Nos últimos seis meses, confesso, mesmo eu estava convicto de que tudo o que estava a acontecer na Europa forçaria a indústria europeia a mudar-se para os Estados Unidos.
Aparentemente, foi para isso que o americanos começaram tudo isto – mas algo saiu errado.
O cálculo era simples: era necessário criar uma crise de energia na Europa de modo que qualquer produção se tornasse não rentável. Para criar uma tal crise, a Europa deveria ser cortada do seu principal fornecedor de energia – a Rússia.
Para este objetivo, a princípio foram usados métodos suaves – sanções. Além disso, as razões para sanções na primeira etapa eram pífias: ou que alguém foi alegadamente envenenado, ou que referendos são alegadamente ilegais, ou alguma outra coisa.
Ao ver que isto não ajudava e que os Nord Streams continuavam a funcionar e em construção, os Estados Unidos moveram-se para uma medida mais radical – desencadear a guerra. Não vamos agora falar pela centésima vez como eles treinaram um cão pastor bem debaixo da nossa porta, vamos simplesmente declarar que esta medida também começou a assemelhar-se a um fracasso.
Na Europa, forças de direita, para quem as instruções de alguém do outro lado do oceano não são importantes, tornaram-se mais ativas. Sim, a direita não está no poder na Alemanha (Scholz, por exemplo, é um social-democrata), mas em geral era perceptível que a Alemanha estaria pronta a desistir dentro de um par de meses.
Eis porque os americanos avançaram das sanções para a destruição física da infraestrutura de gás. E algo me diz que eles ainda não acabaram.
Aparentemente, fábricas alemãs estão a fechar e precisam mudar-se para continuarem a trabalhar. Mas o problema é que elas não precisam realmente mudar-se para os EUA.
1. Nos próprios Estados Unidos também eclodiu uma crise de energia – e este é o principal fracasso
De alguma forma eles exageraram. Os preços de combustíveis e eletricidade lá tornaram-se demasiado altos, embora não tanto como na Europa.
Será uma revelação para muitos, mas desde há bastante tempo os Estados Unidos nem mesmo têm construído fábricas no seu território. Elas não são rentáveis dentro dos EUA. É muito mais barato trazer mercadorias da China, do Vietname ou do Japão.
O que é que mudaria depois de fábricas mudarem-se da Alemanha para os EUA? Absolutamente nada. Elas também não seriam rentáveis. Especialmente se se considerar:
2. A enorme alavancagem da entrega
Afinal de contas, a indústria não é baseada só na energia. A indústria precisa de mais:
A) Recursos físicos (metais, por exemplo)
B) Mercados de vendas
Sim, os Estados Unidos podem proporcionar parte dos recursos e algum mercado para fábricas europeias. Mas, ainda assim, uma enorme quantidade de recursos terá de ser transportada através do oceano. E a seguir levar os produtos acabados de volta para para a mesma Europa (afinal de contas, são 500 milhões de pessoas e elas também precisam consumir alguma coisa), para a África, Ásia, etc.
Em suma, acaba por ser uma volta dupla e completamente desnecessária. Para fazer um tal desvio, a rentabilidade das fábricas nos EUA deveria ser muito doce. Mas não é de todo, nem doce, nem azeda, nem francamente amarga. É zero. Mais precisamente, é negativa.
3. Onde obter trabalhadores?
Sim, eles enviarão alguns engenheiros. Mas quem trabalhará em todas estas fábricas? Migrantes do México? A sério?
As fábricas da Mercedes e BMW, por exemplo, exigem soldadores de classe extra. Onde na América obter centenas de milhares (milhões?) de soldadores competentes, eletricistas, operadores de máquinas CNC [controle numérico computorizado], etc?
Recrutá-los nos bairros negros de Nova York?
Bem, vamos mesmo admitir que haja um milhão de trabalhadores altamente qualificados. Mas o salário médio nos EUA é muito mais alto do que na Europa. Cerca de duas vezes, provavelmente.
Ou seja, este salário será incluído no custo de produção e elevará os preços ainda mais.
Resultado
Devido à energia cara, à mão-de-obra cara e a uma grande distância para as entregas, é absolutamente não rentável mudar indústrias europeias para os Estados Unidos.
Sim, naturalmente, alguma coisa será mudada, mas não se tornará um fenómeno de massa. Além disso, a própria mudança é também uma coisa muito dispendiosa, especialmente através do oceano.
Eis porque as fábricas alemãs, embora estejam a ser encerradas, não estão com pressa de irem para outro lugar.
Pista
Uma pista para os nosso (não-)camaradas europeus. Sabem onde há energia muito barata, bastante trabalho qualificado, distâncias de entrega curtas e muito de quaisquer recursos, desde o hidrogénio até o urânio?
Na Rússia.
Tragam suas fábricas para cá. Mais precisamente, elas já não serão suas. Realmente não. Mas podem manter a sua fatia no capital autorizado. Bem, pela primeira vez, podem [fazer isso] definitivamente. Mas desculpem. Há um preço a pagar por perderem a Guerra Fria, não foi isso que nos disseram na década de 1990?
Não gostam deste cenário? Não há problema. Encerrem completamente e caminhem para o nível do Gabão. Nós os ajudaremos com cereais e lenha, mas por favor notem que não haverá descontos.