Pearl Harbor & 11 de Setembro
Os medias dominantes compararam os ataques de 11 de Setembro de 2001 ao ataque
japonês a Pearl Harbor. Ambos os ataques foram apresentados como casos
em que o inocente e desinformado governo do EUA foi apanhado de surpresa por
inimigos traiçoeiros. Mas a analogia dos dois ataques pode revelar-se
muitíssimo mais real do que pretenderam os seus autores.
Verifica-se que em 1941 o Governo dos EUA estava perfeitamente informado dos
planos de guerra japoneses e da data do ataque a Pearl Harbor. Não
só estava informado como desejava-a e provocava-a. O governo dos EUA
queria um acto aberto de guerra por parte do Japão. É o que
demonstra Robert B. Stinnett, autor de "O dia da fraude"
, cuja entrevista é aqui apresentada.
Levou 60 anos para que, finalmente, fosse possível conhecer estes factos
históricos: O governo ianque sabia de tudo em relação a
Pearl Harbor. Pergunta-se agora: Quantos anos será preciso para saber
de ciência certa aquilo que já é muito mais do que uma
suspeita, ou seja, que o Governo Bush têve conhecimento prévio dos
ataques do 11 de Setembro? Para confirmar que a extrema direita
norte-americana soube destes ataques e deixou-os acontecer porque servia aos
seus interesses? Que, em grande medida, colaborou com eles? Que, em
consequência, está a haver uma
alteração do regime político dos EUA, com fortes
tendências para a sua fascistização?
Quem tiver dúvidas quanto à duplicidade de que é capaz o
governo ianque, ou quanto às possibilidades conspiratórias que o
aparelho de Estado norte-americano proporciona àqueles que estão
no topo da sua hierarquia, leia com atenção a
descrição destes factos passados há mais de 60 anos.
JF
|
Entrevista com Robert B. Stinnett,
autor de "O dia da fraude"
por Douglas Cirignano
tradução de J. Figueiredo
Em 25 de Novembro de 1941 o almirante japonês Yamamoto enviou uma
mensagem de rádio aos vasos de guerra japoneses a dizer que o
ataque a Pearl Harbor seria a 7 de Dezembro. Registos recém liberados
provam
que de 17 a 25 de Novembro a US Navy interceptou 83 das mensagens que Yamamoto
enviou aos seus navios. Parte da mensagem de 25 de Novembro diz:
"... a força tarefa, mantendo seus movimentos estritamente secretos
e mantendo-se sempre alerta contra submarinos e aviões,
avançará para as águas havaianas e, no momento exacto da
abertura das hostilidades, atacará a força principal da frota dos
Estados Unidos no Hawaii e desferirá um golpe mortal..."
Alguns poderão considerar: se a teoria de que o Presidente Franklin
Roosevelt tinha conhecimento prévio do ataque de Pearl Harbor fosse real
isto teria
sido mencionado no filme "Pearl Harbor", lançado neste
verão. Desde a Segunda Guerra Mundial muitas pessoas têm
suspeitado de que Washington sabia que o ataque estava para vir. Quando Thomas
Dewey concorria à presidência contra Roosevelt, em 1944, ele
deu-se conta da capacidade dos EUA de interceptar mensagens de rádio do
Japão, e considerou que este conhecimento permitir-lhe-ia derrotar o
popular FDR. No fim daquele ano, Dewey planeou uma série de discursos
acusando FDR de ter tido conhecimento prévio do ataque. Finalmente, o
general George Marshall, então presidente da Joint Chiefs of Staff,
persuadiu Dewey a não pronunciar tais discursos. Os dirigentes navais
do Japão não perceberam que os EUA haviam decifrado os seus
códigos, e os discursos de Dewey poderiam ter sacrificado essa vantagem
americana. Assim, Dewey nada disse, e em
Novembro FDR foi eleito presidente pelo quarto mandato.
Agora, segundo Robert Stinnett, autor de
"O dia da fraude"
(Day Of Deceit)
, editado pela Simon & Schuster, temos a prova. O livro de Stinnett é
dedicado ao congressista John Moss, o autor do Acto da Liberdade de
Informação
(Freedom Information Act)
. Segundo Stinnet, as
respostas aos mistérios de Pearl Harbor podem ser encontradas no
extraordinário número de documentos a que ele pôde ter
acesso graças ao Acto da Liberdade de Informação.
Telegrama após telegrama com descrições e a enorme
quantidade de mensagens militares que os EUA interceptaram mostram claramente
que os navios japoneses estavam a preparar-se para a guerra e dirigiam-se em
linha recta para o Hawaii. Stinnett, escritor, jornalista e veterano da
Segunda Guerra, passou 16 anos revolvendo os Arquivos Nacionais. Ele
debruçou-se sobre mais de 200 mil documentos e efectuou dúzias de
entrevistas. Esta pesquisa meticulosa conduziu Stinnett a uma conclusão
firmemente estabelecida: FDR sabia.
"Os seus rapazes não serão enviados para guerra no
estrangeiro", foi a famosa declaração da campanha de
Roosevelt de 1940. Ele não estava a ser sincero. Os militares de FDR e
os responsáveis do Departamento de Estado concordavam em que uma
vitória da Alemanha nazi ameaçaria a segurança nacional
dos Estados Unidos. Nas reuniões da Casa Branca o sentimento dominante
era de que a América necessitava uma chamada para a acção.
Não era isto que o público queria, contudo. Oitenta a 90 por
cento do povo americano nada queria com a guerra da Europa. Assim,
segundo Stinnett, Roosevelt provocou o Japão a fim de levá-lo a
atacar, deixou acontecer Pearl Harbor, e a seguir galvanizou o país para
a guerra. Muitos dos que estiveram em contacto com Roosevelt naquela
época sugerem que FDR não estava a ser franco em
relação às suas intenções na Europa.
Após o ataque, na noite de domingo, 7 de Dezembro de 1941, Roosevelt
teve uma breve reunião na Casa Branca com Edward R. Murrow, o famoso
jornalista, e William Donovan, o fundador do Office of Strategic Services.
Posteriormente Donovan contou a um assistente que acreditava que FDR recebia
com satisfação o ataque e não parecia surpreendido. A
única coisa
que parecia importar a Roosevelt, sentiu Donovan, era se o público
passaria a apoiar uma declaração de guerra. De acordo com
"O dia da fraude", em Outubro de 1940 FDR adoptou uma
estratégia específica para incitar o Japão a cometer um
acto de guerra aberta. Parte da estratégia era mover a frota do
Pacífico para fora da California e ancorá-la em Pearl Harbor. O
almirante James Richardson, o comandante da frota do Pacífico,
opôs-se fortemente à manutenção dos navios num lugar perigoso como
o Hawaii.
Ele declarou isto a Roosevelt, e assim o Presidente libertou-o do seu
comando. Posteriormente Richardson citou Roosevelt como tendo dito:
"Mais cedo ou mais tarde os japoneses cometerão um acto aberto
contra os Estados Unidos e a nação ficará desejosa de
entrar na guerra".
Para aqueles que acreditam que conspirações governamentais
não podem acontecer, "O dia da fraude" poderia provar-lhes que
isso não é assim. O bem documentado livro de Stinnet apresenta
um caso convincente de que os mais altos responsáveis do governo ---
incluindo as mais altas patentes --- enganaram e ludibriaram milhões de
americanos acerca de um dos dias mais importantes da história do
país. Ele agora tem de ser considerado um dos mais definitivos --- se
não o definitivo --- livro sobre o assunto. Gore Vidal afirmou:
"...Robert Stinnett limpou a maior parte dos fumos das armas. 'O dia da
fraude' mostra que o famoso ataque 'surpresa' não foi surpresa para os
nossos dirigentes voltados para a guerra..." E John Toland, o autor que
ganhou o Prémio Pulitzer com o livro "Infâmia", sobre
Pearl Harbor, declarou: "Passo a passo, Stinnett passou dos antecedentes
para a guerra, utilizando novos documentos para revelar os terríveis
segredos que nunca foram revelados ao público. É perturbador que
onze presidentes, incluindo aqueles que admirei, mantiveram a verdade afastada
do público até que os pedidos de Stinnett ao abrigo do Acto da
Liberdade de Informação finalmente convenceram a Marinha a
liberarem a evidência".
O que o levou a escrever um livro sobre Pearl Harbor?
Stinnett:
Bem, eu estava na Marinha durante a Segunda Guerra. Servia num avião
de transporte. Com George Bush, acredite ou não.
Escreveu um livro sobre isso.
Stinnett:
Sim, é verdade. Sempre nos disseram que os alvos japoneses, os navios,
foram vistos por submarinos dos Estados Unidos. Mas nada nos disseram acerca
da decifração dos códigos japoneses. OK. Assim, em 1982
eu li um livro do Professor Prange chamado "Ao amanhecer nós
dormíamos"
(At Dawn We Slept).
E naquele livro diz-se que em Pearl Harbor havia uma estação
secreta da US Navy interceptando códigos navais japoneses antes de 7 de
Dezembro. Bem, aquilo foi uma bomba para mim. Foi a primeira vez que ouvi
falar nisso. Eu trabalhava no The Oakland Tribune naquele tempo... Assim, fui
ao Hawaii para ver a estação a fim de confirmar isso. E
então, para encurtar uma longa história, encontrei os homens da
criptografia envolvidos e eles encaminharam-me a outras fontes, documentos que
corroborariam todas as suas informações. E assim aquilo
começou a conduzir-me para a frente. Meu objectivo primário era
aprender acerca dos procedimentos de intercepção. E assim
solicitei arquivos da Marinha ao abrigo do Acto da Liberdade de
Informação porque com os serviços de inteligência
é muito difícil. A resposta é: não-não.
Eles
não querem discutir isso. Mas a Marinha deixou-me, deu-me
permissão para ir a Hawaii e mostraram-me a estação...
Assim aquilo começou a avançar. E a seguir eu pedia
determinada informação, isto é hoje, estamos a falar sobre
a década de 80, fins da década de 80. E eles eram muito
relutantes em dar-me mais informação. Estava a obtê-la a
conta-gotas.
Os historiadores e responsáveis do governo que afirmam que Washington
não teve conhecimento prévio do ataque a Pearl Harbor, sempre
argumentaram que os EUA não estavam a interceptar e não haviam
decifrado códigos militares importantes do Japão nos meses e dias
que antecederam o ataque. O ponto crucial do seu livro é que a sua
investigação prova que isto é absolutamente falso.
Estávamos a ler a maior parte das mensagens via rádio do
Japão. Correcto?
Stinnett:
Isso é correcto. E acredito nisso, também. Como sabe,
a revista Life, em Setembro de 1945, logo após a rendição
do Japão, sugeriu que o caso era assim, que Roosevelt arquitectara Pearl
Harbor. Mas aquilo foi ignorado como um panfleto anti-Roosevelt, e eu
também acreditei.
Outra afirmação no centro da teoria do ataque-surpresa de Pearl
Harbor é que os navios do Japão mantiveram os rádios
silenciosos quando se aproximavam do Hawaii. Isso também é
completamente falso?
Stinnett:
Sim e isso foi afastado do Congresso, de modo que
ninguém sabia acerca de tudo isto.
Até o Acto da Liberdade de Informação.
Stinnett:
Sim.
Será esta declaração verdadeira? Se a América
estava a interceptar e descodificar mensagens militares do Japão
então Washington e FDR sabiam que o Japão estava em vias de
atacar Pear Harbor.
Stinnett:
Oh, sem dúvida.
Mas sente que isso é assim tão simples?
Stinnett:
Sim, este era o seu plano. Era o plano de provocar um
"acto aberto de guerra", contado no meu livro, que foi adoptado pelo
Presidente Roosevelt em 7 de Outubro de 1940.
O sr. escreveu que em fins de Novembro de 1941 foi enviada uma ordem a todos os
comandantes militares dos EUA que dizia: "Os Estados Unidos desejam que o
Japão cometa o primeiro acto aberto". Segundo o secretário
da Guerra Stimson, a ordem vinha directamente do Presidente Roosevelt. Estava
o gabinete de Roosevelt comprometido em apoiar esta política de provocar
o Japão a cometer o primeiro acto de guerra aberta?
Stinnett:
Não sei se ele revelou isto ao gabinete. Ele pode ter revelado o plano
a Harry Hopkins, seu confidente próximo, mas não há
qualquer evidência de que alguém no gabinete soubesse disso.
Penso que escreveu no seu livro que eles sabiam... Que alguns deles estavam ao
par...
Stinnett:
Bem, alguns sabiam. O secretário da Guerra Stimson sabia, como se
vê no seu diário, e também provavelmente Frank Knox, o
secretário da Marinha, sabia. Mas Frank Knox morreu antes de a
investigação ter principiado. Assim, tudo o que temos realmente
é o diário de Stimson. E ele revela muito ali, e eu o cito no
meu livro. O sr. deve querer dizer o seu gabinete de guerra. Sim. O
diário de Stimson revela que nove pessoas no gabinete de guerra -- o
pessoal militar -- sabia desta política de provocação.
Embora Roosevelt tenha feito declarações em sentido
contrário para o público, não sentiria ele e os seus
conselheiros que a América estava no fim das conta indo rumo à
guerra?
Stinnett:
Correcto. Bem, sua declaração era:
"Não enviarei os nossos rapazes para a guerra a menos que sejamos
atacados". Assim, ele concebeu este ataque para realmente nos levar
à guerra contra a Alemanha. Mas penso que era a sua única
opção. Manifestei-a no livro.
Quem era o Tenente Comandante Arthur McCollum e qual era sua conexão com
o ataque de Pearl Harbor?
Stinnett:
Ele trabalhou para a inteligência Naval em Washington. Ele
também era o oficial de comunicações do Presidente
Roosevelt. Assim, todas estas interceptações iriam para o
Comandante McCollum e a seguir ele as encaminharia para o Presidente.
Não há dúvida sobre isso. Ele era também o autor
do seu plano para levar o Japão a atacar-nos em Pearl Harbor. E ele
nascera e fora criado no Japão.
McCollum escreveu este plano, este memorando, em Outubro de 1940. Era dirigido
a dois dos mais próximos assessores de Roosevelt. No memo McCollum
exprime que é inevitável que o Japão e a América
caminhem para a guerra e que a Alemanha nazi tornava-se uma ameaça
à segurança da América. McCollum está a dizer que
a América tem de envolver-se na guerra. Mas ele também diz que a
opinião pública é contra isso. Assim, McCollum sugere em
consequência oito coisas específicas que a América deveria
fazer para levar o Japão a tornar-se mais hostil, a atacar-nos, de modo
a que o público apoiasse o esforço de guerra. E como ele nascera
e fora criado no Japão, ele entendia a mentalidade japonesa e como os
japoneses reagiriam.
Stinnett:
Sim. Exactamente.
Foi a existência deste memo do Comandante McCollum alguma vez revelada ao
público antes de o seu livro aparecer?
Stinnett:
Não, não. Eu o recebi em consequência do meu pedido ao
FOIA, em Janeiro de 1995, de extracção dos Arquivos Nacionais.
Eu não sabia que ele existia.
FDR e os seus conselheiros militares sabiam que se as oito acções
de McCollum fossem implementadas -- coisas como manter a frota do
Pacífico em Pearl Harbor e debilitar a economia do Japão com um
embargo -- não havia dúvida de que isto levaria o Japão --
cujo governo era muito militante -- a atacar os Estados Unidos. Correcto?
Stinnett:
Correcto e é o que o Comandante McCollum diz. Ele afirma: "Se o
sr. adoptar estas políticas então o Japão cometerá
um acto aberto de guerra".
Há alguma prova de que FDR tenha visto o memorando de McCollum?
Stinnett:
Não há qualquer prova de que ele realmente tenha visto o
memorado, mas ele adoptou todas as oito provocações -- chegando a
assinar ordens de execução... E outras informações
nos arquivos da Marinha mostram evidências conclusivas de que ele o viu.
O mesmo é dirigido a dois dos principais conselheiros de Roosevelt, e o
sr. inclui o documento na passagem em que um deles aceita o rumo de
acção sugerido por McCollum.
Stinnett:
Sim, Dudley Knox, que era seu colaborador próximo.
O "arranjo esplêndido" era uma frase com que os dirigentes
militares de FDR costumavam descrever a situação dos EUA no
Pacífico. Pode explicar o que era o "arranjo
esplêndido"?
Stinnett:
O "arranjo esplêndido" era o sistema composto por 22
estações de monitoragem no Pacífico que eram operadas
pelos Estados Unidos, pela Grã Bretanha e pela Holanda. Este sistema
estendia-se ao longo da costa oeste dos Estados Unidos, subia ao Alasca e a
seguir descia ao Sudeste Asiático e ao Pacífico Central.
Estas estações de monitoragem de rádio permitiam-nos
interceptar e ler todas as mensagens do Japão, não é?
Stinnett:
Absolutamente. Tínhamos todos os sons do Japão sob
detecção.
O sr. afirma que o "arranjo esplêndido" era tão
especializado que desde a década de 1920 Washington sempre soube o que o
governo do Japão andava a fazer. Assim, asseverar que não
sabíamos que os japoneses estavam para bombardear Pearl Harbor seria
ilógico?
Stinnett:
É exacto.
Seu livro afirma que em 1941 havia um espião a residir no consulado
japonês de Honolulu.
Stinnett:
O Japão colocou este espião -- era um oficial naval
japonês -- em Honolulu. Ele chegou em Março de 1941 sob um nome
fictício, e ficou adido ao consulado japonês local. Mas quando o
FBI conferiu o seu nome descobriu que não estava listado no registo
estrangeiro japonês, o que o tornou imediatamente suspeito. Eles
colocaram uma "cauda" nele. E assim o espião começou a
passar mensagens para o Japão que nós estávamos a
interceptar. Estas agora eram num código diplomático. E
então o FBI continuou a segui-lo de perto, bem como a inteligência
naval.
A inteligência naval, o FBI e Roosevelt sabiam que este homem estava a
espiar a frota em Pearl Harbor, e deixaram a espionagem continuar. A
política do governo de FDR era então olhar para o outro lado e
deixar o Japão preparar-se para atacar-nos?
Stinnett:
Isso é certo. Está correcto. Ele estava a fornecer um
cronograma do ataque.
O espião estava mesmo a enviar planos de bombardeamento de Pearl Harbor?
Stinnett:
Sim. De Março a Agosto ele esteve a fornecer o recenseamento da frota
americana do Pacífico. Então, a partir de Agosto,
começou a preparar planos de bombardeamento de Pearl Harbor, onde os
nossos navios estavam ancorados e assim por diante.
E Roosevelt chegou a ver esses planos de bombardeamento, não é?
Stinnett:
Sim, isso é correcto.
O sr. afirma que por duas vezes, durante a semana de 1 a 6 de Dezembro, o
espião informou que Pearl Harbor seria atacada. Segundo um comandante
japonês, a mensagem de 2 de Dezembro era: "Não foram
observadas alterações na tarde de 2 de Dezembro. Até
então eles não parecem ter sido alertados". E na
manhã de 6 de Dezembro a mensagem era: "Não há
barragens de balões levantada e há uma oportunidade para um
ataque surpresa contra estes locais". Estas mensagens foram interceptadas
pela Marinha, certo? Será que Roosevelt sabia destas mensagens?
Stinnett:
Elas foram interceptadas. Isso é correcto. Elas foram enviadas pelas
comunicações da RCA. E Roosevelt enviou David Sarnoff, que era o
chefe da RCA, a Honolulu de modo a que este facilitasse a
obtenção destas mensagens ainda mais rapidamente. Embora
estivéssemos também a interceptá-las a partir do
éter, de qualquer forma. E de 2 de Dezembro a 6 de Dezembro o
espião indicou que Pearl iria ser o alvo. E a 2 de Dezembro foi
interceptada uma mensagem, sendo descodificada e traduzida antes de 5 de
Dezembro. A mensagem de 6 de Dezembro... não é realmente prova..
foi interceptada, mas há toda espécie de estórias de
encobrimento sobre se chegou ou não ao Presidente. Mas ele recebeu
outra informação do que iria acontecer no dia seguinte, de
qualquer modo.
Viu os registos destas interceptações com os seus próprios
olhos?
Stinnett:
Sim. Tenho isso.
E todas estas outras mensagens que a Marinha estava constantemente a
interceptar mostravam exactamente onde estavam os navios japoneses, que estavam
a preparar-se para a guerra e que estavam a dirigir-se directamente para o
Hawaii. Certo?
Stinnett:
Está certo. Nossos detectores de direcção de
rádio localizaram os vasos de guerra japoneses.
O sr. diz que Roosevelt recebia regularmente cópias destas
interceptações. Como elas lhe eram entregues?
Stinnett:
Pelo Comandante McCollum reencaminhando a informação para ele.
Elas eram preparadas em forma de monografia. Chamavam a isto monografia...
eram enviadas ao Presidente através do Comandante McCollum que as
despachava através do adjunto naval do Presidente.
Na página 203 da edição encadernada do seu livro
lê-se: "Sete transmissões de rádio navais japonesas
interceptadas entre 28 de Novembro e 6 de Dezembro confirmaram que o
Japão tencionava começar a guerra e que começaria por Pearl
Harbor". Viu o registos destas intercepções com os seus
próprios olhos?
Stinnett:
Sim. E também temos novas informações sobre outras
interceptações na nova edição que saiu em Maio de
2001... Não há dúvida sobre isso.
Segundo "O dia da fraude", em 25 de Novembro o Almirante Yamamoto
enviou uma mensagem de rádio à frota japonesa. Em parte da
mensagem lê-se: "A força tarefa, mantendo seus movimentos
estritamente secretos e mantendo guarda cerrada contra submarinos e
aviões, avançará dentro de água hawaianas e no
instante da abertura das hostilidades atacará a força principal
da frota dos Estados Unidos no Hawaii e desferir-lhe-á um golpe
mortal...". Qual é a prova de que o registo desta
interceptação existe? O sr. o viu? Mais uma vez, Roosevelt
soube disto?
Stinnett:
A versão em inglês desta mensagem foi divulgada pelos Estados
Unidos, num livro oficial. A versão japonesa -- a mensagem original --
não foi divulgada pelos EUA. Eu tenho cópias dos registos de
rádio da Estação H -- uma estação de
monitoragem no Hawaii. Eles provam que a Marinha interceptou 83 mensagens que
Yamamoto enviou entre 17 e 25 de Novembro. Tenho esses registos, mas
não as interceptações originais, 86% das quais não
foram divulgadas pelo governo... Até que Roosevelt, no princípio
de Novembro de 1941, ordenou que as interceptações originais
japonesas fossem entregues directamente a ele pelo seu adjunto naval,
Capitão Beardall. Por vezes, se McCollum sentia que uma mensagem era
particularmente quente, entregava-a pessoalmente a FDR.
No fim do dia 6 de Dezembro e nas primeiras horas da manhã de 7 de
Dezembro os Estados Unidos interceptaram mensagens enviadas ao embaixador
japonês em Washington. Estas mensagens constituíam basicamente
uma declaração de guerra -- o Japão estava a dizer que
rompia negociações com a América. Naqueles mesmos
momentos, mostraram as interceptações ao General Marshall e ao
Presidente Roosevelt.. Quando FDR os leu disse: "Isto significa
guerra". Quando a última interceptação foi mostrada
a Roosevelt ainda faltavam horas antes do ataque a Pearl Harbor. Nesta
última interceptação o Japão dava a data final de
quando iria romper relações com os EUA -- a data final era a hora
exacta em que Pearl Harbor foi atacada. FDR e Marshall deveriam ter
então enviado uma advertência de emergência ao Almirante
Kimmel em Pearl Harbor. Mas eles actuaram de forma displicente e não
enviaram uma advertência a Kimmel.
Stinnett:
Sim. Esta é a mensagem enviada do Ministério das
Relações Exteriores do Japão ao embaixador japonês
em Washington, DC. E ele actuou assim... rompeu relações com os
Estados Unidos e estabeleceu um cronograma para as 13h00 de domingo, 7 de
Dezembro,
fuso horário da costa leste.
O qual era a hora exacta em que Pearl Harbor foi bombardeada.
Stinnett:
Correcto. Eles, com toda a sua informação, perceberam isso. E
então o General Marshall, apesar disso, sentou-se em cima da mensagem
durante cerca de 15 horas porque não queria enviá-la...
não queria advertir os comandantes do Hawaii a tempo... não
queria que eles interferissem com o acto aberto. Finalmente acabaram por
enviar, mas a mensagem não chegou senão após o ataque.
Roosevelt também viu isso. Eles deveriam ter enviado uma
advertência de emergência ao Almirante Kimmel, no Hawaii,
não é?
Stinnett:
Correcto. Mas o sr. verifica que eles queriam que ocorresse o acto aberto
por parte do Japão. Aquilo unificou o povo americano.
Isto parece o caso clássico dos superiores que fazem algo
questionável e a seguir conseguem que as pessoas abaixo deles arquem com
as culpas. O Almirante Husband Kimmel estava à frente da frota em Pearl
Harbor e ele foi rebaixado e culpado pelo ataque. Isso justificava-se?
Stinnett:
Não, não se justificava. E o Congresso, como sabe, em Outubro
de 2000 votou por isentá-lo porque foi-lhe retirada a
informação. Isso é muito importante. Mas estava sujeito
à aprovação do Presidente Clinton, que não a
assinou. Mas pelo menos o Congresso actuou, fez o que devia.
O sr. afirma que ao Almirante Kimmel e ao General Short -- que dirigia o
Exército no Hawaii -- foi negada por Washington a
informação que lhes teria permitido saber que o ataque estava
para vir. De que modo foi negada informação a Kimmel e a Short?
Stinnett:
Bem, eles foram postos de lado... Não lhes foi dito que o
espião estava ali, e não lhes foram dados estes documentos
cruciais, a informação dos detectores de direcção
de rádio. Toda esta informação estava a ir para toda a
gente, excepto para Kimmel e Short. Isso é muito claro... Num certo
momento Kimmel especificamente solicitou que Washington o informasse
imediatamente acerca de quaisquer desenvolvimentos importantes, mas eles
não o fizeram.
Foi dada alguma informação a Kimmel, porque duas semanas antes do
ataque ele enviou a frota do Pacífico ao norte do Hawaii num
exercício de reconhecimento a fim de verificar os transportes japoneses.
Quando os responsáveis militares da Casa Branca souberam disto qual foi
a sua reacção?
Stinnett:
O Almirante Kimmel tentou num certo número de ocasiões fazer
algo para defender Pearl Harbor. E, realmente, duas semanas antes do ataque, a
23 de Novembro, Kimmel enviou aproximadamente uma centena de vasos de guerra da
frota do Pacífico para o sítio exacto em que o Japão
planeava lançar o ataque. Kimmel actuava com seriedade. Ele estava
à procura de japoneses. Suas acções indicavam que ele
queria estar perfeitamente preparado para a acção se ele
encontrasse um navio da Armada japonesa. Quando responsáveis da Casa
Branca souberam disto eles disseram a Kimmel que ele estava "a complicar a
situação"... O sr. vê, a Casa Branca queria um acto
aberto de guerra por parte do Japão que fosse claro e inequívoco.
Os isolacionistas teriam acusado FDR de precipitar a acção
japonesa por permitir que a frota do Pacífico fosse ao Pacífico
norte... Assim, minutos depois de ter recebido a directiva da Casa Branca,
Kimmel cancelou o exercício e mandou a frota retornar ao seu ancoradouro
em Pearl Harbor... Foi onde os japoneses a encontraram em 7 de Dezembro de 1941.
A Casa Branca estava a algemar Kimmel? Eles queriam-no completamente passivo?
Stinnett:
É exacto.
FDR enviou uma advertência de guerra a Kimmel em 28 de Novembro. Foi uma
advertência suficiente?
Stinnett:
Bem, foi uma advertência, mas nela também orientaram o Almirante
Kimmel e todos os comandantes do Pacífico para ficarem de lado,
não irem para a ofensiva, e permanecerem em posição
defensiva, e deixarem o Japão cometer o primeiro acto aberto. É
o que diz a mensagem, e está no meu livro. E para o Almirante Kimmel,
aquela mensagem que ele recebeu foi repetida duas vezes... permaneça de
lado deixe o Japão cometer o primeiro acto aberto, o fraseamento exacto
está no meu livro.
Seu livro torna abundantemente claro que FDR e os seus conselheiros sabiam que
o Japão estava a preparar-se para a guerra, e sabiam que o Japão
ia finalmente atacar. Mas poder-se-á dizer que FDR sabia que o ataque
iria ter lugar especificamente na manhã de 7 de Dezembro em Pearl Harbor?
Stinnett:
Sim
..Absolutamente.
Por meio das interceptações de rádio?
Stinnett:
Por meio das interceptações de rádio, sim. Tanto
militares como diplomáticas.
Teve o embaixador dos EUA no Japão, Joseph Grew, alguma
indicação de que o Japão estava a planear um ataque
surpresa a Pearl Harbor?
Stinnett:
A informação é de que ele teve. Eu o cito no livro, e
ele advertiu Washington para permanecer alerta porque não lhe podia
dar a informação do último minuto.
Bem, de acordo com o seu livro o Embaixador Grew tinha uma fonte
confiável em sua embaixada que lhe contou estar o Japão a planear
o ataque, e assim Grew enviou terríveis advertências à Casa
Branca de que um ataque ao Hawaii era uma possibilidade muito realista.
Stinnett:
Sim, o Embaixador Grew foi o primeiro a ser informado -- depois de o
Presidente Roosevelt ter adoptado o memorando das oito acções --
sobre o ataque a Pearl Harbor, em Janeiro de 1941. E a seguir foi pedido ao
Comandante McCollum para avaliar o caso e ele disse: "Oh, não
há nada quanto a isso", apesar de ser o seu plano!
Mc Collum estava a ser insincero.
Stinnett:
Sim, exactamente
Em 5 de Dezembro a Marinha interceptou uma mensagem dando
instruções às embaixadas japonesas em todo o mundo para
queimarem os livros de código. O que significa um governo instruir suas
embaixadas a queimarem seus livros de código?
Stinnett:
Significa que a guerra começará dentro de um dia ou dois.
Trata-se de um conhecimento comum entre os militares. E os responsáveis
em Washington viram estas interceptações e o seu significado.
Stinnett:
Sim, correcto.
FDR e Washington também sabia que o Japão havia mandado retornar
todos os navios da sua frota mercante. O que significava isto?
Stinnett:
É bem sabido no governo e entre os militares que se um país
manda voltar a sua frota mercante é porque os navios são
necessários para transportar soldados e abastecimentos para a guerra.
Assim, em sua opinião, se não tivesse havido Pearl Harbor, os EUA
teriam mesmo assim lançado bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki?
Stinnett:
Bem, é o que os sobreviventes, as famílias daqueles que foram
mortos em Pearl dizem. Eles afirmam que se não tivesse havido Pearl
Harbor não teria havido Hiroshima. Mas, naturalmente, esta é uma
pergunta "o que se". E não sei como respondê-la.
Uma pessoa pode apenas especular sobre isso. Mas surge de um certa forma como
se Hiroshima e Nagasaki fossem uma retribuição por Pearl Harbor.
Stinnett:
Penso que realmente provocou o término da guerra. Sabe, eu estava
lá naquele tempo e, francamente, ... fui sujeito a ataques kamikazes,
eles estavam a atacar nossos navios, e cerca da metade dos nossos navios
estavam fora de combate em Julho de 1945. Assim, pessoalmente, fiquei
satisfeito com a bomba atómica porque aquilo terminava a guerra. Ela
provavelmente salvou a minha vida.
Se o que está a dizer é verdade, então Pearl Harbor
é um primeiro exemplo de um governo a tratar seres humanos como ratos
cobaias. Ainda assim, o sr. não menospreza nem tem uma visão
negativa de FDR.
Stinnett:
Não, não tenho uma visão negativa. Penso que era a sua
única opção actuar assim. E cito o principal
criptógrafo da frota do Pacífico, que disse: "Foi um
preço bonito e barato que se teve de pagar para unificar o
país".
Esse criptógrafo, o Comandante Joseph Rochefort, era um confidente de
McCollum. Ele trabalhou em estreita ligação com Kimmel em Pearl
Harbor. Poder-se-ia argumentar que Rochefort que era o mais próximo de
Kimmel foi o mais responsável por negar a Kimmel
informação vital. E ele fez tal declaração. Mas o
sr. concorda com isso? Muitas pessoas ficariam ofendidas e enraivecidas por
uma tal declaração. Muitas pessoas não concordariam com
isto.
Stinnett:
Muitas pessoas não a aceitariam, mas penso que naquelas
circunstâncias esta era a única opção de FDR. E,
naturalmente, esta foi da espécie daquelas usadas na Guerra do Viet Nam,
como sabe. A Resolução do Golfo de Tonkin foi baseada numa
provocação dirigida às canhoneiras norte vietnamitas. Foi
assim que o Presidente Johnson conseguiu que a Resolução do Golfo
de Tonkin passasse no Congresso. Houve uma provocação.
Aparentemente trata-se de uma estratégia militar, mas as famílias
-- obviamente -- das pessoas que são mortas quando os militares usam
esta estratégia não concordariam com isto.
Stinnett:
Sim, eu sei. Quando falo acerca disto com as famílias elas
começam a chorar. Ficam terrivelmente inquietas... Mas, como sabe, foi
usada pelo Presidente Polk na Guerra Mexicana em 1846. E também pelo
Presidente Lincoln em Fort Sumter. E também, como eu disse, no Viet
Nam, neste caso do Golfo de Tonkin.
Podia ser uma filosofia tradicional dos militares, a ideia de que os militares
tem por vezes de provocar o ataque do inimigo, sacrificar os seus
próprios soldados, de modo a unificar um país para a guerra.
Stinnett:
Penso assim. Julgo que provavelmente poder-se-ia remontar aos tempos de Cesar.
Quanto do seu livro nunca havia sido revelado antes ao público?
Stinnett:
A ruptura do silêncio da rádio. O facto de que os navios
japoneses não mantiveram silêncio quando se aproximaram do
Hawaii... A decifração dos códigos japoneses -- quero
dizer, a prova completa disso. Códigos militares, enfatizo... E
também as oito acções do memorando de McCollum --- que
constitui a essência do meu livro. Se eu não houvesse obtido isto
o livro não seria tão importante.
Sua investigação parece provar que podem existir
conspirações do governo. Na sua óptica, quantas pessoas
diria que, afinal das contas, sabiam que o Japão estava prestes a atacar
Pearl Harbor mas mantiveram silêncio sobre isto e encobriram-no antes e
após o evento?
Stinnett:
Eu cito cerca de 35 pessoas no livro que certamente sabiam disso. E
provavelmente há mais do que isso.
Também parece como um clássico encobrimento de Washington. No
seu livro usa a frase "fraudes de Pearl Harbor". Desde os ataques
têm faltado documentos, há documentos alterados, pessoas a serem
insinceras e pessoas cometendo perjúrio diante de comités de
investigação de Pearl Harbor. Correcto?
Stinnett:
Está correcto. Totalmente. E como sabe o Departamento da Defesa
etiquetou algumas das minhas solicitações sobre Pearl Harbor como
Segredos da Defesa Nacional B1, e eles não os entregarão. Eu
digo isso no livro. Janet Reno não os entregaria para mim.
E a todos os comités oficiais do Congresso sobre Pearl Harbor foi
negada e não foi entregue todas esta informação
relevante e secreta?
Stinnett:
Correcto. Eles também foram afastados do assunto.
Muitas pessoas provavelmente não querem acreditar que um presidente
faria tal coisa.
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O original desta entrevista está em:
http://www.independent.org/tii/news/020311Cirignano.html
Este texto encontra-se em:
http://resistir.info
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