é enfraquecer e finalmente desmantelar a sua campanha de propaganda.
O impulso dos grandes comícios anti-guerra, nos EUA, na União
Europeia e por todo o mundo, deveria lançar as fundações
de uma rede permanente composta por dezenas de milhares de pessoas dos
comités anti-guerra de nível local em bairros, lugares de
trabalho, paróquias, escolas, universidades, etc. É finalmente
através desta rede que a legimidade daquelas que "governam em nosso
nome" será desafiada.
Para desviar os planos de guerra da administração Bush e
neutralizar a sua máquina de propaganda devemos estender a mão
aos nossos companheiros cidadãos de toda a terra, nos EUA, na Europa e
por todo o mundo, aos milhões de pessoas comuns que foram enganadas
acerca das causas e consequências desta guerra.
Isto também implica o pleno descobrimento das mentiras por trás
da "guerra ao terrorismo" e a revelação da cumplicidade
política da administração Bush nos eventos do 11 de
Setembro.
O 11 de Setembro é uma burla. É a maior mentira da
história americana.
Não vale a pena dizer que a utilização de "eventos
produtores de baixas em massa" como pretexto para travar a guerra é
um acto criminoso. Nas palavras de Andreas van Buelow, antigo ministro
alemão da Tecnologia e autor de
The CIA and September 11
:
"Se aquilo que digo é certo, todo o governo americano deveria
acabar atrás das grades".
Mesmo assim não é suficiente remover George W. Bush ou Tony Blair,
que são meros bonecos. Devemos também cuidar do papel dos
bancos, corporações e instituições financeiras
globais, as quais de forma inapagável postam-se por trás dos
actores militares e políticos.
Progressivamente, o
establishment
da inteligência militar (ao contrário daquele do Departamento de
Estado, da Casa Branca e do Congresso americano) está a dar as ordens na
política externa americana. Enquanto isso, os gigantes do
petróleo do Texas, os empreiteiros da defesa, Wall Street e os poderosos
media gigantes, a operarem discretamente nos bastidores, estão a puxar
as cordas. Se alguns políticos se tornarem fonte de grande
embaraço, eles próprios podem ser desacreditados pelos media,
postos de lado, e uma nova equipe de fantoches políticos pode ser
trazida para o gabinete.
CRIMINALIZAÇÃO DO ESTADO
A "Criminalização do Estado" ocorre quando criminosos
de guerra ocupam legitimamente posições de autoridade, as quais
capacitam-nos a decidir "quem são os criminosos", quando de
facto são eles os criminosos.
Nos EUA, tanto os republicanos como os democratas partilham a mesma agenda de
guerra e há criminosos de guerra em ambos os partidos. Ambos os
partidos são cúmplices no encobrimento do 11 de Setembro e na
resultante busca da dominação mundial. Toda a evidência
aponta para aquilo que é melhor descrito como "a
criminalização do Estado", o que inclui o Judiciário
e os corredores bipartidários do Congresso americano.
Sob a agenda de guerra, foi dada autoridade a responsáveis de alto
escalão da administração Bush, a membros das forças
armadas, ao Congresso americano e ao Judiciário não só
para cometer actos criminosos como também para designar aqueles no
movimento anti-guerra que se opõem a estes actos criminosos como
"inimigos do Estado".
Mais genericamente, o aparelho militar e de segurança americano endossa
e apoia os interesses económicos e financeiros dominantes isto
é, o fortalecimento, bem como o exercício, das forças
armadas pode impingir o "livre comércio". O Pentágono
é um braço da Wall Street, a NATO coordena as suas
operações militares com o Banco Mundial e a política de
intervenções do FMI, e vice versa. Sistematicamente, os corpos
de segurança e defesa da aliança militar ocidental, junto com as
várias burocracias civis governamentais e intergovernamentais (e.g. FMI,
Banco Mundial, OMC) partilham um entendimento comum, um consenso
ideológico e o compromisso para a Nova Ordem Mundial.
Para reverter a maré da guerra, as bases militares devem ser encerradas,
a máquina de guerra (nomeadamente a produção de sistemas
de armas avançados como as WMDs) deve ser travada e o explosivo Estado
policial deve ser desmantelado. Mais genericamente, devemos reverter as
reformas do "mercado livre", desmantelar as
instituições do capitalismo global e desarmar os mercados
financeiros.
A luta deve ter uma base ampla e democrática abrangendo todos os sectores
da sociedade a todos os níveis, em todos os países, unindo num
grande ímpeto trabalhadores, agricultores, produtores independentes,
pequenos comerciantes, profissionais, artistas, funcionários
públicos, membros do clero, estudantes e intelectuais.
Os movimentos anti-guerra e anti-globalização devem ser integrados
num único movimento à escala mundial. As pessoas devem ser
unidas entre os diferentes sectores, grupos de "questão
única" devem juntar as mãos num entendimento comum e
colectivo sobre como a Nova Ordem Mundial destroi e empobrece.
A globalização desta luta é fundamental, exigindo um grau
de solidariedade e internacionalismo sem precedentes na história humana.
Este sistema económico global alimenta-se da divisão social
entre e dentro de países. A unidade de objectivo e a
coordenação à escala mundial entre os diversos grupos e
movimentos sociais é crucial. É preciso um grande impulso que
reuna movimentos sociais em todas as grandes regiões do mundo numa busca
comum e no compromisso para a eliminação da pobreza e por uma paz
mundial duradoura.
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© Copyright Michel Chossudovsky 2003 For fair use only/ pour usage
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O original encontra-se em
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Tradução de JF.
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