MH17: Afastar a Malásia da investigação tresanda a
encobrimento
Era um jacto malaio, transportava passageiros malaios, voava com pilotos
malaios, mas depois de o MH17 da Malaysia Airlines ter sido derrubado sobre a
Ucrânia, em Julho de 2014, a Malásia tem sido sistematicamente
impedida de participar na investigação, ficando um bloco
esmagadoramente pró NATO encarregado da busca de provas, da
investigação bem como do modo como a investigação
será executada.
Apesar do papel importante que a Malásia desempenhou durante
vários momentos chave posteriores ao desastre, parece que quanto mais
perto da verdade a investigação estaria a aproximar-se, mais a
Malásia é afastada tanto das provas como de qualquer
influência sobre as prováveis conclusões da
investigação. Sendo o avião em causa malaio, a
Malásia como parceiro na investigação pareceria um dado
adquirido. A sua exclusão da investigação parece ser uma
indicação de que a objectividade da mesma foi comprometida e que
as conclusões que ela extrair provavelmente terão
motivação política.
A equipe de investigação conjunta inclui e exclui membros
surpreendentes
Com os holandeses a liderarem a investigação, sendo a
lógica que o voo tinha origem na Holanda e que a maioria dos passageiros
era holandesa, foi constituída uma Equipe de investigação
Conjunta
(Joint Investigation Team, JIT).
No princípio da sua criação parecia óbvio que a
Malásia também seria incluída, considerando que perdera o
segundo maior número de cidadãos no desastre e que o
próprio avião estava registado na Malásia. Ao invés
disso, a JIT acabou por ser constituída pela Bélgica,
Ucrânia e Austrália, com exclusão específica da
Malásia.
A Malásia foi surpreendida e protestou pela sua exclusão do JIT,
exprimindo reiteradamente o desejo de ser incluída directamente na
investigação.
O jornal
Malaysia's Star
informou
: "O embaixador da Malásia na Holanda, Dr Fauziah Mohd Taib, disse
que a Malásia não fora convidada para integrar-se oficialmente na
Equipe de investigação conjunta liderada pela Holanda, a qual tem
a incumbência da investigação criminal". Também
informou que "O ministro dos Transportes, Datuk Seri Liow Tiong Lai,
afirmou recentemente que a Malásia exprimira sua posição
muito claramente de que deveria ser parte da equipe de
investigação criminal e havia informado autoridades holandesas da
sua intenção".
O [jornal] Malaysian Insider citou o académico malaio Dr. Chandra Muzaffar
, o qual acredita que a decisão de excluir o seu país da
investigação tem motivação política,
destinando-se a excluir membros que possam insistir em cautela e objectividade
ao invés de retirar conclusões primeiro e inclinar os resultados
da investigação em torno daquelas conclusões. Em
particular, o Dr. Muzaffar acredita que as investigações
estão a ser intencionalmente enviesadas para atingir a Rússia.
O envolvimento da Ucrânia na investigação é
particularmente perturbante. Tivesse o MH17 explodido na Ucrânia sob
circunstâncias diferentes, o papel da Ucrânia seria de saudar.
Contudo, ele aparentemente foi derrubado especificamente num conflito no qual a
própria Kiev participa. Com ambos os lados do conflito na posse de armas
anti-aéreas e com a própria Kiev a confirmar a posse de armas
capazes de atingir a altitude em que o MH17 estava a voar quando alegadamente
foi atingido, Kiev torna-se um possível suspeito na
investigação. A inclusão de Kiev no JIT representa um
monumental conflito de interesse.
Imagine um suspeito potencial a conduzir uma investigação de um
crime que ele possa ter cometido. As possibilidades de encobrimento, desvio,
interpretação, alteração indevida ou qualquer outra
forma de distorção tanto da prova como do resultado da
investigação são infindáveis.
E para agravar este já gritante conflito de interesses, foi revelado
recentemente que um
alegado "acordo secreto"
foi selado pelo JIT pelo qual qualquer dos seus membros poderia impedir a
divulgação de provas. Com todos os membros o JIT sendo pró
NATO e decididamente predispostos contra Moscovo, um tal "acordo"
podia impedir provas cruciais de serem divulgadas o que provocaria uma
conclusão ainda mais distorcida concebida pelos investigadores com o
objectivo específico de avançar sua agenda política
principal na Europa do Leste. Se a Malásia tivesse sido membro do JIT, a
capacidade de outros membros para reterem provas ficaria grandemente
diminuída e é provável que um tal acordo bizarro
não fosse concebível.
A exclusão da Malásia prenuncia resultados com
motivação políitica
Com o conflito em curso na Ucrânia encarado como uma guerra por
procuração entre a NATO e Moscovo, o facto de os membros do JIT
incluírem os apoiantes da NATO do regime de Kiev (um possível
suspeito), dois membros da NATO (Bélgica e Holanda) e a Austrália
que aprovou sanções contra a Rússia acerca do conflito,
é um caso clássico de conflito de interesses.
Aqueles países e organizações internacionais que clamam
por uma investigação e por justiça mas ignoram o problema
óbvio de participantes num conflito a investigarem um incidente chave
que pode beneficiar directamente a sua agenda, indica que tais apelos por
justiça são hipócritas e, ao invés, que o que
está a ser feito não é uma investigação, mas
uma caça às bruxas politicamente motivada destinada a servir um
motivo ulterior.
A Malásia geralmente não é considerada como um firme de
aliado de Moscovo, mas tão pouco é um estado cliente leal a
Washington, Londres ou Bruxelas. Acerca de muitas questões a
Malásia tem mostrado uma independência em política externa
que perturba a chamada ordem internacional mantida pelo ocidente. E a
política interna da Malásia há muito tem lutado por
obstruir avanços dos favoritos de Washington incluindo Anwar Ibrahim e
sua facção política, o Pakatan Rakyat.
A sua inclusão na investigação proporcionaria um
contrapeso imparcial muito necessário a um conjunto de membros do JIT
totalmente favoráveis à NATO.
Para observadores casuais, a actual investigação conduzida por
membros da NATO e por Kiev um possível suspeito não
seria diferente do que a República Popular de Donetsk e a Rússia
a conduzi-la. Poucos considerariam que a RPD ou a Rússia não
conduziriam uma
investigação imparcial e poucos encarariam uma
investigação conduzida pela NATO como imparcial. Se a
Malásia tivesse sido incluído no processo, poderia ter sido
argumentado que uma investigação real estava a ter lugar ao
invés de uma complexa campanha de propaganda.
A exclusão da Malásia é um sinal perturbador para as
vítimas do desastre do MH17, significando que os verdadeiros culpados
nunca serão conhecidos. A natureza abertamente
política da investigação por um
lado alimentará a propaganda de guerra da NATO, mas por outro lado
alimentará as dúvidas de milhões no mundo todo sobre os
verdadeiros acontecimentos que se verificaram nos céus do Leste da
Ucrânia naquele dia. Tal como muitos outros acontecimentos na
história humana que tiveram lugar em meio a uma luta
política altamente arriscada , o derrube do MH17 será coberto de
mistério, um mistério lançado sobre a verdade pela
irresponsável
liderança da NATO e daqueles em Washington, Londres e Bruxelas que
encorajam o conflito na Ucrânia nestes mesmos dias.
28/Novembro/2014
Ver também:
Análise do crash do voo MH17 da Malaysian Airlines
O relatório da comissão holandesa sobre o crash do MH17 malaio "não vale o papel em que está escrito"
Encobrimento? Por que os media e a administração Obama ficaram silenciosos acerca do MH17?
O MH17 malaio foi abatido por caças do regime de Kiev
Ordenaram ao MH17 que voasse sobre a zona de guerra no Leste da Ucrânia
Mother of German MH17 crash victim sues Ukraine in EU court
Dutch government refuses to reveal ‘secret deal’ into MH17 crash probe
Malaysian Boeing disaster – Russia’s questions to Ukraine
MH17 Witnesses Tell BBC They Saw Ukrainian Jet. BBC Deletes Video.
[*]
Analista geopolítico com base em Nova York e colaborador da revista
online
New Eastern Outlook.
O original encontra-se em
journal-neo.org/...
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
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