Paz – bandeira revolucionária

por José Reinaldo Carvalho [*]

Manifestação em Florença, 09/Nov/02 A gigantesca manifestação de Florença, realizada no último dia 9, nos marcos do Fórum Social Europeu, foi um desses acontecimentos memoráveis, capazes de marcar época e exercer influência duradoura sobre o desenvolvimento da situação política internacional.

As centenas de milhares de pessoas que desfilaram pacificamente nas ruas da cidade italiana com bandeiras progressistas de todas as cores, protestando contra a guerra imperialista, clamando pela paz, são protagonistas de um grande fenômeno de nossa época — a luta de massas politizada, consciente, centrada na questão principal que encerra o feixe de contradições do mundo contemporâneo — a guerra ou a paz.

Desde que proclamou a "guerra permanente contra o terrorismo" e declarou que "quem não está com os Estados Unidos está contra os Estados Unidos", o governo norte-americano introduziu a ameaça de guerra na agenda imediata de sua política exterior. Definitivamente, a questão militar se sobrepôs a todas as demais e passou a informar o conjunto da política externa norte-americana e mesmo das relações econômicas. A tal ponto que o governo decidiu lançar a nova política estratégica-militar, chamada "Estratégia de Segurança Internacional dos Estados Unidos", uma nova doutrina que substitui a anterior, vigente em todo o período da guerra fria.

Entre os muitos aspectos dessa doutrina, são particularmente alarmantes o conceito de guerra preventiva e a disposição manifesta de utilizar armas nucleares como primeiro recurso, não mais como última instância, assim como a autorização para a CIA perpetrar assassínios além fronteiras dos Estados Unidos, como foi a recente ação realizada no Iêmen.

A civilização humana está diante de grave ameaça, com a escalada de militarização da vida internacional. As demarches da diplomacia norte-americana não têm o sentido de resolver a problemática do desarmamento iraquiano. No mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU aprovava as exigências de inspeção no país árabe, a imprensa norte-americana divulgava um plano de ação de envergadura em que serão mobilizados 250 mil soldados para a ocupação do Iraque. A Administração Bush prepara freneticamente a guerra, enquanto sua diplomacia fabrica pretextos.

Cimeira da NATO, Praga, 21-22 Novembro Nos próximos dias, precisamente em 19 e 20 de novembro, o movimento político e social europeu está diante de nova agenda, que se pode transformar em outro grande momento da luta antiimperialista pela paz no velho continente. Nesses dias reúne-se em Praga, República Tcheca, a cúpula da OTAN — a Organização do Tratado do Atlântico Norte que se converteu no braço militar dos Estados Unidos na Europa. As forças progressistas européias, por iniciativa do Partido Comunista da Boêmia e Moravia (República Tcheca) estão convocando uma reunião alternativa das forças políticas e sociais anti-OTAN. Estão previstas manifestações de massas que podem repetir a apoteose florentina.

A OTAN foi fundada há mais de cinco décadas com a justificativa de constituir-se como "aliança defensiva" contra a "ameaça soviética". Não seria lógico que com o desaparecimento da União Soviética e o desbaratamento do Pacto de Varsóvia, a OTAN também fosse dissolvida? Mas não. E muito pelo contrário. Nos últimos tempos essa aliança militar estratégica hegemonizada pelos Estados Unidos realizou intervenções militares de caráter agressivo, destacadamente a guerra contra a Iugoslávia em 1999 e a participação na guerra anglo-norte-americana no Afeganistão.

A luta pela paz, nas condições do mundo contemporâneo, tem caráter revolucionário. Ela se confronta com a essência da estratégia hegemonista e militarista do imperialismo norte-americano. Em torno da bandeira da paz é possível unir diferentes correntes políticas e formar uma ampla frente de solidariedade com os povos agredidos.

No Brasil, é necessário aproveitar o novo ambiente político favorável ao avanço das causas nacionais, democráticas e populares, criado com a vitória de Lula, para impulsionar também a luta pela paz, indissoluvelmente ligada à defesa da soberania nacional e à verdadeira integração dos povos latino-americanos.

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[*] José Reinaldo Carvalho é jornalista. Vice-presidente nacional do PCdoB, responsável pela Secretaria de Relações Internacionais do Comitê Central

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

20/Nov/02