Grupo Carlyle:
As ligações dos Bush com os Bin Laden
Por Chris
"Estou impressionado por haver tamanha incompreensão do que
é o nosso país e por ver que pessoas possam nos detestar. Eu
sou... Eu sou como a maior parte dos americanos, não posso acreditar,
pois sei que somos bons»
Georges W Bush, conferencia de imprensa de 11/Out/01 na Casa Branca.
|
A notícia chegou a 26 de Outubro de 2001, em meio a indiferença
geral, num despacho lacónico da agência Associated Press: a
família Bin Laden retirava seus 2,02 milhões de dólares de
investimentos da sociedade Carlyle Group. O anúncio seguia-se a um
artigo de página inteira, publicado a 27 de Setembro de 2001 no
Wall Street Journal
, referente a uma participação financeira da família Bin
Laden neste grupo. Mas nenhum outro media interessou-se realmente por esta
informação.
O que é o Carlyle Group?
Trata-se de uma companhia de investidores privados, pouco conhecida do grande
público, que gere cerca de 13 mil milhões de dólares de
investimentos em diferentes sociedades de armamento, de
telecomunicações e de laboratórios farmacêuticos.
Um complexo financeiro tentacular. Dentre as quatro sociedades mais
importantes detidas por este grupo nebuloso, constam:
—Empi, Inc (actividade principal: medicamentos e produtos médicos.
Facturação em 2000 : US$ 73 milhões)
—Medpointe, Inc (actividade principal: medicamentos e preservativos.
Facturação estimada em 2001: US$ 223 milhões)
—United Defense Industries, Inc (actividade principal: fabricação
de tanques e de veículos blindados para o exército americano ou
para exportação. Facturação em 2000: US$ 1,18 mil
milhões)
—United States Marine Repair, a maior companhia americana de navios de guerra
não nucleares (facturação em 2000: US$ 400 mil
milhões) [1].
O conjunto destas actividades ligadas ao armamento ou à defesa torna o
Carlyle Group um dos mais importantes fornecedores do Pentágono. Grande
parte destas encomendas dependem entretanto da boa vontade da
administração. Mas esta sociedade discreta não se limita
apenas a actuar no armamento americano. Em 14 anos de existência ela
estendeu seu poder financeiro a todo o mundo, onde os investimentos fossem
lucrativos.
Hoje, o conglomerado Carlyle controla mais de 160 sociedades, em 55
países, e possui um escritório em França, localizado na
Av. Kléber, 112, em Paris. Sua filial francesa salientou-se em Junho de
2000 ao tomar partes da holding financeira do
Figaro
, sob as barbas de Serge Dassault, que cobiçava o título para si
próprio. Do outro lado do Atlântico, o patrão mor do
Carlyle Group não é senão Franck Carlucci, antigo
secretário de Estado da Defesa sob Ronald Reagan, entre 1987 e 1989 e
embaixador em Lisboa em 1974-75, durante a Revolução Portuguesa.
Mas esta familiaridade política não é o mais espantoso.
A firma também emprega, a tempo inteiro ou para operações
temporárias de relações públicas, Georges Bush
(antigo presidente dos EUA e pai do actual racha-talibans), John Major
(ex-primeiro ministro da Grã Bretanha), Karl Otto Pohl (ex-presidente
do Bundesbank), Fidel Ramos (ex-presidente das Filipinas), Arthur Levitt
(ex-presidente da Security Exchange Commission), e James Baker (antigo
secretário de Estado de Bush senior) [2]. Em suma, a nata mundial dos
grandes decisores... E até 26 de Outubro de 2001 a família do
homem mais procurado do planeta também fazia parte deste alegre conjunto!
É evidente que não se poderia acusar todos os membros da
família de financiar o terrorismo islâmico. Mas em contrapartida
é certo que nem todos os membros cortaram os laços com Ossama.
Pode-se apostar que se o Carlyle Group emprega todas estas figuras de proa da
geopolítica mundial (cujos salários são evidentemente
mantidos secretos) é para aproveitar das suas vastas agendas de
endereços, e assegurar os contactos internacionais necessários
aos seus domínios de actividade a fim de alcançar uma bela
facturação. Com o pretexto de esta ser uma época
tormentosa, o exército americano acaba, por exemplo, de pedir ao
Congresso uns 500 milhões de dólares a fim de encomendar o seu
novo brinquedo: o tanque Crusader, de que tem necessidade para futuras
operações terrestres.
E quem fabrica os tanques Crusader?
Adivinhou: a empresa United Defense Industries, Inc, e portanto o Carlyle
Group! O Congresso americano está em vias de debater a oportunidade
deste investimento pesado (pago pelos contribuintes) e as
conversações estão em curso... Assim, graças a
investimentos diversificados e muito sumarentos, os accionistas do Carlyle
beneficiam de um retorno sobre o investimento de 34% ao ano. Algo nunca visto
neste tipo de actividade. Com uma tal rentabilidade, mantida desde a
criação do grupo, esperar-se-ia ver todos os analistas
financeiros do planeta aconselharem a compra de títulos Carlyle. Mas
isso não acontece, e por uma razão muito simples: o Carlyle
Group não está cotado em bolsa. Uma opção
espantosa para uma entidade deste porte...
Mas só à primeira vista. Está fora de causa, para os
grandes trutas do Carlyle, deixar o accionista médio aproveitar de um
tal maná. Outra vantagem, que não é das menores:
colocando-se fora do circuito bolseiro, o grupo não é obrigado a
divulgar à Security Exchange Comission (a comissão americana
encarregada de verificar a regularidade das operações bolsistas)
o nome dos seus associados (e particularmente dos accionistas incómodos,
como o clã Bin Laden) nem as suas fatias respectivas. Esta atitude
é também o melhor meio de dissimular o pormenor das actividades,
que poderiam ofuscar muita gente. Com efeito, cada vez que Bush Junior passa a
encomenda de um tanque ou de um navio a uma sociedade do grupo Carlyle, em nome
da defesa americana, é Bush Senior que passa pela caixa, para receber
outro punhado de dólares, bem como os Bin Laden, que durante todos esses
anos embolsaram os seus 34% de dividendos anuais.
O Carlyle Group prosperava tranquilamente na sombra, até que dois
organismos governamentais, o Judicial Watch e o Center for Public Integrity,
insurgiram-se contra a situação. Estas duas
associações, que vasculham as milhares de páginas
entregues pelo Congresso todos os anos, bem como os documentos desclassificados
da CIA ou do FBI, denunciaram o estado de coisas [3] relatado pelo
Wall Street Journal
e pela BBC. É claro que uma tal notícia fez o Carlyle sair do
seu mutismo. A família Bin Laden (excepto o maldoso Ussama,
naturalmente) é constituída por pessoas respeitáveis
informaram com a mão no coração os dirigentes do Carlyle
Group e também Arabella Burton, secretária particular de John
Major, quando a notícia se tornou conhecida.
Então por que é que eles retiraram os seus investimentos no
Carlyle? Georges Bush pai viajou pelo menos duas vezes, em Outubro de 1998 e
em 2000, a Jeddah, a sede familiar dos Bin Laden, na Arábia Saudita.
Será que lhes pediu notícias de Ussama, ou simplesmente um
cheque? Após as revelações do
Wall Street Journal
, Jean Becker, porta-voz de Bush Senior, declarou primeiro que Bush Sr. havia
encontrado a família Bin Laden uma vez, e a seguir, no dia seguinte:
"Depois de ter visto as notas do ex-presidente" ... "O
ex-presidente Bush não tem relação com a família
Bin Laden. Ele encontrou-se com eles duas vezes". Somente duas? Segundo
o
Figaro
de 31 de Outubro de 2001, Ossama Bin Laden foi internado no hospital americano
de Dubai a 14 de Julho de 2001 para uma operação dos rins e
recebeu a visita de um responsável da CIA e de vários membros da
sua família (para a qual, recorde-se, ele é a ovelha negra e com
a qual é suposto ter cortado todos os laços).
Estes membros da família seriam daqueles que possuíam fatias do
Carlyle Group? Mistério, tão complexa é a família
Bin Laden. Finalmente, a 7 de Novembro de 2001,
The Guardian
revelava que certos responsáveis do FBI queixavam-se de que "por
razões políticas, todas as suas investigações sobre
a família Bin Laden haviam sido paralizadas, sobretudo desde que Georges
W. Bush tornara-se presidente". Estas investigações
referiam-se a dois irmãos de Ossama Bin Laden, Omar e Abdullah, devido
à sua relação com a Assembleia Mundial da Juventude
Muçulmana, que faz parte das associações suspeitas de
financiar o terrorismo. Estariam eles entre os 24 membros da família
Bin Laden residentes nos Estados Unidos, que desapareceram (sob a
supervisão do FBI !) do aeroporto de Washington a 14 de Setembro de
2001, três dias depois dos atentados [4] ? Mistério, a lisa
completa dos passageiros não foi publicada.
É preciso dizer que as ligações entre a família
Bush e o Médio Oriente são antigas, profundas e lucrativas.
Não foi a sociedade de Georges Bush Jr, Harken, que obteve a
exploração exclusiva do gás e do petróleo do
emirato do Bahrein por 35 anos, apesar de não ter nenhuma
experiência em perfurações
off-shore
? Algumas grandes petroleiras (inclusive a Amocco, que estava na
competição) perceberam então que Bush Senior, então
presidente, não estava ali à toa. A 22 de Junho de 1990, algumas
semanas antes que o papá Bush desencadeasse a Tempestade do Deserto,
Bush Jr. liquidava sua participação na Harken por US$ 850 mil.
Uma semana depois a Harken anunciava perdas records de US$ 23 milhões.
A partir da invasão, o título caiu a pique... "Pura
sorte", comentou Júnior [5], esquecendo-se a propósito de
declarar à SEC esta cessão. Interrogado pela mesma SEC oito
meses depois acerca do esquecimento ele precisa que a SEC havia certamente
perdido a folha de declaração [6].
Dentre os associados de Georges Bush Júnior figurava um personagem
enxofrado chamado Khalid Bin Mafhouz. Seu nome está associado ao
escândalo do BCCI (bancarrota em que 12 mil milhões de
dólares desapareceram como fumaça), do qual ele possuía
20% do capital. Ele foi reconhecido culpável de
dissimulação fiscal e teve de pagar uma multa de US$ 225
milhões, além de uma interdição por toda a vida de
exercer uma profissão bancária nos Estados Unidos. Durante o
inquérito efectuado para este processo, verificou-se que a CIA havia
utilizado este banco para financiar certas operações obscuras,
misturando droga e tráfico de armas, tudo evidentemente coberto pelo
segredo de Estado. Em 1987, Khalid Bin Mahfouz adquiria 11,5% da Harken, a
sociedade presidida por Georges Bush Jr. através do seu homem de
negócios nos Estados Unidos, Abdullah Taha Bakksh [7].
No Conselho de Administração do Carlyle encontrava-se até
ao ano passado Sami Baarma, director da Prime Commercial Bank do
Paquistão, do qual Bin Mahfouz é o patrão. Melhor ainda,
James Bath, amigo do mesmo regimento de Georges W. Bush Júnior e filho
de uma grande família petroleira texana, foi um dos primeiros
investidores no negócios petroleiro de Bush Júnior, uma vez que
detinha 5% das suas duas primeiras sociedades, Arbusto 79 e Arbusto 80. Ora,
desde 1976 James Bath era o representante nos EUA de Salem Bin Laden, o
irmão mais velho de Ussama, que morrerá num acidente de
avião tal como o seu pai, o fundador da dinastia! Processado por um
antigo sócio, ele testemunhou sob juramento em 1992 e confirmou estes
factos. O FINCEN (Financial Crime Enforcement Network) investigava
então a sociedade de Bath, Ventures Corp, Inc e supeitava que ela
facilitasse tomadas de controlo de companhias a fim de influenciar a
política externa americana [8]. Depois de negar tê-lo conhecido,
Georges W. Bush finalmente reconheceu que ambos haviam efectuado vagos
negócios conjuntos. Isto foi divulgado durante as primárias
republicanas para a eleição presidencial que Bush ganhou na
Florida nas condições que se sabe [9]. Quanto a Khalid Bin
Mafhouz, foi preso em 3 de Agosto de 2000, a pedido da
Administração Clinton, e colocado sob mandato de prisão no
hospital militar de Taef, na Arábia Saudita. Desde então,
ninguém sabe o que se passou. Bin Mahfouz, é preciso dizer, faz
parte das pessoas procuradas por apoio à organização Al
Qaeda, através de organizações humanitárias
islâmicas.
O que resulta de tudo isto? Na operação liberdade
imutável, quem são os bons e quem são os maus? Os
mariners americanos que desembarcam no Afeganistão saberão quais
os interesses porque arriscam a sua pele? Têm os governos europeus
conhecimento destas informações? Por que Bush Jr, como exigem
com insistência o Judicial Watch e o Center for Public Integrity,
não pede ao seu pai para acabar com todos os contactos com a Carlyle?
Khalid Bin Mahfouz já estará no fundo do Mar Vermelho? Por que
George W. Bush esperou quinze dias para levantar a lista das
organizações suspeitas cujos haveres deveriam ser congelados nos
Estados Unidos e alhures? Na era das transações bancárias
e anónimas instantâneas, estes quinze dias são uma
eternidade.
Grosso modo, por uma única razão: neste nível de
imbricação de interesses privados e pessoais, Bush nada pode
fazer ou dizer. Ele não pode senão pregar uma cruzada do mundo
livre contra os infames integristas barbudos, que impedem os grupos petroleiros
de contruir o oleoduto vital que encaminharia o petróleo das imensas
reservas do Cáspio para o Mar Vermelho. Basta olhar um mapa da
região para ficar convencido. E para o caso altamente improvável
de se capturar Bin Laden vivo, George W. Bush acaba de inventar um tribunal
militar de excepção, ao abrigo da imprensa e dos curiosos,
evidentemente por razões de segurança nacional. Ussama poderia
mostrar fotos do churrasco de carneiro familiar, com Bush Sénior sentado
no tapete. Que fazer? Que fazer para que o mais influente país do
mundo deixe de ser dirigido por pessoas cuja carteira de acções
engorda cada vez que arrebenta uma guerra no planeta?
Até o 11 de Setembro, tudo era perfeito. A guerra desenrolava-se em
casa dos outros, aos quais bastava armar, directa ou indirectamente, embolsando
pelo caminho as comissões das vendas de armas. A partir do 11 de
Setembro, pela primeira vez desde 1865, o conflito pode desenrolar-se
também no solo dos EUA. O povo americano, particularmente as
famílias das vítimas dos atentados, tem o direito de perguntar o
porque ao seu presidente.
____________________
Notas
[1] Ver Hoover's Online.
[2] The Guardian.
[3] Voir Judicial Watch et Center for Public Integrity.
[4] Scoop, agencia de imprensa da Nova Zelândia, com sede em Wellington.
[5] US News and World Report, 1992.
[6] The Nation, 26 avril 1999.
[7] Intelligence News Letter, 2 mars 2000.
[8] Houston Chronicle, 4 juin 1992.
[9] TIME Magazine.
Copyright © Chris, Uzine 2002. Pour usage équitable seulement.
A URL do original deste artigo é
http://globalresearch.ca/articles/CHR205A.html
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info
|