A UE com capacete de guerra e contra o inimigo interno

Ángeles Maestro [*]

A UE já é uma extensão da NATO.

Em 9 de novembro foram anunciadas duas notícias intimamente relacionadas:

A segunda edição do Fórum foi realizada no Hotel Palace; foi organizada pelo El País e teve como objetivo analisar o quadro económico e geoestratégico do rearmamento da UE e, em concreto, do Reino de Espanha. Como costuma acontecer, as despesas do evento foram custeadas por aqueles que estão a receber quantias tão gigantescas de dinheiro público que, como eles próprios reconhecem, até pouco tempo atrás nem podiam sonhar:   Amper, EM&E Group, GMW e Indra Group, entre outras empresas. O apoio institucional, ou seja, o dos responsáveis por regar os cofres das empresas com os orçamentos das administrações, foi representado pela ministra da Guerra (PSOE), pela vice-presidente do governo de Aragão (PP e Vox) e por Borrell, o do jardim, agora presidente de um think tank, o CIDOB, e ex-vice-presidente da Comissão Europeia.

Os CEOs das multinacionais de armamento esfregavam as mãos e elogiavam aquele que reconheciam como seu único cliente, o Ministério da Defesa, enquanto faziam votos por uma UE "unida e forte", essencial para que o negócio fluísse. A ministra exibia com toda a desenvoltura as suas conquistas:   um gasto público oficial (o real é mais do que o dobro) que chega a 33 mil milhões de euros em 2025, além de mais 10,47 mil milhões para o Plano Industrial e Tecnológico de Segurança e Defesa. Os gastos militares da UE atingiram a cifra de 381 mil milhões de euros, quase quadruplicando o recorde anterior.

O seu fervor bélico continuou a escalar novos patamares ao afirmar que "continuaremos a apoiar a Ucrânia pelo tempo que for necessário, porque estão em jogo os nossos valores e a democracia". Faltou-lhe dizer "até ao último ucraniano". A evidência de que são fascistas que governam a Ucrânia é a vergonha que tem de ser escondida debaixo do tapete, porque sem a chantagem da "ameaça russa" a gigantesca pilhagem do orçamento público não se sustentaria.

Como sabem muito bem aqueles que se reuniram no Hotel Palace – sede da UGT durante o governo da Frente Popular –, este escândalo ocorre enquanto mais de um quarto da população (25,8%), que financia com os seus impostos essa despesa, vive na pobreza e na exclusão social. Aos salários e pensões miseráveis soma-se o desmantelamento dos serviços públicos, como saúde, educação ou serviços sociais, privatizados por uns e outros; além do absurdo de fechar fábricas que produziam bens necessários, para instalar indústrias da morte.

O seu problema é como lidar com este profundo mal-estar social, que por enquanto permanece oculto e que é canalizado eleitoralmente pelo Vox, tão cúmplice da pilhagem como os outros. Aproveitando-se do desespero crescente que se instala sobretudo na juventude como consequência de políticas ao serviço do capital, o fascismo utiliza a corrupção e o espantalho de culpar a emigração pela degradação das condições de vida nos bairros operários, falsificando dados e ocultando, por exemplo, que 220 000 ucranianos que chegaram depois de 2022 vivem com despesas pagas e benefícios econômicos.

O controlo desse mal-estar social surdo, que se espalha por camadas cada vez mais amplas da população, que poderia compreender que o verdadeiro perigo que ameaça as suas vidas não está na Rússia, mas muito mais perto, é o que preocupa a diretora do CNI, o governo e todas as elites económicas do natostão.

Quando os governos destinam enormes quantias de dinheiro público à "segurança", devemos entender que é "a sua segurança" que os preocupa e que o que pretendem conjurar é o inimigo interno. Ao ouvi-los falar de "desinformação", de "notícias falsas", de "desestabilização" ou de meios de comunicação ou pessoas "ao serviço de potências estrangeiras", seria necessário aplicar-lhes o ditado castelhano "o ladrão acredita que todos são como ele". Porque a verdade é que tudo isso caracteriza as suas campanhas de intoxicação e guerra ideológica destinadas a conjurar o pânico que sentem perante o risco de que os trabalhadores compreendam quem são os seus verdadeiros inimigos: aqueles que se sentam nos conselhos de ministros e nos luxuosos escritórios das multinacionais e que são os mesmos que enriquecem com o dinheiro público e que precisam de guerras para lubrificar os seus negócios.

A economia de guerra não é apenas o negócio das armas com dinheiro público. Para que funcione, é necessário exacerbar a repressão contra aqueles que podem abrir os olhos dos outros. Tentam evitar que a classe trabalhadora compreenda as dimensões do crime que cometem e decida pôr fim à festa. Só assim se pode compreender a perseguição sindical, a perseguição da juventude antifascista, a censura ou a difamação de toda a pessoa que questione o belicismo dos governos da UE, que pisoteia os direitos sociais e políticos mais elementares dos seus povos, ou que as prisões estejam cada vez mais cheias de presos políticos.

O direito à informação é negado diariamente pelos meios de comunicação social que são propriedade das multinacionais do armamento ou são controlados pelos governos que servem os mesmos interesses. Lembram-se do que aconteceu durante a pandemia? Os mecanismos utilizados agora são idênticos aos de então. As redes sociais, inicialmente mais difíceis de controlar, estão a ser submetidas a leis e outras normas de serviços digitais da UE que restringem cada vez mais a liberdade de expressão; tudo isto para além da censura que as próprias empresas multinacionais exercem por conta própria e da exclusão total do acesso a meios de comunicação como a RT ou a Sputnik.

Daqui, expresso toda a minha solidariedade ao canal Reflexiones Iracundas, àqueles que sofrem repressão por defenderem o direito à informação, por lutarem pelos seus direitos laborais ou contra o fascismo, e por combaterem um capitalismo tanto mais criminoso quanto mais evidente é a sua incapacidade de garantir condições de vida dignas a todos os seres humanos.

11/Novembro/2025

Ver também:
  • iracundoisidoro.substack.com/p/la-censura-de-youtube
  • odysee.com/@IracundoIsidoro:6
  • [*] Dirigente da CNC, Espanha.

    O original encontra-se em

    Este artigo encontra-se em resistir.info

    12/Nov/25

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