Uma rede militar global
por Juan Carlos Galindo
[*]
Desde o fatídico 11 de Setembro, os Estados Unidos aumentaram sua
presença militar no mundo em cerca de 20 por cento, pelo que já
tem quase 300 mil soldados em mais de 140 países.
Apesar de o argumento
explícito ser a luta contra o terrorismo, uma análise da
distribuição das tropas não deixa lugar a dúvidas.
A Casa Branca aproveitou a fachada da operação "Liberdade
duradoura" a fim de assegurar para si uma influência decisiva em
zonas estratégicas e controlar as reservas naturais mais ricas do mundo.
E ainda quer mais.
A presença militar dos EUA no mundo aumentou uns 20 por cento desde os
atentados de 11 de Setembro. Cerca de 300 mil soldados presentes em mais de 140
países velam pelos interesses da única potência mundial.
Poderiam existir, e de facto argumentam-se, outras razões. Entretanto,
uma análise da distribuição das bases militares
norte-americanas não deixa lugar a dúvidas. Os EUA aproveitaram
a cobertura da operação militar conhecida como "Liberdade
duradoura" para instalar bases no Uzbequistão (1000 soldados),
Tadjiquistão e Quirguistão (mais de 3 mil).
Presença essa que se vê fortalecida pelos 5 mil soldados
estacionados nas bases do Afeganistão. Deste modo os EUA asseguram-se
uma influência decisiva e certa capacidade de controlo na zona do Mar
Cáspio: a região com reservas de recursos naturais inexplorados
mais rica do mundo. Acaso? Altruísmo dos Estados Unidos? Defesa
mundial da democracia?
No Golfo Pérsico, os Estados Unidos, em conivência com as
despóticas monarquias que governam a zona, mantêm mais de 20 mil
soldados. Mais de mil entre o Oman, Emiratos Árabes Unidos e Qatar;
outros mil no Bahrain, que além disso abriga o Estado Maior da Quinta
Frota da Marinha, e 4800 no Kuwait. Mas é sem dúvida a
Arábia Saudita o caso mais significativo. Neste emirato os EUA
têm três bases militares e mais de 5 mil soldados, caças
F-15 e F-16, aviões "invisíveis" F-117 e aviões
de espionagem U-2 e Awacs. Se exceptuarmos a base "Príncipe
Sultan", que está próxima de Ryad, a capital, as duas
restantes situam-se no início ou no fim dos dois gasodutos que cruzam o
país. E mais: uma delas, a base militar de Al Khobar, está
junto ao porto petrolífero de Ras Tanura. Parece evidente, portanto, o
interesse principal que conduz a estratégia militar dos EUA no Golfo
Pérsico.
O controlo militar da zona completa-se com a base Diego Garcia. Estas
instalações militares, situadas na pequena ilha do Oceano
Índico que lhe dá o nome, abrigam 4 mil soldados
norte-americanos, caças e super-bombardeiros B-52. Os habitantes
originários da ilha, de propriedade britânica e explorada em
conjunto pelos EUA e pela Grã-Bretanha a partir dos acordos
confidenciais assinados em 1964 pelas duas potências, foram
"transferidos" em 1971 para as ilhas Maurícias, a 1500
quilómetros da ilha Diego Garcia.
Entretanto, por vezes as instalações militares dos EUA no
estrangeiro não são estabelecidas para controlar os recursos de
uma zona ou assegurar o seu acesso a eles. Existem muitos outros interesses.
Assim, por exemplo, as bases militares de Morón e Rota (Espanha) e
Aviano (Itália) realizam um trabalho logístico
indispensável às operações dos EUA no Médio
Oriente e na Europa. O mesmo acontece com os 2 mil soldados que as
forças armadas norte-americanas mantêm na Turquia, lugar onde
decolam os caças que bombardeiam o norte do Iraque.
Na América Latina e no Caribe encontram-se as bases militares de
Aruba-Curaçao (Antilhas Holandesas), Comalapsa (El Salvador) e Manta
(Equador). Esta última, situada no noroeste do Equador, permite
às forças armadas norte-americanas controlarem toda a
região andina e realizar trabalhos de vigilância em
colaboração com o exército colombiano, ao mesmo tempo que
serve de apoio para o desenvolvimento norte-americano na Colômbia.
Pior ainda é o caso da ilha de Vieques, a sudoeste de Porto Rico,
utilizada há 60 anos como polígono de tiro da Força
Aérea norte-americana e como zona de ensaio para as
operações anfíbias das forças especiais da Marinha.
Por causa destas acções, a saúde e a qualidade de vida
dos seus habitantes viu-se brutalmente deteriorada. O controlo indirecto do
Canal do Panamá é o objectivo das instalações
militares dos EUA neste país. Além disso, as forças
armadas norte-americanas contam com bases no território cubano
(Guantanamo), Honduras e Barbados.
Por outro lado, às já mencionadas bases da Itália e
Espanha, há que acrescentar outras presenças de forças
militares norte-americanas na Europa:
A Alemanha, por razões estratégicas que ficaram obsoletas
com o fim da bipolaridade , abriga uma importante presença militar
norte-americana, à qual soma-se a presença de tropas na
Grécia, Hungria, Islândia, Dinamarca, Noruega, Holanda,
Luxemburgo, Portugal, etc. Além disso, é significativa a
presença militar norte-americana na Albânia a partir da guerra de
Kosovo.
Em suma, mais de 100 mil soldados repartidos por todo o continente. Na
África, os EUA mantêm tropas no Egipto, sócio tradicional
da superpotência, que além disso é, depois de Israel, o
segundo beneficiário das ajudas financeiras norte-americanas.
O mapa da presença de tropas dos EUA no mundo completa-se com aquelas
deslocadas no sudestes asiático. O domínio das águas do
Pacífico é um objectivo estratégico tradicional dos EUA,
acentuado na actualidade pelo aumento da importância da China. O
exército norte-americano mantém 37 mil homens e 100 aviões
de combate da última geração na Coreia do Sul, 50 mil
soldados no Japão (sobretudo na base de Okinawa) e 600 soldados, dentre
eles 130 dos corpos de elite, deslocados recentemente para as Filipinas.
Operações realizadas no sul das Filipinas repetiram-se no Yemen e
na Geórgia, onde mais de 200 soldados norte-americanos instruem o
exército nas luta contra os "extremistas islâmicos".
Esse desenvolvimento militar espectacular e global é fortalecido e
potenciado por dois aspectos essenciais: a capacidade de ubiquidade das tropas
norte-americanas e o apoio logístico. Este último realiza-se
através dos grandes porta-aviões (como o USS Theodor Roosevelt ou
o USS Enterprise), sem esquecer a capacidade de vigilância global da rede
de satélites dos EUA. Ou seja, presença física e
tecnológica, com tropas, bases militares e porta-aviões, grandes
destroyers e satélites; mas, sobretudo, com capacidade de
acção em qualquer parte do globo.
A presença militar norte-americana no mundo aumentará ainda mais
se finalmente os EUA decidirem intensificar seus ataques ao Iraque e realizar
uma operação em grande escala para derrubar o regime de Saddam
Hussein.
George W. Bush, republicano isolacionista, que chegou à
presidência da única potência planetária com
sérias dificuldades em situar no mapa qualquer país que
não fosse o seu, prepara agora, guiado por aqueles que foram os
colaboradores directos do seu pai, intensificação do
desdobramento internacional dos EUA. O objectivo é difuso, mas
não os interesses que se encontram por trás desta
operação global.
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[*]
do Centro de Colaboraciones Solidarias
O original deste artigo encontra-se em
http://www.rebelion.org/internacional/galindo100702.htm
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
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