A tragédia ecológica do Mar de Aral
O Mar de Aral, um lago terminal alimentado por dois rios principais, (Sirdaria
e Amudaria) forma uma fronteira natural entre o Kasaquistão e o
Uzbequistão. Era o quarto maior lago mundial em 1960; hoje, está
em vias de desaparecer num pequeno e sujo poço. A
destruição do Mar de Aral é um exemplo de como uma
tragédia ambiental e humanitária pode ameaçar rapidamente
toda uma região. Tal destruição constitui um caso
clássico de desenvolvimento não-sustentado. Vale a pena
estudá-lo pois, de certa forma, prefigura o que poderá acontecer
a nível planetário se a humanidade continua a desperdiçar
recursos finitos como a água.
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O Mar de Aral e toda a bacia do lago ganhou notoriedade mundial como uma das
maiores degradações ambientais do Século XX causadas pelo
homem. A União Geográfica Internacional destacou a bacia Aral,
nos começos dos anos 90, como uma das zonas críticas da terra
[Kasperson, 1995]. É também referida como a Chernobil
Calada, uma catástrofe silenciosa que evoluiu lentamente, quase
imperceptivelmente, ao longo das últimas décadas [Glantz e Zonn,
1991]. A redução do Mar de Aral, captou a atenção e
o interesse de governos, organizações ambientais e de
desenvolvimento, leigos e comunicação social nos últimos
anos em todo o mundo [Ellis, 1990]. A partir de meados dos anos 80, quando os
soviéticos abriram as portas ao abrigo da política de
glasnost
(abertura), a situação do Mar de Aral ganhou a fama, junto de
muitos observadores estrangeiros, de uma calamidade ambiental [Glantz, 1998].
Desde então que os cientistas têm vindo a exigir muito mais
energicamente a salvação do Mar de Aral. Infelizmente, por essa
altura, já o Mar de Aral estava reduzido a um terço do seu
tamanho original. Apesar de ser novamente motivo da comunicação
social mundial, e debatido, com uma nova abertura na União
Soviética, era uma situação de crise conhecida que estava
na agenda dos políticos da Federação por mais de 30 anos.
[1]
O Mar de Aral antes de 1960
O Mar de Aral fica situado a aproximadamente 600 km do Mar Cáspio.
Costumava haver nele mais de 1.100 ilhas, separadas por lagoas e estreitos
apertados, que deram ao mar o seu nome; na língua kasaque, Aral
significa 'ilha'. No presente, a Kok Aral, a maior de todas as ilhas (é
agora uma península) dispersas pelo Mar de Aral, separa a parte
nordeste, chamada Pequeno Aral, da parte sudoeste, chamada o Grande Aral. Esta
forma a fronteira natural entre Kasaquistão e Uzbequistão, que
partilham entre si o lago. As duas partes estão ligadas pelo estreito de
Berg. O Mar de Aral era, até 1960, o quarto maior lago do mundo,
cobrindo uma área de 66 mil quilómetros quadrados, com um volume
estimado de mais de 1.000 km cúbicos [Kabori e Glantz, 1998]. Embora
seja chamado um mar, na realidade é um lago terminal, alimentado por
dois rios principais: Sirdaria no norte e Amudaria no sul. Este último,
o maior rio da região, começa nas montanhas de Kunlun na
cordilheira Hindu Cushe, dirige-se para noroeste através dos Montes
Pamir e depois passa pelo Kirguizistão, Tadjiquistão,
Uzbequistão (que forma fronteira com o Afeganistão) ,
Turkmenistão, e volta a passar por Uzbequistão antes de entrar no
Mar de Aral. O Sirdaria que começa na base norte das montanhas Tien Shan
no Kirguizistão, corre através de Tadjiquistão,
Uzbequistão, Kasaquistão e depois entra no Mar de Aral [Islamov,
1998]. Por conseguinte, embora o Mar de Aral se situe entre Uzbequistão
e Kasaquistão, todos os cinco estados da Ásia Central
compartilham a bacia do Mar de Aral, uma área de 690 mil
quilómetros quadrados.
[2]
Os caudais destes dois sistemas fluviais
perenes, sustentavam um nível
estável no Mar de Aral. Ao longo dos séculos, cerca de metade do
caudal dos dois rios alcançou o Mar de Aral.
Um vasto delta sustentava uma prolífica actividade piscatória.
[3]
No lago, encontrava-se uma variedade de espécies de peixes que eram
pescados, incluindo certas espécies que só existiam no Mar de
Aral, entre eles o famoso esturjão de Aral. As suas águas
alimentavam indústrias de pesca locais com capturas superiores a 40 mil
toneladas anuais, enquanto os deltas dos seus principais afluentes abrigavam
dezenas de lagos mais pequenos e terrenos alagadiços de grande riqueza
biológica . Florestas cerradas de juncos e canas, algumas vezes
estendendo-se vários quilómetros em direcção ao
mar, rodeavam as margens do lago. À volta do lago e no delta fluvial,
viviam grandes populações de
saikas
(antílopes), javalis selvagens, lobos, raposas, almíscares,
perus, gansos e patos.
O Mar Aral era como um grande oásis no deserto. Durante muitos
séculos, as estepes e as regiões semi - desertas abrigaram
vários grupos étnicos. Antes da chegada da Rússia
imperial, a população que vivia na área do Mar de Aral
era, predominantemente, nómada. Este modo de vida era, até certo
ponto, essencial, devido às condições de
desertificação ambiental. O clima é fortemente continental
e a paisagem é do tipo semi deserto. A precipitação
anual é de cerca de 200 mm. Não é possível haver
agricultura com esta quantidade de chuva. Somente na zona perto dos dois rios
era possível ter agricultura e por esse motivo, as pessoas que estavam
afastadas das margens dos rios, viviam unicamente da criação de
gado. A primeira tarefa do governo imperial russo foi fixar a
população em comunidades agrícolas. Perceberam que uma
terra seria boa para agricultura se houvesse água disponível. No
final do século XIX, cultivou-se algodão a uma relativamente
larga escala quando se introduziram novas tecnologias de
irrigação. Foram abertos canais para facilitar o processo de
irrigação e uma boa proporção da
produção agrícola da Ásia central estava
completamente dependente da irrigação.
Nos anos que se seguiram à Revolução Bolchevique cresceu o
interesse na irrigação dos territórios da Ásia
central. A área irrigada foi extensivamente desenvolvida nos
começos dos anos 20, pois os soviéticos da altura (bolcheviques)
estavam interessados em aumentar a produção do algodão. Em
1918, Lenine emitiu uma proclamação pedindo mais algodão
do Turquestão. Para além disto pretendiam também controlar
a população rural. Nos finais dos anos 30, sob o comando de
Estaline, o ministro soviético da água iniciou um projecto
maciço de desvio da água a fim de irrigar as estepes do
Uzbequistão, Kasaquistão e Turkmenistão para os preparar
para a cultura do algodão. O primeiro grande projecto de
irrigação iniciou a operação em 1939 com a
construção do canal que rodeava o Vale de Ferghana no
Uzbequistão. A caminho dos finais dos anos 40, grandes quantidades de
água do Rio Sirdaria foram desviadas para fins agrícolas para
Kizil-Orda no Kasaquistão e para uma zona perto de Tashkent no
Uzbequistão
[Altan, 1995]
. A produção agrícola ao longo do Sirdaria foi preparada e
iniciada, com trágicas consequências para a cultura nómada
kasaque. O programa de propriedade colectiva de Estaline atingiu duramente os
kasaques e calcula-se que mais de um milhão de pessoas morreram ou
abandonaram a região dirigindo-se para países a sul do
Kasaquistão. Os kasaques que ficaram não possuíam os
conhecimentos necessários e a tradição na agricultura, por
isso tiveram que trazer peritos de outras partes.
[4]
Por os camponeses da Ásia central não aceitarem a propriedade
colectiva e a industrialização da agricultura, a
produção de algodão no Uzbequistão e de trigo/arroz
no Kasaquistão não aumentou até perto do começo dos
anos 40 [Hav, 1998]. .
A seguir à morte de Estaline em 1953, os seus sucessores, Nikita
Khrushchev e, mais tarde, Leonid Brezhnev, prosseguiram a mesma política
soviética na Ásia central, convertendo ainda mais terra
arável para a produção de algodão. Entre os finais
dos anos 50 e 1970 completaram-se vários canais de larga escala para
servirem estas expansões da monocultura do algodão: o Canal
Qara-Qum de 800 km, de Amudaria até Ashkhabad, o sistema de
irrigação de Mirzachol Sahra, o Canal Chu no Kirguizistão
e o Reservatório de Bahr-i Tajik que serve Tadjiquistão
[Blake, 2002]. Começando em finais dos anos 50, Moscovo instituiu um
regime de
monocultura do algodão, resultando daí que todo o modo de vida se
concentrou na produção de algodão, com poucos
benefícios para a população e a destruição
das tradições culturais indígenas. Nikita Khrushchev
(1953-1964) estava pessoalmente fascinado por uma agricultura que não
necessitasse húmus e que pudesse ser feita em solos arenosos,
utilizando apenas grandes quantidades de água. Quer Kasaquistão
quer Uzbequistão estendiam-se por vastas áreas de solos arenosos
e ambos os rios passavam através deles com enormes caudais de
água. Foi iniciado um programa para tornar a União
Soviética auto-suficiente em trigo e algodão. O
algodão requer um clima quente e foi por isso que a
produção de algodão foi instalada no Uzbequistão,
irrigada pelas águas do Amudaria. A produção de trigo,
cevada, milho-miúdo e arroz foi colocada principalmente ao longo do
Sirdaria e do seu sistema de irrigação no Kasaquistão.
A bacia de drenagem do Mar de Aral depressa se converteu numa bacia muito
importante para a agricultura soviética. Durante milénios, os
povos converteram, com êxito, pela irrigação, paisagens
desertas em terras agrícolas. Embora a agricultura de regadio na bacia
do Mar de Aral tivesse começado com as conquistas tzaristas dos
séculos XVIII e XIX, a irrigação no tempo dos sovietes era
diferente pois utilizava grandes quantidades de água desviadas dos
principais rios da região. Projectos de irrigação a
montante, para a produção de algodão e arroz, consumiam,
como esponjas, mais de 90% do caudal natural destes rios. Chegados a este
ponto, no começo dos finais dos anos 70, nenhuma água do Sirdaria
chegava ao Mar de Aral e o Amudaria fornecia apenas um volume mínimo que
decrescia constantemente [Bedford, 1996].
E a juntar a isto, e devido à elevada evaporação, estas
terras concentraram muita salinidade. Para limpar o sal destes solos,
construíram-se canais de drenagem que provaram ser inadequados. Grandes
desvios, más construções de sistemas de
irrigação e má conservação, e gestão
errada dos recursos hídricos, são apontados como causas
principais para a diminuição do caudal entrado no Mar de Aral o
que, por sua vez, alterou o equilíbrio ecológico existente.
Morte do Mar de Aral
É publicamente aceite que esta morte trágica do Mar de Aral
começou em 1960. Foi o ano em que os projectistas de Moscovo inauguraram
o Projecto do Mar de Aral, um ambicioso programa económico que visava a
conversão de terrenos baldios na cintura do algodão da
União Soviética. Os projectistas atribuíram à
Ásia central o papel de fornecedor de matérias-primas, em
especial de algodão. Isto conduziu a uma redução
substancial de semeaduras de colheitas tradicionais como a alfafa e de plantas
que se cultivavam para fornecer óleo vegetal. Pomares e árvores
de amoras foram arrancados para permitir plantar mais algodão. O desejo
de expandir a produção de algodão para as terras desertas
aumentou a dependência da Ásia central da irrigação,
especialmente do Uzbequistão.
O Mar de Aral e os seus afluentes pareciam ser uma fonte inesgotável de
água. Foram abertos canais de grande extensão para espalhar as
águas dos Amudaria e Sirdaria por todo o solo desértico. A
área irrigada aumentou a sua superfície em menos de uma
década para 6,9 milhões de hectares: metade dessas terras
produziam
algodão e a outra metade arroz, trigo, milho, frutas, legumes e
forragens para o gado. Não é necessário dizer-se que a
agricultura de regadio não foi planeada com o propósito de
destruir a natureza. Gerando um enorme rendimento, a agricultura de regadio
constituiu um sucesso brilhante. Segundo Moscovo, os anos iniciais do projecto
foram uma proeza. As quotas de produção do algodão e de
outros produtos eram realizadas ou excedidas ano após ano. A bacia do
Mar de Aral tornou-se o principal fornecedor do país de produtos
frescos. Os rendimentos nas cinco repúblicas da Ásia central que
compartilhavam a bacia Kasaquistão e Uzbequistão, ao redor
das margens do Mar de Aral e Kirguizistão, Tadjiquistão e
Turkmenistão ao sul na bacia hidrográfica dos rios Amudaria e
Sirdaria aumentavam regularmente. De 1940 a 1980, a
produção de algodão soviético aumentou de 2,24 para
9,1 milhões de toneladas. A maior parte deste algodão era
proveniente do Uzbequistão, Turkmenistão e Tadjiquistão,
que, conjuntamente, eram responsáveis por quase 90% de toda a
produção soviética [Critchlow,199].
As complicações surgiram porque a contracção do
Mar de Aral, e outras consequências causadas pela
irrigação, tinham sido tratadas como questões sem
importância pelas autoridades até 1970. Não foi o projecto
em si, mas antes os métodos agrícolas mal concebidos e mal
geridos que destruíram a economia, saúde e ecologia da bacia do
Mar de Aral, afectando milhões de pessoas. Foram construídos
numerosos canais e a construção de várias barragens foi
feita precipitadamente. Por altura de 1978, uma extensa rede de canais de
irrigação estendeu-se peles desertos para matar a sede ao
algodão ao longo de 7,7 milhões de hectares, principalmente em
Uzbequistão. Os canais principais e secundários foram escavados
na areia sem terem sido colocadas condutas tubulares, e não se procedeu
à cimentação. Também não se prestou
importância à drenagem dos solos. Em certas alturas do ano, eram
fechadas as comportas e a água era dirigida directamente para os campos,
um sistema que causava uma tremenda perda de água. Menos de 10% da
água absorvida era directamente benéfica para a colheita. A
restante desaparecia no solo arenosos ou evaporava-se. Foram estes programas
largamente ineficazes que eram adoptados para satisfazer a enorme procura de
água que, por fim, resultaram na secagem do Mar de Aral. A resultante
descida de nível do Mar de Aral era suposta ser remediada por projectos
ambiciosos de desvio de rios no norte da Rússia. Esses projectos nunca
se realizaram e o lago continuou a secar ano após ano. O resultado
foi catastrófico, e a irrigação que fez florescer o
deserto e aumentar os rendimentos, pôs em marcha uma desastrosa cadeia de
acontecimentos logo detectados na descida dos níveis de água e no
declínio das capturas de peixe.
Portanto, infelizmente, em vinte anos, o quarto maior mar interior da terra
passou a ser uma planura de sal, seca, contaminada e tóxica. A crise
ecológica na área do Mar de Aral atinge agora a que foi a
fértil república autónoma do Karakalpaquistão no
Uzbequistão, Tashauz Velayat no norte do Turkmenistão e Kzyl Orda
Oblast na parte ocidental do Kasaquistão. Toda esta região foi
atacada por um dos piores desastres ambientais. Antes de 1960, entravam no Mar
de Aral 55 biliões de metros cúbicos de água,
conservando-o a um nível saudável. Durante os anos 80, a
média do caudal que corria para o lago era de apenas 7 mil
milhões de
metros cúbicos. Recentemente, apenas de 1 a 5 mil milhões de
metros
cúbicos chegam anualmente ao lago. Perderam-se desde 1960, 75% do volume
do lago, e há fortes receios de que secará totalmente por volta
de 2015. No passado, o Mar de Aral oscilava em resposta às
condições climatéricas no mundo, subindo quando os
glaciares derretiam e descendo quando se formavam. Em condições
naturais o Mar de Aral subiria neste momento o Mar Cáspio que se
encontra próximo subiu 2 metros desde 1977 devido ao aumento da
precipitação e diminuição da
evaporação.
Degradação Ambiental
Tem sido publicamente reconhecido que a degradação ambiental da
bacia do Mar de Aral é o resultado do tributo soviético ao Rei
Algodão. A utilização luxuosa dos recursos hídricos
dos rios conduziu a perdas graves no equilíbrio entre as fontes naturais
de água nos ecossistemas e a utilização da água na
irrigação agrícola. Os desvios de água dos dois
principais rios regionais roubaram ao lago e aos deltas o reabastecimento anual
de água fresca. A salinidade da água do rio é inferior a
0,7 por mil, enquanto a água no Mar de Aral era salobra, com uma
salinidade de aproximadamente 9 por mil. O sal no Mar de Aral era
principalmente causado pela grande evaporação, e, parcialmente,
pelo facto de a água nos terrenos circundantes ao Mar de Aral ser
salgada.
[5]
A salinidade era controlada devido à grande quantidade de água
fresca proveniente dos rios Sirdaria e Amudaria. O calor de verão
causava (e ainda causa) uma grande evaporação, que era a
razão do bom clima ao redor de Aral antes da secagem do lago. À
medida que as águas eram desviadas dos rios que alimentavam o Mar de
Aral, generalizou-se a salinidade.
Os problemas ambientais criados pela secagem do Mar de Aral, para além
da salinidade dos solos, incluem: aumento da salinidade da água do lago,
erosão pelo vento, tempestades de poeiras salgadas,
destruição dos leitos de desova dos peixes, colapso da
indústria piscatória, terras encharcadas, rotura da
navegação, divisão do lago por partes separadas, perda da
vida selvagem nas áreas do litoral, grande redução de
caudais dos dois afluentes principais, necessidade de recursos extras na bacia
hidrográfica para estabilizar o nível do lago,
alteração do clima regional, desaparecimento das terras de
pastagem, e por aí em diante. Todos estes graves problemas ambientais
estão a afectar a economia da região; uma situação
combinada com médias elevadas de crescimento populacional. Viviam na
zona, no começo do século XX, 8 milhões de pessoas. Desde
então, a população da região aumentou para 50
milhões e a terra irrigada atingiu 7,7 milhões de hectares. Em
seguida, apresentam-se discussões sobre as questões principais.
a) Desertificação:
Conforme já foi descrito, a culpa da catastrófica
dissecação do Mar de Aral é atribuída aos colossais
projectos de irrigação na Ásia central durante o tempo dos
sovietes. Como o nível do Mar de Aral desceu de 53 metros acima do
nível do mar para 36 metros, a área da sua superfície
encolheu para metade e o seu volume para três- quartos. A
concentração salina duplicou. Em resultado disto, em complemento
da queda dos níveis de água, a grande quantidade de terras
irrigadas começou, a dada altura, a reduzir a sua produtividade devido
à salinidade. Este fenómeno tem o nome de
desertificação do Mar de Aral. A maioria das partes do fundo seco
do lago está coberta de depósitos de biliões de toneladas
de sais tóxicos, trazidos para ali ao longo de décadas por
águas infiltradas nos rios através dos campos. A área do
fundo seco do lago, conhecida localmente por deserto de Aralkum,
tem agora cerca de 40.300 quilómetros quadrados. Durante o regime
soviético, grandes áreas desta região foram utilizadas
como centros militares e espaciais e, desta forma, agravou-se o problema, pois
o sal está poluído por químicos. O vento soprando do lago,
apanha o sal poluído pelos químicos no leito exposto e leva-o
para campos de cultura à média de 75 milhões de toneladas
anuais, cobrindo faixas de 40 km de largura e destruindo solos a milhares de
quilómetros de distância [Sinnot, 1992]
. Esses sais podem destruir as colheitas de algodão logo no
começo do período de vegetação. Para retirar o sal
do solo é necessário regar continuamente a terra durante um
período longo de tempo. Este processo requer ainda mais água
fresca, o que significa mais desvios das águas fluviais e, desta
maneira, isto forma uma espécie de círculo vicioso. Por
conseguinte, deserto e áreas arenosas aumentam pelo impacto do vento e
mais desertificação é criada. A Academia das
Ciências Uzbeque afirma que um novo deserto a sul e a leste do Mar de
Aral já se expandiu para 5 milhões de hectares. Isto é
muitas vezes referido ironicamente como 'deserto branco' por que os colectores
de sal tóxico estão incrustados na sua superfície depois
de se misturarem com Karakum (deserto negro) e Kyzylkum (deserto vermelho) que
rodeiam o Mar de Aral. O enorme deserto de areia branca brilhante, que é
soprada para terrenos agrícolas, contamina a terra e obriga os
agricultores a compensarem a produção enfraquecida pondo mais
pesticidas e fertilizantes na terra, envenenando-a ainda mais.
Cansaço dos solos e salinidade foram exacerbados pelo uso maciço
de fertilizantes e pesticidas [Kekacewicz, 2000]. O escoamento do sal, para
além de diminuir áreas
utilizáveis para a agricultura, destroi pastagens e, portanto, provoca
carência de forragens para os animais. A produtividade das pastagens
diminuiu para metade e a destruição da vegetação
dos prados diminuiu 10 vezes a produtividade dos prados.
b) Destruição dos peixes no Mar de Aral:
Antes de 1960 a pesca era um negócio em expansão. Uma
indústria de pesca que fora próspera no passado, ficou afectada
desfavoravelmente pelas quantidades crescentes de poluentes que entravam no Mar
de Aral vindos dos rios, adicionado ao facto de nos últimos 30 anos mais
de 60% do lago ter desaparecido. Em consequência disso, começaram
a aumentar as concentrações de sais e minerais na
contraída massa de água. A salinidade da água do Mar de
Aral aumentou ao ponto de muitas das suas zonas terem a mesma salinidade do
oceano. Esta alteração química provocou mudanças
espantosas na ecologia do lago, causando rápidas baixas na
população piscícola do Mar de Aral. O conteúdo
mineral na água aumentou quatro vezes atingindo 40g/litro, impedindo a
sobrevivência da maioria dos peixes e da fauna selvagem do lago. O peixe
quase que desapareceu todo do que resta do lago, deixando milhares de pessoas
sem meios de subsistência. Quando o Aral começou rapidamente a
encolher, os barcos de pesca e as suas tripulações ficaram
encalhados, algumas vezes a dezenas de quilómetros das antigas margens.
[6]
Toda a pesca comercial terminou em 1982, sendo as capturas actuais
insignificantes, e comunidades piscatórias inteiras estão agora
desempregadas. A perda de produtividade provocou um colapso na indústria
piscatória e desemprego neste sector. Em 1960, foram capturadas 43.430
toneladas de peixe no lago, caindo para 17 mil toneladas em 1970, zero
toneladas em 1980, e mantendo-se a situação até hoje
[Letolle e Mainguet]
.
Dois portos importantes, Aralsk e Moynaq, floresceram como centros
piscatórios. O porto de Aralsk, situado a norte do Pequeno Aral no
Kasaquistão era uma cidade bem organizada, com um estaleiro naval, uma
indústria de pesca e um serviço de ferry. No estaleiro
construíam-se barcos de 50 a 500 toneladas para transporte de carga e
pesca no Mar de Aral. A estação ferroviária de Aralsk ,
situada na linha de Moscovo a Tashkent e Almaty, era a ligação
ferroviária mais importante da Ásia central. As cargas chegadas
por via férrea costumavam ser transferidas para os barcos e
transportadas para sul, para o porto de Moynaq, em Karakalpsquistão, no
Uzbequistão.
[7]
Em 1975, a pesca terminou no Pequeno Aral e Aralsk passou a ser um porto sem
porto. Parou o serviço de ferry, a salinidade dos charcos aumentou, a
caça diminuiu e o clima começou a sofrer
alterações, entre outras razões por as grandes florestas
de juncos e caniços terem desaparecido quando a água recolheu.
Para que se mantivesse o emprego na indústria de pesca, introduziram
peixe congelado oriundo de outras partes da União Soviética, como
o Mar Báltico, Mar Branco e Oceano Pacífico. Este processo cessou
com a desintegração da Federação.
Moynaq, situada na margem sul do Aral, além de ser um centro de
indústria piscatória fora em tempos uma popular estância
balnear. Não é possível imaginar o tempo em que esta
cidade era um próspero local de veraneio. Multidões de turistas
soviéticos juntavam-se em Moynaq para apanhar sol nas antigas praias e
para nadar nas águas do Aral, famosas por curar doenças de pele.
Crianças de cidades longínquas chegavam aos campos de
verão para respirar o ar do mar e comer peixe fresco. Hoje em dia,
Moynaq abrange com o olhar uma cintilante planura salgada, agora um
cemitério de cascos enferrujados de barcos de pesca encalhados. O mar
está a quilómetros de distância do passeio à
beira-mar e não se vê a olho nu.
Esta situação não foi como uma consequência de um
raio caído do céu. Desde 1970 que este assunto era amplamente
discutido em círculos governamentais. Em 1977, a conferência
soviética sobre o impacto ambiental de uma diminuição no
nível do Mar de Aral, uma comunicação preparada por dois
cientistas da República de Uzbeque, anunciava uma redução
pronunciada de desembarques de pescado [Gorodetskaya e Kes, 1978].
Outros, também por essa altura, sugeriam que a morte da pesca
comercial ocorreria, provavelmente, devido à secagem
dos leitos de desova dos peixes [Barovsky, 1980]. Foi também sugerido no
mesmo fórum, que o esgotamento dos
bancos de pesca no Mar de Aral seria uma das primeiras consequências do
declínio dos níveis do mar. Havia um relatório publicado
num jornal da autoria de A. U. Reteyum em que este assinalava que: ...em
1965, o Conselho de Ministros da URSS tinha aprovado uma
resolução especial 'Sobre as Medidas para Preservar a Pesca
Importância do Mar de Aral.' Isto é um exemplo que
apoia a convicção de que os sinais de deterioração
na bacia do Aral eram evidentes já em meados dos anos 60
[Reteyum,1991]. Nos finais dos anos 70, era já claro que os bancos de
pesca do Mar de
Aral estavam num declínio irreversível e que, provavelmente, se
tivessem sido adoptadas medidas adequadas esta situação actual
podia ter sido evitada.
c) Mudanças Climáticas:
Durante os últimos 5-10 anos a secagem do Mar de Aral trouxe
alterações evidentes nas condições
climatéricas. O efeito do aquecimento da água do mar no Inverno e
o seu arrefecimento no Verão diminuiu dramaticamente. O Mar de Aral
é um lago de deserto, abrangido por um clima continental forte, com uma
variação de temperatura de 40 graus centígrados no
Verão para 30 graus negativos no Inverno. No passado, o Mar de Aral era
considerado como um regulador, mitigando os ventos frios que vinham da
Sibéria no Inverno e evitando que as temperaturas de Verão
subissem demasiado. Notava-se uma evaporação elevada (da ordem
de 1700 mm por ano). A evaporação era também a
razão do bom clima ao redor de Aral antes da secagem do lago, e,
apesar do alto nível de evaporação, era mantido o
equilíbrio da água devido aos grandes caudais fornecidos pelos
dois rios. As alterações climatéricas deram origem a
verões mais curtos e mais secos e invernos mais longos e mais frios na
região. As temperaturas do ar no Inverno desciam e as temperaturas de
Verão subiam 2 a 3 graus centígrados, incluindo
observações de 49 graus C. Esta mudança para um clima mais
continental, com verões mais curtos e mais quentes e invernos mais frios
e mais compridos, ocasionava pouca precipitação para a colheita
seguinte. A precipitação foi reduzida várias vezes nas
margens do Mar de Aral. A magnitude média da precipitação
é de 150-200 mm com uma considerável não-uniformidade, de
acordo com as estações. A estação
mais prolongada baixou também para 170 dias, perdendo os 200 dias livres
de geadas necessárias para as colheitas do algodão. Como
já foi explicado anteriormente, a ocorrência frequente de longas
tempestades de poeiras e de ventos rasteiros são traços
característicos desta região. As mais intensas ocorrem na costa
oeste com, talvez, 50 tempestades por ano. A velocidade máxima do
vento atinge 20-25 m/s.
d) Condições Sanitárias:
É opinião geral de que a crise sanitária na região
está directamente ligada ao desaparecimento do Mar de Aral. Para tornar
as coisas ainda pior, as pessoas têm pouco acesso a água
potável. Os produtos químicos escoados dos campos
agrícolas poluíram ainda mais o Mar de Aral, tornando a sua
água imprópria para consumo, quer por humanos quer por animais. O
algodão é um patrão exigente. Não só tem
mais sede do que a maioria das outras colheitas comerciais, como também
necessita de fortes aplicações de pesticidas para afastar
gorgulhos e outras pestes. Parece frequentemente que nas mentes
soviéticas a teoria era se pouco faz bem, muito faz
melhor, — muita água, muitos pesticidas. A juntar a isto a
sementeira de algodão é normalmente pulverizada com um
desfolhador pelo Outono, a fim de lhe retirar as folhas para tornar mais
fácil a colheita. Uma vez que a bacia é um sistema fechado sem
drenagem para o exterior, os insecticidas e herbicidas pulverizados nos campos
escoam para a terra, acumulando no subsolo água a níveis
perigosos. Como a maior parte da água da torneira vem de poços,
as pessoas bebem um cocktail de produtos químicos diluídos, alguns
identificados como cancerígenos. Níveis elevados de
contaminação por pesticidas são considerados como
afectando a capacidade do organismo humano de absorver ferro, provocando
anemia. A água utilizada para consumo humano contém para cima de
6 gramas de sal por litro, um nível quatro vezes superior à norma
da Organização Mundial de Saúde. Isto tem sido relacionado
com a prevalência de doenças renais. As tempestades de poeiras
sopram violentamente durante mais de 60 dias por ano, espalhando
resíduos tóxicos e sal deixado pela água do lago. Pensa-se
que estas partículas sejam uma causa possível de doenças
respiratórias e cancros. (Quando o lago eventualmente secar, calcula-se
que 15 mil milhões de toneladas de sal serão lançadas na
atmosfera). De acordo com Timothy Cummings, um delegado da Cruz Vermelha
Americana, a trabalhar na região do Mar de Aral, a
combinação de toxinas provenientes do ar e da água para
consumo humano, aumentou a fraca saúde dos residentes já
susceptíveis de contrair doenças devido a
alimentação deficiente.
[8]
O Relatório sobre o Ambiente da URSS, uma publicação
oficial do governo, salientou que a acumulação total de
pesticidas no Turkmenistão era de 20 a 25 vezes da média
nacional. Em áreas de elevada utilização de
pesticidas as doenças infantis (proporção de
doenças) até à idade de 6 anos é 4,6 vezes superior
à das regiões de baixa proporção de
pesticidas [Jones, 1999]
. De acordo com a Academia de Ciências Soviética, a taxa de
mortalidade infantil na região da Ásia central aumentou entre
1970 e 1985. Em Bozataus, uma região do Karakalpaquistão, uma
área simultaneamente flagelada com falta de saneamento básico,
cuidados de saúde infantil e maternais inadequados, e níveis
crescentes de pesticidas e herbicidas na água, 110 em cada 1.000
crianças morrem antes de fazerem um ano. Em comparação com
109 em África, 95 na Índia e 37 na China. Por exemplo, em
Karakalpaquistão, a taxa do cancro do esófago é sete vezes
superior àquela do resto do país. E. Paronina, uma investigadora
soviética, estudou as condições sanitárias em
Karakalpaquistão e relatou as suas sombrias conclusões. Em
resumo, eis o que ela afirma: Tudo isto (crise sanitária) é
o preço excessivo pago com a saúde da população
para se ter auto-suficiência em algodão [Jones, 1991].
Não surpreende que toda a literatura médica local esteja
repleta de histórias de deformidades à nascença,
incremento de doenças renais e hepáticas, gastrite
crónica, crescente mortalidade infantil e taxas de aumento de cancro.
As pessoas tiveram também que se adaptar a alterações
drásticas no clima. Como já foi observado, nas últimas
quatro décadas os verões tornaram-se mais quentes e mais curtos e
os invernos mais frios. As alterações climatéricas
não afectam, necessariamente, a propagação da
doença, mas tornam a vida muito mais difícil, diz Darin
Portnoy, um especialista ocidental de tuberculose, que trabalha para um
projecto do Banco Mundial em Moynaq. As pessoas concentram-se em locais
fechados durante longos períodos. Vivem encerrados e proporcionam a
propagação da doença.
[9]
Quando parecia que as coisas não poderiam ficar mais deprimentes surgiu
outra exasperante revelação Foi noticiado de que tinham sido
enterrados barris de bactéria de antraz na Ilha de Vozrozhdeniye,
situada no Mar de Aral, quando o Uzbequistão fazia parte da União
Soviética. Durante o tempo que Mikhail Gorbachev esteve à frente
do governo, os serviços de informação de Washington
disseram que a União Soviética, contrariamente às suas
promessas de respeitar os tratados, estava a produzir armas químicas. Em
1988, os Estados Unidos exigiram inspeccionar as instalações
químicas soviéticas. Julga-se ter sido ordenado aos cientistas da
cidade siberiana de Sverdiovsk, que transferissem centenas de toneladas de
antraz para caixas gigantes de aço inoxidável e o regassem com
lixívia para matar a bactéria. A mortífera carga foi
depois transportada para a ilha no Mar de Aral que tinha sido o local a
céu aberto para as experiências de armas biológicas.
Contudo, a lixívia não matou completamente a bactéria.
Amostras de testes feitos ao solo revelam que alguns esporos continuam vivos. O
receio é que a bactéria de antraz enterrada possa ser
transportada para os territórios uzbeque e kazaque por lagartos e
pássaros. O antraz caracteriza-se por lesões nos pulmões e
úlceras no corpo e é transmitido aos humanos per animais
através do contacto. Tanto o Uzbequistão como o
Kasaquistão pediram ajuda aos Estados Unidos para que se fizesse a
determinação do perigo que os seus territórios corriam,
uma vez que a Rússia não cumpriu a promessa de Boris Yeltsin em
1992, de fechar e descontaminar o local [Jones, 1999].
Estratégia Regional para a Água
Já em 1982, o governo procurou desenvolver um plano pormenorizado dos
recursos hídricos das bacias dos rios Sirdaria e Amudaria e colocou
estritas limitações à retirada de água. Pouco tempo
depois, foram criadas duas organizações para operar e manter as
principais infra-estruturas hidráulicas e controlar a
utilização da água. Houve muitas propostas para se
transferir água do Mar Cáspio para o Aral.
[10]
Um plano de longa duração consistia em desviar as águas
dos rios siberianos Ob, Irtysh e Yenisey e canalizá-los para Sul, para a
região do Mar de Aral e para o deserto. Após anos de
controvérsia este plano foi abandonado devido aos custos e
consequências ambientais, mas alguns cientistas locais ainda defendem a
ideia. Outra sugestão era desfazer os glaciares das montanhas Pamir e
Tien Shan com explosões nucleares. Estas ideias não eram
realistas, especialmente em tempos de crise económica. Todavia, elas
ainda perduram.
Com o fim do período soviético, as cinco Repúblicas da
Ásia Central (RAC) independentes, estabeleceram uma comissão
conjunta para a coordenação da água e para regular a sua
distribuição na bacia, consolidando posições
próprias para a adopção de estratégias regionais
para a água. Em 1992, foi pedido ao Banco Mundial que coordenasse a
ajuda internacional em resposta à crise na bacia do Mar de Aral. Em
Setembro do mesmo ano, uma comissão do banco visitou a região e
preparou um relatório sobre aquilo que viu. Teve lugar em Washington, em
Abril de 1993, uma conferência internacional patrocinada pelo Banco
Mundial, Programa Ambiental da Nações Unidas (UNEP) e Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) para discutir a
proposta do banco. Estiveram presentes representantes das cinco
repúblicas, assim como de outras organizações
internacionais e agências de assistência. Com base nas
recomendações do Banco Mundial, um grupo que incluía o
Banco, o UNEP e o UNDP visitou a região em Maio de 1993 e preparou um
programa de assistência financeira em colaboração com as
RAC. Este programa continha 19 projectos para a primeira etapa de um programa
de três fases para salvar o Mar de Aral [Kirmani e Moigne, 1997]
. As RAC, por sua vez, criaram três organizações regionais
o Concelho Interestadual, o Fundo Internacional para o Mar de Aral e a
Comissão Executiva para implementarem o programa.
[11]
Foi encarada, e em parte implementada, uma maior utilização das
águas de drenagem e residuais, assim como a introdução de
colheitas mais tolerantes ao sal. Cerca de 6 km cúbicos/ano de
águas de drenagens agrícolas e de águas residuais
são directamente reutilizadas para irrigação, enquanto 37
km cúbicos/ano regressam às depressões naturais ou rios,
onde são misturadas com água fresca e podem ser reutilizadas
para irrigação ou outros fins. O melhor que se espera é
conseguir-se alguma estabilidade do lago e a sobrevivência dos dois
deltas fluviais. A salvação dos deltas podia levar a uma nova
actividade piscatória comercial.
Líderes governamentais afirmaram que a quantidade de terra para
algodão será reduzida e que grandes quantidades de água
serão bombadas para o Mar de Aral até 2005 [Bech, 1995].
Funcionários da agricultura, contudo, dizem que é
impossível demolir o sistema de canais. Muitos agricultores dependem dos
rendimentos da cultura do algodão. O governo indicou também que
as necessidades dos agricultores de algodão estão em primeiro
lugar. A exportação de algodão é uma fonte
importante de rendimento. As RAC não querem extirpar a monocultura do
algodão e arriscar perder as suas recompensas económicas. E
assim, a maioria dos cientistas acredita que o Mar de Aral nunca irá ser
como foi.
O futuro do Mar de Aral é, portanto, incerto. A única coisa
certa é que o lago é agora uma catástrofe
ambiental à medida que o nível de água declina e o
ecossistema se degrada, provocando um ambiente de deterioração e
condições de vida e de saúde precárias para os
povos que vivem nas margens do lago. É agora impossível prever,
com algum rigor, o futuro para o Aral, mas se não se encontrarem
soluções apropriadas o nível da água
continuará a declinar. Seja qual for o futuro, esta
situação de certeza que abriu os olhos aos governos do mundo.
É um forte aviso à comunidade internacional e ilustra a rapidez
em menos de 20 anos como uma tragédia humanitária e
ambiental pode ameaçar toda uma região e a sua
população. A destruição do Mar de Aral é um
exemplo clássico de desenvolvimento não-sustentado.
NOTAS
1) Sinais de alteração apareciam por toda a parte durante os
primeiros 20 anos do problema do Mar de Aral (1960-1980): Muitas das
alterações ambientais adversas foram mencionadas em documentos
científicos soviéticos em certas alturas dos anos 60 e 70.
2) Uma pequena porção das nascentes da bacia do Mar de Aral ficam
localizadas na China e no Irão. O Afeganistão compartilha
directamente o Rio Amudaria, que constitui uma fronteira entre ele e o
Uzbequistão, Tadjiquistão e Turkmenistão.
3) 'O Mar de Aral Uzbequistão e Kasaquistão', Principais
Lagos do Mês Lagos Vivos, Julho Agosto, 1998,
http://www.livinglakes.org/month/archive/2-aralsea.htm
4) Um total de mais de 10 milhões de pessoas foram deslocadas para a
Ásia central, muitas delas à força, por razões
políticas, e a maioria foi para o Kasaquistão que até
agora conta com cerca de 8 milhões de pessoas oriundas de outras partes.
5) A água salgada do terreno pode ser explicada por uma secagem total
aparente do lago, que se estendeu para o interior centenas de anos atrás.
6) 'Água Contaminada Prejudica a Saúde na Região do Mar de
Aral', Notícias e Realces, FAO das Nações Unidas, 27 de
Janeiro de 1997
http://www.fao.org/NEWS/1997/970104-e.htm
7) Esta região fazia parte da área do Kasaquistão antes da
formação da URSS e é habitada principalmente por kazaques.
8) O Desastre Ecológico do Mar de Aral Provoca Crise Humanitária,
Nas Notícias, escrito por Stephanie Kriner, Cruz
Vermelha,
http://www.redcross.org/news/in/asia/020410aral.html
9) Medicina Itinerante, Participação nas Notícias, 3º
trimestre 1998. Reproduzido de 'Médicos Sem Fronteiras', RU,
edição nº13, Primavera de 1998.
http://www.istm.org/news share/199803/arals.html
10) Calcula-se que, pelo menos, 73 km cúbicos de água teriam de
ser descarregados no Mar de Aral em cada ano, por um período de pelo
menos 20 anos, a fim de se restabelecer o nível de 1960 de 53 m. acima
do nível do mar. Os governos dos países marginais do lago
consideram isto um 'objectivo irrealista' .
11) 'É a altura de salvar o Mar de Aral? Desenvolvimento em
irrigação nos países da ex-União Soviética'.
FAO AQUASTAT, Setembro,1998
http://www.fao.org/WAICENT/FAOINFO//AGRICUKT/AGL/AGLW/AQUASTAT/Fsu1.htm
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[*]
Investigador indiano.
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