Paz bandeira revolucionária
por José Reinaldo Carvalho
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A gigantesca manifestação de Florença, realizada no
último dia 9, nos marcos do Fórum Social Europeu, foi um desses
acontecimentos memoráveis, capazes de marcar época e exercer
influência duradoura sobre o desenvolvimento da situação
política internacional.
As centenas de milhares de pessoas que desfilaram pacificamente nas ruas da
cidade italiana com bandeiras progressistas de todas as cores, protestando
contra a guerra imperialista, clamando pela paz, são protagonistas de um
grande fenômeno de nossa época a luta de massas politizada,
consciente, centrada na questão principal que encerra o feixe de
contradições do mundo contemporâneo a guerra ou a
paz.
Desde que proclamou a "guerra permanente contra o terrorismo" e
declarou que "quem não está com os Estados Unidos
está contra os Estados Unidos", o governo norte-americano
introduziu a ameaça de guerra na agenda imediata de sua política
exterior. Definitivamente, a questão militar se sobrepôs a todas
as demais e passou a informar o conjunto da política externa
norte-americana e mesmo das relações econômicas. A tal
ponto que o governo decidiu lançar a nova política
estratégica-militar, chamada "Estratégia de Segurança
Internacional dos Estados Unidos", uma nova doutrina que substitui a
anterior, vigente em todo o período da guerra fria.
Entre os muitos aspectos dessa doutrina, são particularmente alarmantes
o conceito de guerra preventiva e a disposição manifesta de
utilizar armas nucleares como primeiro recurso, não mais como
última instância, assim como a autorização para a
CIA perpetrar assassínios além fronteiras dos Estados Unidos,
como foi a recente ação realizada no Iêmen.
A civilização humana está diante de grave ameaça,
com a escalada de militarização da vida internacional. As
demarches da diplomacia norte-americana não têm o sentido de
resolver a problemática do desarmamento iraquiano. No mesmo dia em que o
Conselho de Segurança da ONU aprovava as exigências de
inspeção no país árabe, a imprensa norte-americana
divulgava um plano de ação de envergadura em que serão
mobilizados 250 mil soldados para a ocupação do Iraque. A
Administração Bush prepara freneticamente a guerra, enquanto sua
diplomacia fabrica pretextos.
Nos próximos dias, precisamente em 19 e 20 de novembro, o movimento
político e social europeu está diante de nova agenda, que se pode
transformar em outro grande momento da luta antiimperialista pela paz no velho
continente. Nesses dias reúne-se em Praga, República Tcheca, a
cúpula da OTAN a Organização do Tratado do
Atlântico Norte que se converteu no braço militar dos Estados
Unidos na Europa. As forças progressistas européias, por
iniciativa do Partido Comunista da Boêmia e Moravia (República
Tcheca) estão convocando uma reunião alternativa das
forças políticas e sociais anti-OTAN. Estão previstas
manifestações de massas que podem repetir a apoteose florentina.
A OTAN foi fundada há mais de cinco décadas com a justificativa
de constituir-se como "aliança defensiva" contra a
"ameaça soviética". Não seria lógico que
com o desaparecimento da União Soviética e o desbaratamento do
Pacto de Varsóvia, a OTAN também fosse dissolvida? Mas
não. E muito pelo contrário. Nos últimos tempos essa
aliança militar estratégica hegemonizada pelos Estados Unidos
realizou intervenções militares de caráter agressivo,
destacadamente a guerra contra a Iugoslávia em 1999 e a
participação na guerra anglo-norte-americana no
Afeganistão.
A luta pela paz, nas condições do mundo contemporâneo, tem
caráter revolucionário. Ela se confronta com a essência da
estratégia hegemonista e militarista do imperialismo norte-americano. Em
torno da bandeira da paz é possível unir diferentes correntes
políticas e formar uma ampla frente de solidariedade com os povos
agredidos.
No Brasil, é necessário aproveitar o novo ambiente
político favorável ao avanço das causas nacionais,
democráticas e populares, criado com a vitória de Lula, para
impulsionar também a luta pela paz, indissoluvelmente ligada à
defesa da soberania nacional e à verdadeira integração dos
povos latino-americanos.
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José Reinaldo Carvalho
é jornalista. Vice-presidente nacional do PCdoB, responsável pela
Secretaria de Relações Internacionais do Comitê Central
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