Comparações com o Vietname:
As semelhanças aumentam...
As duas "grandes vitórias" dos EUA desde o 11 de Setembro de
2001 estão a desfazer-se. No Afeganistão, o regime de Hamid
Karzai não tem virtualmente qualquer autoridade e nem dinheiro. Ele
entraria em colapso se não fossem as armas americanas. A Al-Qaeda
não foi derrotada e o Taliban está a reemergir. Apesar das
melhorias de fachada, a situação das mulheres e crianças
continua desesperadora. A mulher simbólica no gabinete de Karzai, a
corajosa médica Sima Samar, foi expulsa do governo e agora vive no medo
constante, com um guarda armado do lado de fora da porta do seu gabinete e
outro junto ao seu portão de entrada. Assassinatos,
violações e abuso de menores são cometidos impunemente
pelos exércitos privados dos "amigos" dos EUA, os senhores da
guerra a quem Washington subornou com milhões de dólares,
dinheiro na mão, a fim de simular estabilidade.
"Estaremos numa zona de combate no momento em que deixarmos esta
base", disse-me um coronel americano na base aérea de Bagram,
próxima de Cabul. "Somos alvejados todos os dias, várias
vezes por dia". Quando eu disse que ele certamente viera libertar e
proteger o povo, ele deu uma gargalhada.
As tropas americanas raramente são vistas nas cidades do
Afeganistão. Elas escoltam responsáveis americanos a altas
velocidades em camiões blindados com janelas enegrecidas e
veículos militares, montados com metralhadoras à frente e
atrás. Até a enorme base de Bagram foi considerada demasiado
insegura para o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, durante a sua
recente visita relâmpago. Os americanos estão tão nervosos
que umas poucas semanas atrás "acidentalmente" alvejaram e
mataram quatro soldados governamentais no centro de Cabul, provocando o segundo
maior protesto de rua contra a sua presença no espaço de uma
semana.
No dia em que deixei Cabul, um carro bomba explodiu na estrada para o
aeroporto, matando quatro soldados alemães, membros da força de
segurança internacional ISAF. O autocarro dos alemães foi
levantado no ar, nos lados da estrada estavam cheios de carne humana. Quando
os soldados britânicos chegaram a fim de fechar hermeticamente a
área, foram vigiados por uma multidão silenciosa, olhando de lado
no meio do calor e do pó, através de um abismo tão vasto
quanto aquele que separou as tropas britânicas dos afegãos no
século XIX, e o franceses do argelinos e os americanos dos vietnamitas.
IRAQUE: SEGREDOS ABERTOS
No Iraque, cena da segunda "grande vitória", existem dois
segredos abertos. O primeiro é que os "terroristas" agora
acossando a força de ocupação americana representa uma
resistência armada que é quase certamente apoiada pela maioria dos
iraquianos, os quais, contrariamente à propaganda anterior à
guerra, opõem-se à sua "libertação"
forçada (ver a investigação de Jonathan Steele, 19 de
Março de 2003, www.guardian.co.uk). O segundo segredo é que
há uma evidência crescente da verdadeira escala dos assassinato
anglo-americanos, indicando o banho de sangue que Bush e Blair sempre negaram.
As comparações com o Vietname foram tão frequentes ao
longo dos anos que hesito em fazer outra. Contudo, as semelhanças
estão a aumentar. Exemplo: o retorno de expressões tais como
"afundado num pântano". Isto sugere, mais uma vez, que os
americanos são vítimas, não invasores: a versão
aprovada de Hollywood quando uma aventura de rapina fracassa. Desde que a
estátua de Saddam Hussein foi derrubada quase três meses
atrás, mais americanos foram mortos do que durante a guerra. Dez foram
mortos e 25 feridos em ataques de guerrilha clássica a barreiras nas
estrada e postos de controle, os quais chegam a uma dúzia por dia.
Os americanos chamam as guerrilhas de "lealistas de Saddam" e
"combatentes Baatistas", do modo como costumavam despachar todos os
vietnamitas como "comunistas".
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Jornalista australiano
Copyright J Pilger 2003. For fair use only/ pour usage équitable
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Este artigo encontra-se em
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