A criminalização do Estado americano

por Michel Chossudovsky

Cartoon de Latuff. A "Criminalização do Estado" ocorre quando criminosos de guerra ocupam legitimamente posições de autoridade, as quais permitem-lhes decidir "quem são os criminosos", quando de facto são eles os criminosos.

Um ataque terrorista sobre o solo americano da dimensão e natureza do 11 de Setembro conduziria — de acordo com o antigo Comandante do CENTCOM, general Tommy Franks — à queda de democracia na América. Numa entrevista em Dezembro último, a qual foi pouca mencionada nos media americanos, o general Franks esboçou com cínica precisão um cenário que resultaria na suspensão da Constituição e na instalação do domínio militar na América:

"um evento terrorista, maciço, produzindo baixas [ocorreria] em algum lugar no mundo ocidental — pode ser nos Estados Unidos da América — que levasse a nossa população a questionar a nossa própria Constituição e a começar a militarizar o nosso país a fim de evitar a repetição de um outro evento produtor de baixas em massa" [1]

Franks estava a aludir ao chamado "evento tipo Pearl Harbor" o qual seria utilizado para galvanizar a opinião pública americana em apoio a um governo militar e Estado policial. O "evento terrorista produtor de baixas maciças" é apresentado pelo general Franks como um ponto de viragem político crucial. A crise resultante e a tempestade social é pretendida para facilitar uma grande mudança nas estruturas políticas, sociais e institucionais americanas.

É importante entender que o general Franks não está a dar uma opinião pessoal sobre esta questão. Sua declaração reflecte muito o ponto de vista dominante tanto no Pentágono como no departamento de Segurança Interna acerca de como eventos podem desenrolar-se no caso de uma emergência nacional.

A declaração vem de um homem que tem estado envolvido activamente em planeamento militar e de inteligência aos mais altos níveis. Por outras palavras, a "militarização do nosso país" é uma hipótese operacional em andamento. É parte do "Consenso de Washington" mais vasto. Identifica "mapa da estrada" da guerra e da defesa interna da administração Bush.

A "guerra ao terrorismo", que constitui a pedra angular da doutrina de segurança nacional de Bush, proporciona da justificação exigida para repudiar a Regra da Lei, essencialmente com o pretexto de "preservar liberdades civis". Nas palavras de David Rockefeller:

"Estamos à beira da transformação global. Tudo o que precisamos é a grande crise importante e as nações aceitarão a Nova Ordem Mundial". [2]

Uma declaração semelhante, que sem dúvida reflecte um consenso no interior do Council on Foreign Relations (CFR), foi feita pelo antigo conselheiro de Segurança Nacional Zbigniew Brzezinski no seu livro, The Grand Chessboard :

"Como a América torna-se uma sociedade cada vez mais multicultural, pode ser mais difícil moldar um consenso sobre questões de política externa, excepto na circunstância de uma ameaça externa directa verdadeiramente maciça e amplamente percebida".

Analogamente, o Projecto dos NeoCons para o New American Century (PNAC), publicado em Setembro de 2000, apenas uns poucos meses antes do acesso de George W. Bush à Casa Branca, apelava a:

"algum evento catastrófico e catalisante, como um novo Pearl Harbor". [3]

O que é terrífico nestas afirmações é que elas provêm dos arquitectos da política externa americana. Por outras palavras, os líderes da América em Washington e Wall Street acreditam firmemente na justeza da guerra e de formas autoritárias de governo como meios para "salvaguardar valores democráticos".

O repúdio da democracia é retractado como um meio para proporcionar "segurança interna" e sustentar liberdades civis. Verdade é falsidade e falsidade é verdade. Realidades são viradas de cabeça para baixo. Actos de guerra são apregoados como "intervenções humanitárias" montadas para sustentar democracia. A ocupação militar e a matança de civis são apresentadas como "operações de manutenção da paz".

Este ponto de vista dominante também é partilhado pelos media de referência (mainstream) , os quais constituem a pedra angular da campanha de propaganda e desinformação. Qualquer tentativa por parte dos críticos anti-guerra de revelar as mentiras subjacentes a estas declarações é definida como um "acto criminoso".

Por outras palavras, a "Criminalização do Estado" verifica-se quando criminosos de guerra, apoiados pela Wall Street, os "cinco grandes" empreiteiros da defesa e os gigantes petrolíferos do Texas ocupam legitimamente posições de autoridade, as quais capacitam-nos a decidir "quem são os criminosos", quando de facto são eles os criminosos.

DO ALERTA CÓDIGO LARANJA AO VERMELHO

O "evento terrorista produtor de baixas maciças" tornou-se uma parte integral da campanha de propaganda da administração Bush. A administração colocou o país no alerta de terror Código Laranja, de alto risco, cinco vezes desde 11 de Setembro de 2001. Sem excepção, a Al Qaeda de Osama bin Laden foi identificada como "uma ameaça para a pátria". O anúncio oficial de um ataque terrorista invariavelmente aponta para "relatórios significativos de inteligência" ou "fontes críveis" por parte "do grupo terrorista internacional al-Qaeda" .

Desde o 11 de Setembro, os americanos têm aceitado acriticamente estas advertências terroristas. A Al Qaeda é encarada como um inimigo da América. Os alertas de terror tornaram-se parte de uma rotina: as pessoas acostumaram-se nas suas vidas diárias aos alertas de terror Código Laranja. Além disso, elas também aceitaram a possibilidade definida de uma mudança do Alerta Código Laranja para o Vermelho (como declarado muitas vezes pela Segurança Interna) no futuro previsível, o qual resultaria de uma ocorrência terrorista real.

É desnecessário dizer que a campanha de desinformação, que é despejada numa base diária para dentro das cadeias noticiosas, apoia este processo de modelação da opinião pública americana. A agenda escondida final consiste em criar um ambiente de medo e intimidação, o qual mobiliza apoio púbico para uma situação real de emergência nacional, conduzindo à declaração da lei marcial.

OS ALERTAS DE TERROR FORAM BASEADOS EM INTELIGÊNCIA FABRICADA

A evidência sugere que os alertas Código Laranja de "alto risco" de 7 de Fevereiro de 2003 e de 21 de Dezembro de 2003 foram baseados em inteligência fabricada.

O Alerta Código Laranja foi ordenado em 7 de Fevereiro de 2003, um dia depois da fracassada apresentação de Collin Powell sobre as alegadas armas de destruição em massa perante o Conselho de Segurança da ONU. O dossier de inteligência de Powell fora polidamente afastado. A refutação veio do inspector da ONU Hans Blix, o qual mostrou que a inteligência utilizada como um pretexto para travar a guerra contra o Iraque fora grosseiramente fabricada.

Colin Powell discursou no Conselho de Segurança da ONU no dia 6. No dia 7 a administração Bush declarou um Alerta de Terror 'Código Laranja'. Esta "operação para salvar a face" contribuiu para apaziguar um escândalo iminente, enquanto apoiava também a invasão do Iraque planeada pelo Pentágono.

A atenção dos media foi imediatamente transferida das asneiradas de Colin Powell no Conselho de Segurança da ONU para um (alegado) iminente ataque terrorista à América. Mísseis antiaéreos foram imediatamente instalados em torno de Washington. Os media foram inundados com estórias sobre o apoio iraquiano a um iminente ataque da Al Qaeda à América.

O objectivo era apresentar o Iraque como o agressor. Conforme o New York Post (11 de Fevereiro de 2003):

"A nação agora está no Alerta Laranja porque tanto intercepções da inteligência como a simples lógica sugerem que os nossos inimigos islâmicos sabem que o melhor caminho para bater-nos é através do terrorismo sobre o solo americano".

Uma outra estória alegadamente proveniente da CIA sobre as chamadas bombas radioactivas 'sujas' foi plantada nas cadeias noticiosas. [4] O secretário Powell advertiu que "seria fácil para terroristas inventarem bombas radioactivas 'sujas' para explodirem dentro dos EUA ... 'Quão provável isto é, não posso dizer... Mas penso que é avisado para nós pelo menos deixar que o povo americano saiba desta possibilidade' ". [5] Enquanto isso, a rede de TV advertiu que "hotéis, centros comerciais ou edifícios de apartamentos americanos poderiam ser objectivos da al Qaeda num prazo tão curto como a próxima semana..."

A agenda escondida nas semanas que antecediam a invasão do Iraque era ligar Bagdad à Al Qaeda, reunir um apoio poderoso ao presidente Bush e enfraquecer o movimento de protesto anti-guerra. Logo a segue àquele anúncio, dezenas de milhares de americanos correram a comprar fita vedante de tubagens, lençóis de plástico e máscaras de gás.

Mais tarde transpirou que o alerta terrorista era fabricado pela CIA, com toda a probabilidade em consulta com os escalões superiores do Departamento de Estado. [6]

O FBI, PELA PRIMEIRA VEZ, APONTOU O DEDO À CIA

"Esta peça daquele puzzle revelou-se ser fabricada e portanto a razão para um bocado do alarme, particularmente em Washington nesta semana, foi dissipado depois de terem descoberto que esta informação não era verdadeira", disse Vince Cannistraro, antigo chefe do contra-terrorismo da CIA e consultor da ABCNEWS.

(...)

Segundo responsáveis, o FBI e a CIA estão a apontar os dedos um para o outro. Um porta-voz do FBI contou hoje à ABCNEWS que ele não estava "familiarizado com o cenário", mas não pensava que o mesmo fosse exacto". [7]

Embora reconhecendo tacitamente que o alerta era uma falsificação, o secretário da Segurança Interna, Tom Ridge, decidiu manter o alerta Código Laranja:

"Apesar do relatório fabricado, não há planos para alterar o nível de ameaça. Responsáveis disseram que outra inteligência fora validada e que o alto nível de precaução está plenamente justificado". [8]

Uns poucos dias depois, em outra iniciativa de propaganda falhada, uma misteriosa fita áudio de Osama bin Laden foi apresentada pelo secretário Colin Powell ao Congresso americano como 'evidência' de que terroristas islâmicos "estão a fazer causa comum com um ditador brutal". [9] Curiosamente, a fita áudio estava na posse de Colin Powell antes da sua difusão pela rede de TV da Al Jazeera. [10]

O ALERTA DE TERROR NATALÍCIO DE TOM RIDGE

Em 21 de Dezembro de 2003, quatro dias antes do Natal, o Departamento de Segurança Interna, aumentou outra vez o nível de ameaça nacional de ataque terrorista do "elevado" para o "alto risco". [11]

Na sua conferência de imprensa na véspera do Natal, o secretário Tom Ridge, do Departamento de Segurança Interna, confirmou, em grande medida do mesmo modo que no 7 de Fevereiro de 2003, que "a comunidade de inteligência americana havia recebido um aumento substancial no volume de relatos de inteligência relacionados com ameaças". Segundo Tom Ridge, estas "fontes críveis [de inteligência]" levantam "a possibilidade de ataques contra a pátria, por volta da época das festas..." [12]

Apesar das circunstâncias e do tempo serem diferentes, a declaração de 21 de Dezembro do secretário Tom Ridge tem toda a aparência de uma versão "copy and paste" do seu anúncio de 7 de Fevereiro, o qual segundo o FBI era uma (hoax) , baseada em inteligência fabricada.

O que é perturbador na declaração de 21 de Dezembro é o facto de que um ataque terrorista do Al Qaeda "real" ou "tentado" pareça já estar nos canais oficiais. A Al Qaeda é mais uma vez identificada como "o Inimigo Externo", sem naturalmente mencionar que a Al Qaeda de Osama bin Laden é uma criação da CIA e um "activo de inteligência" controlado pelos EUA. [13]

Não é preciso dizer que a atmosfera de medo e confusão criada por toda a América contribuiu para romper o espírito do Natal. Segundo relatos dos media, o alerta de terror de alto nível é para "pairar sobre os feriados e abrir o Ano Novo".

"Terroristas ainda ameaçam o nosso país e nós continuamos empenhados numa perigosa — temos de admitir — e difícil guerra que não será ultrapassada tão logo", advertiu o secretário da Defesa Donald H. Rumsfeld. "Eles podem atacar em qualquer momento e em qualquer lugar".

Com a América em alerta de nível elevado durante o período das festas de Natal, responsáveis da inteligência temem que a al-Qaeda esteja ansiosa para encenar um ataque espectacular — possivelmente sequestrando um avião de linha estrangeiro ou um jacto de carga e esmagando-o dentro de um alvo ostensivo dentro dos Estados Unidos" [14]

O anúncio oficial de Natal do Departamento de Segurança Interna dissipa quaisquer dúvidas hesitantes em relação ao nível de ameaça:

"o risco [durante a quadra do Natal] é talvez maior agora do que em qualquer outro momento desde 11 de Setembro de 2001".

Também advertia os americanos, em termos não incertos, mas sem apoio em evidências, de que há:

"indicações de que [os] ataques a prazo próximo ... ou rivalizarão ou excederão os ataques do 11 de Setembro".

"E é perfeitamente claro que a capital da nação e a cidade de Nova York estariam em qualquer lista..."

A seguir ao anúncio do secretário Ridge, foram montadas baterias de mísseis antiaéreos em Washington:

"E o Pentágono declarou hoje que mais patrulhas de combate aéreo estarão agora a voar sobre cidades e instalações seleccionadas, com algumas bases aéreas colocadas no alerta máximo". Secretário da Defesa Donald Rumsfeld: "Você pergunta, 'Será isto sério?' Sim, você pode apostar a sua vida. As pessoas não fazem isso a menos que a situação seja séria". [15]

Segundo uma declaração oficial; "inteligência indica que pilotos treinados da Al Qaeda podem estar a trabalhar para companhias aéreas estrangeiras e prontos para executarem ataques suicidas". [16]

Mais especificamente, a Al Qaeda e os terroristas Taliban estavam, segundo a Segurança Interna, a planear sequestrar um avião da Air France e "esmagá-lo sobre solo americano num ataque de terror suicida semelhante àquele executado no 11 de Setembro de 2001".

VOOS DE NATAL DA AIR FRANCE FICARAM EM TERRA
CAÇAS F-16 PATRULHAVAM OS CÉUS


Verificou-se ainda que as ordens para deixar em terra os voos de Natal da Air France de Paris para Los Angeles, os quais foram utilizados para justificar o Código Alerta Laranja durante a quadra do Natal, foram baseados em informação fabricada.

Segundo a versão oficial dos eventos, Washington identificara seis membros da Al Qaeda dos Taliban na lista dos passageiros da Air France:

"Responsáveis americanos do contra-terrorismo disseram que a sua investigação focava na 'crença informada' de que cerca de seis homens no voo 68 da Air France, os quais chegam a Los Angeles diariamente às 16h05, podem ter estado a planear sequestrar o jacto e esmagá-lo próximo a Los Angeles, ou ao longo do caminho.

Aquela centra, segundo um responsável sénior do contra-terrorismo americano, estava baseada em informação confiável e corroborada por várias fontes. Alguns dos homens tinham os mesmos nomes de membros identificados da Al Qaida e do Taliban, disse um responsável sénior americano. Um dos homens é um piloto treinado com uma licença comercial, de acordo com um responsável sénior americano.

Responsáveis americanos pela aplicação da lei disseram que os voos foram cancelados em resposta à mesma inteligência que levou... a Segurança Interna... a ampliar o nível de alerta de terror do país para o laranja...

Com aquela informação, as autoridades americanas contactaram a inteligência francesa... Elas convenceram a Air France a cancelar [os seus voos], porque a informação original de inteligência advertia que mais de um voo a ser sequestrado". [17]

Outros media confirmaram que "os relatos reunidos pelas agências americanas eram 'muito, muito precisos' ". Enquanto a Fox News destacava a possibilidade de que a Al Qaeda estivesse "a tentar plantar desinformação, entre outras coisas para custar-nos dinheiro, para lançar pessoas no pânico e talvez para experimentar as nossas defesa para ver como respondemos?" [18]

"IDENTIDADE ERRADA"

Não é preciso dizer que estes relatos fabricados pelos media serviram para criar uma atmosfera tensa durante a quadra do Natal. O aeroporto internacional de Los Angeles estava na "mobilização máxima" com responsáveis do contra-terrorismo e do FBI a trabalhar o dia inteiro.

Mas de acordo com a investigação francesa, verificou-se que o alerta de terror era uma farsa. A informação não "muito, muito precisa" como afirmado pela inteligência americana.

Os seis homens da Al Qaeda verificaram-se ser um garoto de cinco anos, uma senhora chinesa que dirigia um restaurante em Paris, um vendedor de seguros do País de Gales e três cidadãos franceses. [19]

No dia 2 de Janeiro o governo francês confirmou que a inteligência comunicada por Washington era errónea: "Não havia nem um traço de Al Qaeda entre os passageiros".

Contudo, estas "inconsistências" respeitantes à inteligência americana já haviam sido descobertas em 23 de Dezembro pelos serviços antiterroristas da França, os quais haviam polidamente refutado as assim chamadas "fontes críveis" provenientes do aparelho de inteligência americano.

Os peritos em contra-terrorismo da França estavam extremamente "cépticos" acerca dos seus homólogos americanos.

Nós [investigadores de polícia franceses] mostrámos [em 23 de Dezembro] que os seus argumentos simplesmente não faziam sentido, mas apesar disto os voos foram cancelados... O principal suspeito [um sequestrador tunisino] verificou-se ser uma criança... Nós realmente tínhamos o sentimento de tratamento não amistoso [por parte de responsáveis americanos] (ils nous appliquent un traitement d'infamie). A informação não era transmitida através dos canais normais. Não era o FBI ou a CIA que contactavam connosco, foi tudo através de canais diplomáticos..." [20]

A decisão de cancelar os seis voos da Air France foi tomada após dois dias de negociações intensas entre responsáveis franceses e americanos. Elas foram canceladas por ordem do primeiro-ministro francês a seguir a consultas com o secretário Colin Powell. Esta decisão foi tomada depois de terminada a investigação francesa. Apesar do facto de que a informação fora refutada, o secretário da Segurança Interna, Tom Ridge, insistiu em manter a ordem de ficar em terra. Se a Air France não houvesse cumprido, teria sido impedida de utilizar o espaço aéreo americano, ou seja, banida de voar nos EUA.

Foi só em 2 de Janeiro, ultrapassada a quadra festiva, que as autoridades americanas admitiram que estavam erradas, afirmando que era um caso inevitável de "identidade errada". Apesar de tacitamente reconhecer o seu erro, a Segurança Interna insistiu em que "os cancelamentos foram baseados em informação sólida".

PLANEAMENTO DE EMERGÊNCIA

É claro que, não tivessem os voos sido cancelados, a justificação da administração para o Alerta Código Laranja não mais se sustentaria. Por outras palavras, a Segurança Interna precisava sustentar a mentira durante todo o período das festas de fim dano. Também era preciso um Alerta Laranja activo para lançar o planeamento dos procedimentos de emergência aos mais altos níveis da administração Bush.

No dia seguinte ao anúncio de Natal do secretário Ridge (21/Dez), o presidente Bush era instruído (briefed) pelos seus "principais conselheiros anti-terror" em sessões a portas fechadas na Casa Branca. Mais tarde nesse mesmo dia, o Homeland Security Council (HSC) reunia-se, também na Casa Branca. O corpo executivo do HSC, o chamado Principals Commitee (HSC/PC), encabeçado pelo secretário Tom Ridge, inclui Donald Rumsfeld, o director da CIA George Tenet, o procurador-geral John Ashcrof, o director do FBI Robert Mueller e Michael D. Brown, sub-secretário para Preparação e Resposta de Emergências, que superintende o Federal Emergency Management Agency (FEMA). [21]

Após a reunião do HSC em 22 de Dezembro, o secretário Ridge confirmou que:

"revimos os planos específicos e a acção específica que tomámos e continuaremos a tomar" [22]

De acordo com a declaração oficial, que deve ser tomada seriamente, um "ataque terrorista real" no futuro próximo sobre solo americano conduzir a um Alerta Código Vermelho. Este, por sua vez, criaria condições para a suspensão (temporária) das funções normais do governo civil, como previsto pelo general Tommy Franks. Este cenário foi encarado pelo secretário Tom Ridge numa entrevista à CBS New em 22 de Dezembro de 2003:

"Se nós simplesmente vamos para o vermelho ... isto basicamente fecha o país", o que significa que corpos civis governamentais seriam encerrados e o comando assumido por uma Administração de Emergência. [23]

PREPARANDO PARA A LEI MARCIAL

Na preparação para um Alerta Código Vermelho, em Maio de 2003 o Departamento de Segurança Interna conduziu um grande "exercício anti-terrorista" intitulado TOPOFF 2. Este é descrito como "a maior e mais abrangente resposta ao terrorismo e exercício de segurança interna já conduzido nos Estados Unidos".

Numa lógica strangeloviana, esta "capacidade de resposta nacional" traduzida num exercício de estilo militar pelos governos federal, estaduais e locais, incluindo participantes canadianos, estabelece vários "cenários" sob um Alerta Código Vermelho. No essencial, foi conduzida sob as mesmas suposições dos exercícios militares em antecipação a um teatro de guerra real, neste caso a ser travada por terroristas estrangeiros, examinando vários cenários de ataques com armas de destruição em massa e a resposta institucional dos governos do Estado e locais:

"Isto avaliou como aqueles que respondem, líderes e outras autoridades reagiriam à libertação simulada de armas de destruição em massa (WMD) em duas cidades americanas, Seattle, WA e Chicago, IL. O cenário do exercício pintava uma organização terrorista fictícia, estrangeira, que detonava um dispositivo de dispersão radiológica simulado (RDD ou bomba suja) em Seattle e libertava uma peste pneumonica em várias localizações da área metropolitana de Chicago. Havia também significativos jogos de inteligência pré-exercício, um ciber-ataque, e ameaças críveis contra outros locais". [24]

O EXERCÍCIO DE TERROR, INCLUINDO CENÁRIOS WMD,
ESTÁ BASEADO NUMA GRANDE MENTIRA


Vamos ser muito claros acerca do que está a acontecer na América. Já não estamos mais a tratar estritamente com uma campanha de medo e de desinformação. "Eventos terroristas produtores de baixas maciças" reais constituem a premissa básica e a força condutora por trás do sistema de resposta de Emergência Interna, incluindo as suas instruções preparadas pelo governo para os cidadãos, a sua estrutura legal "antiterrorista" sob o Second Patriot Act, etc.

Aquilo que estamos a tratar é não só um acto criminoso como também um acto de traição cuidadosamente projectado (engineered) que emana dos mais altos níveis do aparelho de Estado americano. Em suma, do que estamos a tratar é do "Mapa da estrada para um Estado policial" na América, a ser executado no rastro de uma emergência nacional, quer sob uma forma de governo militar ou sob uma polícia de Estado, a qual mantem todas as aparências de uma "Democracia" de dois partidos em funcionamento.

03/Fevereiro/2004
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Notas
1. Tommy Franks Interview, Cigar Aficionado, December 2003
2. David Rockefeller, Statement to the United Nations Business Council, 1994
3- Ver http://www.globalresearch.ca/articles/NAC304A.html
4- ABC News, 13 February 2003.
5- ABC News, 9 February. 2003.
6- ABC News, 13 February 2003,
7- http://www.globalresearch.ca/articles/CRG302A.html .
8- Ibid
9- Ibid
10- Responsável americano citado em The Toronto Star, 12 February. 2003.
11- Ibid
12- Ver Department of Homeland Security em http://www.dhs.gov/
13- Para a declaração completa do secretário Tom Ridge, em 21/Dec/2003, http://www.dhs.gov/dhspublic/
14- Ver referências seleccionadas em http://globalresearch.ca/articles/11SEPT309A.html
15- Boston Globe, 24 December 2003
16- ABC News, 23 December 2003
17- quoted by ABC News, 23 December 2003.
18- Seattle Post Intelligence, 25 December 2003.
19- Fox News, 28 December 2003.
20- Le Monde, Paris and RTBF TV, Bruxelles, 2 January 2004
21-quoted in Le Monde, 3 January 2003.
22- White House Briefing, 22 December 2003.
23- AFP, 23 December 2003.
24- O cenário é apresentado em pormenor no Homeland department's Ready.Gov website em http://www.ready.gov/
Para o texto completo ver, Department of Homeland Security, Summary Conclusions From National Exercise, Office of the Press Secretary, December 19, 2003, http://www.dhs.gov/dhspublic/display?content=2693
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O original encontra-se em http://globalresearch.ca/articles/CHO402A.html e na revista Global Outlook , nº 7, Primavera de 2004. Tradução de JF.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info .
03/Fev/04