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Os serviços secretos americanos não quiseram impedir os atentados
Thomas Blommaert
Solidaire      04-09-2002


Uma obra reveladora sobre o 11 de Setembro

Os serviços de informação americanos sabiam que os atentados do 11 de Setembro estavam em preparação, sabiam que edifícios eram visados, conheciam os quadros superiores e os meios da rede de Ben Laden e seguiam um certo número de piratas. Eles não quiseram detê-los e, a 11 de Setembro, até mesmo recusaram-se a impedi-los de agir. Os piratas tiveram o campo livre pois os atentados serviam muito bem a elite militar e política dos Estados Unidos. Os atentados deviam ganhar a opinião pública americana para uma guerra de longa duração contra os países que barram o caminho para a hegemonia dos Estados Unidos. Esta é, em poucas palavras, a tese desenvolvida por Peter Franssen, jornalista de Solidaire, e Pol De Vos, presidente da Liga Anti-Imperialista, em «11 septembre. Pourquoi ils ont laissé faire les pirates de l'air» (11 de Setembro: Porque deixaram agir os piratas do ar) . A obra estará a venda na próxima semana.

Thomas Blommaert

Os serviços secretos americanos não quiseram impedir os atentados

As perguntas:

  • Como surgiu a ideia de escrever uma obra sobre o 11 de Setembro? Ler mais
  • Não faltam livros "reveladores". L'effroyable imposture (A medonha impostura) de Thierry Meyssan tornou-se um best-seller. No que é que a sua obra distingue-se dele? Ler mais
  • Nos meses que se seguiram ao 11 de Setembro, cada vez mais revelações desmentiram a versão oficial. Como os serviços secretos e o governo têm reagido? Ler mais
  • Portanto eles sabiam perfeitamente o que se iria passar? Ler mais
  • Um dos exemplos de restrições impostas aos direitos cívicos é o Patriot Act, uma lei aprovada pouco após o 11 de Setembro. Este Patriot Act teria sido possível sem o 11 de Setembro? Ler mais
  • O livro menciona como o New York Times relata uma manifestação pacifista em Washington onde, segundo os organizadores, havia 25 mil pessoas e, segundo a polícia, 7 mil. O artigo intitula-se «Os manifestantes querem a paz com os terroristas» e começa nestes termos: «Algumas centenas de pessoas manifestaram-se nas ruas de Washington». O que pensa o senhor, em geral, da informação na imprensa americana? Ler mais
  • O 11 de Setembro foi um mau negócio para os direitos cívicos, mas o exército não lamentará as decisões que se seguiram. Ler mais
  • O que me surpreende é o senhor dizer que não sabe a resposta para todas as perguntas. «Restam ainda montes de imprecisões acerca do que se passou a 11 de Setembro», lê-se ali. O senhor fala, dentre outros, de Hani Hanjour e dos seus talentos como piloto. Ler mais
  • O senhor afirma ter suficientes provas para afirmar que os serviços secretos americanos são cúmplices. Que os americanos tenham feito suas experiências no estrangeiro com o terror, OK. Mas atentados terroristas contra sua própria população? Ler mais
  • O senhor fala também de uma nova doutrina de guerra. O que se entende por isso? Ler mais
  • O vosso livro contem uma frase notável do deputado republicano Dana Rohrabacher em 1998: «Os Estados Unidos sempre apoiaram plenamente os Taliban. Se certas forças tentam ajudar outros grupos no Afeganistão, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros tratará de lhes por traves nas rodas». Por que era o Afeganistão tão importante para os Estados Unidos apoiarem os Taliban? Ler mais
  • Os senhores são, ambos, comunistas reconhecidos. Não receiam que a vossa obra seja classificada como propaganda anti-americana do Partido do Trabalho da Bélgica (PTB)? Ler mais
  • O senhor cita também o presidente do PTB, Ludo Martens, que estava em Kinshasa, a capital do Congo, no 11 de Setembro. Parece que os congoleses ficaram maravilhados com os acontecimentos. O que pensa o senhor? Ler mais
  • O último capítulo do vosso livro chama-se A última guerra da América. Por que? Ler mais
  • Info e acção

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Como surgiu a ideia de escrever uma obra sobre o 11 de Setembro?

Peter Franssen. Desde o próprio dia 11 de Setembro, o assunto não parece muito claro. Como foi possível que um grupo de 19 pessoas tivesse podeido desviar quatro aviões sem que o aparelho de defesa mais refinado e melhor treinado do planeta reagisse? No fim da noite do 11 de Setembro a Comissão Política do PTB divulgou um comunicado de imprensa dizendo que os atentados não teriam sido possíveis sem a colaboração dos serviços secretos e do núcleo do aparelho militar americano. Mas neste momento, honestamente, não tínhamos provar para sustentar tais afirmações.

Peter Franssen: «Nosso livro prova que os serviços secretos americanos conheciam e seguiam os piratas do ar, mas recusaram-se a prendê-los» (Fotos Solidaire, Salim Hellalet)

Portanto realizamos para Solidaire um primeiro dossier sobre o terrorismo e acerca da maneira como o exército americano dele se serve desde 1945. Este dossier estabelecia claramente que o exército e os serviços secretos consideravam poder recorrer ao terror para conduzir a opinião pública numa direcção bem precisa. E por terror entende-se: atentados a bomba, desvios de aviões, assassinatos, sequestros. Os Estados Unidos utilizaram estes meios em todos os continentes, Europa ocidental inclusive, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Este dossier já dizia: tome a versão oficial com prudência, a ética não conta nada quando se trata de atingir um fim político bem preciso.

Em torno do Pentágono encontram-se quatro baterias de defesa anti-aérea. Ninguém consegue explicar porque não entraram em acção a 11 de Setembro, quando o exército estava em estado de alerta máximo.

Nas semanas e meses que se seguiram, foram revelados numerosos factos que dificilmente se compatibilizavam com a versão oficial. Um exemplo: em torno do Pentágono há quatro baterias de defesa anti-aérea. Quando o avião chocou-se contra o edifício, já era seguido desde a alguns minutos. Neste momento dois aviões já haviam embatido nas torres do WTC. O exército estava em estado de alerta máximo. Contudo, esta defesa anti-aérea não entrou em acção. Ninguém pode explicar. Outro exemplo: o serviço secreto da CIA conhecia vários piratas e sabia que eles se encontravam nos Estados Unidos. A CIA pretende agora que não os seguia e que ignorava onde eles viviam. Somos supostos acreditar, pois, que a CIA deixou circular livremente nos EUA um certo número de terroristas potenciais — pois foi assim que elas os fichou. Estas pessoas nem mesmo viviam na clandestinidade, podem-se encontrar os seus nomes na lista telefonica.

No mes de Maio descobriu-se que o presidente Bush e os principais membros do seu governo já sabiam, seis ou sete semanas antes do 11 de Setembro, que se preparavam atentados. Não menos de cinco serviços secretos haviam advertido a CIA. Não se tratava de informações vagas, mas de advertências muito precisas e pormenorizadas. A única coisa que faltava era a data exacta. De resto, tudo era conhecido: quem, como e o que. Quem? Um grupo do Al Qaida. Como? Com aviões desviados. O que? Atentados kamikazes contra as torres do WTC, do Pentágono e da Casa Branca. Assim, convencemo-nos: era preciso escrever um livro sobre o assunto.

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Não são os livros "reveladores" que faltam. L'effroyable imposture de Thierry Meyssan tornou-se um best-seller. Em que a vossa obra distingue-se daquela?

Peter Franssen . Thierry Meyssan tem o mérito de ter ousado ir contra a corrente. Não era tão evidente pois quando este livro saiu, em Março, ainda reinava uma atmosfera tal que aquilo que pusesse em dúvida a versão oficial era classificado como extravagante. Meyssan evidenciou factos que o governo americano teria preferido manter sob silêncio. Hoje, colocar tais questões é um pouco mais fácil.

Considero entrentanto que num tal dossier não se pode por no papel senão coisas que foram irrefutavelmente provadas. Não é o caso do livro de Meyssan. A tese central das suas duas obras consiste em dizer que nenhum avião chocou-se no Pentágono e sim que uma organização de extrema direita cometeu um atentado com a ajuda de um míssil. Mas muitos elementos vêm infirmar a veracidade desta tese. Dezenas de pessoas viram o avião ou pretendem tê-lo visto. Além disso, considero lamentável que Meyssan não diga quase nada dos atentados contra as torres do WTC. Eles verificaram-se com aviões. Mas não se enquadram na sua tese do grupo de extrema direita. Isto torna difícil, mesmo impossível, compreender as motivações dos serviços secretos e do exército.

A CIA sabia que o Al Qaida preparava atentados. Sabia que aviões seriam desviados para isso. Sabia que o WTC, o Pentágono e a Casa Branca eram os alvos visados.

Nossa obra prende-se aos factos. Ela tem 185 páginas. Noventa e cinco por cento são preenchidas por factos bem estabelecidos e declarações de generais, de chefesa da CIA e do FBI, de dirigentes políticos. Cinco por cento apenas são interpretações dos factos e das citações. O livro permite assim formar uma ideia acerca do significado do 11 de Setembro, do carater o imperialismo americano, da ofensiva deste imperialismo e daquilo que a motiva. Penso que esta é a diferença mais importante em relação aos outros livros sobre o 11 de Setembro.

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Nos meses que se seguiram ao 11 de Setembro, cada vez mais revelações desmentiram a versão oficial. Como os serviços secreto e o governo reagiram?

Pol De Vos. Eles não pararam de recuar a sua linha de defesa. No próprio dia 11 de Setembro e nos dias seguintes ouvia-se isto: «Uma surpresa total! Nós não sabiamos nada!» Todos aqueles que colocassem a menor questão a este respeito eram brutalmente remetidos ao silêncio. Eles puderam manter esta linha de defesa até ao princípio de Maio. Depois, tantas coisas vieram à luz que tiveram de construir uma segunda linha. Que dizia: «Sim, houve indicações. Sim, havíamos sido prevenidos por outros serviços secretos. Mas estas indicações e advertências eram terrivelmente vagas. Não sabíamos onde, quando, como» Esta linha de defesa manteve-se apenas uma semana. Verificou-se que estavam ao par de tudo, excepto a data e a hora exacta. E mesmo isto, não é certo. Assim chegamos à terceira e última linha: «A CIA e o FBI não colaboram suficientemente, temos muito poucos meios e muito pouco pessoal». Nada original. É o genero de refrão que se ouve na Bélgica a propósito dos assassinos do Brabat valão e das crianças desaparecidas.

Pol De Vos: «A CIA e o FBI dizem que lhes faltaram meios e forças para impedir os atentados. Isto é inteiramente absurdo, nós provamos, com o apoio de factos e números» (Fotos Solidaire, Salim Hellalet)

Revelamos no livro quais os meios e os efectivos que dispunham a CIA e o FBI, assim como o seu modo de cooperação. O número de agentes assinalados à luta anti-terrorista quadruplicou em três anos. Desde os atentados contra duas embaixadas americanas na África, em 1998, Ussam Ben Laden constituía uma prioridade absoluta. A CIA criou uma secção especial encarregada de segui-lo e o FBI fez o mesmo. O governo americano, por decreto especial do presidente Clinton, inventou mesmo um serviço especial encarregado de coordenar estas duas secções.

Pretender que os serviços secretos dispunham de efectivos demasiado escassos é um absurdo. E que eles tinham meios demasiado escassos é igualmente absurdo. Só a CIA já consagra três mil milhões de dólares por ano à luta contra o terrorismo. Cerca de 150 mil milhões dos antigos francos belgas! Ou seja, o orçamento total do exército belga, acrescido de cinquenta por cento! Não se pode portanto, com verdade, dizer que se tratou de mau funcionamento e de falta de efectivos nos serviços. Não, é manifesto que eles deixaram ocorrer os atentados.

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Portanto eles sabiam perfeitamente o que iria acontecer?

Peter Franssen. Os serviços secretos americanos dispunham dos nomes dos piratas do ar, chegaram mesmo a seguir um certo número deles nos próprios Estados Unidos. Num certo momento, um deles, Mohammed Atta, suposto chefe dos piratas, é preso pela polícia rodoviária porque corria demasiado. Ele não tem carta de condução. O sherif diz-lhe que tem trinta dias para vir mostrar sua carta num posto de polícia. Atta não o faz. Resultado: seu nome é inscrito no computador, ele é marcado como procurado e para deter. Pouco depois, Atta é novamente detido, sempre por excesso de velocidade. O agente que o detem introduz o seu nome mas verifica-se que foi apagado do computador da polícia. Muito estranho, não?

Fumo no Pentágono. Aqui encontravam-se quatro baterias de defesa anti-aérea no 11 de Setembro. Elas não entraram em acção. Ninguém sabe porque. (Foto Ministério da Defesa dos EUA)

Ainda mais bizarra é a história de dois outros piratas que, a pedido da CIA, são filmados e seguidos na Malásia mas que, uma vez desembarcados nos Estados Unidos, pretende a agência, não são mais seguidos.

No 11 de Setembro, a US Air Force só enviou aviões caça contra os Boeing muito tarde e de muito longe. Ao examinar esta componente do dossier não se pode afastar a impressão de que o Boeing não deviam ser interceptados. Pode-se admitir uma falha, mas quando há dez seguidas não se trata mais de uma falha, trata-se de um facto expresso. É perfeitamente possível que os autores dos atentados tivessem um outro motivo político. Mas o que importa é saber quem dele se aproveitou.

A CIA filmou, vigiou e seguiu dois futuros piratas do ar no estrangeiro. Mas nos Estados Unidos estes homens podiam circular livremente.

Pol De Vos. Com efeito, é de uma importância capital. De um só golpe, a CIA recebeu um acréscimo de 42%. O orçamento do exército atingiu proporções astronómicas. Os grandes ganhadores do 11 de Setembro são sem dúvida o exército, os serviços secretos e todos aqueles que, nos Estados Unidos, querem a guerra.

É difícil desenvolver uma estratégia de guerra agressiva quando, no seu país, deixa-se subsistir uma democracia, ainda que reduzida. Citamos no livro o antigo conselheiro de Carter em matéria de segurança, Zbigniew Brzezinski. O qual em 1997 já escrevia: «Os Estados Unidos são muito mais democráticos internamente para serem autocráticos no estrangeiro e poderem dominar o mundo». Ele estabeleceu, pois, o nexo entre a lógica da guerra e a política interna.

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Um dos exemplos de restrições impostas aos direitos cívicos é o Patriot Act , uma lei aprovada poucos após o 11 de Setembro. Teria este Patriot Act sido possível sem o 11 de Setembro?

Peter Franssen . O 11 de Setembro foi o alibi para uma aceleração política e militar. O mundo mudou fundamentalmente em 1989, após a queda do Muro de Berlim e, dois anos mais tarde, com o afundamento da União Soviética. O contrapeso ao imperialismo agressivo desapareceu. Tudo foi abandonado. O mundo pertenceria à América e a ninguém mais. Desde 1989 a América está implicada nas guerra contra o Iraque, a Jugoslávia, Tchétchénie, o Tadjiquistão, a Geórgia, a Armenia/Azebaidjão, o Congo, a Somália e o Afeganistão. A lista é impressionante. Mas na lista da elite americana encontram-se hoje os pretensos Estados bandidos, e o famoso "eixo do mal". Após o 11 de Setembro, Bush, Rumsfeld e Cheney dizem: esta guerra vai durar uma geração. Não se pode desencadear semelhante guerra sem ter a opinião pública atrás de si e sem ter unificado sua elite em torno deste objectivo militar. Era esta a finalidade do 11 de Setembro, e o desmantelamento do pouco de democracia ainda existente inscreve-se neste quadro.

Os autores: «Após o 11 de Setembro, o orçamento da CIA aumentou 42%. O do Ministério da Defesa 37%» (Foto Solidaire, Salim Hellalet)

Penso que o Patriot Act teria sido possível sem o 11 de Setembro. Mas com muito mais protestos do que hoje. O 11 de Setembro permitiu acelerar o processo iniciado em 1989. Fez-se crer à opinião pública que o país estava ameaçado. Assim, poucas pessoas consideram que seja muito grave perder um certo número de liberdades. E o secretário de Estado da Justiça, Ashcroft, pode afirmar hoje: «Lamentar a perda das liberdades é escolher o campo dos terroristas».

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O livro menciona como o New York Times relata uma manifestação pacifista em Washington onde, segundo os organizadores, havia 25 mil pessoas e, segundo a polícia, sete mil. O artigo intitula-se: «Os manifestantes querem a paz com os terroristos» e começa nestes termos: «Algumas centenas de pessoas manifestaram-se nas ruas de Washington». O que pensa, em geral, da informação na imprensa americana?

Pol De Vos . Aquele que abre a boca é um traidor. Até Maio, esta era a linha geral nos Estados Unidos. Aquilo que se podia ler nos jornais americanos nos dias que se seguiram ao 11 de Setembro raiava a demencia: «Atirem entre os olhos», «Gaseiem-nos!», «Que nossos bombardeiros arrazem tudo!» Imagine que após um dos inumeráveis crimes dos americanos no seu país, políticos e cronistas influentes da Colômbia, da Palestina, do Vietname, do Cambodge, do Laos, da África do Sul, do Zimbabwe, do Congo, ... tivessem dito ou escrito: risquem Washington do mapa, grelhem-nos como gafanhotos. Haveria não poucas reacções! Mas eles, os Estados Unidos, podem permitir-se tudo isso. Alguns reputados jornalistas americanos dizem explicitamente que sua tarefa consiste em unir o povo à política belicista de Bush. As direcções das principais cadeias de televisão compareceram junto à conselheira em matéria de segurança, Condoleezza Rice, a fim de receberem instruções acerca daquilo que se podia ou não se podia fazer.

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O 11 de Setembro foi um mau negócio para os direitos cívicos, mas o exército não lamentará as decisões que se seguiram.

Pol De Vos. Certamente. Quanto se vê em que proporções sobe o orçamento da defesa. De facto, esta evolução já se havia iniciado durante o segundo mandato de Clinton. Bush acelerou esta alta sistemática. O exército e a indústria militares eram as partes tomadoras. Durante o período que antecedeu as eleições presidenciais de 2000 eles diziam que o orçamento da defesa devia aumentar a fim de atingir 4 ou 4,5% do Produto Nacional Bruto. O general James Jones, comandante dos Marines, era um dos mais fervorosos partidários deste aumento. Quatro por cento equivale a 438 mil milhões de dólares.

O orçamento da CIA a seguir foi aumentado em 42%. O do exército subirá 37% daqui até 2007! A maior alta desde a guerra do Vietname.

Após o 11 de Setembro, Bush decidiu aumentar em 37% o orçamento da defesa no decorrer dos cinco anos seguintes. Ou seja, 470 mil milhões de dólares em 2007. Pormenor picante: Nesse ínterim, este mesmo James Jones foi nomeado comandante militar da NATO na Europa. É muito provável que a União Europeia, em parte sob a influência da NATO, siga a mesma lógica que os Estados Unidos. Em Novembro, na cimeira da NATO em Praga, os países europeus deverão aprovar a elevação dos seus orçamentos militares.

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O que me surpreende é o senhor dizer que não tem resposta para todas as perguntas. «Ainda há um monte de imprecisões acerca do que se passou no 11 de Setembro», lê-se. O senhor fala, dentre outros, de Hani Hanjour e dos seus talentos de piloto.

Pol De Vos . É uma história muito intrigante. Segundo a versão oficial, Hani Hanjour pilotova o avião que se esmagou no Pentágono. Quinze meses antes do 11 de Setembro, o homem fez cursos de pilotagem. Era um aluno muito mau. Têve de seguir várias lições de recuperação e fez 37 tentativas para conseguir passar no exame. Finalmente, deram-lhe um diploma autorizando-o a pilotar um monomotor. Entre um monomotor e um Boeing 737 há tantos pontos em comum quanto entre uma bicicleta e um carro. E, contudo, segundo o FBI e a CIA, o que faz este Hanjour no 11 de Setembro, 15 meses depois de ter segurado pela última vez o manche de um pequeno avião? De 2130 metros de altitude, ele inicia uma picada vertiginosa, executada em espiral, mergulha a não mais de três metros do solo, evita árvores, postes e fios eléctricos e avança a 700 km por hora sobre o Pentágono. Nós não somos aviadores, temos pois de nos louvar naquilo que pilotos experimentados daqui e dos Estados Unidos disseram. Pois bem, todas estas pessoas dizem: nove pilotos experimentados em dez, que sabem como manejar um Boeing, não poderiam executar esta manobra. É impossível.

Como o senhor pensa que a população belga teria reagido em 1944 se tivesse sido cometido um atentado contra um edifício nazi? É relativamente lógico que muitos congoleses, palestinos, latino-americanos, ... não ficassem tristes com o 11 de Setembro.

Escrevemos que não sabemos exactamente o que se passou. Sabemos que a US Air Force, desde há vários anos já, confiou à indústria militar a tarefa de desenvolver aquilo que se chama a técnica do «global hawk». Esta técnica permite pilotar aparelhos sem piloto a bordo. Seis meses antes dos acontecimentos do 11 de Setembro, um teste muito importante foi bem executado. Um aparelho da envergadura de Boeing decolou nos Estados Unidos e aterrou a 13 km de lá, no sul da Austrália. Sem ninguém a bordo. Esta técnica do «global hawk», é utilizada actualmente pela 'US Air Force no Afeganistão.

Não pretendemos que esta técnica tenha sido utilizada no atentado contra o Pentágono. Não sabemos absolutamente nada disso.

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O senhor escreve ter provas suficientes para poder afirmar que os serviços secretos americanos são cúmplices. Que os americanos tenham feito suas experiências de terror no estrangeiro, OK. Mas atentados terroristas contra sua própria população?

Peter Franssen. O terror contra um povo no estrangeiro muitas vezes é impossível sem o terror contra o seu próprio povo. Tomemos a guerra contra o Vietname. Sessenta mil americanos ali perderam a vida. A guerra dos generais americanos contra o Vietname também era, pois, uma guerra contra o povo americano. Mas o pensamento político-militar dos generais ainda vai muito mais longe. Uma das ilustrações mais chocantes foi o que se passou em 1962, dois anos após a derrubada do ditador Batista em Cuba. Fidel Castro e os seus homens começaram a construir um país socialista independente. Este não era evidentemente do gosto da elite americana: um país comunista no seu jardim, que coisa! Primeiro organizaram a invasão da baia dos Porcos. Com 1400 mercenários quiseram derrubar Castro. A operação foi um fiasco completo. Para isto, o estado maior geral desenvolveu um plano destinado a servir de alibi para uma guerra contra Cuba . É de por os cabelos em pé.

Em 1962, os generais americanos quiseram bombardear o seu próprio povo e abater os seus próprios aviões. O terror é uma arma que os generais conhecem bem.

De modo unânime, os generais propunham abater aparelhos americanos em que estivessem, de preferência, veraneantes ou estudantes. Eles teriam assim fabricado provas da implicação cubana nestes atentados. Se, em seguida, as listas das vítimas são publicadas nos jornais, a cólera do povo americano vai ser enorme e a opinião pública não verá qualquer problema em que a América entre em guerra contra Cuba. Tal era o raciocínio. Os oficiais propunham fazer explodir edifícios, abater pessoas nas ruas e lançar tudo isso sobre as costas de Cuba. No fim o plano não foi retido pois Kennedy, o presidente da época, considerou-o demasiado arriscado. Isto mostra até onde os generais, os serviços secretos e a Casa Branca podem ir para atingir um fim político preciso. Tudo é permitido, mesmo o terror de massa contra seu próprio povo.

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O senhor fala também de uma nova doutrina de guerra. O que se entende por isso?

Peter Franssen. Há onze anos, durante a guerra do Golfo, os generais americanos discutiram a portas fechadas o recurso às armas nucleares. Acaba-se de saber isso. Agora, numa nota dirigida dia 31 de Dezembro ao Congresso, estes mesmos generais escrevem que as armas nucleares não são armas de dissuasão, mas armas que convem utilizar. (Irrita-se) É até mesmo criminoso! Estes generais dizem: «Se, no futuro, no decorrer de um conflito, tivermos de sofrer revezes estratégicos ou se nos arriscarmos à derrota, utilizaremos as armas nucleares» E eles admitem-na sem pestanejar. Todo o mundo pode verificar, o texto encontra-se na Internet. Isto é um sinal de que o pensamento (militar) deslizou para a extrema direita. A política de dissuasão a que os Estados Unidos sempre recorreram após a Segunda Guerra Mundial não existe mais. Ao tempo, a opinião subjacente era: nós construimos um aparelho militar e aqueles que ousem atacar-nos serão feitos em pedaços, todo mundo sabe, portanto eles abster-se-ão cuidadosamente de nos atacar. Há alguns dias, Henry Kissinger, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, declarou a El Pais : se, nalguma parte do mundo, se verificar uma evolução que não nos agrade, nós interviremos; os conceitos de soberania nacional e de integridade territorial estão ultrapassados, diz ele. Kissinger mostra assim, mais uma vez, a dimensão da factura que o mundo paga pela queda do Muro de Berlim. Sem isso, Kissinger não teria ousado utilizar uma tal linguagem...

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Vosso livro contem uma frase notável do deputado republicano Dana Rohrabacher, em 1998: «Os Estados Unidos sempre apoiaram plenamente os Taliban. Se certas forças tentam ajudar outros grupos no Afeganistão, nosso ministro dos Negócios Estrangeiros tentará travá-los». Porque o Afeganistão era tão importante para os Estados Unidos apoiarem os Taliban?

Pol De Vos . O Afeganistão tem uma fronteira comum com a China e a antiga União Soviética. Já em 1917, quando Lenine e os bolcheviques tomaram o poder, o Afeganistão era uma base de ataque contra o jovem Estado soviético. Na época era a Inglaterra que se servia do Afeganistão neste papel e, em seguida, foi a vez dos alemães. Após a Segunda Guerra Mundial, os americanos utilizaram o Afeganistão como base de ataque contra a União Soviética. A partir de 1950, eles fizeram-no igualmente contra a China. Os americanos queriam poder assegurar-se do controle do país. Para aí chegar, desde 1978, eles primeiro apoiaram os moudjahidine e, em particular, o senhor da guerra Gulbuddin Hekmatyar. Esperavam que este homem pudesse unificar o país. Isso não funcionou. Eis porque os americanos procuraram a solução junto aos Taliban, na mesma tentativa de estabilizar o país.

Os moudjahedines afegãos receberam pleno apoio dos americanos desde 1978. O objectivo dos EUA era manter o país sob controle para enfraquecer a União Soviética. (Foto Solidaire)

O Afeganistão é igualmente importante porque é um país de passagem para o petróleo e o gás provenientes das repúblicas da Ásia central. A companhia petroleira americana Unocal é parte interessada nestas instalações de pipelines. Mas como o país está dividido em pequenos territórios onde actuam os senhores da guerra, que põem e dispõem, a situação é naturalmente muito preocupante. Os Taliban deveriam resolver este problema, unificar o país e pacificá-lo. Mas a partir de 1999 verificou-se que os Taliban não eram capazes de controlar completamente o país e, por isso, os americanos desejaram um governo de coalizão. Quando os Taliban recusaram, a guerra tornou-se uma certeza.

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Os senhores são, ambos, comunistas reconhecidos. Não temem que a vossa obra seja classificada como propaganda anti-americana do PTB?

Pol De Vos . Certos meios vão sem dúvida atacar a obra. A questão é saber se vão recorrer ao mesmo método que o nosso ou se vão ater-se ao conteúdo do livro. Nós nos baseámos em documentos e citações. Se falamos da agressividade dos Estados Unidos, extraímos nosso material das comunicações e documentos oficiais do governo americano. Alinhámos sistematicamente todas as fontes. A maior parte estão na Internet, o leitor pode portanto verificar por si próprio aquilo que dizem as autoridades americanas. Nós realmente não partimos das nossas opiniões ideológicas.

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O senhor também cita o presidente do PTB, Ludo Martens, que estava em Kinshasa , a capital do Congo, no 11 de Setembo. Consta que os congoleses ficaram maravilhados com os acontecimentos. O que pensa o senhor?

Peter Franssen . Se se der ao trabalho de ser, por alguns instantes, colombiano ou congoles verificará que o mundo torna-se inteiramente diferente. Na nossa obra figura o relato de Juvénal Sibomana, um congolês residente em França. No 11 de Setembro ele encontrava-se por acaso na cidade congolesa de Bukavu, ocupada pelo exército rwandês que desfrutava da ajuda dos Estados Unidos. Este homem viu a euforia da população por ocasião do desmoronamento da torres do WTC. Com olhos ocidentais, pergunta-se o que significa isto, como é possível semelhante atitude. Mas quando se sabe que a guerra do Congo, orquestrada pelos Estados Unidos, já fez quatro milhões de mortos, isso muda tudo, não? (Reflecte) Penso que em 1944 muitas pessoas teriam aplaudido se se houvesse cometido um atentado contra alguns edifícios que simbolizavam o poder nazi na Alemanha. Mesmo que aquilo houvesse custado a vida de inocentes.

O terror do exército rwandês no Kivu. O Rwanda não poderia fazer a guerra ao Congo sem o apoio dos Estados Unidos. Naturalmente, a 11 de Setembro, os congoleses reagiram de modo diferente ao nosso. (Foto arquivos)

Pol De Vos. Muitas pessoas ficaram chocadas ao ver imagens de mulheres e crianças palestinas dansarem nas ruas após os atentados. Mas de um ponto de vista árabe, tudo isso é muito lógico. Israel faz a guerra ao povo palestino há cinquenta anos e não teria podido faze-la sem cobertura americana. É pois bastante normal que a comunidade árabe reaja com satisfação ao descobrir que os Estados Unidos não são tão invencíveis como parecem. Isto aliás não vale só para a comunidade árabe. Nossa obra fala de uma manifestação no Rio de Janeiro, Brasil, onde se podia ler nas faixas: «Um minuto de silêncio para as vítimas de Nova York. 59 para as vítimas da política americana».

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O capítulo final do vosso livro intitula-se A última guerra da América. Porque?

Peter Franssen. Se se examina a lista dos países contra os quais os Estados Unidos fizeram guerra desde 1989 e a lista que Bush cozinha na sua cabeça, diz-se: eis uma super-potência intocável que faz a guerra onde e quando deseja. Eu tinha esta ideia no momento em que iniciámos este livro. Mas tive de rever minha opinião. A América é uma grande potência, mas de facto é espantosamente fraca. No plano económico os Estados Unidos estão virtualmente em falência. Sua dívida externa é a maior do planeta. Eles não podem permitir-se que um ou vários países se desenvencilhem da sua montagem económica. Também no plano político os americanos são fracos. No coração da África eles tiveram de organizar a guerra contra o Congo a fim de cortar as asas ao movimento ressuscitado em favor da independência nacional.

Vê-se agora qual é a factura que o mundo paga pela queda do Muro de Berlim e o estilhaçamento da União Soviética. A agressividade dos Estados Unidos não tem mais qualquer entrave.

Na Ásia, cada vez mais países voltam-se para a China porque este imenso país parece imunisado contra a crise económica que grassa por toda a parte do resto do mundo. Na Colômbia, arriscam-se a engolfar num novo Vietname, o que lhe vale serem votados aos ódeios de todo o continente. E, na sua própria casa, devem enfrentar um jovem e poderoso movimento de anti-mundialistas. Em tais circunstâncias, Bush e apaniguados vêm dizer que a guerra contra o Afeganistão não é senão o começou de uma guerra de grande fôlego contra vários objectivos. Mas, a cada nova fase desta guerra, a resistência aumenta cada vez mais. Se o imperialismo americano não perde no terreno, militarmente, acabará por ser vencido e escorraçado pelo seu próprio povo e seus próprios soldados.

Há alguns dias tive uma conversa telefonica com um jornalista holandês, a fim de combinar uma entrevista para a televisão. Quando eu lhe expliquei o que significa o título A última guerra da América , ele ficou silencioso um momento, do outro lado do fio, e depois respondeu: «Héhé! É uma visão bem optimista!» Exatamente. Os Estados Unidos são como um gato acuado: mia e arranha. É desastroso para o mundo, é igualmente um sinal de que o fim está próximo. O optimismo do livro é um optimismo realista.

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O original desta entrevista encontra-se em http://ptb.be/scripts/article.phtml?obid=15112&lang=1

Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info

O livro tem 185 páginas e custa 12,50 euros. À venda nas livrarias da Bélgica, da França e dos Países Baixos.


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