Esquerda brasileira terá jornal
Após três meses de intensas articulações, que
envolveram diretamente o líder João Pedro Stédile do MST e
dezenas de movimentos populares de todo o Brasil, a esquerda brasileira decidiu
lançar seu próprio jornal, tendo por objetivos: expressar uma
visão de esquerda sobre os fatos e a realidade brasileira e uma
visão de solidariedade internacional entre os povos; ser plural nas
idéias mas comprometido profundamente com os interesses de
transformação social do povo brasileiro; servir de
subsídio, com informação e reflexão para toda
militância social do país; estimular as lutas sociais, os
movimentos de massa e o engajamento político dos leitores; e promover
permanentemente os valores humanistas e socialistas.
O projeto editorial e o desenvolvimento do jornal terão como
referências permanentes o projeto político expresso num documento
(Projeto Popular para o Brasil) que aborda as prioridades de
atuação política, pela ótica dos movimentos sociais
e populares.
Será um jornal semanal de abrangência nacional, com 24
páginas, 100 mil exemplares e equipe própria e profissionalizada.
Seguirá um modelo de gestão praticamente inédito em termos
de Brasil: a redação vai se reportar a um Comitê Editorial
integrado por até 12 pessoas, representando os movimentos e
forças sociais que dão suporte ao projeto; este Comitê, por
sua vez, seguirá a orientação de um Conselho
Político mais abrangente, composto por aproximadamente 80 participantes
dos mais diferentes setores e que se reunirá a cada três meses; e
atuando como base do projeto os Comitês de Apoiadores que serão
criados em todo o País, com a missão de fortalecer a
obtenção de recursos, de estimular a participação
de colaboradores e de viabilizar a distribuição local.
O lançamento da edição zero está previsto para o
final de janeiro, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Mas a
chegada definitiva ao mercado, em edições regulares,
ficará para a primeira semana de março, com lançamentos em
todas as capitais. Isso se houver os recursos necessários.
O nome já está escolhido
Brasil de Fato
e o editor-chefe também -
José Arbex Jr
, colega com passagens por importantes veículos de
comunicação do país, atualmente integrando a equipe de
editores da revista Caros Amigos, e a quem caberá a montagem da equipe
tanto de contratados quanto de colaboradores. Uma das editoras também
já acertou com o jornal: Áurea Lopes (ex-Diário do Comércio e
Indústria e Plano
Editorial), que vinha participando também do planejamento do projeto.
Serão, ao todo, quatro as editorias: Nacional (política
brasileira e economia); Internacional (política e economia); Cultura e
Esporte (nacional e internacional).
A editoria de Nacional, por exemplo, abrirá espaço para
matérias e reportagens de temas como política, economia,
educação, saúde, segurança, reforma agrária,
habitação, povos indígenas, meio ambiente, riquezas
naturais e demais áreas e assuntos do âmbito nacional. Na forma,
vai buscar sempre pelo menos uma boa reportagem de política e uma boa
reportagem de economia, além de várias matérias
(reportagens, artigos, notas e resumos) das demais áreas e assuntos
nacionais.
A pauta deverá ter, segundo definição do projeto a que
Jornalistas&Cia teve acesso, "uma função estratégica
para afirmação da linha editorial do jornal e a conquista de
leitores; deverá construir, a cada edição, um pouco da
dimensão nacional, seja com a produção de matérias
nos mais diferentes pontos do território, seja na expressão das
realidades, das lutas e dos movimentos sociais. A cobertura nacional
deverá evitar o denuncismo, o sensacionalismo e o tratamento
irresponsável e superficial dos fatos nacionais; ao contrário,
deverá ter critérios claros e transparentes para uma cobertura
rica, sóbria, atraente, inteligente, educativa e formadora de
opinião".
A política, na definição do projeto editorial,
"deverá ser vista além dos partidos e do jogo institucional
dos executivos e legislativos; será preciso tratá-la como a
ação humana na busca do bem comum; será preciso
fornecer para o leitor os
interesses existentes por trás dos fatos, os bastidores e onde
estão os verdadeiros centros de poder".
A economia, por seu lado "precisará ser traduzida para que o
cidadão comum -- medianamente informado -- entenda as
relações da macroeconomia com os problemas do cotidiano, as
relações internacionais do capital com as políticas
governamentais. Será preciso desmascarar o tempo todo a visão
economicista, segundo a qual tudo deve estar subordinado à economia; e
também desmascarar o tecnicismo e a burocracia, que são
instrumentos usados pelas classes dominantes para justificar seus atos
anti-populares".
O jornal não pretende ser pautado pela chamada "grande
mídia". Vai, ao contrário, produzir material próprio,
original, adotando o ponto de vista dos movimentos sociais.
Também na linha cultural, Brasil de Fato pretende comprar brigas de
grosso calibre. Seus princípios gerais serão os de "combater
a mercantilização da cultura e priorizar processos e não
produtos culturais; sugerir meios para que o desenvolvimento cultural seja
possibilidade de todos e não apenas da elite; tratar cultura como
ação política, sem doutrina nem medo de tomar partido;
fugir do culto à personalidade; tratar a chamada cultura popular com o
mesmo rigor da chamada cultura erudita; subverter os gêneros
jornalísticos habituais; experimentar novas formas; comprar brigas com a
grande imprensa; e também com as grandes editoras, gravadoras, teatros,
televisões, e tudo o mais que tenha se tornado "grande"
à custa da miséria alheia".
O jornal é dirigido predominantemente "às pessoas
progressistas, integrantes ou não de organizações
classistas e populares, que querem mudanças no Brasil, incluindo a
classe média disposta a somar-se na luta pela
transformação do país. Destinar-se-á também
aos sindicalistas, intelectuais, estudantes universitários e
secundários, profissionais liberais, funcionários públicos
etc. e quem tem capacidade de formar opinião, multiplicar idéias
e debates".
Quem quiser colaborar com a construção do
Brasil de Fato
poderá fazê-lo através de depósito no Banco
Bradesco, agência 2716, Conta Corrente número 6776-8 (criada
especificamente para este fim), em nome da
Editora Expressão Popular
. O comprovante de depósito deve ser enviado por fax para a Kamila
através do número 11-3361.3866, ou pelo e-mail:
brasildefato@cidadania.org.br
.
O original deste artigo encontra-se em
http://www.rbc.org.br/jdesquerda.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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