Apatia, desconfiança e cepticismo entre os eleitores argentinos
por Mariela Pérez Valenzuela
[*]
É fácil de entender que os eleitores argentinos estejam pouco
animados diante das eleições presidenciais do dia 27 de Abril,
quando uma crise económica extrema ainda convulsiona essa
nação sul-americana e são pouco críveis as
possibilidades de mudança, para melhor, que os políticos oferecem
aos seus concidadãos.
Os argentinos não confiam nas soluções que possam ser
trazidas pelas eleições.
O baixo interesse demonstrados pelos eleitores nas eleições
primárias efectuadas recentemente na província de Buenos Aires
é uma amostra do que poderia ocorrer na selecção do futuro
presidente do país nos último domingo deste mês.
Os números são eloquentes: havia 9,5 milhões de
habitantes de Buenos Aires inscritos para comparecer às urnas. Mas
menos de 10% apresentou-se para dar o seu voto (de carácter
obrigatório), numa indiscutível reacção de
indiferença por esse acto, e mais ainda, precisamente pelos dirigentes
políticos que afundaram o país na pobreza e na
humilhação internacional.
A postura do eleitorado de Buenos Aires a província mais
importante desse país, na qual habitam 13 milhões dos 37
milhões de argentinos volta a mostrar que as feridas provocadas
pela política neoliberal do governo do ex-presidente Carlos Menem, que
aspira novamente à cadeira presidencial, ainda estão longe de
cicatrizar-se.
O povo de Buenos Aires, dizem os analistas, deu uma resposta contundente aos
planos de alguns aspirantes e deixou claro à opinião
pública mundial o que pensa acerca dos políticos actuais.
Estas eleições internas destinavam-se a que 44 partidos nomeassem
os seus candidatos a governados, senadores e deputados provinciais,
intendentes, vereadores e conselheiros escolares para a eleição
que ali se celebrará em Setembro próximo.
Aquilo que aconteceu em Buenos Aires poderia repetir-se nas presidenciais
quando é provável que uma boa parte da cidadania invalide o seu
voto, se os inquéritos actuais se confirmarem: quase uns 20% deixaram
em branco os boletins de voto ou os anularam, ou não decidiram em quem
votar.
Só um dos candidatos à presidência ultrapassa, na
actualidade, os 20% das preferências dos eleitores, o governador da
província de Santa Cruz, Néstor Kirchner, do Partido
Justicialista (PJ).
O ex-presidente Menem (PJ) e o ex-ministro da Economia, Ricardo López
Murphy, do Movimiento Federal Recrear, surgem com 17,8 e 14,6%,
respectivamente, a que se seguem o também ex-presidente Adolfo
Rodríguez Saá (PJ), com 14,5% das intenções de voto
e a deputada Elisa Carrió, do Partido Alternativa para una
República de Iguales, com 12,8%.
Precedem-nos outros 15 candidatos, dos quais nenhum ultrapassa os cinco por
cento nas pesquisas.
Se tal panorama se mantiver, é quase certo que nenhum dos pretendentes
à cadeira presidencial alcance a vitória na primeira volta, pois
o ganhador deve obter mais de 45% dos sufrágios ou superar por uma
diferença de 10 pontos o seu competidor mais próximo.
Uma segunda volta eleitoral está prevista para 18 de Maio próximo.
Seja quem for que ganhe, segundo os analistas, fa-lo-á sem apoio popular
e deverá enfrentar as consequências, salientam, de uma
política económica que afundou o país no desespero e na
pobreza.
[*]
Jornalista. O original encontra-se em
http://www.granma.cubaweb.cu/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
.
|