Um antigo executivo senior do Citigroup, sr. Casio Casseb Lima, foi posto como
responsável do gigante estatal Banco do Brasil (BB). Cassio Casseb
Lima, que trabalhou para as operações do Citigroup no Brasil, foi
inicialmente recrutado para o Banco de Boston em 1976 por Henrique Meirelles.
Por outras palavras, o cabeça do BB tem ligações pessoais
e profissionais com os dois maiores credores comerciais do Brasil: o Citigroup
e o Boston Fleet.
A continuidade será mantida. A nova equipe PT no Banco Central é
uma cópia a papel químico daquela indicada pelo presidente
(cessante) Fernando Henrique Cardoso. O presidente cessante do Banco Central,
Armínio Fraga, era um antigo empregado do Quantum Fund (Nova York), de
que é proprietário George Soros, o financeiro (e especulador) de
Wall Street.
Em estreita ligação com Wall Street e com o FMI, o indicado de
Lula para Banco Central do Brasil, Henrique de Campos Meirelles, manteve a
orientação política do seu antecessor (que também
era um indicado de Wall Street): política monetária dura,
medidas generalizadas de austeridade, altas taxas de juro e regime de
câmbios externos desregulamentado. Este último encoraja ataques
especulativos contra o Real brasileiro e a fuga de capitais, resultando numa
dívida externa crescente.
É desnecessário dizer que o programa do FMI no Brasil será
dirigido para o desmantelamento final do sistema bancário estatal no
qual o novo chefe do Banco do Brasil, um antigo responsável do Citibank,
desempenhará sem dúvida um papel crucial.
Não é de admirar que o FMI seja "entusiástico".
As principais instituições da administração
económica e financeira estão nas mãos dos países
credores. Sob estas condições, o neoliberalismo está
"vivo e activo": uma agenda macro-económica
"alternativa", modelada no espírito de Porto Alegre, é
simplesmente impossível.
"COLOCANDO A RAPOSA COMO RESPONSÁVEL PELO AVIÁRIO"
O Boston Fleet era um dos vários bancos e instituições
financeiras que especulou contra o Real brasileiro em 1998-99, conduzindo ao
espectacular colapso
(meltdown)
da Bolsa de Valores de São Paulo na "Quarta-feira Negra" 13
de Janeiro de 1999. Estima-se que o BankBoston, o qual posteriormente
fundiu-se com o Fleet, tenha ganho uns 4,5 mil milhões de dólares
no Brasil no decorrer do Plano Real, principiando com um investimento inicial
de US$ 100 milhões. (Latin Finance, 6 August 1998).
Por outras palavras, o Boston Fleet é antes a "causa" do que
"a solução" para as desgraças financeiras do
país. Indicar o antigo presidente executivo do Boston Fleet a chefia do
Banco Central do país é o equivalente a "colocar a raposa
como responsável pelo aviário".
A nova equipe económica declarou que se compromete a resolver
a crise da dívida do país e conduzir o Brasil rumo à
estabilidade financeira. Contudo, as políticas que adoptou
provavelmente terão exactamente os efeitos opostos.
REPLICANDO A ARGENTINA
Acontece que o presidente do Banco Central de Lula, Henrique Meirelles, era um
firme apoiante do controverso ministro das Finanças da Argentina Domingo
Cavallo, que desempenhou um papel chave sob o governo Menem, ao afundar o
país numa crise económica e social arraigada.
Segundo Meirelles, numa entrevista de 1998, quando era presidente e
director-executivo do Banco de Boston:
O acontecimento mais fundamental [na América Latina] foi o
lançamento do plano de estabilização na Argentina [sob
Domingo Cavallo]. Foi uma abordagem diferente, no sentido de que não
era um controle de preços ou um controle do fluxo de moeda, mas sim um
controle da oferta monetária e das finanças governamentais.
(Latin Finance, 6 August 1998).
Vale a pena notar que o chamado "controle da oferta
monetária", referido por Meirelles, significa essencialmente o
congelamento da oferta de crédito aos negócios locais, levando ao
colapso da actividade produtiva.
Os resultados, como evidenciado pela ruína da Argentina, foram uma
cadeia de bancarrotas, levando à pobreza em massa e ao desemprego. Sob
o choque das políticas do ministro das Finanças Cavallo, ao longo
da década de 1990, a maior parte bancos nacionais e provinciais de
propriedade do Estado, que forneciam crédito à indústria e
à agricultura, foi vendida a bancos estrangeiros. O Citibank e o Fleet
Bank of Boston foram os receptadores finais destas malfadadas reformas
patrocinadas pelo FMI.
"Outrora, bancos nacionais e provinciais de propriedade do governo
apoiavam as dívidas da nação. Mas em meados dos anos 90 o
governo de Carlos Menem vendeu-os ao Citibank of New York, ao Fleet Bank of
Boston e outros operadores estrangeiros. Charles Calomiris, um antigo assessor
do Banco Mundial, descreve estas privatizações bancárias
como uma "história realmente maravilhosa". Maravilhosa para
quem? A Argentina sangrou até 750 milhões
de dólares por dia em divisas duras" (The Guardian, 12 August
2001)
Domingo Cavallo foi o arquitecto da "dolarização".
Actuando por conta
(on behalf)
de Wall Street, ele foi o responsável por atar (pegging) o Peso ao
dólar americano num sistema de
currency board
em estilo colonial, o que resultou numa espiral de dívida externa e na
ruptura final de todo o sistema monetário.
O sistema de
currency board
implementado por Cavallo foi promovido activamente
pela Wall Street, com o Citigroup e o Fleet Bank na liderança.
Sob um sistema de
currency board
, a criação de moeda é
controlada pelos credores externos. O Banco Central cessa virtualmente de
existir. O governo não pode empreender qualquer forma de investimento
interno sem a aprovação dos seus credores externos. A US Federal
Reserve toma o controle do processo de criação de moeda. O
crédito só pode ser concedido a produtores internos pela
elevação da dívida externa (denominada em dólar).
ESTELIONATO FINANCEIRO
Quando a crise da Argentina atingiu o seu clímax em 2001, os maiores
bancos credores transferiram milhares de milhões de dólares para
fora do país. Uma investigação lançada no
princípio de 2003 apontou não só para o alegado
envolvimento do antigo ministro argentino das Finanças, Domingo Cavallo,
mas também para o de vários bancos estrangeiros incluindo o
Citibank e o Boston Fleet do qual Henrique Meirelles era presidente e
director-executivo.
"Batalhando para ultrapassar uma crise económica profunda, a
Argentina [Janeiro de 2002] apontou para a fuga de capitais e evasão
fiscal, com a polícia a investigar escritórios de bancos
americanos, britânicos e espanhóis e autoridades a pedirem
explicações a um ex-presidente acerca das origens da sua fortuna
suíça. Afirmações de que até 26 mil
milhões de dólares deixaram ilegalmente o país só
no último ano estimularam acções da polícia.
À tarde a polícia foi ao Citibank, ao Bank Boston [Fleet] e a uma
subsidiária do Santander da Espanha. (...) Os vários processos
ligados à transferências ilegais de capitais citam, entre outros,
o antigo presidente Fernando de la Rua, que se demitiu em 20 de Dezembro
[2001]; seu ministro Domingo Cavallo; e Roque Maccarone, que abandonou a
chefia do banco central..." (AFP, 18 January 2003).
Os mesmos bancos envolvidos no estelionato financeiro argentino, incluindo o
Boston Fleet sob o leme de Henrique Meirelles, estavam também envolvidos
em sombrias operações semelhantes de transferências de
dinheiro em outros países, inclusive a Federação Russa:
"Até 10 bancos americanos podem ter sido utilizados para desviar da
Rússia uma quantia de US$ 15 mil milhões, disseram as fontes,
citando investigadores federais. O Fleet Financial Group Inc. e outros bancos
estão a ser investigados porque eles têm contas que pertencem ou
estão ligadas ao Benex International Co. o qual está no centro de
uma alegado esquema de lavagem de dinheiro russo". (Boston Business
Journal, 23 September 1999)
AS REFORMAS FINANCEIRAS DO BRASIL
Tudo indica que a agenda oculta de Wall Street é finalmente replicar o
cenário argentino e impor a "dolarização" ao
Brasil. A preparação do terreno para este desígnio foi
estabelecida sob o Plano Real, no início da presidência de
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).
Henrique Meirelles, que integrou o PSDB, o partido de FHC, desempenhou um papel
chave nos bastidores quanto à preparação do palco para a
adopção de reformas financeiras mais fundamentais:
"No início da década de 1990 eu [Meirelles] era membro da
direcção da Câmara Americana de Comércio e estava
encarregado de fazer um esforço para começar a pressionar
(lobbying)
por uma mudança da Constituição brasileira. Ao mesmo
tempo, era também presidente da Associação Brasileira de
Bancos Internacionais e estava encarregado do esforço de abrir o
país aos bancos estrangeiros e abrir o fluxo de moeda. Comecei uma
vasta campanha de abordagem de pessoas chaves, incluindo jornalistas,
políticos, professores e profissionais da publicidade. Quando
principiei, toda a gente me dizia que não havia esperança, que o
país nunca abriria os seus mercados, que o país deveria proteger
as suas indústrias. Durante um par de anos falei com cerca de 120
pessoas representativas. O sector privado estava ferozmente contra a abertura
dos mercados, particularmente os banqueiros. (Latin Finance, op cit)
EMENDANDO A CONSTITUIÇÃO
A questão da reforma constitucional era central para os desígnios
financeiros de Wall Street. Isto era exigido para levar até ao fim o
processo de desregulamentação económica e financeira.
No início da presidência de Fernando Collor de Melo, em 1990, o
FMI havia exigido uma emenda à Constituição de 1988.
Havia um alvoroço no Congresso Nacional, com o FMI acusado de
"grosseira interferência nos assuntos internos do Estado".
Vários artigos da Constituição de 1988 entravavam o
caminho para atingir os objectivos orçamentais propostos pelo FMI, os
quais estavam sob negociação com a administração
Collor. Os objectivos do FMI quanto a despesas não podiam ser
alcançados sem um maciço despedimento de empregados do sector
público, exigindo uma emenda a uma cláusula da
Constituição de 1988 que garantia segurança de emprego
para servidores civis federais. Também estava em causa a fórmula
de financiamento (estabelecida na Constituição) dos programas
nível de estados e municípios a partir de fontes do governo
federal. Esta fórmula limitava a capacidade do governo federal para
cortar despesas sociais e mudar o destino das receitas para o serviço da
dívida.
Bloqueada durante a curta vida da administração Collor, a
questão da reforma constitucional foi reintroduzida logo após o
impedimento do presidente Collor de Mello. Em Junho de 1993 Fernando Henrique
Cardoso, que naquele tempo era ministro das Finanças no governo interino
do presidente Itamar Franco, anunciou cortes orçamentais de 50 por cento
na educação, saúde e desenvolvimento regional enquanto
apontava para a necessidade de revisões na Constituição de
1988.
As exigências do FMI respeitantes à reforma constitucional foram
posteriormente incorporadas na plataforma presidencial de Fernando Henrique
Cardoso. A desregulamentação do sector bancário era uma
componente chave do processo de reforma constitucional, à qual naquele
tempo opunha-se o Partido dos Trabalhadores tanto na Câmara como no
Senado.
Enquanto isso, Henrique Meirelles, que na altura estava à frente das
operações do Banco de Boston na América Latina (com um
pé no partido de FHC, o PSDB, e o outro em Wall Street), estava a fazer
lobby nos bastidores em favor da reforma constitucional.
"Finalmente alcançámos um acordo que se tornou parte da
reforma constitucional. Quando se supunha que a Constituição
fosse reformada, em 1993, isto não aconteceu. Não houve votos
suficientes. Contudo, depois de Fernando Henrique Cardoso ser empossado, ela
foi reformada. Aquele acordo particular pelo qual eu trabalhei era um dos
primeiros pontos na Constituição, que foi realmente alterada. Eu
[Meirelles] estive pessoalmente envolvido numa mudança que, pensei no
fim do dia, significava o começo da abertura dos mercados de capitais
brasileiros. No Brasil havia restrições ao fluxo de capitais,
à aquisição de bancos brasileiros pelo capital estrangeiro
e à abertura de sucursais de bancos internacionais de acordo com a
Constituição de 1988, tudo isso impedia o desenvolvimento dos
mercados de capitais". (Latin Finance, 6 August 1998).
O PLANO REAL
O Plano Real foi lançado uns poucos meses antes das
eleições de Novembro de 1993, enquanto FHC era ministro das
Finanças. A ligação fixa
(fixed peg)
do Real ao dólar americano, sob certos aspectos, emulava o modelo
argentino, sem contudo instalar um sistema de
currency board
.
Sob o Plano Real foi alcançada estabilidade de preços. A
estabilidade da divisa era, sob muitos aspectos, fictícia. Era
sustentada pelo crescimento da dívida externa.
As reformas conduziram à morte de um grande número de
instituições bancárias internas, as quais foram adquiridas
por um punhado de bancos estrangeiros sob o programa de
privatização lançado sob a presidência FHC
(1994-2002).
Um dívida externa galopante precipitou finalmente um crash financeiro em
Janeiro de 1999, levando ao colapso do Real (para mais pormenores ver Michel
Chossudovsky, The Brazilian Financial Scam,
http://www.globalexchange.org/campaigns/brazil/economy/financialScam.html
, October
1998. Este artigo foi publicado três meses antes do colapso financeiro
de Janeiro de 1999. Ver também Michel Chossudovsky, Brazil's IMF
Sponsored Economic Disaster, 12.February 1999,
http://www.heise.de/tp/english/special/eco/6373/1.html
)
QUE PERSPECTIVAS SOB A PRESIDÊNCIA LULA?
Enquanto o novo governo PT apresenta-se como "uma alternativa" ao
neoliberalismo, comprometido com o alívio da pobreza e a
redistribuição da riqueza, sua política monetária e
fiscal está nas mãos dos seus credores de Wall Street.
Fome Zero, descrito como um programa "para combater a
miséria", em grande parte conforma-se às
orientações do Banco Mundial acerca "redução
da pobreza eficaz em termos de custos". Esta última requer a
implementação dos chamados programas "dirigidos"
("targeted")
, ao mesmo tempo que corta drasticamente orçamentos do sector social.
As directivas do Banco Mundial em saúde e educação exigem
redução de despesas sociais tendo em vista cumprir as
obrigações do serviço da dívida.
O FMI e o Banco Mundial têm louvado o presidente Luís Ignacio da
Silva pelo seu comprometimento com "fortes fundamentos
macro-económicos". Tanto quanto preocupa o FMI, o Brasil
"está na trilha" em conformidade com os seus padrões de
medida. O Banco Mundial também tem elogiado o governo Lula. "O
Brasil está a prosseguir um amplo programa social com responsabilidade
fiscal".
A LÓGICA CRUEL DO FMI PARA RESGATAR EMPRÉSTIMOS
Os empréstimos do FMI são em grande medida destinados a financiar
a fuga do capital. De facto, esta foi a lógica do pacote de
empréstimo multibilionário concedido ao Brasil após as
eleições de Outubro de 1998 que conduziram à
reeleição de FHC para um segundo mandato presidencial: apenas
uns poucos meses antes do colapso
(meltdown)
financeiro de Janeiro de 1999:
As reservas de divisas externas do Brasil caíram de US$ 78 mil
milhões em Julho de 1998 para US$ 48 mil milhões em Setembro. E
agora o FMI ofereceu-se para "emprestar o dinheiro de volta" ao
Brasil no contexto de uma operação de resgate "estilo
coreano" a qual finalmente exigirá a emissão de grandes
quantias de dívida pública nos países do G-7. As
autoridades brasileiras têm insistido em que o país
"não está em risco" e que aquilo que estão a
procurar é "financiamento preventivo" (e não a
"salvação de um perigo"
"bail-out"
) para guarnecer-se contra os "efeitos contagiantes" da crise
asiática. Ironicamente, a quantia considerada pelo FMI (US$ 30 mil
milhões) é exactamente igual ao dinheiro "retirado"
("taken out")
do país (durante um período de 3 meses) sob a forma de fuga de
capitais. Mas o banco central não será capaz de utilizar o
empréstimo do FMI para tornar a encher as suas reservas de divisas
duras. O dinheiro do
bail-out
(incluindo uma grande parte dos US$ 18 mil milhões da
contribuição americana para o FMI aprovada pelo Congresso em
Outubro) está destinado a permitir que o Brasil cumpra as actuais
obrigações do serviço da dívida ou seja,
reembolsar os especuladores. O dinheiro do
bail-out
nunca entrará no Brasil. (Ver Michel Chossudovsky, The Brazilian
Financial Scam, op cit.)
A mesma lógica fundamenta o empréstimo cautelar de US$ 31,4 mil
milhões concedido pelo FMI em Setembro de 2002, apenas um par de meses
antes das eleições presidenciais. (Ver IMF Approves
US$30.4
Billion Stand-By Credit for Brazil at
http://www.imf.org/external/np/sec/pr/2002/pr0240.htm
) Este empréstimo
do FMI constitui "uma rede de segurança social" para
especuladores institucionais e investidores de curto prazo
(hot money)
.
O FMI despeja milhares de milhões de dólares para dentro do Banco
Central, as reservas de divisas externas são reabastecidas com dinheiro
emprestado. O empréstimo do FMI é garantido sob a
condição de que o Banco Central mantenha um mercado de divisas
externas desregulamentado a par de taxas de juros internas em níveis
muito altos.
Os assim chamados "investidores externos" são capazes de
transferir (em dólares) os rendimentos dos seus
"investimentos" em dívidas internas a curto prazo (a taxas de
juro muito elevadas) para fora do país. Por outras palavras, as
reservas de divisas externas emprestadas do FMI são reapropriadas pelos
credores externos do Brasil.
Devemos entender a história das sucessivas crises financeiras no Brasil.
Com credores de Wall Street como responsáveis, os níveis da
dívida externa continuaram a ascender. O FMI tem vindo
"resgatar" com novos empréstimos em dólares
multibilionários, os quais são sempre condicionados à
adopção de medidas de austeridade abrangentes e à
privatização de activos do Estado. A principal diferença
é que este processo está agora a ser empreeendido sob um
presidente que apregoa opor-se ao neoliberalismo.
Deve-se notar, contudo, que o novo multibilionário
"empréstimo preventivo" do FMI concedido em Setembro de 2002
foi negociado por FHC, uns poucos meses antes das eleições. O
empréstimo do FMI e as condicionalidades ligadas ao mesmo preparam o
cenário para uma dívida externa galopante durante o mandato
presidencial de Lula. (Ver Brazil Letter of Intent, Memorandum of
Economic Policies, and Technical Memorandum of Understanding, at
http://www.imf.org/external/np/loi/2002/bra/04/index.htm#mep
, Brasília, August 29, 2002.)
DOLARIZAÇÃO
Com o Banco Central e o Ministério das Finanças sob o controle da
elite de Wall Street, este processo no fim das contas levará o Brasil a
uma outra crise financeira e cambial. Enquanto a lógica subjacente
é semelhante, baseada nas mesmas manipulações financeiras
tal como em 1998-99, com toda a probabilidade será muito mais
sério do que o colapso de Janeiro de 1999.
Por outras palavras, as políticas macro-económicas adoptadas pelo
presidente Luís Ignácio da Silva podem bem resultar, no futuro
previsível, em
default
da dívida e na morte da divisa do país, levando o Brasil ladeira
abaixo para a "dolarização". Um sistema de
currency board
, semelhante àquele da Argentina, poderia ser imposto. O que isto
significa é que o dólar americano tornar-se-ia a divisa de
substituição
(proxy currency)
. Isto representa a perda da soberania económica do país. O seu
Banco Central está defunto. Tal como no caso
da Argentina, a política monetária seria decidida pelo US Federal
Reserve System.
Apesar de oficialmente não fazer parte das negociações do
Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), a
adopção do dólar americano como a divisa comum para o
Hemisfério Ocidental está a ser discutida por trás de
portas fechadas em Wall Street a fim de estender o seu controle por todo o
hemisfério, acabando por deslocar ou apoderar-se das
instituições bancárias internas remanescentes (inclusive
aquelas do Brasil).
A nota verde já foi imposta a cinco países latino-americanos,
incluindo Equador, Argentina, Panamá, El Salvador e Guatemala. As
consequências económicas e sociais da
"dolarização" têm sido devastadoras. Nestes
países, Wall Street e o sistema da US Federal Reserve controlam
directamente a política monetária.
O governo PT do Brasil deveria retirar as lições da Argentina,
onde os remédios económicos do FMI desempenharam um papel chave
na precipitação do país numa arraigada crise
económica e social.
A menos que a actual direcção da política monetária
seja revertida, a tendência no Brasil é rumar para o
"cenário da Argentina", com devastadoras consequências
económicas e sociais.
"UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL"?
Que espécie de "Alternativa" é possível quando
um governo comprometido a "combater o neoliberalismo" torna-se um
firme apoiante do "livre comércio" e dos "remédios
económicos fortes"?
Abaixo da superfície e por trás da retórica
política do Partido dos Trabalhadores, sob Lula a agenda neoliberal
permanece funcionalmente intacta.
Os movimentos de base que conduziram Lula ao poder foram traídos. E os
intelectuais brasileiros "progressistas" dentro do círculo
próximo de Lula arcam com um pesado fardo de responsabilidade neste
processo. E o que faz esta "acomodação da esquerda"
é no fim das contas reforçar o domínio da elite financeira
de Wall Street sobre o Estado brasileiro.
"Um outro mundo" não pode ser baseado em slogans
políticos vazios. Nem resultará de uma mudança de
"paradigmas" que não sejam acompanhados por mudanças
reais nas relações de poder dentro da sociedade brasileira,
dentro do sistema estatal e dentro da economia nacional.
Mudanças significativas não podem resultar de um debate acerca de
"uma alternativa ao neoliberalismo" que acima da superfície
parece ser "progressista", mas que tacitamente aceita o direito
legítimo dos "globalizadores" a dominar e pilhar o mundo em
desenvolvimento.
Copyright Michel Chossudovsky 2003. For fair use only/ pour usage
équitable seulement .
[*]
Professor de Económicas na Universidade de Ottawa; Director do
Centre for Research on Globalisation
; autor de
"A globalização da
pobreza"
(traduzido em 11 línguas) e de
"Guerra e
globalização: A verdade por trás do 11 de Setembro"
.
O original deste artigo encontra-se em
http://globalresearch.ca/articles/CHO303C.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
.