O perigo dos transgenicos, os interesses das multinacionais e a manipulação nos media

por João Petro Stédile [*]

. A sociedade brasileira vem sendo bombardeada todos os dias por noticias falaciosas produzidas pelos lobbys das grandes empresas multinacionais que querem nos impor as sementes transgênicas como se fosse uma necessidade, uma questão de progresso.

Colocam apenas as pretensas vantagens e escondem os perigos para o povo e para nossa soberania nacional e alimentar. O que está em jogo afinal?

De um lado temos os interesses de lucro e do controle monopólico das sementes pelas empresas multinacionais como a Monsanto, a Cargill, a Bunge, a Du Pont, a Sygenta e a Bayer. De outro os interesses dos agricultores honestos e do povo brasileiro. Esse é o verdadeiro confronto que se trava na questão dos transgênicos.

As empresas e seus lobistas no afan de controlar a agricultura brasileira e ter o monopólio das sementes em especial da soja, milho, trigo, girassol e algodão, ficam pregando as maravilhas dos transgênicos, por serem mais produtivos e mais lucrativos do que seus concorrentes. Se o critério para praticar agricultura é dedicar-se sempre produtos mais lucrativos então deveriam estimular apenas o plantio de fumo e de maconha!

Os agricultores tem a responsabilidade de produzir alimentos. E alimentos sadios, com segurança para toda população.

Uma variedade de milho transgênico já foi recolhida nos Estados Unidos, por seus malefícios para saúde humana e animal. Da soja, não há até agora nenhum estudo que dê segurança, e portanto no futuro poderemos ter também conseqüências para a saúde das pessoas. E está comprovado, de que ao ser necessário casar seu plantio com o uso intensivo do agrotóxico Round-up, com o passar dos anos isso afetará a vida do solo e do meio ambiente. É por essa razão que, há mais de 4 anos, corre uma ação judicial, contra a Monsanto e ela não conseguiu apresentar nenhum laudo de que sua soja não causa mal ao meio ambiente brasileiro, como determina a Constituição.

Em 1998, a Monsanto solicitou ao Ministério de Saúde a alteração de uma Portaria aumentando o limite residual do seu veneno, Glifosato, no grão da soja transgênica, que foi prontamente atendido pelo ministro da época. (Portaria No. 764/09/98).

Da área cultivada no mundo, menos de 10% utilizam sementes transgênicas. Entre os 187 paises do planeta, 95 % dos transgênicos são cultivados em apenas três países: Estados Unidos, Canadá, e Argentina, onde as multinacionais estadunidenses controlam o mercado. Porque será que todos os demais países preferem a precaução?

Em todo mundo, e em especial na Europa e Ásia, os consumidores são contrários ao consumo de produtos transgênicos, cujos efeitos na saúde não estão garantidos.

Somos a favor do uso da biotecnologia , assim como os agricultores vem aplicando empiricamente ao longo da historia da humanidade. Mas uma biotecnologia responsável com o nosso povo e o futuro do meio ambiente.

Se podemos alimentar nosso povo, com produtos de outras sementes mais seguras e sadias por que arriscar com transgênicos? Apenas para garantir o lucro da Monsanto?

A Monsanto está tentando induzir de qualquer maneira o cultivo de transgênicos no Brasil, porque é sua última oportunidade. Nos Estados Unidos teve um prejuízo de mais de mil milhões de dólares e suas ações caíram 27% no ultimo ano. Recebeu a pior cotação na bolsa de Nova Iorque. E ainda tem o desplante, de querer cobrar royalties dos exportadores e agricultores brasileiros que foram induzidos a cometer dois crimes plantando ilegalmente sua semente de soja round-up contrabandeada da Argentina. Induziram ao crime e agora querem uma parte do botin! É como se a fábrica de fuzil belga exigisse do Fernandinho Beira-mar parte do seu lucro, por ele usar seus fuzis.

Deviam cobrar da FARSUL, entidade dos latifundiários gaúchos que se prestou a difundir a semente transgênica!

O Brasil precisa de uma legislação que garanta o direito a precaução na saúde publica e impeça que as multinacionais tenham o monopólio de nossas sementes, colocando em risco a soberania nacional. Por ora, está em vigor a Medida Provisória 113, que já foi aprovada pela Câmara, e que libera o comércio temporário da soja gaúcha, desta safra, mas que mantem proibição rigorosa do cultivo de qualquer semente transgenica, para fins comerciais. O Governo fala em preparar uma nova lei definitiva, para substituir a MP e enviá-la ao congresso no próximo mês.

É necessário que haja um amplo debate de toda sociedade brasileira, dos consumidores da cidade, e que todos se manifestem e pressionem o governo e os parlamentares.

A empresa estadunidense Monsanto, vem gastando milhões em lobby, financiando campanhas, pagando viagens de delegações aos Estados Unidos, fazendo propaganda nos media, alimentando jornalistas e comentaristas, apenas para garantir seu lucro.

Esperamos que o governo e os parlamentares brasileiros atuem do lado do povo brasileiro e não do capital estadunidense. Esse é um assunto de saúde pública e de soberania alimentar nacional. Se o governo e o congresso errarem de lado, vão ser cobrados pela história e pelo povo!
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[*] Dirigente do MST brasileiro e da Via Campesina.

O original encontra-se em
http://www.mst.org.br/informativos/mstinforma/mst_informa41.htm


Este artigo encontra-se em http://resistir.info .

20/Jun/03